O anúncio da morte da Física é exagerado. Para exemplificar vejamos um fato ocorrido com um dos maiores físicos da história. Max Planck no fim do ensino médio em 1874 com a idade de 16 anos, foi desencorajado pelo seu amigo e também físico Johann Von Jolly que lhe aconselhou: “neste campo, a física, quase tudo já está descoberto e tudo o que resta é preencher alguns buracos. Que tal a musica?” Afinal Jolly sabia que Planck dominava bem a arte de tocar piano e órgão. Planck respondeu que gostaria de apenas ter contato com os fundamentos que eram conhecidos até então. Graças aos deuses Planck não seguiu os conselhos do amigo. Por fim voltou a Munique para dar aulas na Universidade local e em 1885 retornou à Kiel, sua cidade natal, onde nasceu em 23 de abril de 1858 (Wikipédia). Quando em Munique durante seu doutorado, Planck ainda carregava consigo a dúvida entre a física e a música. Em 1899 esteve envolvido em estudos e pesquisas sobre as radiações eletromagnéticas que era um grande desafio aos cientistas no final do século XIX, pois até então a mecânica Newtoniana e o eletromagnetismo de Maxwell pareciam explicar tudo que existia na natureza. Durante suas pesquisas, elaborou uma constante – grandeza que possui um valor fixo e invariável – batizada como Constante de Planck, que é fundamental hoje na física quântica. Em 1918 foi contemplado com o Prêmio Nobel de Física por postular que a luz é constituída de partículas. Planck afirmou ela era quantizada ou produzida em quantias exatas.
Mesmo contrario aos ideais nazistas, Planck tentou convencer Hitler a usar cientistas judeus nas pesquisas em andamento na Alemanha, ao que Hitler respondeu: “se a ciência não pode passar sem os judeus, teremos de nos haver sem as ciências”. Sua vida particular foi feita de acontecimentos bem sofridos. Entre eles a morte de seu filho Erwin pela ditadura nazista, que o acusou de participar de um atentado contra Hitler. Hoje sabemos que grandes revoluções permearam a física da época e Planck é considerado com um dos pais da Física Quântica que revolucionou toda a física desde então. Frase dita por Planck: “É verdade, antes a física era mais simples, harmônica e portanto mais satisfatória”. E a física segue viva até hoje.
Outros “fins” foram decretados por ilustres pessoas de grande prestigio em outras áreas do conhecimento tecnológico e cultural. Em 1989 o cientista político e economista americano Francis Fukuyama publicou um artigo intitulado “O fim da História?”. Nele ele afirmava que as expansões das democracias liberais e do capitalismo iriam por eliminar a evolução sociocultural da humanidade e que isso seria o fim da história como era conhecida até então. Para não cometer injustiças devemos considerar o contexto em que tal frase foi dita pelo filósofo e economista político Fukuyama. Entre os 80 e 90 a Rússia entrava em decadência e o famigerado Muro de Berlim ia ao chão. Países que faziam parte do sistema soviético estavam conseguindo suas conquistas separatistas. Na America do Sul países conseguiram se livrar de suas ditaduras, como por exemplo o Brasil. E nesse contexto o país que seria o exemplo de suas idéias liberais, seriam os Estados Unidos com sua democracia e economia altamente estáveis e a Historia não teria nada de novo dali para frente. Os sistemas comunistas e socialistas estariam fadados a não existirem mais. Segundo Fukuyama tais mudanças trariam liberdade e igualdade para todos. Não foi o aconteceu e o próprio autor foi ridicularizado por vários autores de toda sorte de ideologias. Conservadores, liberais e comunistas o criticaram. Fukuyama se enganou quando disse que surgiria uma tolerância entre países ricos para com os países pobres a fim de que suas previsões se tornassem uma realidade. Para todos os efeitos as previsões de Fukuyama não se concretizaram, pelo menos em grande parte. Assim a História como a Física continuam sem data para seu termino.
Voltando à Física há também de se analisar o contexto no qual algumas afirmações sobre a física foram concebidas. Um fato ocorrido com o próprio Einstein ilustra isso. Einstein sempre declarou que não aceitava a física quântica em sua totalidade devido ao caráter probabilístico do comportamento de seus componentes, o que introduzia a idéia da aleatoriedade na física. Ela afirmava que não acreditava ao acaso e afirmou que “Deus não jogava dados com o Universo”. A critica, talvez a mais contundente veio em 1935 com o Paradoxo EPR (Einstein-Podolsky-Rosen) um experimento mental que postulava que entre duas partículas emaranhadas, a medição realizada em uma das partículas pode afetar o resultado na medição da outra partícula, não importando as distancias que as separam. O famoso físico afirmou que se correta, a física quântica apresentaria uma comunicação instantânea entre as partículas, o que violaria a constante da velocidade da luz, que segundo a física relativista, não é possível. Esse debate científico parecia descrever duas formas distintas de explicar o mundo. Einstein passou grande parte se seu final de vida tentando encontrar uma teoria que juntasse as duas teorias: a física clássica e relativística, com a física quântica.
Como pode a física acabar se mesmo teorias consagradas podem ser modificadas ou adaptadas se surgirem evidências para tal? A física assim como outras Ciências são dinâmicas nesse sentido. Apesar de ainda hoje ouvirmos vozes dizendo que a física está completa e perto de seu fim, muitos outras referencias mostram que a física está longe de terminar. Exemplos? Não conseguimos ainda encontrar no Universo, uma quantidade de matéria suficiente que justifique seu comportamento, pois ainda não se sabe direito o que é a “matéria escura”, que como seu nome sugere, não emite luz e por isso não pode ser detectada. Muito menos sabemos sobre o que é a “energia escura” que acelera o Universo a uma velocidade cada vez mais rápida e constante. A inflação cósmica é outro desafio desconhecido ainda. O Universo se expandiu há 13,8 bilhões de anos atrás. Essa expansão pode ser observada hoje como uma esfera que se estende para os todos os lados em partes iguais. Durante essa expansão houve pequenas diferenças de temperatura possibilitaram a formação das atuais galáxias espalhadas pelo nosso Universo. E o que dizer do fim do Universo? Como ele terminará? A teoria mais aceita é que o Universo continuará se expandindo em direção ao infinito até acontecer o chamado Big Rip, uma das três teorias mais aceitas para o fim do Universo. Ainda falando do Universo existem teorias que sustentam que o nosso não é único e que devem existir outros: os Universos Paralelos. Algumas teorias como a Teoria Das Cordas só funcionam se existirem pelo menos mais 7 dimensões extras além das nossas 4 conhecidas. E o espaço vazio: o tal vácuo? Aonde encontramos a energia de ponto zero, que prediz que o vácuo não é tão vazio assim? E o que falar da Radiação Hawking proposta pelo físico Stephen Hawking que propõe que os buracos negros, apesar de não permitirem que a nem a luz escape de seus domínios, permite que em função dos efeitos quânticos eles emitam radiações. E os próprios buracos-negros, ainda não são totalmente conhecidos pelos cientistas. Como podemos perceber, na física ainda há muito para se conhecer e até mesmo modificar, algumas das muitas teorias atuais, o que é uma possibilidade constante. As teorias da física clássica de Newton foram reescritas por Einstein.
Por enquanto podemos afirmar com bastante certeza que nem o Samba, o Blues, a História e a Física estão com seus fins decretados. É esperar para ver.
Texto Alex Soletto Revisão Prof. Airton Deppman (IF-USP)