Assisti esta semana, pela nona ou décima vez, O Poderoso Chefão, que considero uma aula insuperável de cinema. A cada vez, reparo num detalhe diferente. Desta vez, foi uma cena fundamental.
Em Nova York, depois que Don Vito Corleone sobrevive a uma emboscada — metralhado na rua por homens ligados a Sollozzo — a família entra em modo de crise. Sonny, o primogênito explosivo, assume o volante e acelera a guerra. Michael, o filho “limpo”, ex-militar que o pai não queria no negócio, cruza o Rubicão quando executa Sollozzo e o capitão McCluskey num restaurante. Para escapar, foge para a Sicília, casa-se com Apollonia — que morre numa explosão de carro armada para ele. De volta aos EUA, Michael encontra a família sangrando: Sonny é assassinado no pedágio; Vito, com a saúde abalada, faz uma paz tensa para estancar a carnificina e, pela força dos fatos, prepara o filho para sucedê-lo.
É nesse contexto que chega a tal cena: numa sala sóbria e abafada, Michael oficializa a transição. Sem bravatas, com frieza cirúrgica, ele: (1) confirma que agora é o chefe; (2) redistribui papéis — Tom Hagen permanece advogado e homem de confiança, mas fora do papel de “conselheiro de guerra”; (3) aponta a mudança de eixo para Nevada, onde cassinos e jogo legal moldarão o futuro do império; (4) estabelece horizonte e disciplina: “depois que fizermos a mudança, quem quiser pode sair”. A sala entende: o tabuleiro mudou, e a ordem é claridade, lealdade e execução silenciosa.
Assista:
Na sequência, comecei a assistir à série The Offer, na Paramount, que conta como foram os esforços para fazer esse filme. É sensacional, especialmente se você for fã. E um momento da série é simplesmente arrasador: quando o diretor e produtores vão até a casa de Marlon Brando para convencê-lo a interpretar Don Vito Corleone. Brando havia lido o livro e já tinha o personagem na mente. E na sala de sua casa, diante dos visitantes assombrados, ele vai se transformando no personagem. É um momento arrebatador, que tive de retornar para ver mais duas vezes.
Quatro lições de Liderança Nutritiva da cena em que Michael assume o lugar de Don Vito Corleone.
Função acima de cargo. Títulos organizam a parede; quem move o jogo são as funções. Na paz, um tipo de conselheiro; na guerra, outro. Michael reposiciona Tom sem humilhar: preserva a confiança, explica o porquê e ajusta o papel ao contexto. Líder Nutritivo sabe que talento precisa de terreno adequado — não de etiqueta no crachá.
Tempo é variável estratégica. “Seis meses” pode soar razoável e, ainda assim, ser mortal. Em ambiente hostil, o horizonte se mede pelo risco, não pela conveniência. Uma boa decisão aplicada tarde demais vira má decisão. Para o Líder Nutritivo, ritmo não é capricho: é a diferença entre chegar inteiro ou chegar tarde.
Clareza que compromete. A mensagem é simples: decidiu, executa. O debate pertence ao antes; depois, o que vale é alinhamento e coerência. A dúvida que se eterniza não é prudência — é erosão. Líder Nutritivo sabe que quando a decisão é clara, a equipe ganha coragem compartilhada e sabe por que, o que e quando fazer, sem ruídos que ressuscitem discussões já encerradas.
Compromisso com porta de saída. “Depois da mudança, quem quiser sai.” No curto prazo, compromisso sério; no médio, autonomia respeitosa. A governança existe para proteger a missão, não o ego de quem comanda. Líder Nutritivo deixa claro que fica quem pertence ao propósito; quem não pertence, sai pela porta da dignidade.
A Isca de hoje vai para Maquiavel:
“Os homens julgam mais pelos olhos do que pelas mãos: todos veem o que pareces, poucos sentem o que és.”
Liderança Nutritiva é um conceito que criei para definir aquele tipo de pessoa que não apenas lidera, mas inspira e impulsiona os outros a realizarem. Liderança Nutritiva é sobre transmitir, de forma leve, natural e ética, conhecimento e suporte emocional e social que realmente fazem a diferença na vida pessoal e profissional de quem está por perto. É a combinação perfeita entre provocar mudanças e nutrir o crescimento.
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