Isca Intelectual – A Divina pilantragem

Setembro de 1970. O país ainda vivia sob o regime militar, mas nas telas da TV Tupi acontecia algo luminoso: Wilson Simonal, no auge da carreira, recebia no palco ninguém menos que Sarah Vaughan — a “Divine One”, dona de uma das vozes mais admiráveis do século XX.

Simonal estava à frente da pilantragem que, muito mais que um estilo musical, foi um movimento cultural e comportamental criado e encarnado por artistas cariocas no final dos anos 1960, num momento em que o Brasil vivia entre a euforia do “milagre econômico” e o medo da repressão.

Entre 1966 e 1969, Simonal explodiu com um estilo musical que misturava: o swing do samba com arranjos sofisticados de jazz e bossa nova; letras bem-humoradas, cheias de trocadilhos e autoironia; e uma postura de palco inédita no Brasil — segura, carismática, quase arrogante, mas sempre com charme.

Ele dançava, improvisava, interagia com a plateia. Tinha domínio absoluto do palco, algo que até hoje impressiona.
Era a tradução do brasileiro que sabe rir de si mesmo, mas também sabe se valorizar.

Músicas como “País Tropical”, “Sá Marina” e “Nem Vem Que Não Tem” viraram hinos da pilantragem — alegres, solares, cheias de groove.

E então ele se encontra com Sarah Vaughn.

O encontro, patrocinado pela Shell, foi transmitido no programa de Flávio Cavalcanti. Eles foram acompanhados do Som Três, da banda da Tupi (regida pelo maestro Erlon Chaves), e do conjunto de Sarah (John Donald Abne no piano, Gene Perio no baixo e Jimmy Cobb na bateria). No show os dois cantaram vários clássicos, incluindo um dueto em “The Shadow of Your Smile”, para encerrar. E o que se vê ali é pura alquimia. Sarah, elegante, serena, acostumada às grandes orquestras do jazz norte-americano; Simonal, expansivo, brincalhão, dono de um swing brasileiro que parecia sorrir em cada sílaba. Eles cantam Oh! Happy Day e The Shadow of Your Smile. Dois mundos, duas culturas, dois idiomas — e nenhuma barreira.

Veja: https://www.youtube.com/watch?v=_XT40GoB9Jo

Simonal não se intimida. Ele improvisa, puxa Sarah para o jogo, arranca risos e sorrisos da diva. Ela responde à altura, encantada com aquele brasileiro que não pede licença para ser gigante. É um diálogo musical de igualdade, generosidade e respeito mútuo — a tradução perfeita de quando a arte derruba fronteiras e o ego dá lugar à celebração.

O registro ficou décadas esquecido num arquivo da Tupi. Mas quem assiste hoje entende: aquilo não era apenas um dueto. Era uma aula sobre como o talento verdadeiro reconhece o outro, sem medo de dividir o brilho.

 

Quatro lições de Liderança Nutritiva desse encontro

  1. Respeito gera confiança, não hierarquia.
    Simonal tratou Sarah Vaughan não como uma estrela intocável, mas como uma parceira. Um líder nutritivo faz o mesmo: não cultua o status, cultiva o respeito mútuo. Quando todos se sentem vistos, o palco vira terreno fértil para a grandeza.
  2. Autenticidade atrai autenticidade.
    Simonal foi ele mesmo — irreverente, rítmico, brasileiro até o osso. E justamente por isso encantou. Liderar não é imitar estilos consagrados, é revelar o próprio timbre. Só quem é inteiro inspira o outro a ser.
  3. O humor desarma o medo.
    Em vez de reverência tensa, Simonal ofereceu leveza. Riu, brincou, dançou. O riso é ferramenta de conexão e coragem: dissolve distâncias, transforma o palco em encontro. Líderes nutritivos sabem rir com — não de — suas equipes.
  4. Grandes encontros exigem generosidade.
    Sarah poderia ter assumido o centro; Simonal, buscado provar valor. Nenhum dos dois o fez. Eles escolheram o diálogo. Na liderança, é assim: quando o foco está no resultado coletivo, e não no protagonismo, nasce a verdadeira harmonia.

 

A Isca Intelectual de hoje fica com o poeta, tradutor e professor norte-americano, considerado um dos nomes mais importantes da literatura dos Estados Unidos no século XIX, Henry Wadsworth Longfellow

“A música é o idioma que todos compreendem, mesmo quando não falam a mesma língua.”

 

Liderança Nutritiva é um conceito que criei para definir aquele tipo de pessoa que não apenas lidera, mas inspira e impulsiona os outros a realizarem. Liderança Nutritiva é sobre transmitir, de forma leve, natural e ética, conhecimento e suporte emocional e social que realmente fazem a diferença na vida pessoal e profissional de quem está por perto. É a combinação perfeita entre provocar mudanças e nutrir o crescimento.

Saiba mais: lucianopires.com.br/palestras/lideranca-nutritiva