Os canalhas dançam no palco.
Não se escondem.
Não precisam.
Luzes, câmeras, discursos — a farsa é escancarada.
E nós?
Plateia.
Cativa. Imóvel. Cúmplice.
Cada gesto deles é um tapa em nossa cara.
Cada silêncio nosso, um aplauso envergonhado.
Eles sabem: ninguém reage.
A indignação não sai da garganta.
A revolta morre no sofá.
A coragem foi terceirizada.
Ao vizinho. Ao próximo. A ninguém.
O truque não continua por genialidade.
Continua por covardia.
Não é o mágico que sustenta o feitiço,
é o público que aceita ser enganado.
O aplauso é nosso.
A vergonha também.
E o futuro vai cobrar caro cada minuto em que trocamos ação por silêncio.
Bertolt Brecht denunciou isso em 1941, com sua peça “A Resistível Ascensão de Arturo Ui”.
Conta a história de um gangster grotesco, ridículo, que chegou ao poder porque elites se curvaram.
Porque o povo se calou.
Porque a covardia abriu espaço.
O alerta de Brecht no encerramento da peça, ecoa:
“O ventre ainda é fértil de onde saiu a besta.”
“O ventre ainda é fértil de onde saiu a besta.”
Loucos no poder não são acidente. São consequência.
Eles florescem onde o medo domina.
Onde a omissão reina.
Onde a covardia se veste de prudência.
Por isso promovem o medo.
Cada vez que calamos, o monstro cresce.
Cada vez que engolimos a indignação, ele se fortalece.
Cada vez que esperamos que “alguém” faça, o tirano ganha fôlego.
Tiranos não nascem grandes.
Eles se alimentam do nosso silêncio.
Por isso, basta de plateia.
Basta de cumplicidade.
Basta de esperar que outros levantem.
É hora de acender as luzes.
É hora de interromper o espetáculo.
É hora de tomar o palco.
Pronto. Tuitei esse texto.