Café Com Leite Especial – O mendigo ingrato

BÁRBARA
Babica, deixa eu te contar uma história daquelas que fazem a gente rir… e pensar!

BABICA
Lá vem! É tipo conto de fada, com rei, rainha e dragão?

BÁRBARA
Não. É com mendigo, dinheiro e… ingratidão.

BABICA
Ih! Então deve ser daquelas que parecem piada mas viram lição, né?

BÁRBARA
Exatamente. Presta atenção:

Era uma vez um homem muito generoso. Trabalhava bem, ganhava bem, e acreditava que, se estava em boa fase, podia ajudar quem estivesse em má fase. Um dia, ao passar por uma praça, ele viu um mendigo — daqueles que já viraram parte da paisagem, sabe? Roupa gasta, olhar cansado, mas uma dignidade ali escondida.

Claro! Aqui está um diálogo sensível, direto e educativo entre Babica e Bárbara, com linguagem acessível para crianças entre 6 e 10 anos, explorando a pergunta “Por que existem mendigos?”, com empatia, contexto e abertura para conversa com pais e professores:

BABICA
Bárbara… posso fazer uma pergunta meio difícil?

BÁRBARA
Claro que pode, Babica. Perguntas difíceis às vezes trazem respostas importantes. Manda!

BABICA
Por que existem mendigos? Por que tem gente morando na rua, sem casa, sem comida… enquanto outros têm tudo?

BÁRBARA
Puxa, essa é uma pergunta mesmo difícil, Babica. Mas é muito importante. Sabe, não existe uma única resposta. Tem muitos motivos diferentes.

BABICA
Tipo o quê?

BÁRBARA
Algumas pessoas nascem em famílias muito pobres e não conseguem estudar ou ter oportunidades. Outras perdem o emprego, ficam doentes, ou têm problemas na família e acabam sem apoio. E tem quem enfrente problemas emocionais ou mentais e não receba ajuda.

BABICA
Então não é porque querem estar ali?

BÁRBARA
Na maioria das vezes, não. Ninguém sonha em viver sem casa, com frio, fome e medo. Às vezes parece que a pessoa escolheu aquilo, mas normalmente ela não teve escolha de verdade.

BABICA
Nossa… que triste.

BÁRBARA
É triste mesmo. Mas é por isso que é tão importante olhar pra essas pessoas com respeito e coração aberto, e não com julgamento.

BABICA
Mas… eu sou só uma criança. O que eu posso fazer?

BÁRBARA
Muita coisa! Pode tratar essas pessoas com gentileza, pode doar roupas, brinquedos, comida. Pode conversar com seus pais sobre como ajudar. Pode aprender e ensinar que todos têm valor, mesmo quando estão passando por momentos difíceis.

BABICA
Então… ser mendigo não é ser “menor”?

BÁRBARA
De jeito nenhum. Ser mendigo é estar numa situação difícil, não é quem a pessoa é por dentro. A gente nunca sabe a história por trás de cada um.

BABICA
Tá bom. Quando eu passar por alguém na rua, vou lembrar disso. E vou parar de chamar de “morador de rua” como se fosse só isso. São pessoas, né?

BÁRBARA
Isso mesmo. Gente como a gente. E todo mundo merece cuidado, dignidade e esperança.

BABICA
Bárbara?

BÁRBARA
Oi?

BABICA
Você acha que o mundo um dia vai ser sem mendigos?

BÁRBARA
Acho que, se a gente crescer aprendendo a cuidar dos outros como se fossem nossos irmãos… talvez sim.

BABICA
Então vamos fazer a nossa parte, né?

BÁRBARA
Vamos. Sempre. Como aquele homem rico que decidiu agir. Sem barulho, sem plateia, foi lá e deu mil reais para o mendigo.

BABICA
MIL reais?! Uau! Isso dá pra comprar muito pão de queijo!

BÁRBARA
Pois é. O mendigo ficou chocado. Agradeceu, claro, e foi embora.

Babica – Comprar pão de queijo!

Bárbara – Náo sei o que ele foi comprar, mas na semana seguinte, o homem rico voltou. E de novo, mil reais. E na outra. E na outra semana de novo.

Bárbara – Nossa, mas que homem bondoso!

Barbara: Pois é. Aquilo virou rotina. O mendigo passou a esperar. Era o “salário” dele. E não demorou muito pra ele se acostumar.

Babica – E deixou de ser mendigo?

Bárbara – Náo de tempo, Babica. Um dia, o homem rico apareceu e deu só setecentos e cinquenta reais. O mendigo estranhou, mas não reclamou. Pensou: “Bom, ainda é uma boa grana.”

Babica – É uma boa grana!

Bárbara – Um mês depois, o homem voltou… e deu quinhentos reais.

Babica – Epa! E o mendigo?

Bárbara – O mendigo não aguentou e disse:— Ei, senhor! O que tá acontecendo? O senhor me dava mil, agora setecentos e cinquenta, agora só quinhentos! Posso saber por quê?O homem respirou fundo e respondeu:

— Olha, meu amigo. Quando comecei a te ajudar, meus filhos ainda eram pequenos e eu tinha bastante folga no orçamento. Mas agora, minha filha mais velha entrou na faculdade. Você sabe como são as mensalidades… Depois, meu filho também começou a estudar. Estou apertando o orçamento pra continuar ajudando como posso.

Babica – Então o homem não era tão rico assim. E o mendigo?

Bárbara – O mendigo franziu a testa, indignado:

— Quantos filhos o senhor tem?

— Quatro — respondeu o homem.

— Mas o que é isso?! — disse o mendigo. — O senhor vai educar todos eles às minhas custas?!

Babica –  Não! Ele falou isso mesmo?!

Bárbara – Falou. E o homem ficou tão espantado que foi embora sem dizer uma palavra.

Babica – Nossa… parece até que o mendigo achava que tinha direito ao dinheiro do outro.

Bárbara – É isso mesmo, Babica. Às vezes, a gente se acostuma tanto com a bondade dos outros, que para de enxergar aquilo como um presente, uma escolha. E começa a achar que é obrigação.

Babica –  Tipo quando a mãe da gente sempre faz a lancheira, e um dia ela esquece, e eu reclamo como se fosse culpa dela?

Bárbara – Perfeito exemplo. A generosidade não é um contrato. É uma escolha. E como toda escolha, pode mudar.

BABICA
Que história, hein, Bárbara? A gente ri… mas também aprende! Vamos fazer o resumo das quatro coisas que essa história ensinou pra gente?

BÁRBARA
Vamos sim! Você começa com uma, eu digo a próxima. Combinado?

BABICA
Combinado! Primeira lição: gratidão tem que ser constante. Quando alguém nos ajuda, isso não é uma dívida eterna que a pessoa tem com a gente. É uma escolha, né?

BÁRBARA
Exatamente! E muitas vezes essa escolha exige sacrifício. Tem gente que deixa de gastar com ela mesma pra ajudar os outros. Já pensou? É como quando a professora empresta o próprio lanche pra uma criança que esqueceu o dela. Ela não precisa fazer isso. Ela escolhe. E por isso, um simples “obrigado” pode valer muito.

BABICA
E tem gente que esquece de agradecer… como se fosse obrigação.

BÁRBARA
Pois é. Segunda lição: não se acostume demais com o que é presente, porque pode ser que ele desapareça um dia.

BABICA
Tipo quando a vovó sempre manda aquele bolinho gostoso todo sábado, e aí um dia não manda, e a gente fica bravo… esquecendo que ela faz isso por carinho, e não por contrato.

BÁRBARA
Perfeito! Quem dá, dá porque quer. E às vezes, a vida muda. Fica apertada, difícil. Aí a pessoa tem que parar de dar — não porque deixou de gostar, mas porque não pode mais.

BABICA
Terceira lição: empatia é lembrar que o outro também tem sua vida, suas contas, seus filhos, suas preocupações.

BÁRBARA
Isso é muito importante! Às vezes a gente acha que só os nossos problemas importam. Mas todo mundo carrega algo que a gente não vê. A moça do caixa pode estar preocupada com a mãe doente, o motorista do ônibus pode ter dormido mal por causa do filho com febre. Todo mundo tá lutando alguma batalha.

BABICA
Então a gente precisa parar de achar que o mundo gira só pra gente, né?

BÁRBARA
É isso aí. Última lição?

BABICA
Vamos lá: a generosidade é uma ponte, não uma estrada sem pedágio.

BÁRBARA
Uau, essa foi profunda! Explica aí pra quem não entendeu…

BABICA
Bom… uma ponte liga dois lados. Mas se só um lado cuida dela, ela desaba. A generosidade funciona quando tem respeito dos dois lados. Quem dá, dá com amor. Quem recebe, recebe com gratidão e, quando puder, também ajuda. O que não pode é gente querendo atravessar a ponte todo dia, exigindo, cobrando, e ainda achando que tá no direito de reclamar.

BÁRBARA
Perfeito, Babica. Se todo mundo pensasse assim, o mundo seria mais leve, mais justo e mais… humano.

BABICA
E você aí que está ouvindo… qual dessas quatro lições mais te fez pensar?

BÁRBARA
Conta pra gente! E lembre-se: educação começa em casa, mas se espalha por onde a gente passa.

BABICA
Uau… Essa história foi melhor que mil dólares! Posso compartilhar com meus amigos?

BÁRBARA
Deve! E se você que está ouvindo também gostou, compartilha com alguém que precisa lembrar que bondade não é dever, é escolha.

BABICA
E que escolha linda, né?