Café Brasil 987 – Sonata para um homem bom – sobre a urgência de resgatar o humano

Em plena Alemanha Oriental, início dos anos 1980, o capitão Gerd Wiesler, agente da Stasi (a temida polícia secreta do regime comunista), recebe a missão de espionar um dramaturgo supostamente subversivo, Georg Dreyman, e sua companheira, a atriz Christa-Maria.

Wiesler, treinado para ser uma máquina de vigilância — frio, impessoal, disciplinado — passa seus dias em um sótão escuro ouvindo cada palavra, cada suspiro do casal. Mas ao longo do tempo, algo inesperado acontece: ele começa a se afetar.

O agente, cuja vida pessoal é desértica, mecânica, insípida, começa a ser tocado pela beleza das músicas, das leituras, das conversas íntimas. E, mais importante, pela humanidade que existe ali.

Isso acontece no ótimo filme A Vida Dos Outros, de 2006.

A cena-chave acontece quando o espionado Georg Dreyman, após receber a notícia da morte de um amigo que se suicidou por conta da opressão do regime, senta-se ao piano e toca uma peça melancólica: “Sonata para um homem bom”.

É ela que você ouve aqui ao fundo. Sobe aí, Lalá:

Wiesler escuta atentamente do outro lado da parede. Não diz nada. Não anota nada. Apenas sente.

É nesse momento que o sistema começa a falhar — e o humano começa a emergir. Pela primeira vez em sua vida de agente, ele hesita. Não é mais o executor automático da ideologia. É um homem diante de outro homem.

“Alguém que escuta essa música não pode ser uma má pessoa.” — diz Georg Dreyman, sem saber que sua frase está sendo ouvida por quem mais precisava escutá-la: o frio Gerd Wiesler, o agente da Stasi encarregado de espioná-lo.

Wiesler é um funcionário exemplar do regime: frio, solitário, totalmente submisso à lógica do Estado autoritário. Vive numa rotina desumana, sem afeto, sem arte, sem cor. Sua função é ouvir para punir, registrar para destruir reputações, invadir intimidades para manter o sistema funcionando.

Mas ali, no sótão escuro onde passa horas escutando o cotidiano de Dreyman e Christa-Maria, ele é exposto, pela primeira vez, à beleza, à sensibilidade, à fragilidade humana que há na vida dos outros — e isso começa a transformá-lo por dentro.

A grande beleza de “A Vida dos Outros” é que não há revolução externa. Não há tiro. Não há panfleto. Há transformação interior. Um agente treinado para o controle acaba sendo salvo pela arte. Pela intimidade. Pela escuta.

No final, Wiesler desobedece silenciosamente. Não denuncia. Protege. E depois de anos, quando reencontra o livro que Dreyman escreveu — dedicado “ao homem bom” — ele sorri. Só isso.

Não há redenção política. Há redenção pessoal.

Essa é a pegada do episódio de hoje, que é uma homenagem a um não. A três homens bons.

Bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar? 

Cara… esse ano tá bravo,viu? Já foram dois amigos. Primeiro em Janeiro, o Edrey Momo, sofrendo um infarto aos 56 anos.

Depois em Maio, foi meu pai, aos 98 anos, que era muito mais que um amigo.

E agora o Tom Sarti, meu amigo podcaster, cuja idade eu não sei, mas deve ser algo em torno dos 60 anos.

E a gente, nesses momentos de perda, para pra pensar um pouco…

Olha: eu consegui lidar bem com a morte de meu pai. Ele com 98, eu com 68, a gente já sabe da proximidade do fim e tem uma relação diferente com a perda. Mas não vou dizer que foi fácil, não. Não esta sendo. Vira e mexe a imagem do seu Luciano aparece pra mim e é uma luta pra não deixar a tristeza dominar. Afinal, a vida tem de seguir, não é?

Com as mortes do Edrey e do Tom foi mais difícil de lidar. Ambos cheios de planos, fazendo acontecer e, de repente…

Sobre o Tom, eu escrevi um texto, que rendeu até um Cafezinho, na madrugada seguinte à sua morte, que eu publiquei na Confraria Café Brasil, o grupo que mantenho desde 2016 com assinantes do Café Brasil. Vou repetir o texto aqui:

Se a minha memória não falhar, hoje foi a primeira vez, desde que esta Confraria foi fundada, que perdemos um confrade por morte. E foi um confrade querido: o Tom Sarti.

O Tom já não estava tão ativo por aqui, andava com problemas de saúde e com os negócios… mas era um lutador. Noventa por cento do podcast Saindo da Bolha era ele. E, até onde eu sei, se dava bem com as pessoas aqui do grupo, né?

Provavelmente, quem teve mais contato com ele fui eu. Ele me visitou, fizemos algumas ações juntos. Lançou o e-book e o livro na minha loja, e eu estava tentando convencê-lo a gravar um LíderCast. O bicho era arisco, cara. Mas um infarto fulminante destruiu todos os planos.

Recebi a notícia já perto da hora do velório, do enterro. Fui pra lá correndo, fechando mais um capítulo de um conhecido meu. Não deu tempo nem de pensar numa coroa de flores.

Aqui na Confraria, tivemos algumas reações quando eu trouxe a notícia — avisado pela Bárbara, que foi avisada por uma ex-confrade. Mas, passados alguns minutos, a vida voltou ao normal. Retomamos a discussão sobre a Janja e a taxação do Trump.

Houve um tempo em que a Confraria se mobilizava de forma inacreditável sempre que algum confrade tinha um problema. Temos histórias incríveis. Era um engajamento de fazer inveja a qualquer grupo. Mas, aos poucos, os mais engajados foram saindo, as pessoas perderam o interesse, a vida foi nos atropelando… e hoje, quando um confrade morre, a vida volta ao normal em minutos.

Eu não sei como isso parece pra vocês, mas perceber que damos mais atenção e tempo de vida a discussões políticas — com figuras desprezíveis como o Dilmo e a Janja — do que ao fim do ciclo de vida de um colega, me parece uma demonstração de que estamos anestesiados.

A polarização política, o medo enfiado em nossas cabeças, a indignação com a classe que nos dirige e nos ameaça… entorpeceu nossas emoções. Nossa empatia. Isso, pra mim, parece ser um microcosmo do estado atual da sociedade brasileira.

Não por acaso, anteontem publiquei um Café Brasil, o 986, chutando as canelas dos ouvintes que não se engajam. Mas eu tô concluindo que brasileiro só se engaja com aquilo que permite uma fuga da realidade. Como comento no episódio.

E não posso deixar passar um detalhe. O Tom Sarti foi enterrado num túmulo simples, sem lápide. Apenas uma plaquinha, bem numa das extremidades do Cemitério da Paz, no Morumbi, debaixo de uma muralha verde gigantesca de bambus. É um lugar bonito.

Isso me trouxe imediatamente uma reflexão ali mesmo, no cemitério… sobre o Requiem.

Requiem é uma composição musical, geralmente clássica, escrita para ser executada durante os funerais ou cerimônias em memória dos mortos. Algumas obras famosas são: o Requiem de Brahms e o Requiem de Verdi. Obras que misturam solenidade, melancolia e espiritualidade. São marcos da música sacra.

O Cemitério da Paz não fica na parte nobre do Morumbi. Na verdade, ali já é meio periferia. E, durante todo o enterro, o que se ouvia era um bar, uma casa, um boteco, eu não sei o que era… tocando funk carioca nas alturas.

Cara… o Requiem do Tom Sarti — um batalhador pelos valores, pela verdade, pela cultura — foi ao som de funk. Funk.

E quando percebi isso, senti que era o destino sendo irônico. Ou talvez… fosse só o som amargo da realidade se impondo. A verdade é que ontem foi um dia triste.

Publiquei então um post com um link para a Lacrimosa, do Requiem em ré menor de Mozart, dizendo que aquele era o Requiem que o Tom merecia.

Assim que o caixão do Tom desceu à sepultura, eu voltei caminhando pelas alamedas do Cemitério da Paz. Caminhada longa. Sozinho. No frio. E pensando… Bicho, o Tom tava cheio de planos. Tava fazendo coisas legais. Criou até um sistema com IA pra coletar informações… um negócio bem legal. Mil planos ali. E de repente, snap! Desligou o interruptor. Acabou.

Alguns amigos estavam ali no cemitério, tristes, voltando para seus afazeres.… O que é natural. Esse é o ciclo da vida. É natural.

O que não é natural é, em poucos minutos, a gente voltar pra discussões que não são nutritivas.

E aí eu trombei com um dilema sério: não dá pra largar a mão. Não dá pra olhar pra as discussões políticas, essa loucura toda que toma conta do Brasil e do mundo, e dizer “ah, não é comigo, vou cuidar da minha vida”. Você não pode abandonar. Porque se todo mundo abandonar, é isso que eles querem. Os ratos vão tomar conta.

A gente tem que estar atento, discutir, se rebelar, brigar — pra que as coisas aconteçam da forma correta. Mas… tem sempre o mas…

A gente não pode deixar que essas discussões mundanas tomem conta das nossas vidas. E é isso que tá acontecendo.

Brigas. Pai com filho. Irmão com irmão. Cunhado com cunhado. A reunião de domingo virou um inferno, por causa de política. Gente defendendo político, brigando. Grupo de WhatsApp… com gente saindo se xingando, na porrada, gente deixando de trabalhar junto.

Eu tive dois fornecedores que se recusaram a trabalhar novamente comigo porque eu votei no candidato que eles detestam… Amigos se afastaram e outros eu afastei. Cara: quando se chega nesse grau de envolvimento… é perigoso.

Até 2013 a gente se queixava que o brasileiro não se envolvia em política. Dali para a frente ele se envolveu, mas foi tanto que a política tomou conta da vida da gente. E aí… viramos esse bicho insensível.

Foi isso que parecce que aconteceu na nossa Confraria logo após a notícia da morte do Tom. Perdemos um amigo que participava com a gente das discussões. Era pra todo mundo estar consternado. Pelo menos por um tempo. Mas, em questão de minutos… a Janja tomou conta. O Lula tomou conta. O Trump tomou conta. O Bolsonaro tomou conta. E a discussão política recomeçou — uma discussão que não leva a lugar nenhum, só serve pra gente manifestar indignação.

Indignação, cara…

Talvez seja isso mesmo. Estamos tão indignados e tão travados, que qualquer oportunidade de ter voz, só queremos gritar essa indignação. Mesmo nos momentos em que devíamos estar manifestando empatia. Carinho. Respeito. Luto.

Mas atropelamos tudo… e viramos esses bichos que estamos vendo por aí. É briga pra todo lado. Outra pessoa tomou conta da vida da gente. E isso não é bom. Não é normal. Não é saudável. Não é nutritivo. E não faz bem.

Especialmente nos momentos em que a gente deveria parar, olhar pra dentro de si, tentar entender o que tá acontecendo. Recuperar a empatia com o  outro. E parar de brigar por político, cara.

O Edrey, meu pai e o Tom… cumpriram com galhardia suas missões. Três homens bons.

E a gente… vai ficar aqui, nessa briga rasteira.

Eu acho bom dar uma parada pra pensar a respeito.

Siga aí com a Lacrimosa do Mozart — que é o Réquiem que o Edrey, meu pai e o Tom merecem.

“Bom dia, boa tarde, boa noite, Luciano. E aí, como está meu amigo?

Eu me chamo Alisson, tenho 35 anos, e sou ouvinte do do Café Brasil há mais de uma década e há alguns anos já sou um feliz assinante do Premium. Porém, nos últimos meses eu acabei não conseguindo acompanhar os programas e as publicações, porque minha vida virou de ponta cabeça, algumas mudanças profissionais, o nascimento do meu primeiro filho e tudo ficou aquela loucura.

Mas nesse retorno aí ao café Brasil, o primeiro programa que eu ouvi já veio recheado com uma porrada na boca do estômago, que foi você interagindo com você mesmo ali, a la clube da luta, porque nenhum ouvinte tinha tinha enviado alguma mensagem aí no seu áudio para você mesmo.

Ali você indagava se o que você está fazendo é realmente relevante, não é? Então, antes de mais nada, eu gostaria muito Luciano de pedir desculpas por eu ter sido tão negligente nessa mais de uma década,  de não ter interagido tanto com você e não ter expressado com ações práticas e expressado a você, né, com áudio, textos.

Eu indiquei muito seu programa, eu assinei o Premium, mas eu não chegou a você diretamente a minha gratidão. Então você faz parte da minha história, você abriu a minha mente para muitas coisas, fez parte da minha formação, não é?

Eu tinha menos de 25 anos quando eu comecei a ouvir, então eu estava uma mente informação. Hoje eu consigo passar os seus ensinamentos, tudo o que você me provocou a aprender como como um líder também, então fico muito feliz, Luciano.

E eu te digo mais assim, tal qual uma Pedra no Lago, eu vou passar adiante de todos esses ensinamentos, todas essas provocações também para o meu filho e saber o que o mundo que eu quero deixar para ele, o homem que eu quero que ele seja, a formação de caráter. Então tem muita coisa aí.

Luciano, muito obrigado. Você é muito importante. Você foi muito importante para a minha vida e vai continuar sendo. E eu quero que outros ouvintes, não sigam meu mau exemplo de se retrair aqui e ficar do outro lado só consumindo e não expressando.

Então, adicione o número de Luciano. Enviem uma mensagem de muito obrigado. Demorei muito para fazer isso, me envergonho por isso, mas estou fazendo agora.

Luciano, não desanima. Siga em frente. Os ouvintes do café Brasil precisam de você. Eu preciso de você que seja por mais algumas décadas. Então, vida longa ao nosso cafezinho, aquele abraço.”

Grande Alison, muito obrigado. Nunca é tarde pra reagir, e sua mensagem amplifica o tema deste episódio aqui. Dê valor às pessoas que trazem valor à sua vida. Todas elas são finitas, um dia vão acabar. E quando se forem, será tarde demais para agradecer, para dar suporte, para dizer o quanto foram importantes. Isso tem de ser dito agora, enquanto elas estão na batalha, para dar-lhes motivação, para deixar claro que elas são relevantes, cara. E se você puder fazer como o Alison, que foi um passo além, transformou seu agradecimento em ação, tornando-se um assinante, o impacto será real e mensurável. Não pelo dinheiro que será investido todo mês numa assinatura, que é uma bobagem. Mas pela atitude de, com uma ação, você dizer “muito obrigado, você é importante pra mim”. É disso que se trata. Muito obrigado, Alisson.

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A política, já dizia Aristóteles, é a mais nobre das atividades humanas porque visa o bem comum. Mas o que acontece quando essa política deixa de ser instrumento de convivência e passa a ser arma de separação? Quando o “nós contra eles” deixa de ser retórica eleitoral e passa a ser lente para tudo: amizade, família, trabalho, luto?

O episódio que acabo de narrar — o velório silencioso de um amigo seguido, quase que imediatamente, por um retorno ruidoso à discussão política — não é um caso isolado. É um sintoma. Sutil, mas profundo. Um sinal de que estamos vivendo uma transformação de ordem civilizacional. E não é para melhor,cara.

O filósofo Michael Sandel, em “O que o dinheiro não compra”, fala sobre o “aluguel” do espaço moral público. No Brasil, esse espaço foi literalmente invadido pela política partidária. De maneira tribal, irracional e personalizada.

No Brasil de hoje, você não discorda de uma ideia: você cancela o outro. Não existe mais adversário — só inimigo. A política virou um código de identidade. E como alerta Jonathan Haidt, psicólogo social e autor de “A Mente Moralista”, que já rendeu um podsumário sensacional, publicado no Café Brasil 698, quando a identidade moral se funde à política, a razão cede lugar à emoção.

Vou repetir: quando a identidade moral se funde à política, a razão cede lugar à emoção.

Você não busca mais entender: você quer vencer. Quer humilhar. Quer calar.

Aqui, temos exemplos emblemáticos, como o caso do dono de restaurante que perdeu clientela porque declarou voto — tanto de um lado quanto de outro. No auge da eleição de 2022, bastava pendurar uma bandeira ou postar uma opinião para o linchamento começar.

Vimos diversas empresas boicotadas por associações ideológicas, artistas cancelados, influenciadores perseguidos por “dizerem a coisa errada”. Famílias que não se reúnem mais nas festas por divergências políticas. Grupos de WhatsApp da família se desfizeram, padrinhos deixaram de ser convidados. O ódio venceu o afeto.

E aí chegamos na morte de um amigo, que é atropelada pelos comentários sobre a Janja ou a taxação americana. O luto perdeu para o algoritmo da indignação.

O que é que isso mostra?

Estamos vivendo a  tribalização digital e a morte do espaço comum, que o sociólogo Zygmunt Bauman chamaria de “fragilidade líquida” das relações. Tudo é volátil. Raso. Polarizado. O ambiente digital intensificou esse processo. A política, turbinada por redes sociais, virou espetáculo. E como todo espetáculo, precisa de vilões, heróis e torcida.

E nisso a humanidade vai sendo substituída pelo “engajamento”. Como disse o filósofo coreano Byung-Chul Han em A Sociedade do Cansaço: a sociedade do cansaço é também a sociedade da performance, somos empurrados a opinar, reagir, indignar. Até no velório de um amigo, cara.

O resultado é a anestesia da empatia.

O que mais impressiona — e assusta — é a facilidade com que a vida seguiu em minutos. A anestesia da empatia. A incapacidade de parar, silenciar, respeitar a dor do outro.

A política ocupou até o espaço do silêncio.

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Vivemos na era da exaustão. Não porque carregamos sacos de cimento nas costas, mas porque arrastamos expectativas, obrigações emocionais e demandas invisíveis. A sociedade do cansaço à qual me referi há pouco, como diagnostica o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han — não é feita de opressões externas gritantes, mas de imposições internas sussurradas.

É que agora, não basta viver. É preciso performar.

Você não precisa mais de um capataz te chicoteando. Você mesmo virou o capataz. O algoritmo te vigia, o feed te cobra, a notificação te chama. E você responde, sorri, compartilha, rebate, fica indignado. Sempre alerta. Sempre “presente”. Sempre esgotado.

A velha sociedade disciplinar — que dizia “você não pode” — foi substituída pela sociedade da performance, que sussurra: “você pode tudo”.

Pode ser feliz, produtivo, musculoso, culto, conectado, engajado, espiritual, sarcástico, fotogênico e genial. Tudo ao mesmo tempo.

E se não for, a culpa é sua.

Essa lógica do “sim a tudo” criou uma geração de escravos voluntários.

Empreendedores de si mesmos. Gerentes da própria imagem.

Influenciadores de causas que nem conhecem. Especialistas em indignação instantânea.

Gente que nunca para. Porque parar é morrer para o algoritmo.

A política, claro, percebeu o filão. E se aproveitou.

Transformou indignação em combustível. Reduziu o pensamento a slogans. Viciou a sociedade em inimigos imaginários. E agora, se você não se revolta — é conivente. Se você não compartilha — é omisso. Se você não reage — é cúmplice.

Byung-Chul Han explica: num mundo saturado de positividade, até a crítica é capturada pelo sistema como mais uma forma de performance. A revolta virou engajamento. O luto virou post. A empatia virou figurinha. E o silêncio… virou suspeito.

O resultado é um ser humano hiperconectado, hiperinformado e… hiperfrágil. Um sujeito que acorda cansado e dorme acelerado. Que não tem mais tempo de sentir — só de reagir.

Estamos cercados por estímulos, mas vazios de sentido. Envolvidos em conexões, mas carentes de vínculo. Tomados por opinião, mas pobres de pensamento.

A sociedade do cansaço não produz heróis nem sábios.

Produz ansiosos funcionais.

Gente que cumpre prazos, mas não encontra propósito. Que fala com todos, mas não escuta ninguém. Que sabe tudo sobre política, mas esquece de ouvir o amigo que perdeu o pai. Talvez esteja na hora de dizer um “não” silencioso.

De não opinar.

De não compartilhar.

De não reagir.

E escolher, de novo, o que é essencial.

Talvez o silêncio seja o último ato de rebeldia possível.

Talvez, como dizia Victor Frankl, só no silêncio o sentido floresça.

E talvez… mas só talvez… a verdadeira resistência hoje seja desligar o grito e reaprender a escutar.

Nem   seja uma Sonata para um homem bom.

Vamos então ao nosso merchan? Você já sabe, né cara? O Café Brasil é uma produção independente, não tem ligação com sites poderosos, não tem um bilionário aqui alimentando a gente, cara. Não tem uma editora dando dindim, não tem nada disso, cara. É nóis e ocê. Se não for por ocê, não tem nóis.

Sem você a gente não consegue ir muito longe. A gente precisa demais de que quem gosta do nosso trabalho, faça mais do que simplesmente ouvir e dar um tapinha nas costas. Tem que mergulhar fundo e virar um assinante. 

Vai lá, assine o Café Brasil: mundocafebrasil.com.

Telegrama
Zeca Baleiro

Eu tava triste, tristinho
Mais sem graça que a top model magrela na passarela
Eu tava só, sozinho
Mais solitário que um paulistano
Que um canastrão na hora que cai o pano

Tava mais bobo que banda de rock
Que um palhaço do Circo Vostok

Mas ontem eu recebi um telegrama
Era você de Aracaju ou do Alabama
Dizendo: Nego, sinta-se feliz
Porque no mundo tem alguém que diz
Que muito te ama
Que tanto te ama
Que muito, muito te ama, que tanto te ama

Por isso, hoje eu acordei com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho e desejar bom dia
De beijar o português da padaria

Mama, ô mama, ô mama
Quero ser seu, quero ser seu
Quero ser seu, quero ser seu papa

Eu tava triste, tristinho
Mais sem graça que a top model magrela na passarela
Eu tava só, sozinho
Mais solitário que um paulistano
Que um vilão de filme mexicano

Tava mais bobo que banda de rock
Que um palhaço do Circo Vostok

Por isso, hoje eu acordei com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho e desejar bom dia
De beijar o português da padaria
Hoje eu acordei com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho e desejar bom dia
De beijar o português da padaria

(Me dê a mão, vamos sair pra ver o Sol)

E assim ao som de Telegrama (Status) com Zeca Baleiro que vamos saindo pensativos…

Essa canção é o espelho musical de uma geração que vive em vitrine, mas dorme vazia. Gente que sorri para a câmera, mas chora sozinha. Que grita para o mundo “olha pra mim!” — mas não consegue mais ver a si mesma.

Zeca Baleiro não está fazendo só crítica social. Ele está fazendo poesia profética. Está dizendo: “se ninguém te vê, talvez seja hora de parar de tentar parecer… e começar a apenas ser.”

Zeca Baleiro canta o que Byung-Chul Han descreve com precisão no livro A Sociedade da Transparência e A Sociedade do Cansaço:

“A exposição total elimina o mistério. E, com ele, a profundidade.”

Quando tudo é mostrado, nada é sentido. Quando tudo é performance, nada é presença. A comunicação vira monólogo. O outro deixa de ser alguém com quem se dialoga — passa a ser audiência.

“Alguém que escuta essa música não pode ser uma má pessoa.”

Aquela frase atingiu o frio Wiesler como um raio. Pela primeira vez, ele não apenas escutou uma conversa: ele se escutou como ser humano. Pela primeira vez, não cumpriu uma ordem: ele hesitou. E essa hesitação o salvou. Ele começa a proteger Dreyman em silêncio. Desvia registros. Mente nos relatórios. Age com compaixão. Ou seja, ele era exatamente a pessoa que mais precisava escutar aquela frase.

Porque ela o lembrou de algo que o regime tentou apagar: que a sensibilidade é um sinal de bondade. Que a beleza pode despertar consciência. E que o ser humano, mesmo imerso na escuridão, ainda pode escolher a luz. Essa é a força da arte. E esse é o milagre da escuta.

E a morte de um amigo, nunca pode ser em vão. Mas depende de como você reagir a ela.

Lembre-se então: na livrariacafebrasil temos mais de 15 mil títulos muito especiais, para quem quer conteúdo que preste! mundocafebrasil.com.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, que completa o ciclo.

De onde veio este programa tem muito mais. E se você gosta do podcast, imagine só uma palestra minha ao vivo. E eu já tenho mais de mil e duzentas no currículo. Conheça os temas que eu abordo no mundocafebrasil.com.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

Para terminar, uma frase minha mesmo, Luciano Pires

“A liberdade de simplesmente ser foi trocada pela obrigação de parecer ser. Vivemos para a vitrine, esquecemos do espelho.”