Em um estúdio em meados de 1967 — antes da explosão comercial da canção — Dionne Warwick senta-se ao piano com Burt Bacharach, Hal David e as vocalistas Cissy Houston, Myrna Smith e Lee Warrick. Eles estão ensaiando I Say a Little Prayer, que logo se tornaria um marco da música pop e soul. Hal é o letrista, Burt o músico, Dionne a voz. Três gênios ali, diante de um instante silencioso, sem plateia, sem holofotes, sem aparato de produção. Só confiança, intimidade e criação compartilhada.
A cena parece mágica. Warwick experimenta uma nota, hesita com graça; Bacharach interrompe, escuta, sugere, reconstrói. Não há pressa, não há cobrança. Apenas o tempo da música — o tempo da construção coletiva. Um gesto de Burt, um olhar de Dionne, um compasso ajustado. Arte em estado puro, antes de virar produto, antes de estourar nas rádios. Uma prece ainda não cantada, mas já pulsando viva entre artistas.
Assista: https://www.youtube.com/watch?v=iBUDjZxC4co
O mais fascinante é que, nesse ensaio cru, já está tudo ali: a grandeza da canção, a cumplicidade dos músicos, a energia da entrega. A mágica não nasceu no palco, nasceu no bastidor. No palco, ela apenas se multiplicou.
É disso que esquecemos quando falamos de liderança. O melhor dela não acontece sob os refletores das convenções corporativas, nem no discurso ensaiado dos eventos de fim de ano. O melhor acontece no silêncio dos bastidores, quando se constrói confiança invisível, quando se encontra o ritmo compartilhado, quando um gesto simples inspira colaboração.
Ali, naquele estúdio de 1967, I Say a Little Prayer não era ainda uma música imortal. Era apenas trabalho, ensaio, tentativa e erro. Mas era justamente esse trabalho silencioso, nutrido por confiança e vulnerabilidade, que plantava o germe da imortalidade. É ali que a arte nasce. É ali que a liderança se revela.
Quatro lições de Liderança Nutritiva nesse ensaio
- Liderar é ouvir antes de agir
Antes de qualquer movimento grandioso, vem a pausa. Warwick e Bacharach não estão mostrando talento: estão trocando escuta. Líderes nutritivos sabem que sua primeira ação é criar espaço para ouvir — e só depois liderar com presença.
- Vulnerabilidade aproxima mais do que técnica impecável
Warwick não está perfeita. Ela hesita, busca, refaz. E é nessa imperfeição que reside a conexão. Líderes que mostram suas dúvidas — e não só suas certezas — convidam os outros a se sentir seguros para participar.
- Colaboração nasce do gesto compartilhado, não da imposição
Eles não estão concorrendo. Estão conversando em música. A prece compartilhada se manifesta porque cada um está aberto ao outro. Líderes nutritivos entendem que o verdadeiro poder está em orquestrar intenções alinhadas, não impor visões isoladas.
- O impacto maior está no processo, não no palco
O valor desse ensaio não será avaliado pelo público, mas pelo eco que gerará depois — na gravação, nas rádios, nos corações. Líderes nutritivos entendem que legado não vem de performance espetacular, mas do clima de criação que nutrimos em cada ensaio, em cada oficina, em cada conversa.
A Isca de hoje vai para o maestro Leonard Berstein:
“A grandeza de uma orquestra não está no maestro que comanda, mas na escuta dos músicos entre si.”
Liderança Nutritiva é um conceito que criei para definir aquele tipo de pessoa que não apenas lidera, mas inspira e impulsiona os outros a realizarem. Liderança Nutritiva é sobre transmitir, de forma leve, natural e ética, conhecimento e suporte emocional e social que realmente fazem a diferença na vida pessoal e profissional de quem está por perto. É a combinação perfeita entre provocar mudanças e nutrir o crescimento.
Saiba mais: lucianopires.com.br/palestras/lideranca-nutritiva