Eu tenho que falar o que sinto. Ando preocupado. Comecei a escrever este texto faz algum tempo. A novela com título parecido veio bem depois. Mas até ajuda. Está na hora de me confessar. Fiquei travado este ano, perplexo com a realidade que vejo. Confesso que não consegui publicar mais nada, absolutamente frustrado com o que tenho visto nos últimos sete meses na nossa história. Não sei se eu vejo o que poucos vêm, ou se não consigo mais enxergar a realidade com olhos de entendimento. Então resolvi elencar aqui algumas das fotografias que tenho feito da realidade. Sei que se me deixar levar por elas acabarei por ficar deprimido.
Ninguém mais fala a verdade, lê a verdade nem ouve a verdade?
Os noticiários da TV, Jornais e Revistas, não dão mais apenas notícias, em vez disso, fabricam peças estratégicas que buscam passar uma ideia de seu interesse sobre os temas. Travestidos de opiniões e esclarecimentos os textos trabalham a favor de interesses tendenciosos, quer dos próprios veículos de comunicação, como também dos grupos que pagam as Assessorias de Imprensa para fabricar tais peças. O marketing dominou os meios de comunicação e quase nada mais é imparcial e isento.
Assim, a grande maioria das pessoas ignora essa situação e baseia sua vida nessa enxurrada de materiais totalmente deformados, ou formatados para manipular. O pior é que parecem não ligar, assistem a tudo, Lêem a tudo, e acreditam sem questionar.
A Culpa é sempre do Governo?
Tenho visto uma onda crescente de acusações, colocando a culpa de tudo o que está acontecendo, no governo. Como se o governo fosse uma pessoa. E como se essa pessoa realmente conseguisse governar, ou tivesse tais poderes. Ninguém percebe ou para para ver que quem governa na verdade é um conjunto de fatores, manipulado por blocos de poderosos que embaralha tudo, para que suas vantagens e privilégios não se alterem. No tabuleiro nacional do jogo político, os partidos encenam farsas, movimentam fortunas, custam fortunas, gastam enorme tempo no puxa-e-estica do toma lá e dá cá das negociações, fingindo ou se maquiando dessa manta permissiva chamada de “democracia”, fazendo crer que estão de fato buscando algo melhor para o País e para o povo. Pura farsa! No fundo, estão apenas de olho nos seus mesquinhos e interesseiros umbigos, nos privilégios, vantagens, ganhos, que conseguirão, em troca de apoiar ou fingir que não embaçam os processos. Para a oposição, não interessa se o governo acertar com suas medidas, pois eles perderiam força como oposição, então, pouco se lixando para o que está acontecendo, com a crise internacional, com os reflexos dessa mesma crise aqui dentro, com a possibilidade de recessão, com desemprego ou com a vida de milhões que sofrem com isso, eles apenas jogam o jogo sujo do “me dá que eu apoio” ou “não apoio porque é do partido oposto”, e dessa forma, não se governa, não se consegue avançar, e muito menos buscar novos entendimentos. Não interessa a solução, o interesse é de complicar, pois com isso, se fortalecem as negociatas. E esses políticos são os nossos representantes, são os que escolhemos para nos representar. Não cobramos deles, cobramos de um governo, como se esse governo tivesse a culpa de tudo. As coisas não andam, os políticos não ajudam, Custam muito ao nosso bolso, não nos ajudam em nada, não brigam por unir forças a favor das soluções, mas brigam para tirar forças de eventuais soluções. E se dizem defensores de uma posição que cada dia fica mais abertamente exposta como superficial, interesseira e egoísta. Mas o povo paga a conta sempre!
Quem são os criminosos? Temos ilusão?
O Governo distribuiu milhões e milhões de verbas para investimentos em diversos estados desde que foi anunciado que a Copa viria ao Brasil. Obras viárias, modernizações de aeroportos, viadutos, etc…. Financiamentos fáceis para investidores em infraestrutura turística, logística, etc… Haveria circulação de dinheiro, empregos, trabalho e renda, impedindo que a crise externa afetasse a situação interna. Claro que se tudo fosse feito, o Governo e o partido da situação sairiam fortalecidos demais para as eleições. Então, nada poderia dar certo, nada deveria funcionar. Os Governadores, mancomunados com megaempresários corruptores, montaram as licitações fraudulentas, desviram as verbas astronômicas, não fizeram nem 1/3 das obras prometidas, e deixaram o governo de “bunda de fora” diante de uma população alienada que não entende de nada e se bandeia para fazer manifestação sem saber o que está em jogo. No final, tendo o governo vencido, mesmo com a sabotagem orquestrada, começaram a fazer pressão, revelando os esquemas de desvios da Petrobrás, que já se viu que existem há décadas, e a maioria dos partidos que vende seus apoios ao governo estava lá mamando. Aí, na contrapartida, certamente, o Governo resolve que está na hora de mostrar para a sociedade os podres ocultos, os culpados pelos desvios e subornos bilionários. Das licitações majoradas e fraudadas. Resultado, a maioria dos donos das maiores empreiteiras nacionais, fortunas bilionárias, estão na cadeia, respondendo por seus crimes. Mas os políticos mesmo são poucos que já estão presos ou serão. Então, eu devo ser estúpido, pois não consigo entender o motivo de não terem tantos políticos presos. Sarney nunca foi preso, Roseana Sarney nunca foi presa, Renan Calheiros, Cunhas, Malufs, Collors, e tantos outros, que todos sabem ser “um poço de virtudes” conseguem manter sua blindagem graças ao poder do jogo das negociações e interesses. Quem são os criminosos? Vocês conseguem perceber? Acredito seriamente que somos nós, os que sabem de tudo isso, claramente, e ficamos acreditando nas falsas matérias das Revistas e Jornais, fingindo que isso levará a algum lado, e que alguém, não nós, se encarregará de mudar essa situação. Todos à espera do “homem aranha” ou outro super-herói, ou pior, uma volta dos militares como clamam alguns, colocando nosso destino na mão de quem não foi preparado para essa função e querendo novamente a violência como solução!
Que País a gente quer mesmo?
Todos, sempre desejam prosperar, melhorar de vida e dar mais conforto, segurança e qualidade de vida aos seus familiares e dependentes. Pelo menos acho que isso é um desejo justo, normal e comum. Mas, não conseguimos nos distanciar o suficiente da utopia para olhar a realidade, nossas grandes dificuldades, nossos fossos sociais e econômicos. Ainda somos um País de poucos ricos, uma classe média que cresceu artificialmente alavancada por soluções temporárias e de estrutura frágil, e muitos milhões de pobres, sem direitos a ter saúde de qualidade, a ter educação, a ter trabalho digno e moradia. No nosso fervor de atacar os que julgamos culpados por dificuldades vividas diante da crise, cegos de ódio, rancor e angústia de perder os poucos anéis conquistados num período de melhorias passageiras, atacamos o governo, jogamos a culpa no ente que achamos que é o culpado desse quadro. É por isso que eu estou ficando cada dia mais calado. Não vejo uma cena digna de admiração. Pois vejo gritaria desesperada dos que há bem pouco tempo estavam focados no consumismo hedonista de se mirar nas selfies do seu poder material, gastando na Disney o lucro de suas atividades econômicas prósperas por conta de uma sangria que estava ocorrendo nos futuros créditos do pré-sal. A grande maioria de brasileiros prezando muito a condição de poder ficar de zap-zap nas horas de trabalho, multiplicando baboseiras nas redes sociais, roubando horas de produtividade dos seus empregos e ocupações, enchendo a cuca e a pança de cerveja, e depois saindo ao volante de suas máquinas automotivas compradas em 60 meses, transformadas em armas por um condutor irresponsável. A ponto de terem que fazer leis duras e blitz de controle para inibir os crimes desses irresponsáveis, que entram honestos cidadãos nas mesas dos happy-hours e saem horas depois potenciais assassinos. Mas ninguém questiona isso. Quase todos sonegam impostos, cometem infrações, reclamam das multas nas vias de velocidade controlada, mas não percebem que estão infringindo a lei. Estacionam em lugares proibidos, usam vagas de deficientes sem ser, são os grandes aproveitadores sem caráter e sem vergonha. Mas se acham no direito de chamar o governo de ladrão e o político de bandido. Esquecem que eles foram eleitos por toda a nossa gente. Acho que está na hora de revermos nossos conceitos, olhar para o espelho e começar a mudar individualmente. Somente depois saberemos o que queremos para todos nós.
Somos todos PT, PTB, PMDB, PSDB, DEM, PP e outros iguais?
Um processo que precisa ser mais bem estudado e analisado é o conceito que temos sobre o que desejamos para nosso presente e futuro. O mercado, a sociedade de consumo, o marketing, a aldeia global, a televisão dominando as mídias, as rádios FM com seus “jabás” fabricando sucessos da noite para o dia, e de repente, nossos filhos, e até muitos de nós quando chegamos à maturidade, abraçamos um “way of life” completamente “dominado”, vendido, materialista, sem ousadia, sem originalidade, e voltado para o “ter” sem critério de como “ser”. Os partidos políticos são o retrato do que somos, não adianta culpar a eles.
Por que nos alienamos ou fingimos não saber a verdade? Por que não nos rebelamos de fato contra tudo isso?
Será que perdemos o sentido do “por que e como” buscamos nossa liberdade e nossos ideais? Ou será que nossos ideais são apenas o retrato do nosso egoísmo ou alienação? A política passa a ser apenas uma forma de se alcançar o poder. Compramos o modelo externo, importado, e começamos a dar valor ao que se pode comprar e não em como se pode criar e fabricar. Tudo pronto, fácil de usar, rápido e sem muito pudor. Ao mesmo tempo em que cresce exponencialmente nossa produção diária de lixo, e de poluição, perdemos nossas referências e nossos valores. A ética começa a não ter muito sentido. E é justamente nesse bojo da onda materialista que a sociedade consumista pós-moderna mergulha abraçando também um monte de atitude falsa, puritana, moralista, que não passa de uma fachada, uma capa tosca, ocultando a verdadeira prostituição que se desenvolve no caráter dessa sociedade. E eu observando não entendo mais nada. Ou melhor, entendo tanto que não a reconheço mais. A manipulação das massas pelo marketing e pela mídia, no afã de vender tudo cada vez mais, mudando a moda a cada estação, gerando obsolescência cada dia mais veloz, provoca uma sensação de vertigem e embriaguez, e suga a todos de tal forma que seus cérebros pasteurizados e gelatinosos, se moldam com total facilidade, sem critérios, sem autocrítica e sem vontade própria. Basta observar nas redes sociais o comportamento da maioria, a quantidade de baboseira que se publica e se replica diariamente, durante horas, apenas para gerar a falsa sensação de que sua existência tem algum significado e importância no cenário deletável, mesmo que no dia seguinte já seja passado e esquecido. Se tivermos o cuidado de fazer um olhar mais profundo, veremos que não há profundidade em nada. E tudo, cada dia perde mais sua consistência real para ser uma realidade virtual e sem a menor importância.
Assim, antes de se tornar lixo, o lixo se exibe e se esnoba, se maquia de produto nobre, e apodrece antes mesmo que seja degustado ou analisado com profundidade.