O jornal O Estado de São Paulo divulgou pesquisa do Ibope sobre a simpatia do eleitor por partidos políticos. Em 20 anos, de junho de 1988 até maio de 2007, uma das curvas permaneceu estável: 40% dos eleitores não simpatizavam com partido algum. Mas nas pesquisas de 2010 e 2012 a curva mudou de tendência e cresceu para 50% e 56% respectivamente. E agora em 2013, depois do mensalão e das loucuras que aconteceram e ainda estão por vir, a curva deve subir mais um pouco.
Por volta de 1982 o PMDB tinha a simpatia de 25% dos eleitores, caindo para 5% em 2012. O PSDB, que vinha de 10% em 1994, chegou a 5% em 2012. O PT, que vinha de 15% entre 1998 e 2000 e subiu para 33% entre 2002 e 2003, terminou 2012 com 24%. Enquanto isso Lula e Dilma alcançavam índices de popularidade excepcionais, mostrando que o brasileiro descola a figura do governante dos partidos de onde eles vêm.
Enquanto isso, a maior empresa de relações públicas do mundo, a Edelman, divulgou a edição 2013 da pesquisa que ela realiza desde 1998, o Trust Barometer. Ela entrevistou mais de 31.000 formadores de opinião em 26 países, examinando o índice de confiança em quatro instituições: governo, negócios, mídia e ONGs. Em 2011 o Brasil estava em primeiro lugar na lista, com um índice espetacular de 80% de confiança nas quatro instituições. Em 2012 caímos para 14º lugar, com 51%, subindo em 2013 para 12º com 55%.
Na edição de 2013 (que você encontra aqui: ) , a avaliação global da capacidade de ação dos governantes revelou que 85% dos participantes acreditam que eles são incapazes de resolver os problemas sociais; 86% acham que são incapazes de tomar decisões éticas e morais, e 87% acham que jamais falam a verdade sobre questões complexas ou impopulares.
Há que se mergulhar profundamente na pesquisa para tirar conclusões que sirvam de reflexão sobre quais os caminhos da sociedade, mas de imediato dá para sacar que existe uma clara distinção entre confiar no governo e confiar nos governantes. A pesquisa da Edelman mostrou que, globalmente, 41% dizem confiar no governo, mas apenas 13% confiam nos governantes. E como confiança, simpatia ou popularidade não são a mesma coisa, fica evidente que existe um claro processo de destruição de valor em andamento. O resultado é uma transição da confiança: a pesquisa mostra que a maioria dos respondentes considera uma pessoa comum ou um professor, duas vezes mais confiável que um governante, o que abre uma avenida bem pavimentada para as redes sociais em relação às ruas esburacadas das mídias tradicionais.
Isso dá pano pra manga. Essa reflexão me trouxe à lembrança o humorista Clayton Silva, que faleceu nos primeiros dias de 2013. Era dele o personagem da Praça é Nossa que usava o bordão:
– Tô de olho no sinhô.
O recado para os políticos é claro: continuem assim que uma hora o caldo entorna.
Luciano Pires
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