Por Adalberto Piotto
Francisco, o papa, não faz revoluções.
Estas costumam ser idiossincráticas, personalistas, contraditórias e com efeitos desastrosos porque, não raro, se baseiam em emoções exacerbadas e autoindulgências dos revolucionários. Dão errado.
Sua Santidade olha ao redor e faz, sim, concessões ao contemporâneo sem perder as sagradas referências antropológicas de quem somos e como chegamos até aqui.
Sensato que é, tem plena consciência que não há vida sem o presente. Corajoso que é, sabe perfeitamente que sem tradições não há humanidade.
A liberdade absoluta é o reino antagônico do castelo do preconceito. Ambos se orientam pela estupidez e arrogância.
O bom senso continua sendo a alma da inteligência.
Por isso, o papa recomenda uma vida de aceitação ao outro quando se abre à comunhão aos divorciados – ou casados novamente – ou abre a igreja aos homossexuais.
Não dá aceitação absoluta a ninguém nem autoriza o absolutismo de que grupo for. A vida em comunidade é um exercício de respeito recíproco e intenso.
As ponderações, com citações a contemporâneos como o ativista americano Martin Luther King, o escritor conterrâneo Jorge Luis Borges e ao filme dinamarquês “Festa de Babette”, de Gabriel Axel, estão no documento divulgado hoje “Amoris Laetitia” (a Alegria do Amor), de 260 páginas.
Ao conceder direitos aos católicos “imperfeitos”, Francisco desconstrói a lógica da suposta perfeição que exclui, sem diminuir deveres de ninguém, mas inclui outros aos direitos.
O papa não é craque. Craque quer fama e nenhuma contestação.
O papa é só humano.
E ele faz questão de se bastar só com isso.
http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/papa-pede-que-igreja-acolha-divorciados-e-homossexuais