Café Brasil 211 – Solidão feminina e barrigudos

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O programa da semana trata mais uma vez da relação homens e mulheres. E traz um delicioso artigo de Ivan Martins que fala da perplexidade do homem diante da capacidade que a mulher tem de se sentir bem sozinha. Depois um texto de Carla Moura mostra como os homens barrigudos são os melhores. Ufa! Na trilha sonora, a festa de sempre: Choro na Feira, Grupo vou Vivendo, Mestre Galo Preto e Tronco da Jurema, Ultraje a Rigor, Joelho de Porco, Ary Toledo e mais um convidado cujo nome não vou dizer pra não estragar a surpresa. Apresentação de Luciano Pires.

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Pra começar, uma frase do comediante estadunidense Rodney Dangerfield:

Minha mulher e eu fomos felizes por vinte anos. Então nos encontramos…

Olha só, começamos com o Choro na Feira tocando UM CHORINHO PRA ELA, de Bilinho Teixeira.

O podcast de hoje foi montado só com coisas que circulam pela internet. Como a história de três amigas , uma noiva, uma casada e uma amante, que decidiram fazer uma brincadeira: seduzir seus homens usando uma capa, corpete de couro, máscara nos olhos e botas de cano alto. A idéia era depois dividir a experiência entre elas.

No dia seguinte, a noiva iniciou a conversa:

– Quando meu noivo me viu usando o corpete de couro, botas com 12 cm de salto e máscara sobre os olhos, me olhou intensamente e disse: ´Você é a mulher da minha vida, eu te amo´. Fizemos amor apaixonadamente.

A amante contou a sua versão:

– Encontrei meu amante no escritório, com o equipamento completo!

Quando abri a capa, ele não disse nada, me agarrou e fizemos amor a noite toda, na mesa, no chão, de pé, na janela, até no hall do elevador!

Aí a casada contou sua história:

– Mandei as crianças para a casa da minha mãe, dei folga pra empregada, fiz depilação completa, as unhas, escova, passei creme no corpo inteiro, perfume em lugares estratégicos e caprichei: capa preta, corpete de couro, botas com salto de 15 cm, máscara sobre os olhos e um batom vermelho que eu nunca tinha usado. Pra incrementar, comprei uma calcinha de lycra preta com um lacinho de cetim no ponto G. Apaguei todas as luzes da casa e deixei só velas iluminando o ambiente. Meu marido chegou, me olhou de cima abaixo e disse:

– Fala aí, Batman, cadê a janta?

Aqui, no podcast, você vai ouvir, Tema do Batman, composto por Neal Hefti para o famoso seriado de TV de 1966, com arranjo de Nelson Riddle tornou-se um hit que deixava a molecada doida. Bat-maaaannnn no Café Brasil!

Ivan Martins, editor-executivo da revista ÉPOCA, escreveu um delicioso texto chamado Solidão contente – O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas.

Ao fundo você ouvirá BENZINHO, de Jacob do Bandolin com o Grupo Vou Vivendo…

Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão.

Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem.

Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.

Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha.

Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.

“Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”.

Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor.

Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou.

Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre.

Homem com homem, mulher com mulher

Homem com homem
Não vira lobisomem
Mulher com mulher
Não vira jacaré
Seja Maria, seja José
Cada um ama como quer

Jacaré é bicho d’água
Lobisomem é assombração
Quando o bicho homem ama
Não é nada disso não

Para que reprimir
Para que descriminar
Se eu amo, se tu amas
Deixa em paz quem quer amar

O amor é coisa séria
Amor vem do coração
Não importa qual o sexo
Amor faz a união

Já disseram outrora
Que Jesus abençoou
Todo amor merece respeito
Eu respeito todo amor
Se o senhor ama a senhora
Se a senhora ama o senhor
Mas se ele quer amar ele
Deixa ele com o seu amor

Não, não, não
Não vira lobisomem
Não, não, não
Não vira jacaré.

Rararara, que tal Mestre Galo Preto e o Tronco da Jurema com HOMEM COM HOMEM MULHER COM MULHER? Mestre Galo Preto é cantador, coquista, repentista e embolador, músico e compositor, percussionista..um jazz man! Nascido em 1935 no agreste de Pernambuco é o último remanescente do coco daquela região, que você ouve aqui no Café Brasil.

Retomando o texto de Ivan Martins…

A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem.

A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói.

Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome?

A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade.

Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda.

Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas.

Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos. Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer. Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha.
Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil.

Eu me amo

Há quanto tempo eu vinha me procurando
Quanto tempo faz, já nem lembro mais
Sempre correndo atrás de mim feito um louco
Tentando sair desse meu sufoco
Eu era tudo que eu podia querer
Era tão simples e eu custei pra aprender
Daqui pra frente nova vida eu terei
Sempre a meu lado bem feliz eu serei  

Refrão
Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim  

Como foi bom eu ter aparecido
Nessa minha vida já um tanto sofrida
Já não sabia mais o que fazer
Pra eu gostar de mim, me aceitar assim
Eu que queria tanto ter alguém
Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém
Longe de mim nada mais faz sentido
Pra toda vida eu quero estar comigo  

Refrão  

Foi tão difícil pra eu me encontrar
É muito fácil um grande amor acabar, mas
Eu vou lutar por esse amor até o fim
Não vou mais deixar eu fugir de mim
Agora eu tenho uma razão pra viver
Agora eu posso até gostar de você
Completamente eu vou poder me entregar
É bem melhor você sabendo se amar

É claro que eu tinha que largar um EU ME AMO, do Ultraje a Rigor, não é? E como daqui a pouco eu vou falar de gordinhos, ouça, no podcast, o que o Ari Toledo, tem a dizer a respeito.

Pois então encontro um conselho interessante: Namorem um barrigudinho! de Carla Moura, psicóloga, especialista em sexologia. Tenho medo de mulheres especialistas em sexologia, mas isso é tema para outro programa. Vamos adiante.

Tenho um conselho valioso para dar aqui: se você acabou de conhecer um rapaz, ficou com ele algumas vezes e já está começando a imaginar o dia do seu casamento e o nome dos seus filhos, pare agora e me escute!

Na próxima vez que encontrá-lo, tente disfarçadamente descobrir como é sua barriga.
Se for musculosa, torneada, estilo `tanquinho?, fuja! Comece a correr agora e só pare quando estiver a uma distância segura. É fria, vai por mim.

Homem bom de verdade precisa, obrigatoriamente, ostentar uma barriguinha de chopp. Se não, não presta.

Estou me referindo àqueles que, por não colocarem a beleza física acima de tudo (como fazem os malditos metrossexuais), acabaram cultivando uma pancinha adorável. Esses, sim, são pra manter por perto. E eu digo por quê.

Você nunca verá um homem barrigudinho tirando a camisa dentro de uma boate e dançando como um idiota, em cima do balcão. Se fizer isso, é pra fazer graça pra turma e provavelmente será engraçado, mesmo. Já os tanquinhos farão isso esperando que todas as mulheres do recinto caiam de amores – e eu tenho dó das que caem.

Quando sentam em um boteco, numa tarde de calor, adivinha o que os pançudos pedem pra beber?

Cerveja! Ou coca-cola, tudo bem também. Mas você nunca os verá pedindo suco. Ou, pior ainda, um copo com gelo, pra beber a mistura patética de vodka com coca light, que trouxe de casa.

E você não será informada sobre quantas calorias tem no seu copo de cerveja, porque eles não sabem e nem se importam com essa informação.

E no quesito comida, os homens com barriguinha também não deixam a desejar. Você nunca irá ouvir um ah, amor, `Quarteirão? é gostoso, mas você podia provar uma `McSalad? com água de coco. Nunca!

Esses homens entendem que, se eles não estão em forma perfeita o tempo todo, você também não precisa estar. Mais uma vez, repito: não é pra chegar ao exagero total e mamar leite condensado na lata todo dia! Mas uma gordurinha aqui e ali não matará um relacionamento. Se ele souber cozinhar, então, bingo! Encontrou a sorte grande, amiga. Ele vai fazer pra você todas as delícias que sabe, e nunca torcerá o nariz quando você repetir o prato. Pelo contrário, ficará feliz.

Outra coisa fundamental: Homens barrigudinhos são confortáveis!

Experimente pegar a tábua de passar roupas e deitar em cima dela. Pois essa é a sensação de se deitar no peito de um musculoso besta. Terrível!
Gostoso mesmo é se encaixar no ombro de um fofinho, isso que é conforto. E na hora de dormir de conchinha, então? Parece que a barriga se encaixa perfeitamente na nossa lombar, e fica sensacional.

Homens com barriga não são metidos, nem prepotentes, nem donos do mundo. Eles sabem conquistar as mulheres por maneiras que excedem a barreira do físico. E eles aprenderam a conversar, a ser bem humorados, a usar o olhar e o sorriso pra conquistar. É por isso que eu digo que homens com barriguinha sabem fazer uma mulher feliz.

Um homem uma mulher

Ao som do sabadabada sabadabada
Vamos cantar badabada sabadabada
E ao dançar, nosso romance vai começar
A bossa é sabadabada sabadabada
E sem parar badabada sabadabada
Sempre a cantar badabada sabadabada
Chegou a chance para te amar
Quero ouvir o que disserem
Para ti sobre o nosso amor
Um homem, uma mulher
Dizendo que se querem com fervor
Ao som do sabadabada sabadabada
Vamos cantar badabada sabadabada
E ao dançar, nosso romance continuar
Pra terminar badabada sabadabada
Vamos dançar badabada sabadabada
E vai ficar badabada sabadabada
Ao nosso alacance, amor pra dar
Romance que não tem par
Chance pra te amar badabada sabadabada
Para amar badabada sabadabada
Para amar badabada sabadabada

Você está ouvindo, no podcast, Um homem, uma mulher, versão em português da música que foi um sucesso como trilha sonora do filme homônimo de Claude Lelouche em 1966. Sabe quem está cantando aqui? Você não vai acreditar….

Você ouviu, sabe quem? Ronald Golias. Que como cantor de música romântica é um excelente humorista. Onde é que você podia ouvir Ronald Golias cantando música romântica? É aqui, no Café Brasil.

Tá achando pouco é? Então toma essa:

Hey gordão

Hey Gordão
Tome cuidado
Hey Gordão…não se arrisque mais
Você pode sentir
Que eu não digo por mal nenhum
Voe como uma pluma
Esqueça do macarrão

Hey Gordão
Abra seus olhos
Hey Gordão…Esqueça o macarrão
Prá você salvar sua pele
Esqueça do macarrão
Voe como uma pluma
Esqueça do Macarrão

Ah, que achado… É assim, ao som de HEY GORDÃO, com o Joelho de Porco, de Próspero e Renato Albanese… uma daquelas loucuras que se fazia em São Paulo em 1976… que o Café Brasil que tratou outra vez de homens e mulheres, vai embora…

Estiveram conosco Choro na Feira, Grupo vou Vivendo, Mestre Galo Preto e Tronco da Jurema, Ultraje a Rigor, Joelho de Porco, Ary Toledo e Ronald Golias.

Com o barrigudão Lalá Moreira na técnica, a senhorita Ciça Camargo na produção e eu, o barrigudinho Luciano Pires na direção e apresentação.

Quer mais? Acesse www.portalcafebrasil.com.br , lá tem senhores, senhoras, casados, solteiros, magrinhos e barrigudinhos. Mas todo com a cabeça boa…

Pra terminar, uma frase do escritor alemão Moritz Gottlieb Saphir:

O primeiro sono tranqüilo de adão foi também o último: ao despertar estava casado.

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