Que grandeza…

Ah… nada como o amor sincero à Pátria, o dar-se pelo povo… Nada como ver políticos desprendidos, servindo à nação uma verdadeira aula de civismo, espalhando sabedoria e exemplo de honestidade – sem jamais pensar em si. Homens de grandeza infinita no meio governamental recente. E temos brilhantes exemplos nas extraordinárias figuras de José Eduardo Cardozo, Tarso Genro e Eugênio Aragão. Quanta grandeza reunida em três figuras ímpares, que ocuparam a cadeira máxima do ministério da Justiça nos governos Lula e Dilma. Mereceriam ser chamados para integrar o atual governo e ensinar o correto caminho a seguir.


Pra quem não conhece a figura de linguagem chamada ironia, taí um exemplo no parágrafo acima. Pra deixar bem claro, como ensinava o grande João Ubaldo Ribeiro.


Esses três honrados senhores decidiram, em uníssono, sugerir ao atual ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que, “num ato de grandeza”, renunciasse ao cargo. A justificativa do singelo pedido seria a tragédia prisional no País.


Como se Moraes fosse o causador dela.


O atual ministro escorrega aqui e ali; fala um pouco demais, e tem outros probleminhas, todos devidamente registrados nos jornais. Mas seria realmente tão ruim como querem seus quase algozes?


Analisemos a atuação dos antecessores, que agora pedem sua cabeça em nome dessa mesma “grandeza”:


Tarso Genro foi ministro da Justiça de 2007 a 2010, no governo Lula. Em 2009, quando bandidos do MST torturaram e assassinaram covardemente quatro pessoas inocentes, ele teve o desplante de não tomar nenhuma atitude. Nenhuma, zero. Pior: Classificou o crime hediondo apenas como uma ação “arrojada”, e que não via violência na matança. Negou a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti no mesmo ano. Crendeuspai. O mesmo Genro mandou caçar os boxeadores cubanos Lara e Rigondeaux, que haviam pedido asilo político no Brasil em 2007. Foram impedidos de dar entrevistas ou receber apoio de advogados. Algemados e enfiados num jato venezuelano, foram devolvidos à ditadura cubana em questão de horas. Em sua visão, exemplos de grandeza, obviamente.


José Eduardo Cardozo ocupou o mesmo posto de 2011 a 2016, no desgoverno Dilma. Era chamado por ela, junto com dois de seus colegas, de “os três porquinhos”. Nos últimos anos, dedicou-se exclusivamente, “diuturna e noturnamente”, como diria sua presidenta, à defesa desta. Como se o ministério servisse somente a ela, e não a todos nós. Em seus derradeiros dias, legou ao povo o inesquecível discurso no qual incluía o “jurista Tomás Turbando”. Suprema grandeza, claro. Digna de heróis. Taspariu.


Eugênio Aragão chegou ao comando do ministério nos estertores do desgoverno Dilma/Janete. Conhecido por suas críticas ácidas e pelo uso do Santo Daime, não olvidou seu predecessor; partiu para a defesa sem limites da presidonta. A imprensa o chamava de “Eugênio, o breve”, em razão dos poucos dias no cargo. Recentemente, acusou Moraes de manter conchavos com o PCC e desenvolveu uma tese econômica que faria Keynes revirar no túmulo: Declarou que a operação Lava Jato está “quebrando” o País (!), pois permite que empreiteiras estrangeiras ocupem esse nicho mercadológico aqui e no exterior (!!); de quebra, ofendeu procuradores da República pelo mesmo “motivo” (!!!). Foi devidamente desmentido por economistas de relevo, como Affonso Celso Pastore, mas nunca se desculpou pelas imensas barbaridades. Aparentemente, vai ganhar um processo movido por Alexandre de Moraes para “aprender a ficar de boca calada”, como disse o próprio. Tomar menos Daime pode ajudar bastante.


Por fim, o Brasil todo (ou quase) espera dessas três figuras, integrantes dos mais desastrosos e corruptos governos da História do País, a grandeza de desculparem-se por tudo isso.


Falando no caso: Qual foi a atitude desses três senhores diante dos massacres e absurdos ocorridos em prisões quando eram titulares da pasta? Principalmente em Estados governados por aliados suspeitíssimos, Como Rio e Maranhão? Ah, nenhuma? Só pra saber.


O finzinho foi sarcasmo, saudoso João Ubaldo. Assim fica tudo explicado sobre figura de linguagem.