Quando eu crescer

Meu filho completou 26 anos! E durante aquelas viagens no tempo que – a cada aniversário – os pais fazem com seus bebês, revivi o momento em que, aos 19 anos de idade, diante do vestibular, ele teve que escolher o que seria “quando crescesse”. Até então eu havia dito que era cedo para definir o futuro, mas que ele deveria conversar com profissionais, visitar pessoas, fazer testes de aptidão, usar todos os recursos para avaliar as oportunidades de carreira profissional.

É claro que ele não fez nada daquilo. Seguiu o coração e um dia disse:

– Pai, tá decidido. Quero fazer Artes Plásticas.

Hein? Artes plásticas? Visualizei-o com trinta e cinco anos, cara de cinquenta, barbudo, de papete e bolsa a tiracolo, vendendo pulseirinhas na praia… Meu filho, pô! Meu investimento! Artista plástico? No Brasil? O coitado vai passar fome!

– Artes plásticas? Você tem certeza?
– Tenho, pai. É isso que quero fazer.

Enquanto eu segurava pelos cabelos a mãe dele, que havia saltado pela janela do segundo andar, contei até dez e disse o melhor que pude:

– Muito bem. Se é isso que você quer, vamos encarar. Não tenho a menor idéia se daqui a cinco ou dez anos você será artista, gerente de banco, dono de Pet Shop ou executivo de multinacional, mas uma coisa eu sei: você vai ter que cursar a melhor escola de artes plásticas do Brasil.

Ao transitar do emocional para o racional durante aquele “contei até dez”, me lembrei de um caro amigo, o Sidney, que se formou engenheiro químico e nunca mais olhou para uma tabela periódica. Foi trabalhar em vendas, transformando-se num grande executivo global, presidente de empresas multinacionais.
Recordei-me de outro amigo, o Marco, que se formou em agronomia e nunca trabalhou no ramo. Hábil em economia e finanças, tornou-se consultor especializado em franquias e venda e aquisição de empresas. E um dia me disse:

– Luciano, foi minha formação em agronomia que permitiu que eu tivesse uma visão de negócios completamente diferente dos outros consultores.

Lembrei-me também do suporte que recebi de meu pai em 1974 quando, aos 18 anos de idade, decidi sair de Bauru para estudar Comunicação Visual na capital. Até hoje não consigo explicar para minha mãe que raio de profissão é essa, mas foi com um diploma de “comunicador visual” que construí uma bem sucedida carreira de vinte e seis anos como executivo de uma multinacional de autopeças. Algo que nunca imaginei aos 19 anos…

Respeitando a carreira que escolhi seguir, meu pai preocupou-se em garantir que eu tivesse a melhor formação possível. Ele sabia que o resto viria como conseqüência.  

Muito bem. O Dani formou-se em artes plásticas na melhor escola e hoje, aos 26 anos de idade, trabalha com produção de vídeos, dando vazão à criatividade, atendendo clientes de grandes corporações e fazendo planos.

Quer saber? Não há o que pague o orgulho que sinto por ter apoiado seus sonhos.

Luciano Pires