PUXA-SACOS
Lá vem
O Cordão dos puxa-sacos
Dando vivas aos seus maiorais
Quem está na frente é passado pra trás
E o Cordão dos puxa-sacos
Cada vez aumenta mais…
Roberto Martins
O chefe conta uma piada sem graça, e ele ri. A celebridade escreve algo no Facebook e ele e curte e compartilha, esquecendo-se que um de seus amigos escreveu o mesmo horas antes, e ele nem sequer leu. Ricardo Amorim, aquele economista e apresentador do programa Manhattan Connection citou há algum tempo uma frase com autoria errônea em seu Twitter, e teve milhares de retuites, uma moça assinalou o erro, e ninguém retuitou. Uma mulher dá uma excelente ideia aos colegas de trabalho, todos são homens, é ignorada, minutos depois um colega homem dá a mesma Idea e todos da equipe viram suas cadeiras para ouvir atentamente o que o homem diz. Revistas, jornais e sites de notícias contam mentiras deslavadas, inventam matérias, e milhões de pessoas as repetem sem questionar. Professores despreparados, que não dão aulas, mas apenas entretém os alunos com piadas e brincadeiras são enaltecidos, enquanto aqueles que estudam, batalham e se preparam são tidos como “chatos” por esses mesmos alunos. O palestrante famoso e que ficou rico graças a um currículo falso é contratado em uma empresa, a plateia é inteligente e não se deixa intimidar, o questiona, ele não responde, e uma das participantes diz que seus exemplos só se baseiam em futebol e machismo. Ele encerra a palestra dizendo: Agora, vou pegar meu helicóptero para dar outra palestra à tarde em um grande shopping de São Paulo.
Parece até que o mundo hoje em dia se divide em três segmentos: Os puxa-sacos, ou seguidores cegos e burros, os famosos ou influenciadores nem sempre idôneos, e os raros questionadores, aqueles com poucos ou nenhum seguidor. E quando escrevo seguidor não pense que eu estou falando apenas de redes sociais, mas sim da malha social.
Mas, o tema aqui são os puxa-sacos, aqueles seres inseguros e que vivem à mercê da sombra alheia. São os baba-ovos, bajuladores, aduladores. Eles sempre existiram, mas hoje têm espaço garantido nas mídias a começar pela TV, e o pior, são respeitados. Particularmente sou da mesma opinião do escritor Umberto Eco. Segue matéria do UOL notícias publicada no dia 11/06/2015:
Crítico do papel das novas tecnologias no processo de disseminação de informação, o escritor e filósofo italiano Umberto Eco afirmou que as redes sociais dão o direito à palavra a uma “legião de imbecis” que antes falavam apenas “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”.
A declaração foi dada nesta quarta-feira (10), durante o evento em que ele recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, norte da Itália.
“Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”, disse o intelectual.
Segundo Eco, a TV já havia colocado o “idiota da aldeia” em um patamar no qual ele se sentia superior. “O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”, acrescentou.
O escritor ainda aconselhou os jornais a filtrarem com uma “equipe de especialistas” as informações da web porque ninguém é capaz de saber se um site é “confiável ou não”.
Hoje em dia bobagens e mais bobagens são disseminadas graças ao crivo inexistente das diferentes mídias, como diz Eco. Com isso um bando de puxa-sacos que não pesquisa, é preguiçoso, e além de tudo tem espaço para comentar e até promover a barbárie cresce vertiginosamente. Já li até dissertações e teses de mestrado e doutorado que fazem uso de livros questionáveis, sem que o orientador (provavelmente também um seguidor cego) fizesse o mínimo questionamento sobre o que lá está escrito, é como se hoje as pessoas lessem e não mais pensassem à respeito. Se antes tínhamos que beber da fonte para construir qualquer aspecto do conhecimento, hoje qualquer opinião é tomada como verdade e depois copiada e repetida centenas de vezes. E sabemos que tudo o que se repete como verdade, parece ser verdade, mesmo que não o seja.
A falta deste pensamento crítico tem levado bandos e bandos de famosos ou influenciadores não só ao enriquecimento como também à construção de falsas verdades, tais como diplomas inexistentes, pesquisas mentirosas, evidente falta de talento no que se refere às artes, por exemplo. É como se endeusássemos o bobo, o burro e o enganador. O vazio existencial e intelectual anda tão grande que a maioria dos puxa-sacos ou seguidores cegos hoje é constituída de gente de alta escolaridade (não confunda escolaridade com cultura).
Teria muito mais a escrever sobre este tema, já que eu penso, mas infelizmente pelos padrões internéticos atuais, ao menos aqui no Brasil, os textos devem ser curtos e preferencialmente vazios de significado. E com certeza pouca gente ou até ninguém tecerá um único comentário à respeito. Este é o destino dos que pensam.