Pílulas Natalinas

Hoje vou pegar leve, com algumas pílulas natalinas que andei juntando. São retalhos que vou costurando, sabe como é?

Pílula um:  O Natal é um período especial do ano. Uma convenção. Quando ele chega o tempo muda, um clima diferente toma conta da casa, da cidade, do país. Conheço muita gente que odeia o período do Natal. Acha triste, provavelmente por trazer lembranças de tempos felizes que não vão mais voltar.  Lembranças de entes amados que já se foram. O Natal traz saudades. Ele acorda a criança que dorme dentro de nós, reaviva sentimentos que nos dominavam quando tínhamos seis, sete anos de idade. Um período em que o Natal, seja rico ou pobre, é sempre fascinante. Foi Erma Bomback, humorista estadunidense quem disse uma frase que chega a doer de tanta poesia:

– Nada mais triste que acordar numa manhã de Natal e não ser criança…

Pílula dois: E houve também um anônimo cruel que disse:

– Aprendi que o homem tem quatro idades: quando acredita em Papai Noel, quando não acredita em Papai Noel, quando é o Papai Noel e quando se parece com Papai Noel.

Pílula três: O meu Natal inesquecível aconteceu quando eu tinha uns dez anos, lá por 1966. A família gigantesca reunia-se na casa de meus avós Duarte e Dora. Era uma tremenda festa, todos davam presentes para todos. Naquele ano só ganhei coisas que crianças detestam: meias, lenços, sabonetes… Fui pra casa arrasado. Quando cheguei, meu pai estranhamente mandou que eu entrasse no quarto e acendesse a luz. Ao entrar senti um cheiro de coisa nova. Acendi a luz e no meio do quarto estava uma bicicleta. Uma Monareta branca e vermelha. Linda. Brilhante. O melhor presente de Natal da minha vida.

E para terminar, a Pílula quatro:  Já que é Natal, que tal um presentinho? O Soneto de Natal de Machado de Assis?


Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?” 

Feliz Natal!