Cadê os estudantes? Onde foram parar os inconformados jovens que foram a linha de frente dos movimentos sociais nos anos sessenta, setenta e oitenta? Sobre esse tema, recebi um e-mail de um leitor, o Julio Cesar.
Olha só:
Tenho me manifestado com freqüência em fóruns dos quais participo a respeito da apatia do brasileiro com relação à falência moral do Brasil. Há dezessete anos vimos os “carapintadas” nas ruas pedindo a renúncia de Fernando Collor. Na década de 60 os estudantes participavam ( para o bem ou para o mal ) da vida política do Brasil. E hoje o que vemos é uma classe estudantil sem rumo, invadindo reitorias com reivindicações paroquiais, influenciada por militantes de esquerda e incapaz de enxergar as reais causas dos problemas nacionais. Em minha opinião, ou os estudantes são completamente ignorantes e incapazes de estabelecer uma relação de causa e efeito relativa à problemática nacional ou deixaram de estar interessados na construção de um futuro melhor para o Brasil. Ou então uma maioria silenciosa está sendo conduzida pela minoria ruidosa e obstinada em suas convicções políticas esquerdistas e sectárias.
Ah, caro Julio, o que estamos vendo é uma colheita. Quarenta anos de pregação esquerdista primária aliada ao empobrecimento do conteúdo escolar transformaram nossos jovens nisso que você vê: uma caricatura malfeita do que um dia foi sempre festivamente a linha de frente da resistência nacional.
Jovens precisam de referências. Espelham-se contra ou a favor em lideranças, nos mais velhos e experientes.
E para essas mentes jovens, ávidas e contestadoras, que referência é melhor do que um professor que tem um inflamado discurso revolucionário? Mesmo jurássicos e pessimistas, esses discursos sempre parecem mais inteligentes que os otimistas. Que referência é melhor que um oprimido bruto e disposto a sair no braço por seus ideais? Que causa é melhor que a do bandido, vítima da elite branca, que tem direito de meter um revólver na cara do boyzinho que desfilou com seu Rolex?
Aqueles quarenta anos deram nisso: inversão sistemática de valores, sintoma claro de que a sociedade perdeu o norte. Ou será o oeste?
E os porta-vozes dessa miopia, militantes profissionais, conseguem o que a esquerda sempre soube fazer: mobilização da minoria ativista, que faz o que quer da maioria resignada. Nenhuma novidade, afinal foi Platão quem disse milhares de anos atrás que “o castigo para os que não se envolvem em política é serem governados por seus inferiores”.
Hoje Platão seria rotulado de preconceituoso, direitista e elite… Pau nele!
Mas essas minorias são, de certa forma, necessárias. Mesmo quando exageradas, radicais e extremistas, elas servem a um propósito: são os pontos fora da curva que definem a própria curva. Sem eles a curva é tendenciosa. Ter gente do contra é necessário, do contrário as minorias nunca terão voz. O problema é quando essas minorias passam a ter o monopólio da verdade. Quando transformam a maioria no resto. Quando são instrumentalizadas para a busca do poder. Quando adotam um discurso ideológico que demoniza tudo que não comunga com suas idéias. Quando prometem o céu… Quando isso acontece, não importa se a minoria é de direita, centro ou esquerda. É excesso. E excesso é ruim.
Especificamente sobre os carapintadas de quase vinte anos atrás, nada me tira da cabeça que a maior parte do que vimos foi festa. Embalo muito bem conduzido pela minoria militante (quem eram mesmo?). E Collor foi politicamente deposto com base em evidências de que agiu contra a lei e o decoro. Não precisou ser julgado e condenado. As evidências bastaram…
Pois eu gostaria de ter aquela máquina do tempo para trazer para o presente os carapintadas de 17 anos atrás. Pediria a eles que, usando os mesmos pesos e medidas de 1991, examinassem as evidências atuais envolvendo políticos suspeitos de agir contra a lei e o decoro. E então recomendassem aos estudantes de hoje, seus sucessores, como agir.
Talvez a primeira recomendação fosse uma mudança de apelido.
De caraspintadas para carasenvergonhadas .