Por Suely Pavan Zanella
#SaúdeMental no Trabalho
O Gerente de B. pediu que eu fizesse uma avaliação da moça. Ele dizia rapidamente que B. era diferente da equipe. O gerente deu poucas informações sobre seu descontentamento, parecia estar apressado, e mal entrou em minha sala, e logo saiu para fazer os seus diversos afazeres.
Não tendo alternativa, devido à rapidez dele, escrevi um e-mail em que contava o meu plano de trabalho: Uma observação dela na área; avaliação psicológica e entrevista. Ele aceitou e respondeu ao meu e-mail com um lacônico: OK.
A observação da área me mostrou algo que já sabia, e que era comum aos atendentes de marketing daquela empresa: Gente que anda para lá e para cá, atende a telefonemas, reclama e se agita. A impressão que tive é que o mundo iria acabar amanhã. Esse era o modus operandi da área. Porém, B. parecia tranquila em meio àquela agitação, que até aquele momento eu não sabia se era necessária ou não. B. tinha grandes olhos, observava o que ocorria ao seu redor, mas focava em seu trabalho.
Eu já conhecia B., pois havia a admitido, como a maioria das pessoas daquela empresa. Portanto, a avaliação psicológica, foi realizada de forma tranquila por ela. Na entrevista B. também foi focada, respondeu com calma às minhas perguntas. Desde o tempo que a admita há cerca de 3 anos seu comportamento era o mesmo. Nada havia mudado apenas o novo Gerente. E de fato ela destoava do resto da equipe no item ansiedade. O Gerente e a equipe eram altamente ansiosos.
Liguei para o Gerente dizendo que precisava falar com ele à respeito de B. Ele rapidamente foi à minha sala, lhe servi um chá, e disse que precisaríamos de tempo para conversar. Imediatamente ele olhou para o relógio, e confesso que senti vontade de atirar o relógio, símbolo do capitalismo e da pressa, pela janela. Eu assinalei este comportamento dele em relação à tranquilidade e equilíbrio de B. E à partir daí ele começou a prestar atenção ao que eu dizia. Minha única dúvida em relação à B. era sua capacidade de entrega dos trabalhos, ou seja, sua produtividade. Ele me disse que B. entregava os trabalhos pontualmente, muitas vezes até antes, e também ajudava os demais quando a equipe estava com problemas de tempo. B., na entrevista comigo, havia dito a mesma coisa: Que sempre ajudava seus colegas.
Firmemente apenas olhei o Gerente nos olhos e disse: Ela apenas não é ansiosa como você e os demais membros da sua equipe. Não posso querer que ela fique neurótica só para se mostrar produtiva. Ela é apenas equilibrada, e vocês andam correndo atrás dos rabos.
E complementei: Não se engane os ansiosos apenas parecem trabalhar mais, pois não tem foco, vivem no futuro.
Falei isso com experiência, pois já havia vivido situações semelhantes em que os equilibrados e tímidos são deixados de lado por suas equipes e rejeitados por chefes, apesar de serem muito produtivos, porém fazem isso sem alarde, e claro, erram menos, pois focam suas tarefas no aqui e agora.
Nos tempos contemporâneos trabalhar é sinônimo de fazer várias coisas ao mesmo tempo, e ter a vida pessoal repleta de atividades cheias de adrenalina. Quem é mais centrado aparece menos no mundo empresarial. E uma das características de pessoas centrada é estar no presente, e não no futuro como os ansiosos, que normalmente sofrem por antecipação. Falam rápido, olham no relógio ou no celular várias vezes, e raramente prestam atenção em alguma coisa. Parece que estão com o corpo e um lugar e a alma em outro.
O gerente entendeu o que eu disse e falou: Quer dizer que eu estou errado?
Respondi que não era um erro, ele apenas era um ansioso, que como tal só valorizava aqueles que eram parecidos com ele.
Para os ansiosos, gente focada e equilibrada parece improdutiva, quando na verdade não o é.
Ele respirou fundo e disse ter gostado muito de nossa conversa. E perguntou o que poderia fazer para ser menos ansioso.
Eu disse: Apenas lembre-se de respirar. A respiração nos traz ao aqui e agora.
Ansiosos, pela minha experiência profissional, respiram rápido demais, e por este motivo emendam uma palavra com a outra, pois querem falar tudo ao mesmo tempo. A única forma de trazê-los ao aqui e agora é mantendo-os no foco, através da respiração. É ela que os faz pensar.
Lembro-me de um diretor que reclamava constantemente da secretária ansiosa e que não pensava. Bastava ele falar alguma coisa, e ela saia correndo para fazer.
Se todos são ansiosos em uma equipe, embora aparentem falsa produtividade, ocorre o oposto, pelos motivos citados neste texto.
Muita gente traduz ansiedade como medo, mas ela não tem nada a ver com esta emoção básica. O ansioso vive no futuro, ele se previne e tenta controlá-lo a qualquer custo. E apesar de fazer “trocentas” atividades ao mesmo tempo, ele apenas disfarça a sua insegurança e sua má fé no futuro.
Em psicoterapia nota-se claramente que o foco no futuro, é apenas um meio de afastar-se das dores do presente.
Como suas expectativas de controle do futuro são infundadas não é à toa que depois de um tempo ele se entristeça, podendo desenvolver depressão.
Gerentes, diretores e todas as pessoas que exerçam cargos de liderança devem ficar atentos para não valorizar em excesso estas características doentias.