Existem certos vícios de linguagem curiosos que se tornam marcas registradas de algumas pessoas. Por exemplo, terminar as frases com né?. Ou começar com não. Ou então, como é meu caso, colocar cara no começo ou no meio ou no final das frases. Não sei isso é algum transtorno obsessivo, mas cheguei à conclusão de que existe também o que chamo de vício oculto. É um vício de linguagem que a pessoa não usa, mas que você sabe que está lá. Por exemplo, o seu idiota no final das frases ditas pelos políticos. Funciona assim:
– Eu não sabia de nada. Seu idiota.
É claro que o ex-presidente nunca disse em público o seu idiota. Mas pela expressão facial, o tom de voz… dá a impressão de que a expressão está lá.
– O mensalão não existe, aquilo era só caixa dois. Seu idiota.
É claro que Vossa Excelência não disse o seu idiota. Mas pela expressão, pelo tom de voz…
– Durante o caos aéreo, relaxa e goza. Seu idiota.
É claro que a ministra não disse o seu idiota. Mas…
No entanto, os indicativos visuais ou sonoros são apenas acessórios. O que realmente torna explícito o seu idiota oculto é teor ridículo das afirmações. São tão despropositadas, mentirosas e absurdas que quem as profere só pode achar que seu interlocutor é um idiota.
E por falar na ex-ministra, ela é a peça central da mais nova manifestação do vício oculto. Preterida na campanha à prefeitura de São Paulo e até mesmo humilhada publicamente por Lula, a senadora petista Marta Suplicy soltou os cachorros, negando-se veementemente a apoiar Fernando Haddad, o candidato imposto pelo ex-presidente no lugar dela. Marta ficou furiosa e demonstrou isso diversas vezes, com afirmações e atitudes. E então aconteceu. Algumas semanas após chutar o pau da barraca a senadora conversou com o ex-presidente Lula e mudou de ideia. Decidiu participar, gravou depoimento apoiando Fernando Haddad na TV e participou da campanha na rua com o petista. E poucos dias após a decisão da senadora de apoiar Haddad, a presidente Dilma trocou a Ministra Ana de Hollanda por Marta Suplicy no Ministério da Cultura. Perguntada sobre a coindecência, Marta declarou que:
– A indicação nada teve a ver com meu apoio ao Haddad. A Presidenta não faria isso. Seu idiota!
É claro que ela não disse o seu idiota, mas pelo tom da voz, o sorrisinho irônico, o olhar e o conteúdo..
Se você nunca reparou, comece já. Aproveite o horário eleitoral. Veja as expressões de camaradagem, o linguajar infantil, o tom de voz artificialmente amaciado, o sorriso exagerado e o olhar cheio de amor pra dar. E imagine que ao final de cada frase está o seu idiota.
Você vai aos poucos aprender a perceber o vício oculto e então, a partir da realidade dos atos e fatos, perceberá aquilo que não precisa ser dito.
Para eles, você não passa de um idiota.
Luciano Pires
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