O TEMPO DOS CHEFES MAUS

Suely Pavan Zanella
Cursos e mais cursos sobre Liderança e Gestão de Pessoas. MBAs e Coachs sobre o tema. Livros de diferentes tipos sobre o assunto. 29.400.000 resultados no Google hoje sobre o tópico Liderança e 16.900.000 à respeito de Gestão de Pessoas. Além de vídeos diversos no Youtube.
Acredito que nunca tenha se falado tanto no Brasil sobre Liderança e Gestão de Pessoas, mas o que mudou de verdade?
Já escrevi sobre gestores omissos e outros que não sabem gerenciar apesar dos 198 cursos, alguns até internacionais.
Sobre Assédio Moral, tema que empresário brasileiro tem verdadeiro horror, junto com Assédio Sexual, então, foram textos e mais textos além de divulgação de palestras e cursos, e nada!
Sanidade mental, apesar do Janeiro Branco, é tema nevrálgico nas empresas.
Não se toca nas feridas, e continua-se a falar de Liderança e Gestão de Pessoas, que virou uma espécie de empreendedorismo de palco, e só faz meia dúzia de gatos pingados ganharem rios de dinheiro com o assunto sem mudar absolutamente nada.
E quem sofre com isso?
São os funcionários, aqueles chamados eufemisticamente de colaboradores. Ah tá!
Engane quem quer ser enganado, mas antes vá conversar com os colaboradores e esteja disposto a ouvir. Se não quiser ouvir basta olhar. E esta tudo lá, em qualquer empresa. Qualquer um percebe! Basta querer ver.
Ou então faça um diagnóstico da saúde mental de sua empresa. Quantos diagnósticos seu RH ou consultores especializados (Psicólogos ou Psiquiatras) fizeram no ano passado?
Só vou contar um caso:
Outro dia fui ao supermercado e vi a caixa chorando. A mulher que estava na minha frente perguntou o que havia. Eu não ouvi direito. A moça soluçava e continuava a trabalhar.
Quando chegou a minha vez de ser atendida perguntei o que estava acontecendo. Ela me disse que uma cliente havia levado 50,00 dela. Não entendi direito as circunstâncias. Depois ela me disse que o problema não era o dinheiro, mas sim aquilo que ela seria obrigada a ouvir da chefe dela. Fiquei chocada, afinal estamos em 2017 e não em 1917! Ofereci-me para conversar com a chefe dela, disse que tinha experiência no assunto, mas ela recusou apavorada. Vi que iria piorar a situação, e o máximo que pude fazer foi lhe oferecer lenços e um copo da água.
Fiquei uns dois dias pensando na pobre da moça, e até hoje me lembro dela.
Ela é vítima de um perverso narcisista, como bem contextualiza a pesquisadora francesa, psiquiatra e psicanalista Marie-france Hirigoyen em seu livro Assédio Moral a Violência Perversa do Cotidiano. O assédio moral embora seja contemplado pela Lei brasileira, nem sempre é bem entendido e até identificado. Hirigoyen, por exemplo, como boa pesquisadora que é, não o enxerga apenas sob a ótica do trabalho, já que ele faz parte daquilo que nós psicólogos chamamos de violência psicológica. E pessoas vítimas de violência psicológica precisam se fortalecer através de psicoterapia, antes mesmo da denúncia.
É ingenuidade achar que basta denunciar e o problema estará resolvido, não está. Seria o mesmo que tentar curar o câncer apenas com suco de beterraba. Os mecanismos usados pelos perversos narcisistas são tão sujos e enfraquecedores que deixam suas vítimas absolutamente perdidas, e o pior, de tão vulneráveis é comum que encontrem como salvador justamente outro perverso narcisista. Portanto, é preciso fortalecer as vítimas. Porém, há uma ressalva importante a ser feita. É preciso que o psicoterapeuta entenda claramente como atua um perverso narcisista, senão a vítima corre o risco de sair ainda mais debilitada do processo, pois não foi acreditada.
Aprenderíamos muito mais sobre Liderança e Gestão de Pessoas, se professores de MBA, Coachs, Palestrantes e Escritores, ao invés de dourarem a pílula com a autoajuda empresarial, ou com discursos de frases feitas e inócuas, estudassem os autores franceses. São vários. Aí mecanismos como a falta de motivação e outros seriam entendidos. E, iríamos à causa, ao invés de tratar apenas os sintomas.
A nossa sociedade é narcisista, há centenas de estudos sobre isso. E chefes maus, apesar do todos os discursos vazios, são mais comuns do que se imagina.
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