O Peçonhento

O PEÇONHENTO

Luciano Pires


Ignorante. Preconceituoso. Peçonhento. Pe-ço-nhen-to… Fui presenteado com esses adjetivos por alguns leitores que comentaram meus artigos “Própios Poblemas” (onde critiquei as “otoridades” que aparecem nas CPIs dizendo “poblema”) e “ISO Sim”, onde propus uma certificação da qualidade para quem concorrer a cargos públicos.

Primeiro foram alguns lingüistas, indignados com minha “investida”. Disseram que sou ignorante sobre o tema. Que também escrevo errado. Pontuo errado. Falo errado. Reconheço que sim. Nada sei sobre lingüística e meu português só dá pro gasto. Por isso não escrevi sobre lingüística ou gramática. Escrevi sobre política. E escrevi mal, pois eles não entenderam…

Outros, ideologicamente estressados, acham que um miserável Zé falando “poblema” no interior do Brasil é a mesma coisa que o Ministro Zé falando “poblema” em rede nacional… Será que é?

Jamais criticarei o caipira que chama “córrego” de “córgo”. Afinal, sou um deles… Mas morrerei criticando quem é referência para a sociedade, ocupa espaço na mídia, teve tempo e recursos para se preparar e não o fez.

Os ideologicamente estressados acham preconceituoso (para com os pobres que não puderam estudar) propor um choque de qualificação aos candidatos a cargos públicos. Acusam-me de privilegiar as elites… Parece aquele velho discurso da vitimização que deveria ter caído junto com o Muro de Berlim. Uma bobagem. Será que o Vicentinho, que entendeu o jogo, voltou para a escola e formou-se advogado, é defensor das elites?

Um analfabeto funcional não pode ter o poder de aprovar uma lei. Isso não tem nada de ideológico, é uma questão pragmática: os ignorantes são manipulados mais facilmente. Estamos assistindo esse filme! Mas os ideologicamente estressados não conseguem entender.

Severino Cavalcanti foi eleito Presidente da Câmara por um movimento ideológico (ou oportunista, depende do ponto de vista) que viu naquela eleição uma forma de impor uma derrota ao PT. Habilidades, conhecimento, bom senso, equilíbrio, cultura, nada disso foi considerado. Eram atributos pragmáticos demais. Resultado: Severino e seus parentes podem assumir a Presidência da República no caso de um impeachment de Lula e seu vice…

O Brasil precisa de um choque de qualificação. No uso do idioma, nos processos administrativos, nos conceitos éticos, no sistema eleitoral. Sem estresse ideológico. No mínimo ficará mais difícil “ser traído…”.

Isso é preconceito? Então sou preconceituoso.

É ignorância? Então tenho uma oportunidade para aprender.

Mas peçonhento, é a mãe.