Café Brasil 224 – O ouvinte de podcast

Depois de um puxão de orelhas no podcast Caminho das Índias, chamando os ouvintes a comentar os programas, recebemos mais de 70 comentários! Pois decidimos agradecer! O programa desta semana é dirigido a essa figura misteriosa, preguiçosa e fascinante que é o ouvinte de podcast. Vamos mostrar como ele é importante e necessário e que um pequeno e despretensioso comentário pode representar muito para esta mídia que ainda está nascendo: o podcast.  Na trilha sonora, Sá, Rodrix e Guarabyra, os grupos de choro Quebrando o Galho e Choro das Três, Juca Chaves, Zé da Velha e Silvério Pontes e Ângela Maria. Apresentação de Luciano Pires.

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Bom dia, boa tarde, boa noite! Olha, já vai começar o pograma! Bem vindo a mais um Café Brasil…Meu, sabe que a dura que eu dei nos ouvintes no programa CAMINHO DAS ÍNDIAS, deu certo? Chegaram mais de 70 comentários! Foram tantos que inspiraram este programa. Vamos tratar dessa figura misteriosa, preguiçosa, fascinante que é: o ouvinte de podcast…

Pra começar, uma frase do ex-presidente dos Estados Unidos Harry Truman:

Se não puder convencê-los, confunda-os.

Opa, ao som de ALLA TURCA, também conhecida como MARCHA TURCA, o último movimento da Sonata K. 331 em lá maior de Mozart, com as meninas do Choro das Três,

que anuncio o prêmio da semana! É um exemplar de meu livro O MEU EVEREST. E vai para… Alberto Flora (alberto.tiago@gmail.com), que escreveu assim:

“…meu nome é Alberto e desde 2007 vivo em Istambul, Turquia. Acompanho seus podcasts quando estou dirigindo, do escritório para casa, ou seja, desde a parte Asiática ate a parte Européia da cidade, mas com seus podcasts não sinto o stress da cidade, é como se eu estivesse em outro mundo. O tempo passa e quando me vejo já estou em casa!! Alguns dias atrás, ouvi um podcast que foi especial, aquele da companhia aérea Pires Airlines. Quando ouvi a musica da VASP do comercial dos anos 80, aquilo fez me lembrar os meus tempos de criança e uma onda de alegria fomentou dentro de mim e transbordou pelos meus olhos. Sozinho ali dirigindo eu e você, a felicidade tomou conta de mim. Hoje vejo a infância dos nossos dias e penso: “Nossa como éramos felizes…” Tenho 31 anos, e parece que foi ontem. Sou responsável de vendas no mercado da Turquia. Só queria dizer que existe alguém deste lado aqui que também ouve os seus podcasts. Queria agradecer por existir e dispensar o seu tempo a fazer isto. Continue assim!! Um grande abraço de um amigo da Turquia.”

Pô, meu, Turquia? E sabe da maior? O Alberto não é o único por lá. Pouco depois recebi outro comentário, do Ditmar Peter, que estava saindo de Istambul para a Tailândia… Café Brasil global!

Bom, já sabe né? O Alberto ganhou o livro porque escreveu um comentário sobre o nosso podcast em  www.portalcafebrasil.com.br .

Escreva um você também…Vai que…

Antes de mais nada quero agradecer a quem escreveu em resposta à cutucada que dei no programa CAMINHO DAS ÍNDIAS. Muito obrigado. E Olha que legal: a maioria são grandes comentários. Não tem aquela coisa de “gostei” ou “ dez” ou “ massa” e ponto. O pessoal escreveu com vontade, contando histórias e dividindo sentimentos e percepções. Li e tentei responder a todos. Não é fácil, mas acho que consegui. De qualquer forma, mais uma vez obrigado.

Outra coisa interessante: várias pessoas disseram que nunca comentaram, pois achavam que muita gente comentava. Ou que não seriam lidas. Ou que seus comentários não teriam importância. E o cachorrão aqui, com dois donos, quase morre de fome… Meu, leio TODOS e até aproveito alguns nos programas! Mas quero comentar em especial dois emails. Um foi a Fátima que mandou:

“Oi, Bom dia! Gosto muito de ler o que você escreve, solamente no tengo te elogiado…rsrsrsrs Abraço Forte Fátima.”

 Sei que não é essa intenção da Fátima, mas ela levanta uma lebre legal. Quando pedi os comentários, não pedi elogios. E pra falar a verdade, a esta altura da vida estou mais interessado é nas críticas educadas, que nos põem a pensar, sabe como é? Elogios são excelentes, por favor, continuem enviando, mas não se acanhem em criticar e sugerir. Várias mudanças no programa vieram de comentários de ouvintes. Que na verdade não são ouvintes, né? São mais que isso… são… são… cumpadis!

Cumpadre meu

Cumpadre meu,
Noite a noite na semana,
O meu coração me chama,
Pra dizer que você regressou.
Cumpadre meu,
Esse meu pressentimento,
Não é coisa que o momento fabricou.
Cumpadre meu,
Quem já tem tanto dinheiro,
Pode bem pensar primeiro,
Na mulher, no filho e no amor.
Nem posso ver,
Teu menino nessa idade
Respirando o que a cidade envenenou.
Daquela vez você trouxe ele por cá,
Que riso bom sorriu,
Quando viu a chuva desabar!
Meu coração não costuma me enganar,
Noite após noite repete:
“o cumpadre voltou,
Pois a sodade já lhe atormentou”
Cumpadre meu,
Bota a tropa na estrada,
Mulher, filho e empregada
Vem pra longe do que já morreu…

Putz…essa música é trilha dos meus 21 anos… CUMPADRE MEU, de Gutemberg Guarabyra, na gravação de Sá, Rodrix e Guarabyra, lá na primeira metade dos anos setenta. Meu, to arrepiado…

Podcasts são novas mídias, que estão nascendo dentro do ambiente da internet.

Propaganda em internet ainda é uma incógnita e os podcasts estão sofrendo as consequências no momento de buscar patrocinadores. A forma de medir audiência dos podcasts é diferente do padrão da mídia tradicional. Pageviews, downloads, hits, click tru e outros indicadores não são familiares e nem tem credibilidade junto aos anunciantes tradicionais. Caem no vazio com facilidade.  Pra piorar, os números dos podcasts são muito pequenos quando comparados aos da audiência da mídia tradicional, aos quais o pessoal está acostumado. Imagino que só a próxima geração de anunciantes e mídias saberá diferenciar e dar valor aos sistemas que utilizam a internet e que não sejam ligados aos grandes portais ou a celebridades de televisão.

Por isso a questão dos comentários é essencial. Dizer que cada episódio tem 15 ou 20 mil downloads nas primeiras semanas é importante. Mas mostrar para um potencial anunciante que cada episódio tem 30, 40, 100 comentários é essencial. Isso eles conseguem enxergar. Isso tem valor.

Mas a quantidade de comentários não é o único ponto. A qualidade também pesa. Comentários inteligentes, que desenvolvam o tema do podcast, elogiando ou criticando, servem para dar uma idéia da qualificação da audiência. No caso do Café Brasil, como sempre tivemos relativamente poucos comentários, fica difícil demonstrar que os números refletem a realidade: quem ouve o Café Brasil é gente qualificada, inteligente, com uma visão de mundo diferenciada, que busca conhecimento e não apenas entretenimento.

É o tipo de gente que interessa a qualquer anunciante, ne? Devia ser, mas não é… E é isso que me deixa puto!

Sistema nervoso

Deu uma hora
Deu duas horas
O silencio em meu quarto é pavoroso
Na escuridão eu escuto os seus passos
No meu delírio ,ela volta a meus braços

Ela abalou meu sistema nervoso

Ela
Toda noite aparece
Me beija e foge através da vidraça
No meu delírio, me levanto e abro a janela
E só o vento ,o vento frio é que me abraça
Ela abalou meu sistema nervoso

Rararara…que delícia. Você ouve Paulinho Boca de Cantor com SISTEMA NERVOSO de Wilson Batista, Roberto Riberti e Arlindo Marques Jr. Cê lembra dessa?

O ouvinte de podcast é um sujeito diferenciado. Primeiro: ele se dá ao trabalho de procurar o que quer ouvir. Não é escravo da rádio e da televisão que coloca no ar a programação que ela quer, e o ouvinte ou espectador que engula.

O ouvinte do podcast escolhe o que vai ouvir. Mais que isso: a maioria absoluta está com um fone de ouvido, praticamente desconectada da realidade, profundamente concentrada no que está ouvindo. E se desconcentrar, não entender um nome, gostar demais de uma música ou de uma passagem, o ouvinte do podcast volta atrás e ouve de novo. E quando chega em casa, no trabalho ou em qualquer situação, pega aquele trecho que o entusiasmou e corre mostrar para outras pessoas. Não é assim que você faz? Então! Isso não existe na mídia tradicional.

Hummm, olha que chorinho gostoso que você vai ouvir no podcast. É VIBRAÇÕES, de Jacó do Bandolim, com o grupo de choro QUEBRANDO O GALHO…

Mas tem mais, viu? Podcasts viciam. Quando chega no dia em que os programas que eu ouço entram no ar eu fico impaciente… tá chegando a hora. E corro baixar pra deixar ali no meu Ipod, pronto pra ouvir na hora que eu quiser! Quando o episódio atrasa ou falha, fico decepcionado. Triste até…

Só isso já deveria dar ao ouvinte de podcast um poder multiplicador imenso em termos de audiência. Pra mim, um ouvinte de podcast equivale a 1000 ouvintes de rádio ou TV, simplesmente porque não é um ouvinte passivo, mas ativo. Procura o que quer ouvir e só ouve se quiser e quando quiser.

Portanto, aqueles 15 mil downloads do episódio equivalem a 15 milhões de ouvintes da mídia tradicional. Olha que legal! Não devia ser assim?

Mas isso é impossível de mostrar para os anunciantes que só conseguem dar valor aquela planilha que mostra que 6 milhões assistem o Datena babando sangue no happy hour… Portanto, bota cinco milhões de dinheiros no Datena. Mas não bota cinco mil tostões no podcast.

Tô duro

Ultimamente o meu viver tem sido escuro
O vil metal fez de meu bolso um inimigo
O meu sapato é uma manchete, só tem furo
E ando mais duro que o filé que mal mastigo.

Té num foguete americano eu sou um fracasso
Tento subir porém só desço neste mundo
Estou mais pobre que cultura de ricaço
Já nem no banco onde adormeço tenho fundo.

Minha família deserdou-me, fim do amor
Me abandonou a interesseira namorada
Até foi bom, só que fiquei na fina flor
Bem mas de fora do quarto de empregada.

Hoje o meu lar é o viaduto dona Sônia
Aonde a insônia um boêmio fez-me ser por hobby
E ali vegeto sem ter luxo ou cerimônia
Quinto degrau do lado esquerdo de quem sobe!
Como se vê não sou esnobe!

É Juquinha…ultimamente o cacau anda curto. Você ouve, no podcast, TÔ DURO, com o menestrel JUCA CHAVES…

Outra coisa importante muita gente ainda acha que podcasts são iniciativas amadoras, feitas por abnegados que não tem grana pra gastar, que dedicam um tempo insano à produção sem ter nada em troca, sabe como é? Essa gente se preocupa com a possibilidade de seu podcast do coração aparecer com anunciantes e patrocinadores. Acha que isso vai descaracterizar ou prostituir o programa.

Bem, eu não falo pelos podcasters do Brasil. Falo por mim. Produzo um podcast que tem ambições. E por isso produzo com todos os recursos profissionais possíveis. As questões técnicas, de pesquisa, a periodicidade, o tamanho, tudo é pensado para ser o melhor possível, pois quero que meu podcast transforme-se num negócio real, que renda grana.

Este programa custa. Custa tempo, custa dinheiro, custa energia. Um custo que eu banco desde 2005. Se eu botar numa planilha quanto já gastei, darei um tiro na cabeça. Mas pra mim, não é gasto. É investimento numa causa. Quero crescer, quero ganhar importância, quero que o Café Brasil seja reconhecido como um dos principais podcasts brasileiros. Mas quero mais: quero que ele seja reconhecido com um veículo de mídia. E para isso tenho que continuar investindo, tenho que buscar anunciantes e patrocinadores. E tenho que cuidar para que eles não sejam invasivos, que não estraguem o nosso Café Brasil.

Conseguimos há pouco fechar uma modesta programação com o Itaú Cultural, que nos deixou felizes. Mas vamos atrás de mais. E para isso precisamos dos ouvintes.

Eu preciso de  você

Como o sol precisa de um poente
Eu preciso de você, só de você
Como toda orquestra de um regente
Eu preciso de você, só de você

Como a flor precisa de perfume
E a mulher de ter ciúme
Quando o seu amor não vem

Preciso tanto de você

Como a noite busca a madrugada
Eu preciso de você, só de você
Se o poeta busca a bem amada
Eu preciso de você, só de você

Só você não sabe a solidão
De tão imensa é uma doença
Que me deu no coração

Se o ateu precisa de uma crença
Eu preciso de você

Hummm….que tal? Norma Benguell lá em 1969 com EU PRECISO DE VOCÊ, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira? Pô, meu, acredita… a gente precisa de você…

O ouvinte de podcast precisa entender que ele faz parte ativa, essencial de um processo que está amadurecendo. Estamos criando algo novo juntos, nós aqui e você aí. O produtor do podcast tem suas idéias, faz o programa, coloca no ar… mas nada disso faz sentido sem a outra ponta: o ouvinte.

Se ainda não existe no mercado a cultura que qualifique e valorize a audiência dos podcasts, se os anunciantes ainda desconhecem a mídia, se os mídias não querem saber, os ouvintes precisam cumprir sua parte. Ouvindo. Comentando. Divulgando. Escrevendo um email para os patrocinadores dos podcasts agradecendo pelo patrocínio. Clicando nos banners e links que aparecerem na página do podcast. Fazendo uma corrente para mostrar ao mercado que não somos um bando de dispersos ouvintes amadores de programas amadores. E comentando os programas, gostem ou não!

Somos uma força. Mas isso só acontecerá se os ouvintes trabalharem pelos programas que admiram. E isso custa um comentário, um email, uma manifestação. Você já escreveu uma mensagem pro Itaú Cultural agradecendo por eles acreditarem na gente? Não pois é… www.itaucultural.com.br . Faça a sua parte!

O ego do produtor dos podcasts se alimenta dos comentários e elogios? Certamente que sim. Mas os comentários são muito mais que isso. São a demonstração de que podcasts podem ser um veículo muito sério, uma alternativa real para a mediocrizada mídia tradicional, que só quer te vender alguma tralha. E olha, isso vale não só pro Café Brasil. Vale pra qualquer podcast nacional. Em outras palavras, o ouvinte de podcast tem a força!

Você está ouvindo, no podcast, Zé da Velha e Silvério Pontes interpretando Pixinguinha. Um clássico. Chama-se DESPREZADO e serve perfeitamente como trilha pra contar que no programa Caminho das Ìndias, o trecho que despertou a ação de vários ouvintes foi assim:

“Bem, a partir deste programa vou lançar uma promoção pra ver se consigo incentivar os preguiçosíssimos ouvintes do Café Brasil a deixar um mísero comentário na página do programa. Conversei com o pessoal que faz podcast e a reclamação de todos é a mesma. A gente se mata pra fazer o programa e os desgraçados não mandam um email. É impressionante como você é incapaz de agradecer ao esforço que a gente faz por aqui com um comentário. Só um…”

E entre os 70 comentário recebidos, veio um do Marco, que disse assim:

“Mísero comentario. Recebi um “simpático” email na minha caixa postal com os seguintes adjetivos para os ouvintes do cafe Brasil: preguiçosos, desgraçados.  Ai resolvi deixar um recado: quem faz podcast faz para os outros. Educação é bom e agradeço.”

Pois é… como é que se responde um comentário assim? Primeiro sejamos politicamente corretos. Quero me desculpar com os ouvintes que se sentiram ofendidos pelos adjetivos “preguiçosíssimos” e “ desgraçados”.

Quem me conhece sabe da irreverência e provocação que utilizo no Café Brasil. Tenho certeza que se o programa faz algum sucesso é exatamente por seu tom levemente agressivo. Esses adjetivos não eram um xingamento, mas uma provocação para a ação, o que felizmente 69 dos que comentaram entenderam.

E agora respondendo ao ouvinte que reclamou e sendo politicamente incorreto:

Porra Marco!

E vamo que vamo. O ouvinte do podcast é quem tem a força! Mas precisa se mexer!

Ufa. Será que eu consegui? Coloquei você, ouvinte, dentro do processo? Mostrei que sem você nada disto faz sentido? E que aquele seu comentariozinho é fundamental? Espero que sim…

Odeio-te meu amor

Penso que te odeio
Mas te quero tanto
Que até  nem creio
Chegar a te odiar
Faço tanta força
Para te esquecer
E choro sem querer
Por ti chorar
Todos me aconselham
Que te dê desprezo
Quando mais aceso
Está meu coração
Mas o menor toque de carícia
Que me faças por malícia
Me incendeia de paixão
Para te odiar
Tudo faço e não consigo
Parece castigo
Minha mágoa, minha dor
Tento repelir
Os seus anseios de carinhos
E só consigo dizer baixinho
Odeio-te meu amor.

E é assim ao som de ODEIO-TE MEU AMOR, de Adelino Moreira, com a sapoti Ângela Maria que o Café Brasil de hoje que falou dos ouvintes de podcasts vai embora.

Com Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção, eu, Luciano Pires na direção e produção e você aí, do outro lado, ouvindo, curtindo e comentando …

Estiveram conosco Sá, Rodrix e Guarabyra, os grupos de choro Quebrando o Galho e Choro das Três, Paulinho Boca de Cantor, Juca Chaves, Zé da Velha e Silvério Pontes e Ângela Maria. Gostou de ouvir?

Vem pra cá, meu, participe! A festa ta só começando…

Pra terminar, que tal um provérbio Zen?

Saber e não fazer é ainda não saber.

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