“A juventude acaba quando termina o egoísmo, a velhice começa com a vida para os outros…” – Herman Hesse
Há duas semanas fui indagado por uma leitora qual seria o pior defeito de uma pessoa, o que traz mais problemas em seu desenvolvimento pessoal, psicológico, social, profissional, espiritual. Em mais de duas décadas de experiência clínica diária pude notar que as pessoas egoístas têm enorme dificuldade para aprenderem, compartilharem sua experiência, apresentam enorme rigidez e inflexibilidade, intolerância a frustração, mergulham com facilidade em transtornos de ansiedade com intensa somatização. Se hoje temos no mundo 2 bilhões de pessoas com transtorno de ansiedade, e 350 milhões de pessoas com depressão devemos isto ao egoísmo.
Egoísmo é o auto centramento, a introversão da energia psíquica, a distorção do narcisismo, o descarte da empatia – a não percepção das necessidades do outro, o excesso de auto-importância, do personalismo, o pensar só em você próprio, a busca desenfreada de prazer. Egoísmo é viver para si próprio sem pensar nos outros. É o querer intenso e excessivo.
Em nosso pós modernismo o mercado de consumo transformou a política, a religião, a socialização em valores ficcionais em uma gigantesca fábrica de seres hedônicos. Competir! Pensar em si próprio, o mote de toda era moderna. O vizinho é um inimigo. A era moderna tornou instável os preceitos da função da personalidade moldando de forma maleável os valores e virtudes. Na pós modernidade a instabilidade criada pela necessidade de consumo, no emprego da tecnologia acentuou o auto centramento. As experiências compartilhadas são existentes pelo auto centramento. As experiências das redes sociais evidenciam a crise do pouco contato físico na era do virtual, o descarte da presença física real dos outros. A consequência, mais egoísmo. “Estamos a construir uma sociedade de egoístas(…) … que importa é o que compras, e segundo o que compras têm mais ou menos consideração por ti”… testemunha José de Sousa Saramago.
Todo egoísta é um sofredor nato. Sofre e não aprende, buscando novas experiências, e novamente sofrer do calote ao chifre passando pelas doenças, é o ser que vive dando cabeçadas, resmungando da vida, sem uma socialização genuína. São a crise da afetividade da pós modernidade, ou seja, são amigos desprezíveis, péssimos amantes, são a carência, a frustração, solidão e isolamento, o fim programado de namoro, noivado, casamento. Tudo em nome do eu que esquece o querer do outro.
O egoísta necessita de uma psicoterapia profunda para não adoecer mais. Tratar o egoísmo é simples: auto- conhecimento, doação, caridade, compaixão, e persistência. Neste mundo no atual estágio de nossa civilização este deve ser um exercício constante, rotineiro diário para todos. É o único caminho para uma felicidade genuína, para evolução psicológica e espiritual.
