NOSSAS ONDAS
Recentemente li sobre os problemas que a Rádio e TV Cultura vinha passando para manter-se. Faltava dinheiro, as produções eram canceladas, muita transmissão de reprises e uma falta de perspectiva brutal diante da escassez de recursos. A maior parte da verba que mantém a RTV Cultura vem do Estado de São Paulo. E na hora do aperto, adivinha onde é o corte…
Parece que TV Cultura saiu do fundo do poço, mas está longe de ser um projeto sustentável. Não tem recursos para produzir programas com a qualidade necessária para transmitir cultura com entretenimento. A TV Cultura, assim como a Educativa e outras rádios e tvs que atuam de forma semelhante, é voltada para uma programação com conteúdo educacional e cultural. Algo que deveria ser imprescindível para um país que ainda não percebeu que sua maior fome é de educação e cultura.
No entanto, patrocinadores preferem colocar dinheiro nos programas que dão retorno de audiência. Dinheiro para aquele projeto dos sonhos de Paulo Autran não existe. Mas para o programa de pegadinhas, tem.
Pois sabe de uma coisa? Vou lançar o Projeto Nossas Ondas, que é tão óbvio que já deve existir escondido em algum lugar.
Veja só: TVs e rádios são concessões. Alguém obtém (não me pergunte como) uma concessão do governo para operar em determinada freqüência, produz conteúdo e bota a programação no ar, por ondas eletromagnéticas. Portanto, o dono da emissora é o Zé ou a Maria, mas o dono do espaço, da aerovia por onde transitam as ondas, é o povo. Eu e você. E o Zé e a Maria botam qualquer porcaria no nosso ar, sem pagar por isso!
Pô, eu pago pedágio para trafegar por nossas rodovias. As emissoras deviam pagar pedágio para trafegar por nossas aerovias. Aquelas ondas são nossas!
Taí o Projeto Nossas Ondas: toda emissora comercial deveria pagar um aluguel pela aerovia, sob a forma de um percentual de seu faturamento. E esse dinheiro deveria sustentar as TVs e rádios Cultura do Brasil.
Já pensou? A grana gerada pelo Pocotó servindo para criar um programa para despocotizar? Aquelas pegadinhas imbecis gerando recursos para o Provocações do Abujamra? O programa policial grotesco possibilitando um programa sobre saúde? O musical idiota levantando grana para um festival de MPBV – Música Popular Brasileira de Verdade? A novela vazia rendendo um programa sobre livros? O programinha dos sertanejos levantando dinheiro para outro Castelo Rá-Tim-Bum? Aquele berreiro insuportável das FMs com enlatados estrangeiros, gerando tutu para um programa que recupere os arquivos da MPB encostados nas rádios?
Já pensou? Dos limões, limonadas?
Vixe. Os Zés e Marias ficarão de cabelos em pé com esta proposta.
Não deveriam.
Só estou fazendo onda.
Mas o que será preciso pra aprovar uma lei assim?