A vida parece passar cada dia mais rápido. 2013 começou ontem e já vai em final d Outubro. Ouço as pessoas comentando que perdem muito tempo em trajetos, trânsito, filas, nas conversas de atendimentos eletrônicos de call centers, e na internet, esperando a conexão baixar o arquivo. Todo mundo deixa um pouco da vida nessas paradas obrigatórias.
Reparei que mesmo com o mundo mais conectado, muitas atividades aceleradas pela tecnologia, as pessoas parecem perdidas, a sensação de isolamento permanece mesmo para as que passam o dia olhando os mostradores de seus smartphones, teclando trivialidades da sua vida em rede com centenas ou milhares.
Eu que fui um precursor dos computadores para uso pessoal, utilizo a informática para trabalho desde os anos 80, comecei a pensar que a cada dia, toda essa parafernália tecnológica que nos coloca globalmente on line sempre, está sugando uma boa parte das horas que deveríamos dedicar a viver de forma mais sadia como humanos normais.
Recentemente eu li um artigo, que enumerava as diferentes características das oito novas doenças que surgiram – ou pioraram – por conta do uso quase compulsivo da Internet e dos dispositivos digitais móveis. São síndromes que levam até a distúrbios psíquicos e emocionais.
Mas, a cada dia surgem novos aplicativos, que nos convidam a usar da comodidade ou dos atrativos que ele oferece. Basta baixar e usar. Se você não baixa fica de fora do grupo. Aos poucos vamos tendo mais opções para conversas on line ao vivo e gratuitas, compartilhamento de vídeos ou outros arquivos, tudo fica cada vez mais direto e imediato.
Mas isso tudo nos toma tempo também. Passei outro dia observando que meus dois smartphones, um de Cuiabá e outro de São Paulo, as duas capitais onde eu me divido para trabalhar a cada mês, tocavam a todo momento, com plins e pluns, para mensagens, e-mails, avisos de chegada de comentários no Facebook, no Gmail, no Google+, no Fotolog, no Linkedin, no Instagram, e não acaba aí. E olha que eu fujo de Twitter.
Minhas sete contas de e-mail, três profissionais e quatro pessoais, também recebiam mensagens, umas de trabalho, outras de assuntos particulares. Eu estava trabalhando, tentava criar uma campanha, e toda aquela sinfonia de toques e chamadas, sinais e luzinhas piscando, me dispersava a atenção. Gerando ansiedade. Mas também não podia desligar, pois no meio de muito lixo, ou coisa trivial, mensagens de trabalho também chegavam. Se eu fosse me deter a cada toque e dar atenção a cada chamada, meu trabalho não avançaria. Mas também não me desligava de tudo. Fiz uma conta básica e cheguei à conclusão que uns 20% do meu tempo, estava sendo ocupado em dar atenção a toda aquela azáfama de estímulos, e que só uma ínfima parte das demandas realmente tinha grande interesse para a minha atividade produtiva.
Quando se tem trinta anos, a vida parece muito no início e não damos tanta importância ao consumo do tempo. Mas o tempo é o único dado não renovável que temos em vida, que se escoa inexoravelmente, a cada segundo, até o dia da nossa morte. Portanto, com a idade avançando, esse tempo vai ganhando contornos de valor inestimável, e por isso, perder esse tesouro em atividades de pouco retorno, é cada vez mais dramático.
Eu tenho ficado realmente assustado como se perde tempo com tantas possibilidades de interação. Nossa rede de amigos está se ampliando a cada dia, e no virtual, voltamos a incorporar a presença próxima de amigos de infância, parentes distantes e pessoas conhecidas de outras partes do mundo. Todos nos demandam certa atenção e também nos transmitem uma sensação de retorno aos círculos mais afetivos de nossa vida. E quando nos dedicamos a dar atenção, é um pouco do tempo de nossa vida que se escapa.
Estamos conectados a todo momento, no trânsito, no transporte coletivo, nos aeroportos. Tem gente que fica conectado mesmo em voo a despeito dos pedidos de desligar os aparelhos. A sensação que tenho é que as pessoas não conseguem mais pensar sem a conexão.
Muita gente está deixando de ler livros, mesmo que virtuais, deixando de fazer passeios e observar o mundo em volta, deixando de praticar atividades onde é obrigatória a desconexão da rede. Para as caminhadas as pessoas colocam os fones de ouvido e se ligam nas músicas, esquecendo se ouvir os sons do mundo. A vida começa a ocorrer no ambiente físico mas a pessoa passa a se sentir meio fora dele por tais recursos. Fica meio dentro meio fora.
Muita gente pode não saber, mas existem hoje aplicativos onde a pessoa se recria em ambientes virtuais, monta seu corpo, cor de pele e cabelo, gênero, escolhe seu guarda roupa, e vai a lugares para encontrar outras pessoas virtualmente, a maioria personagens, que se relacionam, dançam e algumas até praticam sexo virtual. É uma vida num ambiente que pertence àquele grupo. A pessoa fica meio dentro. Assim, também jogos permitem que a pessoa ou personagem viva em mundos diferentes, faça guerra ou amor, construa ou destrua e com isso, dedique boas horas da sua vida àquela atividade. Outros constroem cidades virtuais e as administram. Seu tempo escoando na distração.
Não estou nem contra e nem a favor. Eu sou uma pessoa antenada e que gosta de saber e conhecer de tudo que possa me dar novas informações. Mas estou somente preocupado com a destinação do tempo. O que fazer com ele.
Conheço jovens que passam algumas horas jogando, em rede. Muitas vezes é somente diversão. Mas é um tempo que poderia estar sendo aplicado em aprimoramento da cultura, aprendizado de línguas, cursos técnicos profissionalizantes on line. Aprendendo outros programas ligados à nossa atividade de trabalho. A diversão e o lazer sempre são mais atraentes.
Ontem era começo de ano. Passou voando. Agora estamos na semana final de outubro. Um mês de grandes manifestações populares reivindicando mudanças, de articulações políticas entre partidos, de votações essenciais na vida dos brasileiros. Também ocorreram negociações globais, manifestações na ONU, revolta de chefes de estado que se sentiram espionados. Nas atividades do legislativo, do executivo e do judiciário, muitas coisas foram decididas ou quase. Mas a sensação que eu tenho é que a maioria das pessoas que está realmente com sua inserção digital constante, também está apenas meio virtual e meio real. Uma boa parte do tempo apenas é levada pela atenção dada ao que não interessa muito.
Assim, meio dentro e meio fora, uma hora o tempo acaba. Será que não é bom rever o que estamos fazendo com ele?