LíderCast 89 – Bruno Teles

Luciano             Muito bem, mais um LíderCast. Eu vou conversar hoje com uma pessoa muito interessante aqui que já conhece, aliás é fã e é ouvinte do LíderCast há bastante tempo. Entrou em contato comigo por e-mail, vou estar por aí, estou aí pertinho, no interior do Sergipe e posso dar um pulo aí para a gente conversar e aí a hora que eu converso, cheio de café no bule, a gente vai fazer um programa aqui que promete bastante. Aquelas três perguntas que você já conhece, que são as fundamentais: seu nome, sua idade e o que é que você faz?

Bruno                Olha, meu nome é Bruno Teles, eu tenho 40 anos eu sou professor e consultor de negócios.

Luciano             Aonde?

Bruno                Em Tulsa, Oklahoma, lá nos EUA.

Luciano             Tulsa, Oklahoma. Eu me lembro de Tulsa com uma música que fez muito sucesso com Eric Clapton chamada Tulsa Time. É a lembrança que vem para mim, vamos começar do começo, você nasceu aonde?

Bruno                Eu nasci em Belém, nasci em Belém do Pará…

Luciano             Pará! Eu adoro ir para Belém, gosto muito do Pará. Nasceu em Belém do Pará. Seu pai fazia o quê? Sua mãe?

Bruno                Olha, o meu pai ele sempre trabalhou para a indústria petroquímica, entendeu? E minha mãe era dona de casa e eu tinha quatorze dias de vida, a  gente se mudou para São Paulo, aí fiquei aqui até os cinco anos, depois ele  foi transferido para Aracaju, Sergipe, fiquei lá dos cinco até os trinta e dois anos.

Luciano             Então você é um Sergipano.

Bruno                Eu falo oxenti, eu falo pêga, eu falo vixe, eu falo essas coisas…

Luciano             E aí seu pai lá continuou na carreira, sempre no petróleo, é isso?

Bruno                Isso, na Petrobrás, ele trabalhava para a Petrobrás, saiu um tempo, montou um negócio, não deu muito certo, voltou para a Petrobrás, aí se aposentou.

Luciano             E você queria fazer o quê quando crescesse?

Bruno                Rapaz olha, quando o meu colégio, o colégio que eu estudei lá, era um negócio meio estranho porque lá eles diziam que só direito ou medicina, que podia fazer, era um colégio exclusivo, então medicina eu não queria porque eu tinha pavor de sangue, então não tive muitas opções, fui para o direito, então desde a sétima série eu queria fazer direito e acabei entrando na universidade de direito, tudo certinho, só que no segundo ano de direito, tinha uma colega de classe que ela era supervisora de uma escola particular lá e aí ela me viu apresentando os projetos na sala, ela disse Bruno, olha tem uma professora que está grávida, tinha como você substituí-la na licença maternidade?

Luciano             Que idade você tinha?

Bruno                Tinha dezenove. Tinha como você substituir na licença maternidade? Eu disse beleza, eu vou, aí eu fui e quando eu fui substituir na licença maternidade, que eu entrei na sala de  aula, comecei a dar aula de história, rapaz, foi…

Luciano             O bichinho picou você.

Bruno                … pegou, pegou de jeito, pegou tanto de jeito que eu resolvi trancar direito e fazer vestibular para história, aí nisso…

Luciano             Com a ideia de ser professor?

Bruno                … com a ideia de ser professor de história. Com isso meus pais, eles quase que me mataram, eu não acredito num negócio desse, você vai trancar direito para você fazer história? E eu fiz vestibular, passei, passei até em primeiro lugar em história, na federal de lá e meus pais chegaram e disseram o seguinte: vamos fazer um acordo, você vai fazer um estágio na área de direito, se você não gostar, tudo bem. Vai fazer o que você quiser, mas se você gostar do direito, vá ser professor, vá dar aula de direito, mas pelo menos faça direito. Então eu, a contra gosto, eles conseguiram, me arrumaram um estágio com um promotor de justiça, eu fui para a vara de homicídios dolosos e aí eu gostei, eu gostei, eu disse pô, até que é legal, prática é legal, então eu vou voltar para o direito, aí eu cheguei, estava nesse período e meus pais, eles disseram o seguinte, agora tem um problema, meu filho, você estava fazendo direito na particular, você resolveu trancar, muita gente queria estar no seu lugar, então como você já trabalha, como a gente tem que ter responsabilidade pelos nossos atos, a gente não vai mais pagar a sua faculdade…

Luciano             Você que pague

Bruno                … você que pague, rapaz isso foi um estímulo tão grande para eu passar na federal, entendeu?

Luciano             Você tem irmãos?

Bruno                Tenho uma irmã.

Luciano             Uma irmã.

Bruno                … uma irmã… aí foi um estímulo tão grande, eu me lembro que isso foi em setembro do ano e aí eu disse não, eu vou estudar para a federal, vou passar na federal e nisso que eu estava…

Luciano             Para continuar, você trancou e na volta você foi para tentar para a federal?

Bruno                Isso.

Luciano             Está certo.

Bruno                … aí, tem uma parte interessante nessa história porque como eu gostei do direito eu pensei pô, estou gostando desse negócio, então eu quero arrumar um estágio na melhor banca de advocacia que tem aqui no estado e aí eu perguntei para o promotor o seguinte: olha você escreveria uma carta de recomendação para eu conseguir um estágio nesse escritório de advocacia? Ele disse eu escrevo, sem problema, Bruno faz o seguinte, vá lá no escritório para você pegar o endereço, naquele tempo não tinha, agora que eu estou me tocando, naquele tempo não tinha internet, então eu tive que ir no lugar para pegar o endereço do lugar e aí quando eu passei assim de carro, me deu uma louca e  aí eu poxa, por que eu vou depender de uma carta de recomendação? E se eu descer aqui e pedir para eles, pode ser que eu consiga o estágio aqui e aí eu entrei lá e pedi para a secretária e aí disse eu queria falar com um dos sócios. Ela disse não, não pode, você tem que marcar hora, o que o senhor deseja? Eu digo eu queria um estágio. Ela não, o processo não é bem assim, dê uma ligadinha para eles, se ele lhe disser não, que não deixa, tudo bem, eu aceito. Sempre assim os gate keepers, aí ela ligou, eles aceitaram, os dois maiores sócios do escritório aceitaram me receber, engraçado que eu disse que eu queria uma vaga lá, a primeira pergunta que eles me fizeram foi o seguinte: quem é o seu pai?

Luciano             Ó a referência.

Bruno                … quem é o seu pai?

Luciano             De onde esse cara vem, qual é a referência dele, que formação ele tem.

Bruno                Quem é seu pai? Eu digo olha, meu pai, o nome dele é Teles, ele é dono de uma padaria ali na esquina, aí tudo bem. E qual é a faculdade que você está? Aí eu disse olha, agora eu não estou em nenhuma, mas eu estou estudando para a federal, eu vou passar no final do ano, então no próximo semestre eu estou na federal, aí eles até comentam depois que disseram, esse cara é louco, você vai no escritório com a faculdade trancada. Ele disse não, não vai dar para te dar a vaga. Eu disse para eles o seguinte, era uma sexta feira, eu disse para eles o seguinte, eu disse olha, eu estagio aqui de graça, você não tem absolutamente nada a perder, se você não gostar de mim, você manda embora, não teve custo nenhum para você, qual o custo que você vai ter? Você não tem nada a perder.

Luciano             Você tinha vinte anos?

Bruno                Eu tinha nessa época, eu tinha vinte anos. Aí ele chegou e disse tudo bem, começa aqui na terça feira. Aí eu comecei lá, estagiar lá. Aí foi interessante que eu cheguei lá e perguntei, eu cheguei para a secretária, eu disse e aí, qual é o advogado com quem eu vou trabalhar? Ela disse ninguém me falou nada, aí eu comecei a bater na porta dos escritórios, o doutor tem alguma coisa para fazer? Sou o novo estagiário e tal e ninguém, você sabe, na escala evolutiva, o estagiário é equivalente ao escravo de antigamente, entendeu? Na escala evolutiva, então ninguém queria me dar nada, até que chegou uma hora que eu fiquei chateado, fui com a secretária e disse o seguinte, quem é o melhor advogado aqui nesse escritório? Ela disse doutor Márcio Rezende, aí eu fui lá, bati na porta dele, doutor Márcio, eu sou o novo estagiário, então eles me colocaram para ser seu estagiário, está certo?

Luciano             E ele não sabia da nada?

Bruno                Não sabia de nada, eu joguei verde para ver se conseguia alguma coisa, aí ele pegou e disse o seguinte: isso assim, acho que foi uma das grandes guinadas na minha vida, ele chegou para mim e disse o seguinte: teu primeiro trabalho vai ser organizar os processos, então você vai imprimir, ver onde é que o processo está, fazer um sumário do processo e isso para o estagiário é o pior serviço que um estagiário pode fazer, organizar pasta de processo, você tem pesquisa que você faz, fazer uma peça jurídica, mas organizar o processo é a pior parte e ele era encarregado da maior conta do escritório, que era a empresa de energia elétrica do Estado do Sergipe, a Energipe, na época era a maior conta do escritório, 125 processos, então eu botei uma pasta para cada um, olhei, pesquisei, fiz um sumário, demorou dois meses para eu terminar, terminei e aí aconteceu que a empresa estava insatisfeita com os serviços do escritório, não estava gostando dos serviços, o presidente da empresa, com a diretoria da empresa e a chefe do departamento jurídico na época, ela disse a gente quer uma reunião com vocês amanhã, porque não estamos satisfeitos com o serviço, queremos levar a conta para outro escritório. Quando chegou no outro dia um dos sócios do escritório veio para mim, Bruno chama o doutor Márcio para ir para a reunião que a gente vai ter lá na Energipe. Ai eu disse, olha doutor Márcio viajou para o Rio de Janeiro, que ele era procurador do estado também, ele viajou pra o Rio de Janeiro, ele não está aqui. Ele não está aqui? Eu disse não. Bruno, vamos fazer o seguinte, você vai para essa reunião mas você só fala se a gente te perguntar alguma coisa está  certo? Tudo bem…

Luciano             Eles sabiam que você estava por dentro dos…

Bruno                Ele não sabia…

Luciano             Dos processos?

Bruno                … o sócio não sabia, ele pediu porque no escritório, naquele momento, se alguém tinha algum conhecimento por menor que seja, era eu. Aí fui para essa reunião, aí estava o presidente, três diretores e a chefe do departamento jurídico e do lado de cá o sócio e eu e eles começaram a perguntar dos processos e na primeira pergunta o  sócio não sabia, ele disse Bruno você sabe? Rapaz, Deus me deu uma memória boa, eu tinha organizado os processos todos, eu sabia os sumários e tal e aí eu comecei a fazer os processos, não, a gente está bem, acabou que eles ficaram satisfeitos e aí o presidente chegou para os sócios e disse assim, poxa, eu pensava que o doutor Márcio vinha hoje aqui, eu não sabia que você também tinha contratado um novo advogado, aí o sócio Geraldo Rezende disse assim não, ele é o nosso estagiário, aí o presidente chegou para mim, você não quer estagiar aqui não?

Luciano             Mas na cara dura assim, já foi roubar o estagiário?

Bruno                Falou ali no final da reunião, você não quer ir estagiar aqui não? Aí para mim não fazia sentido eu sair, eu como estagiário de direito sair do melhor escritório, do maior escritório do estado para ir estagiar numa empresa de energia elétrica, não fazia sentido, para não dizer que eu estava sendo indelicado, eu cheguei olha, Marcelo Rocha, hoje ele é presidente da Enersul, lá no Mato Grosso do Sul, eu cheguei e disse olha doutor Marcelo, não faz muito sentido para mim vir para cá como estagiário, mas se o senhor me contratar com advogado eu venho…

Luciano             Você não tinha nem formado pô.

Bruno                … não, não tinha, não podia. Isso foi em outubro de 99, aí o grupo comprou outra empresa na Paraíba, comprou a empresa de energia elétrica na Paraíba, a SAELPA na época, hoje Energia da Paraíba e aí eu recebo um telefonema da chefe do departamento jurídico de lá e ela diz assim Bruno, e aí, vem para cá ou não vem? Aí eu disse ô Fernanda, Fernanda Rocha era o nome dela, eu já falei para você, como estagiário eu não vou não. Não Bruno, a gente queria te contratar para você me substituir, você ser o chefe do departamento jurídico.

Luciano             Mas eles sabiam que você não tinha formação?

Bruno                Sabiam. Aí eu cheguei, Fernanda, eu não sou formado. Aí ela disse, não importa, a gente sentiu que há algo aí em você, aí poxa, fiquei exultante, aí eles disseram, um diretor vai te entrevistar, aí me preparei para a entrevista e preparei minha estratégia, fiz toda uma pesquisa do quanto ela ganhava e eu pensei, pô, eu não vou com muita sede ao pote, eu vou cobrar 70% do que ela estava ganhando, que mesmo assim era muito dinheiro naquela época assim, para um estagiário, eu tinha vinte e três anos na época, aí eu fui para a entrevista e a parte técnica foi numa boa, isso e aquilo outro, aí depois de duas horas de entrevista ela perguntou e aí, quando é que você quer ganhar? Aí eu falei. Na época, isso foi no ano de 2000, na época eu pedi, eu quero três mil líquido. Três mil líquido há dezessete anos para um estagiário era uma pequena fortuna, aí eu me lembro o diretor olhando para mim, você está louco? Os meus engenheiros, eles não ganham isso, os engenheiros que entram aqui, você não é nem formado, aí eu disse para ele o seguinte, olha, mas eu estou calculando aqui o trabalho que você espera que eu desenvolva e o trabalho que você espera que eu desenvolva não é de um estagiário, é de um chefe do departamento jurídico, aí ele disse não, não aceito isso, você não reconsidera? Eu disse não, eu vou lhe dizer porque eu não reconsidero e eu acho que foi Deus que colocou essas palavras na minha boca, eu disse olha, só existem duas pessoas que conhecem os processos a fundo da Energisa, um é doutor Márcio, só que ele é procurador do estado, ele não vai largar a procuradoria do estado para vir se tornar o teu gerente do departamento jurídico, então você não tem duas pessoas, você só tem a mim. Se você for contratar uma pessoa para vir de fora para pegar tudo isso, vai sair muito mais caro. Ele não, não aceito. Tudo bem, eu sei que quando eu entrei no carro eu comecei a chorar porque eu pensei, rapaz eu perdi a oportunidade da minha vida, fui com tanta sede ao pote, mas fiquei na minha, quando chegou no último dia do ano de 1999…

Luciano             Quanto tempo depois essa entrevista?

Bruno                Um mês depois. Esse diretor foi contra a minha contratação, ele foi contra, mas o presidente me ligou e disse você não reconsidera a sua proposta? Eu disse não. Tudo bem começa aqui na terça feira. Aí eu tinha vinte e três anos, faltavam dois anos para eu me formar e eu comecei como chefe do departamento jurídico lá na Energisa, era empresa pública e tal…

Luciano             Com advogados respondendo para você?

Bruno                … tinham quatorze…

Luciano             Meu Deus do céu. Então para, para tudo aqui. Vamos lá, eu só estou te ouvindo aqui e buscando os insights, o insight número um que você me deu aí que é uma coisa assim que é fabulosa foi quando você falou que você pegou o pior trabalho que o estagiário pode pegar que é esse de arrumar os processos que é a pior coisa, ninguém quer isso aí, é um saco, enche o saco etc. e tal e aquilo para muita gente seria motivo de queixa, de encheção de saco, de mimimi, de não  gosto, não quero, não vou, para você foi o trampolim para disparar a tua vida profissional adiante, quer dizer, você ao mergulhar de cabeça nessa coisa ruim e chata, pentelha e fazer direitinho e bem feito, você arrumou um trampolim, então o recado que fica aí, eu já dei, inclusive no programa anterior e fiz num dos materiais que está no Café Brasil Premium, onde o cara diz o seguinte, todo mundo começa por baixo, todo mundo começa a trabalhar lá embaixo e tem muita gente que acha que é indigno, que acha que é um trabalho que é indigno, que enche o saco, que não sei o quê e esquece de entender aquilo como um tijolinho na construção do que essa pessoa vai ser no futuro e você me dá um exemplo aqui que tudo bem, tem que ter o rabo virado para a lua para dar essa sorte toda, mas se você tivesse feito de forma desleixada aquele trabalho, porque não era digno ou porque não era o que você queria, você não teria entrado naquela reunião com tudo na ponta da língua e não apareceria para o presidente, que não te pegaria lá na frente, quer dizer, baita insight que você me dá. Segundo, que puta moleque metido, arrogante, com vinte… com as fraldas sujas, vem aqui na minha frente cantar de galo, da onde vem isso? Teu pai era assim? De onde vem essa…?

Bruno                Rapaz, olha, isso é uma pergunta interessante, mas isso vai… teve um outro episodio na minha vida que eu acho que começou ali sabe, tinha uma escola lá, tem uma escola em Sergipe, que ela é muito exclusiva, que é o Colégio do Salvador, então nesse colégio, as pessoas começam desde o jardim e eles são contra pessoas entrarem… se você não entra no jardim você não entra, é bem exclusiva, é uma escola que não é muito grande, tanto que o pessoal tinha uma predileção ou para o direito ou por medicina e aí eu conheci um pessoal de lá desse colégio, eu tinha onze anos, conheci um pessoal e eu disse pô, estou doido para entrar nessa escola e aí tinha um teste de admissão, eu não passei na prova de admissão que a prova era muito difícil, muito difícil e já era para não deixar gente de fora entrar, era sexta série e aí eu tinha começado já o ano letivo e eu doido para entrar naquela escola, eu disse para minha mãe,  mãe,  dava para você me deixar lá no Colégio Salvador agora? Essa era uma manhã. Ela disse você vai fazer o quê? Vou conversar com a diretoria lá ver se eles aceitam que eu entre lá. E aí…

Luciano             Que idade?

Bruno                … eu tinha onze, aí ela disse tudo bem, meu filho, então quando eu tinha essas ideias loucas, os meus pais, eles sempre me apoiavam sabe? Eles não eram assim, mas quando eu tinha ideia eles me apoiavam, sempre me apoiavam, então eles  sempre disseram, meu filho, nunca será surpresa para nós o que quer que você venha a atingir, então isso me deu uma auto confiança muito grande,  isso me deu uma segurança  muito grande, entendeu?

Luciano             Você imaginar que crianças de 11 anos não vão falar com o diretor, quem vai falar é o pai…

Bruno                Eles fogem de falar.

Luciano             … quem fala é o pai e a mãe que vão falar, interceder por elas.

Bruno                Mas exatamente isso, na minha vida eu sempre tentei fazer o que as pessoas não esperam que você faça, é a melhor forma de você conseguir o que você quer, isso serviu para a minha vida. Fui lá, pedi para falar com a diretora, que era a dona do colégio e eu disse olha, eu gostaria de estudar aqui neste colégio, ai ela disse mas meu filho, tem que fazer a prova de admissão. Não eu fiz, eu não passei, mas eu de fato eu quero. Olha, mas se você não passou é que você não tem capacidade de estudar aqui no colégio. Aí eu disse olha, vamos fazer o seguinte, primeiro mês não vai ser legal, segundo mês melhora um pouco, terceiro mês eu te mostro quem eu sou. Eu não sei como é que veio essas frases assim. Aí ela riu, eu nunca vou esquecer, ela olhou para mim, ela disse assim: cadê teus pais? Aí eu olhei para ela e disse, quem que vai estudar aqui? Sou eu ou os meus pais? Isso foi de manhã, aí ela disse começa a estudar aqui hoje a tarde, então esse episódio assim, quando aconteceu isso eu saquei que muitas das vezes você não tem que fazer nada fora do normal, o que é fora do normal para as outras pessoas. Eu só fui lá e pedi, eu só fiz isso, entendeu? Em relação ao estágio nessa banca de advocacia, eu só parei o carro, entrei e pedi, então as pessoas, elas têm muito medo, elas fracassam pelo medo de receber um não.

Luciano             E se você tivesse recebido um não?

Bruno                Eu ia insistir, eu ia insistir, isso que eu faria, todas as vezes que eu recebo um não eu insisto, eu tento arrumar uma outra forma para que possa, entendeu, conseguir o sim. As pessoas, elas têm essa característica de calcular o sucesso delas pelos não que elas não recebem, eu calculo meu sucesso pelos sins que eu recebo, então acho que quando teve esse episódio, ele serviu de base para mim e aí quando eu entrei no colégio, eu consegui, de alguma forma, me destacar no colégio e eu, de fato, no ginásio, no científico eu não era um bom aluno não, porque os professores não me diziam para que que aquilo servia, mas na sétima série eu fui eleito líder de turma e fui eleito até o terceiro ano e fui o orador da turma, então depois daquele episódio, um dos donos do colégio veio conversar com minha mãe e disse olha, por causa do seu filho nós resolvemos  mudar a regra e nós resolvemos aceitar pessoas com mais facilidade aqui dentro do colégio, então eu acho assim que quando começou a acontecer isso na minha vida, comecei a dar aula com dezenove anos, então eu achava assim que as coisas são possíveis, mas não porque eu seja uma pessoa fora do comum, mas eu acho que a maior parte das pessoas não tentam, elas nem tentam, elas nem tentam, ai eu sempre digo gente, um não, quando eu digo, a pessoa está em dúvida, Bruno será que eu vejo fazer isso? Será que eu devo pedir? Eu digo o máximo que vai acontecer, não vai passar disso, você vai receber um não, agora, se você receber um sim, o que pode mudar a tua vida? Entendeu? E aí eu comecei a trabalhar lá, só que quando e comecei a trabalhar lá, a empresa tinha acabado de ser privatizada…

Luciano             Então, mas antes disso aí, um moleque de vinte e dois, vinte e três anos vai ser chefe do departamento com quatorze caras respondendo para ele, provavelmente desses quatorze, treze e meio deviam ser mais velhos que você, estavam lá não sei há quanto tempo e alguns tinham diploma de advogado na mão…

Bruno                Todos.

Luciano             … pois é, isso é um desastre,  isso é uma hecatombe dentro de uma empresa, como é que foi essa história?

Bruno                Bem, vamos lá, a empresa tinha acabado de ser privatizada, a empresa tinha sido privatizada em 97 e eles resolveram limpar todo o departamento jurídico e terceirizar todo o departamento, então lá dentro só tinha o chefe do departamento jurídico e quatorze advogados terceirizados, trabalhando para a gente.

Luciano             Ok. Não eram CLT então, eram empresas independentes que estavam ali.

Bruno                Escritórios independentes, em Brasília, no Rio, lá, mas eu recebi a incumbência também de reconstruir o departamento jurídico internamente.

Luciano             Mas então nesse momento que você assumiu não havia uma relação de hierarquia, de eu sou o chefe e você responde para mim, você era na realidade o leason, o cara que faz o contato com aquela turma toda lá, então isso evitou o cara engolir aquele sapo tremendo de ter esse fedelho na minha frente.

Bruno                Evitou em parte, porque eu tinha que me relacionar, eu tinha que me relacionar com os outros departamentos, então os outros departamentos, os gerentes dos outros departamentos, eles eram tudo quarenta, cinquenta anos e eu tinha vinte e três, então nas reuniões de todos os departamentos com a diretoria, está todo mundo lá, quarenta, ciquenta anos e eu vinte e três e eu ganhei um apelido lá, eu fiquei sabendo, o meu apelido era “O estagiário”, era esse o meu apelido, “o estagiário” então eu comecei a ter umas dificuldades muito grandes de conseguir informações dos departamentos para eu conseguir trabalhar os processos que tinham contra a gente, ah lá vem o estagiário, lá vem o estagiário pedir, até que chegou um dia eu disse pô, como é que eu vou mudar isso? Como é que eu vou mudar isso? E aí eu fui com cada chefe de departamento e eu disse, sentei na frente deles e disse assim: olha, eu tenho vinte e três anos, eu não  sou nem formado, mas eu quero te dizer que eu estou aqui dizendo que para eu te ajudar, você precisa me ajudar, eu estou aqui para te servir, você não está aqui para me servir, eu sei qual é a mentalidade que departamento jurídico tem na empresa, departamento jurídico e TI tem uma péssima fama em empresa, o que entra no jurídico não sai mais nunca, então eu disse para eles, eu estou aqui para te servir, então se você não me ajudar, eu não vou ganhar o processo, eu não sei nada, por isso que eu estou vindo aqui atrás de você. Primeiro, para eles foi um choque, o jurídico vir até eles e não eles irem até o jurídico. Segunda coisa, foi a posição de humildade que eu fui e eu  passei a não ir de terno, de gravata, eu ia de calça jeans trabalhar, então começou a criar essa empatia e eles viam que eu estava lá lutando por eles, então chegou numa forma que eu comecei a me destacar na empresa e aí a diretoria chegou  para mim e disse assim, com um ano e meio, a diretoria chegou para mim e disse assim, a gente quer te dar um embasamento maior em negócios, nós vamos te pagar uma pós na Getúlio Vargas, uma pós em gestão na Getúlio Vargas, você pega um background e um business, um negócio…

Luciano             Você tinha se formado?

Bruno                … ainda não…

Luciano             Ainda não.

Bruno                … faltava um ano, uns oito meses para eu me formar, nessa quando faltava o tempo para eu me formar que eles me deram essa bolsa, surgiu um problema, eu não podia fazer a pós, porque eu não estava formado, aí eu fui lá, eu disse pô, não vou perder essa oportunidade, ganhei uma bolsa, digo para esses caras que eu só vou fazer daqui a dois anos, vai que tenha corte no orçamento, perco essa oportunidade? E aí eu fui falar lá com o pessoal da FGV e eles disseram não, não tem condição, eu digo olha, mas veja só, faltam oito meses, um ano para eu me formar, o curso dura dois anos, então eu já vou estar formado, está me entendendo? Você até segura minhas notas, mas pô, faz esse favor e se eu não me formar você não me dá o diploma, pronto. Aí eles disseram não, aí eu pedi, deixa eu falar com o teu supervisor? Falei, insisti, não. Posso falar com teu chefe? Aí até que foi na última pessoa lá que era o chefe da FGV para o estado de Sergipe, aí eu fiquei insistindo, esse cara falou o seguinte, ele disse olha, a gente não pode fazer isso, mas quando eu estava terminando o meu mestrado, eu fui aceito no doutorado e um professor aceitou que eu começasse o doutorado sem ter terminado meu mestrado, então vou abrir essa exceção para você, então mais uma vez…

Luciano             Uma referência, o cara se baseou numa referência que aconteceu na vida dele e replicou para você e se você não tivesse ido lá falar com ele, se não tivesse insistido com cada um desses caras, você não ia receber essa benesse de jeito nenhum.

Bruno                … em hipótese alguma, aí eu estava como gerente do departamento jurídico lá, eu estava terminando a faculdade e fazendo especialização da FGV ao mesmo tempo, uma loucura, mas aí eu consegui terminar e as coisas foram dando certo e eu comecei a me dar muito bem na empresa, eu amava, amava a Energisa, amava, e aí aconteceu… quando eu fiz essa pós na FGV e eu me lembro como hoje, o primeiro módulo foi RH, o segundo módulo foi estratégia, um cara, um professor que trabalhava na Bayer e ele botou lá as cinco forças do Porter, do Michael Porter, quando eu vi aquilo, é isso que eu quero, eu fiquei doido, olha parece que foi, eu me lembro como hoje o cara explicando os Five Forces, as cinco forças do Porter, pô eu quero trabalhar com negócio, não quero mais direito não, eu quero trabalhar com negócios e a partir daquele momento eu comecei a conversar com a empresa que eu quis dizer, eu não quero mais ficar na área de direito, eu não quero mais, fiz o mestrado em regulação da indústria de energia, mas não quero mais ficar em direito, quero área de negócios, quero ir para regulação, mas eu tinha cometido um erro grande, nessa época o departamento já estava com oito pessoas internamente, um advogado, outras pessoas e aí eu nunca preparei ninguém, para me suceder, esse foi o grande erro na minha carreira, eu nunca preparei ninguém, então eles não queriam me mudar porque ia ser um problema para arrumar outra pessoa e é uma área sensível o departamento jurídico, você sabe tudo da empresa, principalmente o que você não deve saber, você sabe tudo e eu estava meio desgostoso, até que mudou o diretor e o diretor que passou a ser meu chefe foi aquele diretor que me entrevistou oito anos atrás, que foi contra a minha contratação, passou a ser meu chefe e eu me tornei um advogado bem sucedido lá porque eu não segui as regras, eu não segui as regras no sentido de que vamos lá, vamos trabalhar, estamos aqui, vamos ajudar, o pessoal dizia que eu era um bom advogado porque eu não agia como um advogado e esse cara era muito metódico e não era só comigo, era com várias pessoas, passou um ano tendo muito atrito com ele aí era uma… eu te falei ali, era uma sexta feira, 17 de dezembro, se eu não me engano, 2008, seis horas da noite, ele me chama na sala dele ele diz, eu quero fazer a tua performance, tua revil, aí eu disse tudo bem, ai ele começa dizendo você está abaixo da média como gerente, eu já fiquei meio assim, porque eu sempre era top, ganhei uma bolsa da universidade, a minha contratação eu nunca ouvi falar de um caso desse, estou sendo sincero com você, ele disse você é um gerente abaixo da média porque você tem três pontos que você não está desenvolvendo: primeiro, você precisa aprender mais, você precisa estudar mais, eu já tinha pós da Getúlio, feito mestrado e eu era referência na empresa, eu sabia disso e a outra questão é que você não é muito articulado, você precisa aprender a se comunicar com as pessoas e a terceira coisa, eu não vejo motivação em você, eu não vejo uma pessoa motivada. Entendeu? Aí eu silenciei na hora, eu fiquei olhando para ele, eu silenciei porque não dava nem para começar uma discussão, porque a gente estava tão distante, porque as três fraquezas que ele falou, eram os meus três pontos fortes que todo mundo falava, aí eu tudo bem, nem discuti, aí minha esposa foi me pegar e quando eu entrei no carro, que ela me olhou, ela disse assim aconteceu alguma coisa? Olha, aconteceu, estou de saco cheio, aconteceu isso, já não estou mais satisfeito, eu não quero mais direito, quero dar uma guinada na vida, a gente não tem filho, a gente não tem uma dívida, você topa eu fazer um mestrado, um MBA numa universidade nos EUA, eu entrego minha demissão amanhã, você vende os seus negócios que você tem, a gente vende tudo, a gente vai, ela me olhou assim, ela disse assim, olha meu amor, o que eu quero é lhe ver feliz, para onde você for eu vou. Na outra semana eu entreguei minha demissão e o presidente na época, ele disse para mim, não Bruno, a gente negocia aqui, vamos te dar um aumento. Não, a questão não é dinheiro, porque eu nem precisava de um aumento, para ser sincero, não tinha dívida, só eu e minha esposa, a gente vivia muito bem, eu dava aula na universidade. Não, não é dinheiro, você não entendeu. Não, a gente te coloca na posição, a gente muda aqui de posição, a gente se prepara. Não, não é isso, chegou meu tempo, estou de saco cheio. Não, não vou aceitar tua carta de demissão. Tudo bem, fui em casa, comprei a passagem para os EUA, sem estar matriculado na universidade, sem ter visto, comprei a passagem, voltei para ele e disse olha, a passagem já comprei, aí foi nesse ponto que ele não insistiu mais, mas eu fico aqui um mês ainda, dois meses para ajudar na transição, não tem problema algum. E aí eu ainda fui tirar o visto e eu perguntei para minha esposa, para onde a gente vai. Ela disse olha, tenho uma tia que mora numa cidadezinha chamada Broken Arrow, em Oklahoma. Eu disse tudo bem, fui procurar todos os mestrados, os MBA’s que tinham lá, tinham quatro, mandei um e-mail para todos perguntando quanto é que custa. Só uma respondeu, aí eu disse bem, se só uma me respondeu, o que eles disseram que custava na época era 25 mil dólares, eu tinha, é para essa que eu vou e aí fui para lá, fiz a aplicação, a universidade me aceitou…

Luciano             E o inglês?

Bruno                … eu já falava inglês…

Luciano             Já falava inglês.

Bruno                …  eu já falava inglês…

Luciano             Outro insight interessante, quer dizer, um cara que não queria que você entrasse, oito anos depois foi o cara responsável por você sair da empresa, quer dizer, ele guardou aquela vingança no bolso até o dia que ele pegou você na frente dele e ele foi lá e jogou em cima de você uma…

Bruno                Eu não sei se bem vingança, porque não era só comigo, ele não se dava…

Luciano             Com ninguém.

Bruno                … com ninguém.

Luciano             E era um diretorzão na empresa lá.

Bruno                Era.

Luciano             Quer dizer, a empresa mantem um sujeito assim porque não entende, o que eu quero dizer para você, a gente sabe como é que funciona a comédia corporativa, sabe como é que funciona o sistema de mérito dentro das empresas e sabe que existem pessoas que ficam anos numa empresa e são um problema, quer dizer, para quem olha de cima e vê o cara, fala não, o cara está performando, para baixo ele é um horror, ele destrói por onde passa, eu cansei de ver gente assim e vi gente que chegou a níveis de vice presidente da empresa e o cara não valia nada, mas parecia que era o “ó do borogodó, de certa maneira isso é um grande desestímulo, as empresas desestimulam as  pessoas boas a seguir adiante quando olha e vê que pô, o que esse cara está fazendo aí em cima, esse cara vem mandar em mim com essa empáfia e eu sei  que o cara não tem bala na agulha e no entanto ele está aí, está tendo uma posição e enfurecia todo mundo que está em volta dele para baixo e para o mal, isso de certa maneira explica porradas de problemas que a gente vê acontecer nas empresas aí, esse é um insight importante. Mas aquela outra história de joga tudo para o alto e eu vou embora. Para onde? Não sei. Fazer o quê? Também não sei. Tem que ser muito, você não tinha filhos.

Bruno                Não tinha, isso ajuda muito.

Luciano             Uma sorte. Sua esposa trabalhava?

Bruno                Tinha duas lojas.

Luciano             Duas lojas e ela ia vender as lojas e você ia pegar as coisas e ir para os EUA no escuro.

Bruno                Isso.

Luciano             E aí, como é que se toma uma decisão dessa.

Bruno                Só voltando ao diretor, duas coisas que eu gostaria de falar, primeiro eu agradeço muito a ele, porque se ele não tivesse agido… eu amava tanto a Energisa, eu amava tanto aquela empresa que tinha que ser algo muito forte para me tirar de lá e ele foi capaz de fazer isso. A segunda coisa é que dois meses depois que eu saí, ah, outra coisa, quando eu decidi pedir demissão, eu fui com todos os gerentes de departamento e eu disse olha, eu estou pedindo demissão porque na minha performance ele me disse essas três coisas, então eu  comuniquei a todos os gerentes a razão pela qual eu estava saindo e fui falar com o presidente também, eu disse olha, estou saindo por causa dele, não é por nada, é por causa dele. Eu sei que dois meses depois tiraram a diretoria dele, não sei se isso teve a…. de fato eu não sei. Hoje há um ano, ou dois anos, ele voltou  a ser diretor, mas ele passou um tempo aí sem ser diretor, entendeu?

Luciano             Espero que alguém tenha dado para ele o feedback igual ele te deu, então pode dizer onde é que a coisa pegava.

Bruno                Em relação a ir para o exterior, eu achava o seguinte, eu sempre achei que….

Luciano             Que idade você tinha?

Bruno                … eu tinha trinta e dois…

Luciano             É, já não era um moleque.

Bruno                … eu não era um moleque, mas aí eu pensei o seguinte, foi o pensamento que passou na minha cabeça é o seguinte: eu não tenho filhos, eu não tenho dívida, tenho um certo capital, tenho uma esposa que me apoia…

Luciano             E a hora é agora.

Bruno                … a hora é agora, eu não vou ter outra chance, foi isso que passou na minha cabeça na hora e aí eu fui aceito na universidade, eu foi para lá e quando eu cheguei lá, você não pode trabalhar, porque você está no visto de estudante e aí eu pensei o seguinte, eu disse poxa, eu tenho que fazer dinheiro, como é que eu vou fazer dinheiro aqui se eu não posso trabalhar? Eu só vou conseguir fazer dinheiro aqui se eu receber dinheiro no Brasil, aí rapaz, eu estava dormindo e eu acordei e eu lembro a hora exata, 2:14 da manhã, eu acordei com uma ideia, poxa, eu tenho  meu conhecimento todo sobre o Brasil e eu estou aqui e eu sei tudo como é que funciona lá, sou advogado, conheço negócios, então empresas daqui, que querem investir no Brasil, eu posso ser um excelente consultor para elas, eu me lembro que eu levantei, fui no Google e digitei companies Tulsa Brasil, digitei essas três palavras. O primeiro resultado na página do Google foi, em inglês, primeiro seminário como fazer negócios com o Brasil, na Universidade de Tulsa, era uma outra universidade. Falei pô, qualquer empresa que tiver lá vai ser um potencial cliente para mim, imprimi uns cartõezinhos de negócio, fui para esse seminário, eu disse bem, não vai dar para eu falar com todo mundo, eu vou focar naquele pessoal que fizer mais perguntas, porque quem fizer mais perguntas, esse está interessado, consegui falar com três, porque não dava para falar com todo mundo, me apresentei, olha, sou consultor e a vantagem que eu tenho é que eu estou aqui mas eu conheço tudo do Brasil lá e aí uma das empresas me ligou e eu consegui um contrato bem legal para abrir a filial deles aqui no Brasil.

Luciano             Mas você não podia trabalhar, pô.

Bruno                Aí é que está, eu não podia trabalhar…

Luciano             Vamos ao balão, vamos lá, vamos ver o balão do brasileiro. Vai.

Bruno                … eu disse, eu não posso trabalhar aqui, eu não posso receber, trabalhar é você receber compensação, então eu disse para a empresa, olha, você me paga no Brasil, pronto.

Luciano             Contrataram você como se você fosse um consultor no Brasil que por acaso estava lá.

Bruno                Estava lá, então não tinha nenhum problema legal e eu não sabia que essa empresa, o nome dessa empresa é Oseco, a filial dela hoje é em Salvador, eu consegui abrir a filial lá em Salvador e eu não sabia que era parte de um grupo britânico de cinquenta e tantas empresas, aí eles gostaram tanto do modelo que eu botei para eles abrirem aqui no Brasil, que pediram para eu falar isso para os outros CEO’s de oito outras empresas deles, entendeu? Acabou que deu muito certo e a grana que eu ganhei lá foi muito bom para mim, para eu ficar lá e conseguir me manter sem ferir nenhuma da legislação vigente e no mestrado eu resolvi fazer o seguinte, eu disse  olha, eu só estou estudando e fazendo essa consultoria, eu vu de fato ralar, eu vou dar o meu máximo nesse mestrado, quando acabou o final do primeiro semestre, o chefe de departamento me convidou para ser assistente dele, você pode trabalhara dentro da universidade lá nos EUA, comecei a trabalhar, quando acabou o primeiro ano do mestrado, são dois, eu pensei, pô, vou me lotar de matéria e vou terminar agora no próximo semestre, foi aquilo até que eu te falei no almoço, em julho eu vim para cá para o Brasil para resolver alguns problemas da empresa e quando eu estava dirigindo, aqui no interior de Campinas, eu estava indo visitar a Elektra, quando eu estava dirigindo eu senti que eu estava com dificuldade de enxergar no horizonte e eu estava com umas fortes dores de cabeça mas eu achava que era o stress, minha vida era uma loucura, aí eu disse olha, eu vou fazer um checkup quando voltar para os EUA para ver se está tudo OK para ir para o meu último semestre, aí eu fui fazer o checkup, o médico disse que era uma sinusite, ia fazer uma cirurgia rápida, na sexta antes das aulas começarem ele fez a cirurgia, eu  estava ainda sob efeito de sedativo, quando chegou na segunda feira que eu fui lá no escritório dele, ele pediu para eu ir lá, o médico veio na sala de espera, estava eu e minha esposa, aí eu me levantei e ele disse o seguinte: olha, ele falou assim mesmo, olha eu cheguei lá, mas quando eu cheguei lá não era uma sinusite, é um tumor, então eu decidi não operar, está certo?

Luciano             Aonde o tumor?

Bruno                O tumor nessa região aqui entre os olhos e o cérebro, entendeu? É um tumor, olho direito e o cérebro, é um tumor, eu não sei se é maligno ou benigno, mas eu já entrei em contato com o instituto de Oklahoma do câncer, lá em Oklahoma City, uma bola de golfe, era uma bola de golfe, o problema é o local, não é tanto o tumor, estava comprimindo o olho e o cérebro, então todas as vezes que eu tossia, ou arrotava, ou espirrava era uma dor lancinante, aí ele disse estou te mandando lá para o Instituto de Oklahoma do Câncer, lá eles vão te tratar, você vai receber uma ligação deles, você tem alguma pergunta? Aí eu pensei que era o meu inglês, que eu não tinha entendido, eu disse o senhor podia repetir, por favor? Ele repetiu, aí eu disse não, eu tenho várias perguntas, mas eu acho que eu não consigo formular nenhuma agora e aí a gente entrou no elevador, eu sei que a gente chorou muito, mas aí eu pensei o seguinte, eu disse pô, eu sou evangélico, então eu pensei, a única coisa que eu pensei naquela noite foi o seguinte, rapaz olha, aconteça o que ocorrer, a minha fé não vai ser abalada, minha esposa chorava muito, aí eu fui na faculdade  no outro dia e os professores chegaram para mim e disseram, vamos fazer o seguinte, Bruno, pega um break e você começa no outro ano, aí eu conversei com minha esposa e disse olha meu amor, sabe eu não vou pegar um break porque se eu ficar em casa eu vou enlouquecer, porque quando você tem uma notícia que você tem um tumor, uma bola de golfe entre o seu olho e o seu cérebro, você não sabe se é benigno ou maligno, eu vou te  dizer as perguntas que passaram na minha cabeça, isso foi em agosto, será que no natal eu vou estar vivo? Será que vai doer? Será que eu vou ter consciência quando tiver morrendo? Como é que minha esposa vai ficar? Poxa, não tenho filhos ainda, olha, não vai ficar nada, então umas perguntas que você não se faz…

Luciano             Que você evita pensar.

Bruno                … evita pensar, elas vêm como  uma avalanche, todas de uma vez e aí eu disse, rapaz eu vou enlouquecer, eu vou ralar, vou estudar, e de agosto até novembro eles começaram a fazer uma série de exames e nessa de fazer uma série de exames, quando chegou em novembro foi que eles descobriram que era benigno, uma semana antes das provas finais, entendeu? Mas eu já tinha passado o semestre todo sofrendo com dores de cabeça, entendeu? Sem enxergar do olho direito, aí eles disseram olha Bruno, temos excelentes notícias, ele é benigno e você vai tomar um remédio, ele vai diminuir. Fiquei tão feliz, minha mãe foi para lá para dar uma assistência, os três chorando, se abraçando na sala, quando a gente recebeu a ligação, quando eu comecei a tomar o remédio, rapaz o remédio era muito forte, só para você ter ideia, o início da medicação era meia pílula, hoje eu tomo nove, eu ainda tomo para controle, eu tomo nove, eu tomei meia e eu fiquei super nauseado e aí eu tinha que estudar e ir para a aula nauseado, com as provas finais, mas eu acho que nesse momento eu fui recompensado por eu ter tido aquela fé que eu disse que minha fé não seria abalada, eu consegui terminar o semestre com média máxima em todas as matérias e na kepstone que é a matéria principal, a maior nota foi a minha e aí eu me formei com honras e eles me deram um prêmio especial, um aluno exemplar e aí quando eu estava chegando na última semana de aula, o chefe do departamento chegou para mim e disse assim, Bruno, você quer ensinar aqui? Aí eu disse, o que? Você quer ensinar aqui? Aí eu disse pô, adoraria, mas tem um problema, eu sou internacional, eu sou estrangeiro e eu sei que a universidade tem uma política de não contratar estrangeiro por todos os problemas de ter que pagar mais. Não…

Luciano             Que ano era?

Bruno                … isso foi em 2011, final de 2011, entendeu?

Luciano             Final de 2011.

Bruno                … final de 2011 e a universidade não estava contratando estrangeiro desde as torres gêmeas, então eles disseram não, nós vamos abrir uma exceção porque eu me lembro que ele falou isso, nós conhecemos o caráter das pessoas quando elas passam por uma situação limite e na situação limite nós conseguimos ver o que saiu de você, então a gente vai te pagar isso e a gente vai te dar uma bolsa para você fazer um doutorado na universidade que você for aceito…

Luciano             E o green card?

Bruno                … a gente paga o teu green card também. Eles pagaram…

Luciano             Isso é a mesma coisa que a Gisele Buntchen ligar para mim e falar Luciano, quero convidar você para sair comigo hoje, vou pagar um jantar, vou mandar um carro te pegar e depois eu te levo de volta para casa, você quer sair comigo? É mais ou menos assim e você pegou e falou não, não quero, de jeito nenhum, vou voltar para o Brasil.

Bruno                … não, aí eu não pensei duas vezes, as despesas que eles tiveram só para me contratar foram mais ou menos quinze mil dólares, dá quarenta e inco mil reais, quer dizer, para contratar um professor você tem que pagar quarenta e cinco mil reais e quando você recebe o green card, você não tem ligação nenhuma com a empresa, você pode pedir demissão no outro dia, então é um risco muito grande para a empresa fazer isso.

Luciano             Quer dizer, olha só como é que essa… eu estou tentando definir você e sua vida, não consigo encontrar, mas olha que  paralelo interessante, aquele estagiário que pegou o pior trabalho que tinha na empresa, que para todo mundo é um horror, vai faz o trabalho e aquilo vira para ele a fonte que bota ele na frente de um presidente da empresa e faz tua carreira seguir e  aí ganha de presente um tumor no cérebro que se é a pior coisa que você pode imaginar, e aquele tumor no cérebro, da maneira como você vence o tumor e sai dele, mostra para os caras que você é o cara certo que  eles podiam ter lá e recebe o convite, quer dizer, se não tivesse tido o tumor e você não tivesse passado por aquilo, talvez esse convite não aparecesse…

Bruno                Talvez não aparecesse, eu tenho quase certeza que não apareceria, mas eu acho que vem mais uma questão, as pessoas elas tendem a magnificar os problemas que elas passam na vida e poxa, tem esse ditado no Brasil, que eu amo, fazer do limão uma limonada, entendeu? Toda ameaça, ela pode ser transformada numa oportunidade, toda fraqueza pode ser transformada numa força e vice-versa, eu acho que é uma questão de escolha, assim como felicidade, você escolhe ser feliz, entendeu? Então você escolhe pegar as adversidades da sua vida e utilizar aquilo como combustível, você quer melhor combustível para você ser bem sucedido, você está sofrendo nesse exato momento? Pô, se eu ralar eu saio dessa, então eu acho que a matriz swot que a gente estuda tanto, eu acho que toda ameaça é ótima porque me mantem ativo, você está me entendendo? E aí você vê, por exemplo, você pega um astro de rock ou um jogador de futebol, a gente não consegue entender quando eles chegam no ápice do sucesso começam a fazer um bocado de besteira, é justamente isso porque eles ficaram naquela zona de conforto, eu quero ter problemas na minha vida porque eu sei que eu vou avançar, entendeu? E aí eu comecei a dar aula lá e eu sempre tive assim uma paixão muito grande por dar aula, dei aula…

Luciano             Green card, virou um cidadão norte americano.

Bruno                Ainda não cidadão, porque você ganha o green card, depois é que você vira.

Luciano             Mas você não chegou lá ainda? Ainda não?

Bruno                Ainda não porque tem um prazo que para você fazer…

Luciano             Vai estar lá fazendo aquele juramento.

Bruno                Hoje é dia 4 de julho, por incrível que pareça…

Luciano             É verdade, hoje é dia 4 de julho, dia da independência. Muito bem, mas aí então a coisa se estrutura, não sei o que você estava planejando da tua vida até então porque vem inesperadamente esse convite, você se formar e aí ter que tomar uma decisão na tua vida lá na frente e de repente do inesperado surge um convite, fique aqui, venha dar aula aqui e aí abre um caminho na sua frente, vou ser professor, que é aquilo que eu queria ser no Brasil, aqui nos EUA. Quer dizer, um brasileiro sendo professor nos EUA, numa universidade, professor de quê?

Bruno                Marketing e empreendedorismo.

Luciano             Não era nem o direito que você fez aqui.

Bruno                Não era mais o direito.

Luciano             Que loucura e aí?

Bruno                Olha, os planos eram, quando terminasse o MBA voltava para o Brasil porque pô, eu tinha um baita currículo e eu não via problemas em arrumar uma vaga aqui no Brasil, mas aí surgiu essa, eu fiquei lá e quando eu comecei a dar aula, eu comecei a de fato ver o papel de um professor na sala de aula, eu comecei a ver o impacto que eu tinha nos alunos, nas pessoas e eu percebi que uma das melhores profissões, você vai até achar agora que eu estou sendo aqui meio utópico, mas eu acredito nisso de coração, eu acredito nisso corpo, mente e alma. Uma das melhores profissões para você mudar o mundo é você ser um professor, na minha opinião, é uma das melhores profissões. Você começa um relacionamento já numa posição de autoridade, então você já tem, sem você fazer esforço algum, você já tem uma certa influência no aluno só pela tua posição e se você buscar fazer um pouquinho diferente do que todos os outros professores fazem, você vai se tornar uma lenda para eles. Eu ganhei o prêmio de melhor professor da escola de negócio no ano passado, eu ganhei esse prêmio e os alunos, eles colocaram coisas assim: ele sabe o meu nome, ele sabe qual é o meu sonho, ele conversa comigo, aí veja só, você para pra olhar, essas foram algumas das razões  porque eu ganhei o prêmio, mas todas essas coisas, elas não são nada fora do comum…

Luciano             E o mais interessante é o seguinte, eu já fiz, fiz um texto, acho que eu fiz até um programa a respeito que eu faço uma brincadeira com as pessoas, diz o seguinte, se você já se formou e está trabalhando, você tem pelo menos dezessete anos de educação formal na tua vida, ficou para trás, nesses dezessete anos, passaram por você cem, duzentos, trezentos professores, me fala o nome de cinco que você acha que foram os caras que impactaram tua vida para sempre. É difícil encontrar alguém que diga cinco nomes, então fala três, três é mais fácil, me diga quem são os três, ah foi a doutora mariquinha que era professora de geografia, foi o professor João que era professor de matemática e aí você vai especular o porque é que essa pessoa te marcou e nenhuma delas marcou porque era bom na matéria que ensinava, não tinha nada a ver, o de matemática, ele marcou porque ele se importava comigo, ele marcou porque ele queria que eu fizesse sucesso, ele marcou pela proximidade que teve comigo, então é sempre um atributo que tem a ver com a relação interpessoal que o professor faz com aquele aluno e não tem a ver com a matéria que ele está dando lá, a matéria é secundário, não vou guardar para o resto da vida nenhum professor porque ele foi o melhor professor de geografia que eu tive na vida, não, eu guardei porque esse cara se aproximou de mim de um jeito que outros não se aproximaram, quer dizer, é um atributo que a escola não ensina a você isso aí não é? Você não tem aula de relação interpessoal com aluno.

Bruno                Eu nunca tive aula de pedagogia, mas eu faço algo com os alunos que virou uma espécie de lenda urbana a aula na universidade, todo começo de semestre eu tenho minha assistente e ela faz a agenda dos alunos que eu vou me encontrar, então todo aluno que é novo, eu levo ele para um coffee shop, uma Starbucks, eu sento com ele, eu pago um café para ele, eu sento por vinte minutos, normalmente são vinte minutos, eu faço quatro perguntas, para todo meu novo aluno, de onde você veio? De que lugar? Porque nos EUA é mais comum você vim de outros lugares para você estudar; por que você escolheu essa universidade? Por que você escolheu o curso que você está cursando? E quais são os seus sonhos? Eu faço essas quatro perguntas e eu tenho uma memória boa, então eu consigo manter isso, então na sala de aula eu sempre tento de todas as formas no conteúdo, eu passar fazer alguma conexão com o sonho daquele aluno, ou de fazer alguma conexão de onde ele veio, você está me entendendo? A outra coisa que eu faço é o seguinte: todo semestre eu pego os quatro, seis melhores alunos que tiveram durante o decorrer, não só por questão de média, de nota, mas o desenvolvimento, como se relaciona com todo mundo, desempenho nas apresentações e eu escrevo uma carta para o pai, para os pais  desse aluno e aí eu escrevo lá, eu digo olha, o seu filho se saiu muito bem esse semestre, mas eu quero lhe agradecer porque se ele se saiu bem, isso não acontece  por acaso, vocês desempenharam um papel nisso aí e eu quero agradecer a vocês por ter dado seu filho para a nossa universidade, seu filho, sua filha é um tesouro para a nossa universidade, uma carta de uma página, mas isso tem um efeito, olha, um aluno veio falar para mim, disse assim Bruno, meus pais emolduraram a carta, eu só estou falando isso, isso que eu acabei de te falar, outros tiram e postam no Facebook, olha…

Luciano             Deixa eu te contar um lance que tem a ver com essa… a importância que essa liderança que você exerce tem nesse ambiente onde você atua ali, eu estava na empresa, eu era o cara de comunicação e marketing e a gente editava um jornal interno na empresa, “O Pinhão” era o nome do jornal, jornal feito por cinco mil funcionários da empresa e eu dei um puta gás no jornal, peguei o jornal e falei isso vai ter que ser de primeira linha, eu quero um jornal que fale de gente, que tenha gente e toda edição do jornal, quando chegava a edição, minha  secretária pegava o jornal e via as fotos de todo mundo que apareceu e eram assim trezentas fotos que apareciam de pessoas, grupos, o grupo todo reunido, ela pegava aquelas fotos, a minha turma identificava aquelas trezentas pessoas e ela preparava para mim trezentas cartinhas, tudo com o nome do cara e eu chegava no trabalho tinha uma pilha de trezentas cartinhas na minha mesa, eu ia lá, eu assinava uma por uma, a mão e botava um bilhete, assinava e escrevia do lado, fulano, muito legal… Todas elas e levava um tempo fazendo aquilo lá e a turma entrava na minha sala e me via assinando aquilo e não se conformava, por que você não imprime isso aí? Eu falo você não sabe o que acontece quando alguém receber essa cartinha aqui, que o diretor mandou, com assinatura feita com a mão dele e com um bilhetinho com o nome do cara, Oswaldo, estou contigo, alguma coisa assim e aquilo me custava um tempo gigantesco fazer aquele negócio todo e o resultado daquele negócio era um negócio excepcional, os caras emolduravam, o cara estava no meio do trabalho, de repente chegava o supervisor dele e batia nas costas dele e falava fulano, está aqui o jornal e olha a carta que o diretor te mandou e o cara abria a carta do Luciano com a assinatura do diretor de comunicação e dizendo muito obrigado por ajudar a gente a fazer o nosso jornal, o cara levava para a casa, punha aquilo num quadro e aquilo virava um troféu, aquilo não custava nada em termos de dinheiro nada, me custava um tempo e os caras vinham falar para mim, como é que você perde tempo? Eu não estou perdendo tempo, eu sei o que significa para um cara que vai até lá no chão da fábrica, receber um negócio desse, é parecido com o que você está fazendo aí, quer dizer, a última coisa que eu espero como pai de um estudante é receber uma carta de um professor…

Bruno                Universitário.

Luciano             … universitário para dizer o seu filho é assim, muito obrigado por ter mandado seu filho para cá, eu jamais esperaria um negócio desse aí e quando chega é um impacto gigantesco, quer dizer, o insight que eu deixo aqui para você, se você que está ouvindo a gente aqui exerce alguma função de liderança na tua empresa, não importa que função seja, essas atitudes que a gente toma, que são uma bobagem, elas têm um valor tão grande para as pessoas, você não consegue encobrir isso com dinheiro, entendeu? O valor que essa cartinha tem emoldurada e colocada na parede do cara, não há dinheiro no mundo que pague e isso fica gravado para o resto da vida, o gesto que você fez de reconhecer a pessoa que ela tem a importância e aí vem para o que você comentou ali atrás, que os alunos diziam o seguinte, por que que foi o meu melhor professor? É porque ele se importa comigo, ele sabe meu nome, ele sabe quem eu sou, ele sabe de onde eu vim, ele conhece meu sonho, ele se importa comigo, fez toda a diferença do mundo e acho que isso se reflete em todos os segmentos de atuação, não importa o que você faz da sua vida, eu faço questão, quando eu estou mexendo ali na minha caixa postal, um sujeito me escreveu para dizer que não conseguia configurar o feed, não conseguia baixar o negócio e tentou arrumar, passa uma semana eu abro minha caixa postal está lá o e-mail dele, aquele e-mail antigo, eu mando um replay para ele, aí Zé, conseguiu? Só assim, mais nada. E aí Luis, deu certo? Só isso e a hora que o cara recebe ele não acredita, que o cara lembrou de mim, está perguntando, deu certo? Sim, foi maravilhoso, está funcionando agora, ou então não deu, não consegui até agora, vamos arrumar isso aí, demonstre que você se importa com a pessoa que está em relação com você, se você foi líder de liderança demonstra que você se incomoda com o que pode estar acontecendo com essa pessoa, que você se importa com ela, que você a respeita e cada vez que você demonstra isso, é por isso que vai ficar gravado para o resto da vida no coração dessa molecada.

Bruno                As pessoas no fim das contas, elas são pessoas e pessoas, elas querem atenção e são pequenas coisinhas que a gente faz, um aluno veio falar comigo e disse assim, esse aluno é um aluno excelente, já  se formou, é um aluno excelente mas ele não tem muita habilidade social, é um gênio mas….

Luciano             É um ogro…

Bruno                … é um ogro, eu até digo para ele, rapaz seja gentil, você precisa de uma namorada na sua vida para lhe ensinar boas maneiras, você tem um coração legal, mas você precisa… aí eu sempre falava isso para ele, aí um dia ele chegou para mim e disse assim, Bruno, você não vai acreditar, para começar eu digo para todo mundo, me chama de Bruno, porque lá normalmente se chama doctor Teles, não, me chama de Bruno. Bruno você não vai acreditar, eu consegui um encontro, vai ser essa quinta feira, era uma segunda, vai ser essa quinta feira, a date, a got a date. E vai ser onde? Vai ser no Duble Shot. Duble Shot é uma loja de café bem famosa lá, vai ser no Duble Shot. Eu disse pô que legal. Aí a gente tinha aula na quarta, aí eu cheguei na sala de aula, aí eu disse gente, o Morgan, o nome dele era Morgan, o Morgan vai ter um date amanhã, então nós vamos todos aqui agora fazer uma oração rápida para que esse date dê certo e olha Morgan, quero dizer que eu quero ter o prazer de patrocinar esse date, eu tinha comprado um gift card de vinte dólares para ele comprar o café lá e foi aquela onda, ele nunca esqueceu isso, uma besteira, vinte dólares, mas de você ir comprar o gift card, ir lá e eu vejo meu papel como professor muito menos, exatamente como você falou,  de passar o conhecimento, mas eu vejo muito mais o meu papel como professor é isso que eu boto na minha cabeça, é muito mais de mostrar para o aluno que ele pode muito mais do que ele acha que ele pode.

Luciano             Você é o maestro. Eu posso não saber tocar saxofone que nem o meu saxofonista toca, mas eu sou um maestro que eu estou sacando o que está acontecendo em volta e naquele meu pequeno gesto o saxofonista vai brilhar porque eu estou enxergando o todo e ele está no foco dele ali.

Bruno                E você está sempre tentando interagir com os alunos, tem um caso, que eu sou muito orgulhoso desses casos, é uma das minhas histórias preferidas, na aula de empreendedorismo que eu dou lá, eu sabia que tinha um aluno que era de contabilidade, ciências contábeis e é um pouco estranho você ter um aluno de ciências contábeis na aula de empreendedorismo, porque não é obrigatória para ele, o nome dele é Brendaw Ritchers, aí eu cheguei para ele e disse assim, Brendaw, você não é contador? Você não está estudando contabilidade? O que você está fazendo aqui em empreendedorismo? Estou curioso de saber. E ele disse ah Bruno, eu não sou o típico contador, eu sou bem criativo, eu gosto de empreender novos negócios. Eu disse e por que você está fazendo contabilidade? Por que você não vai buscar fazer marketing ou algo assim? Ah Bruno, porque eu venho de uma família de poucos recursos, o meu irmão mais velho foi fazer medicina e a minha família quer que eu faça contabilidade porque contador nos EUA tem emprego certo, então segurança de emprego, estabilidade de emprego. Eu disse Brendaw, a gente precisa almoçar junto, não faça isso com sua vida e acertei um almoço com ele, aí foi no outro dia, eu disse Brendaw, qual seu sonho? Bruno, eu quero ser ator em Hollywood, mas eu acabei de…. ele ia se formar naquele semestre, eu já tenho uma proposta da Ernst Young para ser contador deles, então eu vou aceitar. Eu disse cara não faça isso, você vai ser infeliz para o resto da sua vida, faça o seguinte, faça um acordo com seus pais, peça para eles dois anos.  Vá para Hollywood, tente, se não der certo você vai conseguir emprego, você foi um dos melhores alunos aqui, você vai conseguir, mas não toma essa decisão de ir para a Ernst Young. Está certo, eu vou pensar, Bruno. Nisso a universidade vem para mim e pergunta, Bruno tem um ex aluno da universidade que ele quer vim dar uma palestra aqui e ele quer saber se pode dar uma palestra na sua sala porque ele montou uma empresa e ele quer contar como é que foi o processo dele de começar essa empresa, ele foi lá, o nome desse cara é Craig Brinks, eu até conversei com ele hoje e aí a empresa dele faz controle de iluminação para filmes e é a empresa que é o padrão para Hollywood, eles fizeram a iluminação para a franquia do Star Wars, Velozes e Furiosos, então é uma empresa top, aí ele chega, começa a falar como ele começou, como ele está na indústria de filme e tal, na aula de empreendedorismo e aquele aluno lá atrás, sentado lá. Aí quando acabou a aula, eu fui lá falar com o Craig, como é que você está? Adorei tua história, aí ele disse ah Bruno, tem até um lance, nós nunca contratamos, mas a nossa empresa está crescendo, nós vamos contratar nosso primeiro estagiário, você tem alguma pessoa que você possa dizer? Chamei o menino, Brendaw vem aqui, deixa eu te contar uma história Craig, ele é um dos melhores alunos de contabilidade que nós temos, mas ele quer ser ator em Hollywood, então, ele vai ser seu estagiário e você tem os contatos, ele vai estar perto do sonho dele, entendeu? Eu vou entrevistá-lo, fez a entrevista, ele passou, foi, ficou lá durante o verão do ano passado, de junho, julho do ano passado como estagiário e aí o Brendaw me lança um torpedo e diz Bruno, eles fizeram uma oferta para eu trabalhar aqui como contador, é menos do que a Ernst Young, mas pelo menos eu estou dentro e eu estou conseguindo algumas audições. Eu disse que ótimo. Mas ele é muito inteligente e quando foi em outubro do ano passado, eu recebo uma mensagem do Craig, Bruno, olha, nossa empresa está crescendo muito e eu quero te agradecer por você ter oferecido o Brendaw para a gente, eu estou colocando, estou promovendo ele hoje a controller da empresa, então o controller nós sabemos, é o CFO da área de contabilidade, então ele em outubro, ele estava fazendo mais do que na Ernst Young, entendeu? E podendo fazer as audições dele.

Luciano             Vamos ao insight? Qual é o insight importante que acontece aqui, o que o Brendaw fez de mais correto nessa história? Ele contou o sonho dele para alguém, deu a sorte de esse alguém ser você que teve o contato com o outro e que na hora que foi demandado lembrou do sonho do garoto falou, quer dizer, se você tem essa ideia, eu tenho também uma história legal, a ideia do programa aqui é isso, não é entrevista, nós estamos batendo papo. Eu tinha uma secretária que era minha secretária lá, um mau humor que era um negócio lendário na empresa o mau humor dela, mas ela estava lá, tocava a vida dela e tudo mais e eu não sabia, mas o grande tesão da vida dela eram as ações com creches e tudo mais, eu não sabia e um dia a gente precisou de uma coisa desse tipo, a hora que a bicha pegou aquilo e meteu a mão em cima, a mulher desabrochou fazendo um trabalho com as creches que tinham lá, ela nunca tinha contado para ninguém que esse era o tesão da vida dela e aquilo aconteceu por acaso e quando aconteceu por acaso, na hora  que eu precisei, surgiu a demanda para o meu departamento, falei quem tem que fazer isso aqui é a secretária, ela adora isso mas eu só soube disso porque um belo dia ela me contou, eu fiquei sabendo que aquele era o sonho dela. Se você não conta para as pessoas aquilo que você quer, aquilo que você gosta, você limitou, ninguém vai adivinhar e aí na hora que surgiu a oportunidade, opa, fulano me falou e isso eu sempre converso com a molecada, você faz o quê? Eu trabalho aqui na área de contabilidade, qual é teu sonho? Meu sonho é trabalhar no departamento de marketing. Você já contou para eles? Mas como assim? Você já contou para os caras de marketing que o teu tesão é marketing? Ou você não falou para ninguém? Não falei para ninguém. Fala para eles, vai perto deles, conta para eles, mostra que você quer ir para lá, na primeira chance que aparecer alguém vai lembrar, tem um carinha aqui dentro que está do lado da gente, ele é bom, já me contou que quer vir para cá e esse é o caminho, quer dizer, se você não conta teu sonho para as pessoas, você não abre a oportunidade de de repente acontecer essas conexões que você acabou de contar. Uma outra conexão importante, para a gente partir para a parte final da entrevista aqui, aí você vai comprar castanha no interior de Sergipe.

Bruno                Eu tinha vinte anos e eu fazia trilha lá em Itabaiana, uma cidade no interior de Sergipe, fica a cinquenta quilômetros de Aracaju e aí eu fui fazer trilha lá e o pessoal me falou Bruno, tem essa vila, esse povoado que venda castanha muito boa e barata e aí eu disse pô, vou lá, arrumei o tempo, fui lá e vi que era boa, barata, mas era barato por uma razão, uma exploração muito grande do trabalho infantil e o dinheiro ficava todo na mãe dos atravessadores, as situações, as condições de trabalho eram terríveis…

Luciano             Só um detalhe aqui, você que está me ouvindo aí, já viajou pelo Nordeste, sabe aquela castanha que você compra no aeroporto, aquele pacotinho pequenininho, que custa um cacetão de dinheiro, custa caro pra cacete e é maravilhosa, é dessa que o Bruno está falando, ela não saiu lá daquela cidadezinha pelo cacetão de dinheiro que ela custa no aeroporto, ela saiu por um centavo de nada e no meio do caminho, até chegar no aeroporto,  todo mundo ficou com esse dinheiro lá.

Bruno                … deixa eu te dar a ordem de grandeza: um quilo no aeroporto custa cento e cinquenta reais. Uma pessoa é paga quarenta reais por dia para produzir dez quilos.

Luciano             Quarenta reais por dias para dez quilos que significa então mil e quinhentos reais. Com quarenta reais ela produz mil e quinhentos reais.

Bruno                Isso, só que para a castanha ficar daquele jeito, o processo é o seguinte, eles assam a castanha, pega uma por uma, quebra a castanha para liberar o que está dentro, tem que pegar uma por uma, quebra, depois que quebra, pega uma por uma e com uma faquinha limpa.

Luciano             Cacetada.

Bruno                Então eu vi aquela situação, isso vinte anos atrás e eu pensei assim, quem sabe um dia eu posso ajudar esse povoado? Aí quinze anos para a frente, eu sou um aluno na universidade, lá nos EUA e tinha o nosso clube de empreendedorismo e o clube de empreendedorismo da universidade busca ter projetos que tenham impacto na sociedade e aí eles estavam apresentando, eles disseram, nós estamos buscando novos projetos, na hora que eles falaram estamos novos projetos, veio o povoado Carrilho lá de Itabaiana, o nome do povoado é Carrilho, pô quem sabe eu consiga emplacar esse projeto. Comprei uma passagem para o Brasil vôltei para o Brasil, filmei, conversei com o pessoal lá, voltei, editei o vídeo, mostrei para eles, eles disseram não, a gente não pode pegar o projeto que o projeto está muito grande. Está certo. Passam-se dois anos, eu já sou professor e aí eu fiquei sabendo que a universidade estava buscando um povoado para adotar por cinco anos e ajudar o que pudesse esse povoado, fui lá, apresentei novamente e acabou que o povoado foi escolhido para ser adotado pela universidade por cinco anos. Entendeu?

Luciano             Um povoado no interior do Sergipe é adotado por uma universidade em Tulsa, Oklahoma.

Bruno                E aí foi adotado um projeto para cinco anos, a gente está no terceiro ano, no primeiro ano a gente veio para ver todas as necessidades desse povoado, voltamos para a universidade com as necessidades e começamos a conversar com todos os departamentos, enfermagem, engenharia, pedagogia, psicologia, negócios, o que a gente pode ajudar essa comunidade? Resumindo um pouco, nós temos hoje mais de cem alunos trabalhando de graça para esse povoado…

Luciano             Lá em Oklahoma?

Bruno                … lá em Oklahoma, no curso deles, no que eles podem ajudar e no primeiro ano nós viemos com quinze pessoas, foram dois professores e treze alunos, os alunos pagam do dinheiro deles, a universidade paga a passagem dos professores, no segundo ano foram vinte esse ano foram trinta e dois, entendeu? Estão lá trabalhando.

Luciano             Fazendo o quê?

Bruno                Vou dar um exemplo: eles assam a castanha no chão e a gente notou que o calor é muito grande, tem uma ineficiência também porque você perde o calor porque é aberto e a fumaça vem direto neles e o caju, a castanha do caju tem uma resina que solta, que essa resina ela tira as impressões digitais de quem trabalha com ela, então os moradores desse povoado tem dificuldade para votar porque eles não conseguem ter a leitura do dedo, a leitura biométrica e esse óleo vai direto no chão, essa resina vai direto no solo, então nós desafiamos o departamento de engenharia  para construir um forno que fosse eficiente do ponto de vista calorífico, tivesse uma chaminé que protegesse a fumaça e que pudesse recolher o óleo, porque esse óleo pode ser vendido como biodiesel ou pode ser vendido para a indústria farmacêutica. Aí foi até engraçado que quando eu fui apresentar para eles o primeiro protótipo que eles mostraram para a gente, custava quinhentos dólares, mil e quinhentos reais para eles é uma…. eu  disse não gente, está errado isso. Olha vocês tem que fazer isso de sucata e não pode custar mais de cem dólares, porque eles têm que poder comprar, pois eles conseguiram construir o forno por setenta e cinco dólares, demorou um ano para eles conseguirem desenvolver esse forno e hoje nós temos três lá e conseguimos investidores na região para financiar esses fornos como microcrédito para as quarenta famílias que precisam desses fornos lá, isso é uma das coisas. O departamento de negócios, nesse time eu sou mais envolvido, nós desenvolvemos uma marca, uma embalagem, tudo para o mercado norte americano, conseguimos o apoio do SEBRAE aqui, para conseguirem as licenças de exportação e estamos conseguindo as licenças de importação lá para que eles consigam preço melhor, entendeu? Para a comunidade.

Luciano             Eles tem uma cooperativa lá, alguma coisa assim?

Bruno                Existe uma cooperativa lá.

Luciano             E esses estudantes veem com o projeto embaixo do braço e participam da implementação aqui?

Bruno                Aqui, entendeu? Eles estão lá agora, então por isso que eu dei um pulo aqui, eles estão lá há três semanas e meia, eles vão embora agora no domingo, eles vem para cá para passar um mês.

Luciano             E de repente eles veem acontecer aquilo que o moleque pensou numa prancheta lá em Oklahoma, ele vê realidade ali na frente dele sendo aplicada.

Bruno                Imagina você poder aprender fazendo e mudando a história de uma comunidade, nos alunos isso tem um impacto assim…

Luciano             Isso para o currículo dele é experiência real, de vida.

Bruno                Olha, falando nisso, uma aluna que participou no primeiro ano, ela terminou, ela se formou em marketing e ela resolveu se inscrever para o MBA na Tunderbird e a Tunderbird, no Arizona, é considerada o melhor mestrado em negócios internacionais do mundo, mas ela não era uma aluna academicamente brilhante, no processo de entrevista ela contou o que ela fez e ela foi aceita por causa disso…

Luciano             Essa experiência com a comunidade.

Bruno                … por causa dessa experiência, porque imagina, você pega o seu conhecimento em um país, aplica numa comunidade num outro país para mudar a realidade daquela comunidade com o seu conhecimento, isso tem um significado muito forte.

Luciano             Como é que você… essas coisas não  acontecem do nada, você não chega na comunidade, bate na porta e fala vim aqui e vou trazer ajuda para vocês, tem todo um processo e tem uma política envolvida nessa história toda, como é que você vendeu essa barreira da política? Deixa antes de você responder eu vou te contar outro case meu trabalho na Dana, a Volkswagen me procura, a Fundação Volkswagen para eu ir lá fazer um evento com eles e participar junto deles de um projeto que era um projeto que é o seguinte: os caras pegaram um holandês que eu não sei de onde é que vinha, a história era da Europa, dos países nórdicos, esse cara desenvolveu o modelo de uma bomba de água, nesse jeitinho, é uma bomba de água barata, com modelinho super simples, custava, se eu não me engano, seiscentos reais na época, bomba d’água que você podia implementar numa comunidade que tem um buraco no chão que puxa num baldinho, a bomba vai lá em cima e aquela bomba com o cara girando na mão uma roda, aquilo vira automático, tira água e aquilo muda a história, muda a vida daquela comunidade e a fundação encampou esse projeto e pedia, chamou o fornecedor como nós, falou o seguinte, olha eu gostaria que você pegasse esse projeto e encampasse conosco e que você pedisse para os seus fornecedores também encampar, a ideia é seja padrinho de uma bomba, seja padrinho de 30% de uma bomba e na cabeça deles, ele me chama, eu vou lá, se eu tenho cem fornecedores e eu consigo que trinta apadrinhem, tem trinta bombas e tem mil bombas e duas mil bombas, quer dizer, do pondo de vista do conceito, que era maravilhoso o projeto, porra vamos lá, vamos fazer e a gente foi e fizemos cinquenta bombas e aquela história toda e aí fui uma vez fazer uma reunião com eles e conversando com eles, a maior dificuldade que eles tinham lá era conseguir implementar a bomba na região porque havia intermediários entre a comunidade e eles que tinham interesse político, tinha partido político envolvido, o cara que ia deixar botar a bomba era o cara que ia ganhar voto na região, ele falou é um inferno, a gente não pode simplesmente chegar lá e botar a bomba ali, para botar a bomba eu tenho uma interferência política que muitas vezes a bomba não vai lá, o cara não deixa ir numa região porque ela vai dar volta para outro, ele falou nós estamos num baita problema, uma dificuldade gigantesca de entregar isso que nós temos na mão aqui porque tem uma interferência política no meio do caminho. Onde é que você teve que bater para vencer uma barreira dessa?

Bruno                Olha, você talvez não vá nem acreditar nessa história, mas é engraçada: eu te falei que eu dava aula de direito e aí quando eu estava dando aula de direito, a universidade que eu dava aula, uma universidade privada, lá em Aracaju, abriu uma filial em Itabaiana, onde fica esse povoado, abriu em Itabaiana e pediram, Bruno, dá pra você dar aula de direito para o curso de administração? Beleza. Então em 2004, 2005, 2006 eu dei aula lá em Itabaiana e dei aula de direito e eu me relacionava muito bem com os alunos. Passa o tempo, eu estou na universidade lá nos EUA, quando venho fazer esse projeto, o prefeito de Itabaiana foi um dos meus alunos, então eu fui lá com ele, aí eu disse olha, esse nosso projeto não é político, então eu não vou poder ter envolvimento, então como ele tinha um respeito, então eu não tive esse problema, a outra questão é o seguinte, nós buscamos identificar quem são as lideranças no povoado, o povoado tem mil pessoas, quem são as lideranças nesse povoado? E as lideranças eram três pessoas, então toda a nossa comunicação formal com o povoado é sempre quando tem essas três pessoas presentes, então eles veem que não existe, que a gente não está do lado de ninguém, porque todos os eventos mais importantes são sempre com essas três lideranças lá e nós fizemos algo para quebrar, para conquistar a confiança da comunidade porque veja só, o povoado paupérrimo, paupérrimo não, povoado pobre, aí vem um bando de gringo e diz que está lá para ajudar, não dá para acreditar…

Luciano             Eles querem o nióbio. Vocês querem o nióbio, vocês querem pegar a riqueza que está no chão, vocês vão montar uma cortina de fumaça e vão fazer que nem aquele prestidigitador, enquanto você presta atenção na mão direito dele, a esquerda entra no teu bolso e rouba tua carteira.

Bruno                …  o que nós fizemos foi o seguinte, nós pegamos o grupo e nós convidamos todas as mulheres do povoado para um centro comunitário que eles tem lá e as meninas do grupo lavaram os pés de todas as mulheres que foram lá e fizeram as unhas delas, foi dessa forma que a gente conquistou a confiança do povoado, porque quando é que alguém lavou os pés daquela pessoa de servir, de ser servido.

Luciano             Só Jesus Cristo.

Bruno                Você está me entendendo? A gente notou que a pessoa que é pobre, que vive numa situação difícil, ela nunca é servida, ela é sempre para servir alguém, então naquele momento eles viram pessoas que na cabeça deles, superiores, gringos, ajoelhados lavando os pés deles e fazendo as unhas.

Luciano             Um exercício de humidade.

Bruno                Um exercício de humildade, aí conquistou a comunidade.

Luciano             Mesma coisa que você começou, no começo da nossa conversa aqui a gente estava batendo um papo e você começa lá atrás e vai dizer o seguinte: eu consegui vencer a resistência interna na empresa quando eu sentei diante de cada um dos caras e falei eu não sei nada, não sou nada, não conheço nada e esse exercício de humildade abre a porta para você.

Bruno                Eu não tinha pensado nisso, mas não tinha visto essa conexão.

Luciano             Bem vindo ao LíderCast.

Bruno                Eu não tinha pensado nisso.

Luciano             Aqui é assim. A mesma coisa. Como é que está esse projeto hoje?

Bruno                O projeto está legal, a gente está no terceiro ano, então os principais avanços que nós conseguimos o apoio de investidores para investir no projeto porque precisa de capital de giro para exportar, então nós conseguimos…

Luciano             Lá nos EUA?

Bruno                … aqui…

Luciano             Aqui no Brasil.

Bruno                … porque é o seguinte, é muito fácil de eu conseguir dinheiro de lá para trazer para cá, mas você convencer o local a ajudar o local, a gente acha que é a vitória maior.

Luciano             É, porque o Brasil não tem essa cultura.

Bruno                Não tem essa cultura, você está me entendendo? Então conseguimos isso, o forno, que nós conseguimos desenvolver e a questão das licenças que nós estamos desenvolvendo também e agora fizemos uma parceria com a secretaria de educação do município lá e os professores na universidade lá nos EUA vão dar treinamento para os professores do povoado, para que eles sejam mais motivados, e um programa de leitura, que a criança, ela venha a querer ler.

Luciano             Como é que você lida com a barreira do idioma?

Bruno                A gente tem que ter intérprete, então era eu, só que o projeto começou a crescer muito, então nós recrutamos alunos brasileiros na universidade lá, para conseguir fazer essa intermediação e o interessante é que isso começou a mexer com a cidade e alguns empresários disseram, mas como? Tem alguma pegadinha, tem alguma coisa, eles resolveram viajar, ir lá na universidade para conhecer a nossa universidade, então você começa a mexer, tem uma frase do presidente Theodore Roosevelt, que é uma frase muito bonita e diz o seguinte: Que as pessoas não se importam com o quanto você sabe, até que elas saibam o quanto você se importa, enten   deu? Então quando as pessoas notam que você está ali para servir as barreiras caem muito.

Luciano             Tem uma frase do Dostoiévski também que é uma delícia, que diz assim: o povo não quer Deus, o povo quer um milagre. Então, tá legal, eu já sei que você é deus, já sei que você é o fodão, você é o grande cara da universidade, o que é que tem para mim nessa história? O que vai restar para nós aqui, o que sobra? O que vai mudar na minha vida? Quando você deixa explícito que é o milagre, o povo vai, caso contrário, só mostrar que você é o fodão não resolve. Vocês estão só no Brasil? Esse projeto vai adiante?

Bruno                O projeto, isso foi um projeto piloto da universidade para ver se dava certo, começou a dar certo, então nós expandimos e nós começamos esse ano agora também lá no Zimbábue, na África, então lá no Zimbábue a condição é bem pior lá nessa localidade, é um banheiro para oitocentas pessoas na comunidade. É um banheiro para oitocentas pessoas. Então 91% de desemprego, então a gente está fazendo milagre lá, a gente está começando lá, mas a gente acredita que consegue, porque veja só, é muito mais fácil você tirar as pessoas da pobreza do que você tirar a pobreza de dentro das pessoas. Pobreza é uma forma de pensamento.

Luciano             É o mindset.

Bruno                É o mindset e a gente descobre através de um questionário, tem uma pergunta que é fatal para a gente descobrir se a pobreza está dentro da pessoa, se você perguntar para ela: quais são os seus sonhos? Se a resposta dela é não tenho sonhos, ela é pobre porque ela perdeu a esperança, ela perdeu a perspectiva, ela está só sobrevivendo, ela está auto mode, entendeu? Ela está vendendo almoço para comprar a janta, então acabou toda a perspectiva para ela, por isso que um dos títulos do programa que a gente faz de levantar a autoestima delas, um dos programas que a gente faz é aprendendo a sonhar, para que a gente consiga resgatar isso nelas e a gente consiga tirar a pobreza de dentro do mindset delas.

Luciano             Você faz ideia do alcance desse trabalho que você está fazendo? Porque você, o teu talento, teu destino, teu propósito era ser professor? Você foi aprender isso lá atrás quando era moleque, ou quando estava fazendo seu curso de direito, o bichinho mordeu, falou tenho que ser professor e isso que você está fazendo hoje, se eu botar num papel é muito além do papel de um professor, porque legal, professor está na sala de aula dando aula, ensinando a molecada a fazer um monte de coisa, você está pegando um avião, vindo para cá, sentando junto com a liderança de uma cidade, trazendo os moleques embaixo do braço, isso é uma puta responsabilidade, você está viajando com trinta filhos de alguéns embaixo do braço para botar no interior, no sertão do Brasil, de Sergipe e quando você sair daqui e voltar para lá, você mudou uma comunidade, isso está muito além do papel que a gente imagina que o professor tem, não está?

Bruno                Na realidade eu acho que não, porque como eu te falei, eu acho que o papel do professor é trazer conhecimento e mostrar que as pessoas, elas podem fazer muito mais do que elas acham que elas podem, só que eu acho que o professor, ele acha que esse trabalho é só dentro da sala de aula…

Luciano             Dando conteúdo.

Bruno                … dando conteúdo, poxa, se eu tenho a oportunidade de impactar, como é que eu vou deixar passar uma oportunidade em branco dessa? É um lance que todos ganham, os alunos têm uma experiência arrebatadora, a comunidade é impactada, levanta o nome da universidade, e acho que a gente está numa sociedade que acha que para se vencer, alguém tem que perder e eu não vejo dessas formas, talvez eu seja utópico, mas tem funcionado na minha vida, eu acho que o professor, ele tem um poder que ele não sabe que ele tem, a maioria dos professores, eles não têm essa ideia do poder que eles têm de mudar o mundo, de impactar a sociedade, é só você fazer o seguinte, você trazer a sala de aula para fora da sala de aula, que é o lugar porque a gente ensina as pessoas para elas viverem fora da sala de aula, se eu estou ensinando meu aluno para viver fora da sala de aula, como é que eu não posso pegar a sala de aula e levar para fora da sala de aula? Então eu acho que eu estou desempenhando o papel que os professores deveriam desempenhar por ofício, eu acho que a maioria que não cumpre o que deveria ser cumprido.

Luciano             Ou você já entendeu que o teu papel é além do professor, é um educador, não é? Isso é mais que um professor.

Bruno                Isso… Tem uma diferença.

Luciano             O educador trata de questões morais, trata de colocar o cara diante da vida, não é de dar para ele o conteúdo ou ensinar ele a aprender uma coisa que ele não sabe, mas é criar uma postura diante da vida. Quem quiser conhecer um pouco mais, saber mais do teu trabalho tem um lugar que vocês estão mostrando isso, tem o site da universidade, como é que é?

Bruno                Na realidade a gente conseguiu construir um website só para o projeto é Healing Team… é como se fosse assim time da cura…

Luciano             Healing de curar… (ele soletra) tudo junto.

Bruno                Tudo junto, com s no final .org,  então é ligado à nossa universidade lá e o meu e-mail, se alguém tiver interesse em me contatar para alguma coisa…

Luciano             Cadê seu blog?

Bruno                … preciso fazer um, vou fazer um.

Luciano             Faça, todo mundo que vem aqui eu bato na tecla, bote o teu blog, não precisa fazer nada sofisticado, só põe no ar e bota teus insights ali, mais nada, aquela fotinho, aqui estou eu com a minha foto,  põe porque é isso eu vai ficar, é isso que vai sobrar, é isso que vai ser teu ponto de referência, é ali que você vai mandar a molecada, ou então põe no Portal Café Brasil, mas bote isso aí no ar, faz o teu blog, porque isso é fundamental.

Bruno                O meu e-mail é bteles@oru.ldu entendeu? Então bteles@oru.ldu então qualquer coisa estou aí á vontade para contatar se por exemplo uma empresa quer fazer um projeto, porque eu faço muito isso lá, como eu posso integrar uma causa social, isso é para outra conversa, como é que eu  posso integrar uma causa social dentro do modelo de negócios de uma empresa? Entendeu? Isso é algo que a gente tem feito muito lá nos EUA, como a Natura e o Ekos, a linha Ekos da Natura, isso é algo que a gente gosta muito de fazer, a gente gosta de fazer impacto.

Luciano             Legal. Bruno, obrigado por não perder o aço com o Brasil, obrigado por, na primeira oportunidade você lembrar do país aqui, continuar trazendo de volta para cá sem precisar voltar para cá, ou seja, você está lá, é um agente brasileiro que está lá aproveitando a oportunidade para trazer para nós aqui e causar um impacto na região, eu tenho certeza que um monte de gente aqui vai ficar enlouquecida quando ouvir essa história toda aqui e boa sorte, vai em frente. Pinte mais, borde mais, avisa a gente aqui, conte mais, manda para mim texto que vou fazer questão de onde eu estiver a chance aqui de contar para todo mundo que isso está acontecendo.

Bruno                Beleza. Muito obrigado pela oportunidade.

 

                                                                                   Transcrição: Mari Camargo