Luciano Mais um LíderCast. Esse aqui também interessante porque a pessoa que eu trouxe aqui hoje, a gente mantem contato há algum tempo, a gente se conheceu num evento e outro dia ele me escreve falando da experiência dele de empreendedor e tudo mais e esse é o tipo daquele que eu gosto de trazer porque é gente como a gente, quer dizer, está sofrendo na pele aquilo que o empreendedor brasileiro costuma sofrer e você que conhece o LíderCast já sabe qual é a pegada da gente aqui. A ideia aqui não é trazer o empresário bilionário para chegar aqui na frente e falar ah eu era um fodido, eu era um acabado, eu estava arrebentado e eu consegui e hoje sou rico, se eu estou aqui você também pode, é essa exatamente a pegada que a gente não quer no LíderCast, a pegada do LíderCast é a seguinte: eu quero gente como eu, gente como você, gente que está sofrendo na pele o desafio de ser empreendedor no Brasil e que está encontrando alguma saída, então hoje é uma dessas, gente como a gente. Três perguntas fundamentais, vamos lá para dar a largada: seu nome, sua idade e o que é que você faz?
Willian Bom, meu nome é Willian Polis, eu tenho 32 anos e eu sou empreendedor na área de tecnologia.
Luciano Mais um.
Willian Mais um.
Luciano É o que mais tem, como tem empreendedor na área de TI, você mora em?
Willian Sorocaba.
Luciano Nasceu lá?
Willian Nasci em São Paulo, só que eu mudei para lá muito novo.
Luciano O que você fazia quando era moleque? Qual era a ideia? Antes, o que seu pai e sua mãe faziam?
Willian Meu pai…
Luciano Espera ai, pausa, toda vez que eu pergunto para todo mundo a mesma história e o pessoal pô… Faz parte de a gente compreender quem está com a gente, saber que tipo de influência ele teve. Então se você contar para mim que seu pai era um puta empreendedor, opa! Já tem… o peixinho já sabe de onde vem. Então por isso eu insisto e tentar montar um painel de onde a pessoa veio, diga lá.
Willian … bom, meu pai, ele era policial militar e trabalhava no corpo musical da polícia militar e a minha mãe, ela dona do lar, ela trabalhava em casa, cuidava das crianças ali, dos filhos, então a gente não teve nenhuma inspiração empreendedora, nem do lado dos pais, nem de ninguém da família, a gente sempre foi bem, a gente chama que é o capiau, bem do sítio mesmo assim, no sentido de não ter muita pretensão ou ambição de empreender.
Luciano Você tem irmãos?
Willian Somos em quatro irmãos.
Luciano E aí? Você foi estudar para ser o quê quando crescesse?
Willian Então…
Luciano Médico, advogado ou engenheiro?
Willian O meu pai falava que advogado era um bom negócio e eu tinha colocado isso na cabeça, realmente estava buscando desde o primário ali, ser advogado, só que o que aconteceu? Quando eu tinha ali por volta dos 14 anos fiquei sabendo que existia o tal do computador, não sabia exatamente como é que era, tinha internet e aí meu objetivo era conseguir música do Legião Urbana para tocar com o violão, eu estava aprendendo a tocar violão e eu descobri que dava para achar música do Legião Urbana, dava para escutar qualquer música, dava para ver programa, falei cara, olha esse negócio! Daí explodiu na minha cabeça, explodiu porque eu não imaginava que era um negócio tão legal, eu podia passar horas e horas, porque a gente não tinha computador na época, eu ia no computador de amigos e aí…
Luciano Você está falando em 1999.
Willian Não, 96.
Luciano 96.
Willian … 96 mais ou menos, que começou isso daí e aí ia na casa dos amigos e tinha um problema, que daí a gente ia lá para ajudar, ver os amigos mexer no computador, eu gostava bastante, sentava no computador e ficava na casa dos outros até meia noite, uma hora da manhã e a minha mãe ficava me buscando na casa dos outros e aí entrou num processo de choque, porque eu falei poxa, acho que advogado é legal, você tem um campo de trabalho bacana, mas esse negócio de computador é muito, sabe quando é natural, você quer fazer aquilo? E aí aconteceu que eu prestei AFAD na época em Sorocaba, faculdade de direito de Sorocaba e eu também prestei a FATEC e aí eu fui chamado nos dois, eu falei poxa vida, eu acho que vou para a FATEC porque até a FATEC era gratuita, do estado e foi a melhor escolha que eu fiz, porque…
Luciano para fazer o quê na FATEC?
Willian … processamento de dados, porque quando eu cheguei na FATEC eu percebi que existia não só aquilo que eu achava que tinha na parte de computador, tinha um mundo aí de negócios envolvidos que eu percebi que ali eu podia explorar isso, então foi nessa linha.
Luciano Você tinha o que? 17 anos?
Willian 17 anos.
Luciano 17 anos. Como é que é tomar essa decisão de o que é que eu vou fazer na minha vida aos 17 anos?
Willian Eu pessoalmente naquela época, eu não tinha essa preocupação de tomar uma decisão, eu estava sempre preocupado porque o meu pai, ele era muito rígido com a gente, ele por ser militar de repente, acho que era isso, ele era muito rígido, então ele tinha algumas coisas que ele colocava para a gente que meio que cravava na pedra. Por exemplo, palavra de homem deve ser honrada, então a questão da palavra era muito forte, a questão de começar alguma coisa vai até o final e dê o seu melhor, então nessa linha de dê o seu melhor, eu sempre buscava fazer as coisas da melhor forma que eu pudesse fazer e aí com isso eu percebi que era possível aprender bastante mesmo que não gostasse da área, eu não ia perder conhecimento, então nessa linha que eu sempre busquei fazer minhas coisas.
Luciano E aí você fez processamento de dados então em …
Willian Na FATEC Sorocaba, em 98 que eu entrei lá.
Luciano Saiu com diploma de quê?
Willian Esse é um ponto, porque quando você faz, fala mas você vai ser tecnólogo? Tecnólogo não é reconhecido. Falei poxa, realmente, pode ser que para algumas coisas isso interfira, mas é um curso relativamente rápido, leva três anos e era super conceituado o diploma, então falei poxa, vou fazer e nem que eu tivesse que fazer um MBA depois disso, acabei fazendo três MBA’s depois, não necessariamente na área de tecnologia, para complementar, mas aí eu fiz um complemento para falar poxa, se eu isso tiver algum impacto, eu vou resolver fazendo algum tipo de complemento.
Luciano E aí, você… 17, 18, 19, você saiu de lá com 19 anos?
Willian 19 anos.
Luciano 19 anos com diploma na mão e agora vou fazer o que da minha vida? Vou procurar um emprego ou já pintou a ideia de vou montar meu próprio negócio?
Willian Então, o que acontece? Nessa linha de empreendedorismo, não é porque eu quis assim, mas eu sempre fui meio pentelho no sentido de fazer as coisas meio por conta. Então assim, quando eu tinha 12 anos tinha um mercado na frente de casa e não podia, naquela época não podia trabalhar com 12 anos por causa de lei e tudo mais, tinha até alguns programas lá do guardinha mirim que era aberto, só que daí tinha um mercado na frente lá, eu ficava ali empacotando sacola, mas não porque ninguém, não combinei nada com ninguém, não combinei com a dona nem nada, simplesmente ficava lá conversando e empacotando sacola, qual o meu objetivo ali? Não era ganhar dinheiro, era fazer alguma coisa, eu ficava em casa, eu ficava desesperado de ficar lá o dia inteiro assistindo televisão. Depois, quando eu tinha 14 nos, mais ou menos, que eu comecei a mexer com computador, tinha uma onda de gravar CD, então você pegar seleção de MP3 e montar aqueles MP3, daí o que eu pensei? Poxa, eu posso montar, que naquela época estava com bastante… era uma onde de crescimento, era o quê? Abrir os tais de cybercafé, lá o lugar que você joga, imprime as coisas e tudo mais e tudo era café, tinha o Café Vanilla, Cybercafé e tinha um monte de coisa assim, falei poxa, vou criar o Polis Capuccino Express, o que é o Polis Capuccino Express, eu gravo CD, eu monto pastinha para juntar trabalho de escola, então imagina uma papelaria misturado com CD, eu ia no centro da cidade e ia em todas as lojas entregar um cartãozinho que eu fiz e vendia isso, eu falava me fala aí os artistas que você gosta, eu vinha para ele e montava, sem ele saber, montava para ele, na próxima visita minha, eu montava para ele um CD com um monte de música que ele gostava, colocava uma capinha com o nome dele e tudo, a pessoa e vendia e aí nessa época aí eu cheguei a vender, no mês, mais de 250 CD’s assim e tudo assim na louca, vai no centro com um monte de sacola na mão, cheio de CDzinho na mão, bate de porta em porta, cartãozinho escrito Polis Capuccino Express, o cara fala meu, o que esse moleque está fazendo aqui? O que ele está fazendo aqui? E no fim isso foi legal porque era de dia tirar pedido e a noite ficar lá gravando, gravava muito CD, imagina você com um computadorzinho gravando no Nero, ficava lá a noite inteira gravando CD e isso foi a minha primeira iniciativa de empreender.
Luciano Na ilegalidade, certo?
Willian E na ilegalidade, totalmente ilegal. Mas meu objetivo era aprender.
Luciano Deixa eu te dar uma dica, é bem anterior a você, nos anos 70, lá para setenta e, deixa eu ver o que é isso aqui, é 72, 73 por aí, a molecada também tinha essa paúra de sair atrás, de achar música e tudo mais e era muito complicado, não tinha computador, não tinha coisa nenhuma e os discos, para chegar no Brasil era muito demorado, então você tinha as lojas de disco, a gente se abastecia lá e tinha uns caras que trabalhavam fazendo isso, gravando música. Aqui em São Paulo tinha os lugares que tinha, você vinha e comprava o rolo, a fita de rolo grandona com todas as músicas inimagináveis que existiam por aqui e era um comércio interessante porque ainda não havia esse conceito todo da pirataria, era uma coisa bem até comum, você vir para São Paulo. Então a gente saia de Bauru, vinha para cá, ia lá nas lojas que vendiam isso aí e comprava um rolo de fita com seis horas, com aquelas músicas que estavam tocando no exterior e que ia levar um ano pra chegar aqui no Brasil, já era esse mercado que existia na época, então você conseguia comprar, se abastecer, utilizar esse material na boa e lá na frente isso acabou abrindo um espaço quando o computador chegou e todo mundo começou a fazer e aí virou a pirataria, virou o carimbo de pirata, então você está furando… mas é a coisa que a molecada sempre fez assim que a tecnologia foi evoluindo a gente foi fazendo. Mas aí você montou seu próprio negocinho ali. Você já tinha computador em casa?
Willian Nessa época ai o que aconteceu? Os meus amigos tinham computador e aí eu comecei montar na casa deles para aprender a fazer e aí nesse meio tempo eu consegui adquirir um computador e aí comecei fazer produção em lote ali e aí foi a primeira iniciativa, obviamente que durou pouco, durou ali seis meses mais ou menos, mas foi uma iniciativa legal porque tive que aprender a lidar com as coisas, por exemplo, que dava muito problema, você gravava depois tinha que vim retirar porque não funcionou, ou deu problema, ou o áudio que a gente baixava não estava com qualidade, então assim, comecei a aprender a como lidar com o cliente, como atender bem ele, deu uma experiência legal, mas sem saber que eu estava fazendo isso, era puro aprendizado.
Luciano 14 anos.
Willian É, 14 anos, aos 15 anos, já era 15 anos, no ano seguinte que eu comecei a mexer com computador, 15 anos. E aí a partir desse momento, toda vez que tinha um… até meu sócio fala assim, você gosta de arrumar sarna para se coçar, mas toda vez que tinha alguma coisa assim eu me metia, uma outra iniciativa que eu montei depois disso foi começar a dar aula de inglês, daí eu comecei a aprender inglês, e aí eu juntei o pessoal do bairro lá e comecei a montar uma escolinha de inglês no quartinho no fundo de casa…
Luciano Cobrando da molecada?
Willian … cobrava, montava ali a turma, cobrava e mandava dar aula de inglês, aí nem sabia muito bem inglês, estava…
Luciano Imagina, é claro que não, com 14 anos e aqui no Brasil. E aí?
Willian Já estava com 16 anos, mas foi legal porque é o seguinte, pelo fato de não saber, então eu ficava um pouco nervoso de dar aula, mas como o pessoal não sabia nada, o que eu sabia já estava bem, estava ótimo, entendeu? E aí me forçava a aprender mais, então eu vejo que quando você se coloca numa situação, por mais que você tenha medo, que sempre vai existir, mas você dá ali a cara a tapa de tentar fazer, você dando seu melhor, você pode até ter algum problema e tal, mas você sempre vai aprender, eu acho que o que mais me motiva é a questão da oportunidade de você aprender.
Luciano É e dizem que a forma, a fórmula mais eficiente de você aprender é ensinando os outros, se você se mete a ensinar alguém, o teu nível de aprendizado para poder ensinar é a coisa mais profunda que existe, de certa forma é o que eu acabo ganhando com os podcast, porque se eu me meto a fazer um podcast, eu tenho eu mergulhar, tenho que estudar, tenho que pesquisar, tenho que escrever o texto, tenho que já examinar os contra argumentos que tem ali, então nesse processo inteiro eu costumo dizer que o Café Brasil, o LíderCast nem tanto, que é mais um bate papo, mas o Café Brasil, por exemplo, é um PhD diário, eu sou obrigado a fazer porque ao tentar ensinar para alguém, eu estou levando adiante, isso é uma dica muito legal que eu costumei a pegar as pessoas e dizer se você assumir um nível de liderança, se você está à frente de uma equipe, se você tem uma turma, significa que você tem, no mínimo, algum tipo de conhecimento que os outros não tem ou os líderes seriam eles e cabe a você passar isso adiante, quer dizer, a coisa mais legal que alguém que assume liderança pode fazer é formar líderes, quando eu sair daqui eu quero sair e deixar atrás de mim uma molecada formada e essa formação vem pelo teu exemplo e pela tua sacada de que faz parte do meu processo como líder ensinar as pessoas também a serem líderes.
William Você colocou esse ponto, daí lembrei de uma outra tentativa de empreender nessa linha de você tomar a frente, as pessoas falam poxa, vou com você, as pessoas confiam, acreditam no que você vai conseguir, eles nem sabem que você não está tão seguro daquilo, mas as pessoas vão e acompanham, eu também fiz, com 14 anos eu fiz SENAI, eu fiz o curso de eletricista e o que aconteceu? Nessa época aí que eu estava fazendo, depois que eu fiz aula de inglês, eu falei poxa, eu acho que se eu começar a fazer a parte elétrica de algumas casas, cobrando mais barato que outros eletricistas eu posso começar a dar certo nessa área aí e aí eu comecei a fazer, peguei uma casinha pequena para fazer, depois peguei uma segunda casa um pouco maior e aí já não conseguia fazer sozinho, aí eu comecei a arrumar amigos para trabalhar comigo, só que os meus amigos não sabiam nada de elétrica, aí o que acontecia? A gente ia lá, fazia a instalação, tal, e o grande suspense, o grande momento era a hora de ligar o disjuntor para ver se a instalação deu certo. Nossa! Quando dava certo era uma comemoração tão grande, todo mundo olha, a gente conseguiu fazer a instalação da casa, então isso que você falou de inspirar e trazer as pessoas para junto de você, é muito importante porque você se motiva para fazer bem feito e você se preocupa, você tem uma preocupação ali porque você está envolvendo mais pessoas com você e essa preocupação te move para você continuar dando o seu melhor.
Luciano E tem mais um negócio importante que é o seguinte, conforme o teu público aprende e amadurece, ele fica mais exigente e te obriga, bom se eu quero estar um passo sempre à frente, eu vou ter que estar sempre estudando, porque se não esse pessoal me ultrapassa e chega uma hora que eu não tenho mais o que ensinar, já me ultrapassaram e passaram adiante, então é muito legal, porque é um processo de motivação de lado a lado, quer dizer, eu sou motivado a ensinar, a pessoa é motivada a aprender, ao aprender ela me contesta, ao me contestar eu sou obrigado a buscar e aí vai um processo de crescimento contínuo. Bom, mas aí você se forma, pega o seu diploma e vai arrumar um emprego da padaria do seu Zé para cuidar do computador dele, como é que é isso aí?
Willian É, no meio do curso da FATEC, como eu sabia inglês, eu arrumei um estágio numa empresa para fazer tradução de conteúdo em inglês para o português, para um site, era um portal para desenvolvedores de jogos e isso aí acabou dando tão certo que o portal que nasceu do zero, ele chegou ali a ter, isso em 2000, já é 2006 mais ou menos, tinha quase 50 mil pessoas cadastradas no site, para aquela época era um negócio absurdo, porque desenvolvimento de jogos é um negócio que atrai muita gente e por estar fazendo essas traduções desses materiais eu comecei a aprender a desenvolver, fazer programação mesmo e por esse conhecimento de programação eu fui chamado par trabalhar numa empresa, que era em Sorocaba também, para trabalhar com desenvolvimento de sites…
Luciano Por saber inglês eu fui chamado para fazer tradução do negócio…
Willian De um portal.
Luciano … aí eu aprendi a programar, por saber programar eu fui chamado a trabalhar, uma vai levando á outra, quer dizer, aquela história do preparo e de oportunidade, por saber tal coisa, eu construí a chance, a oportunidade, legal.
Willian E aí nessa nova empresa que eu comecei a trabalhar com desenvolvimento, eles trabalhavam com automação comercial, então, automação comercial é você fazer pagamento no caixa e eles tinham clientes no Brasil inteiro, então o que aconteceu? Além de ser uma oportunidade de aprender um negócio bem bacana, eu comecei a viajar pelo Brasil inteiro, então eu fui, num período ali de três, qatro anos, eu fui, onde você imaginar, todas as capitais do Brasil, fui para fora do Brasil, trabalhei no México, trabalhei na Venezuela, na Espanha, então abriu minha cabeça porque tive a oportunidade de aprender programação, aprendi de negócio e por aprender de negócio eu tive que visitar clientes e aí a experiência vai para um outro patamar, de você estar lidando ali com o empresário, com o cara que está no dia a dia do empresariado e ali a gente trabalhava com automação comercial e o grande problema era o quê? A inovação, por exemplo…
Luciano Mas só para entender, o que era a empresa? A empresa era tua era uma empresa de alguém o que era?
Willian … não, eu era funcionário, essa empresa que me chamou para trabalhar, eu entrei como estagiário, daí eu virei programador júnior e aí qual é o grande problema, problema não, mas qual é o grande perfil do programador? Ele é estritamente técnico e eu tinha uma, eu gosto de conversar, eu gosto de gerar networking e tudo mais e por estar buscando conversar com as pessoas e tudo mais o cara falou tem um cliente que está com problema, você não quer ir “visitar ele”? Eu fui e o cliente deu um bom feedback, falou ó, o atendimento do cara legal e eu comecei a visitar vários clientes, para resolver problemas, porque a solução era de automação comercial e às vezes dava um problema do tipo no final do dia não bateu o caixa, ou o cartão não está passando e aí, além de você ter o conhecimento técnico para resolver, você tem que ter uma forma de gerenciar a expectativa da pessoa, quer dizer o cara está com desespero, tem que resolver já, falo não é uma coisa que se resolve já, mas os caminhos para se chegar lá são esse aqui, então pelo fato de você conseguir explicar para o cara qual o caminho, ele fica mais tranquilo, a expectativa dele cai…
Luciano Eu tinha uma regra que eu falava sempre para o meu pessoal lá, uma das áreas que respondia para mim na empresa quando eu trabalhava lá era a assistência técnica e tinha o 0800 e tudo mais, eu dizia para o pessoal o seguinte: o cliente ele tem um nível de expectativa, mas a primeira expectativa dele nunca é resolver o problema, a primeira expectativa dele é o seguinte: preciso ser atendido por alguém, entendeu? Eu preciso me sentir sendo ouvido por alguém que está preocupado genuinamente em atender meu problema, tanto que depois eu acabei vendo que as empresas aí no mundo a fora, que tem uma… essa percepção bastante adiantada, nos questionários de análise de atendimento deles, a primeira pergunta que o cara colocava lá era o seguinte: o atendente demonstrou interesse em resolver seu problema? Que acho que isso é fundamental, “tá legal”, é encrencado, vai demorar, estou sofrendo aqui, mas eu sou o técnico, compreendo o que você está passando, eu sei que para você é uma agonia. Para mim como técnico aquele é só mais um dos três mil clientes que estão lá com algum probleminha. Para o cliente, aquilo é 100% da encrenca, então a primeira coisa era a demonstração, eu entendo você, sei do seu sofrimento, estou solidário e vou te ajudar a responder, a resolver, só para complementar essa dica, eu comprei um computador, eu ia testar um computador novo, laptop novo, o Service da Microsoft, peguei e comprei um usado primeiro, no Mercado Livre, saí usando o computador, “deu pau” nas três primeiras palestras que eu fui fazer e aí parou, parou o computador de vez, liguei para o cara que me vendeu, o cara eu te vendi funcionando, problema seu. Dancei. Fiquei com o computador bichado na mão, fui atrás para resolver e a Microsoft não tem a menor ideia do que seja Service no Brasil, não tem assistência técnica, não tem garantia, não tem nada, é impressionante e eu entro num fórum e os caras do fórum, o teu computador deu um pau e não tem assistência técnica, não tem o que fazer e eu não me conformei com isso, fui para a Microsoft dos EUA, pelo computador e sem brincadeira, eu contei, eu fiquei acho que cinco horas no chat, e duas rodadas de duas horas e meia cada uma, no chat com o atendente da Microsoft nos EUA e o cara conversando comigo e fazendo os testes, então eu com o computador aberto na frente, e ele vai, vamos fazer os testes aqui e era impressionante o tempo todo, tudo o que ele escrevia para mim, ele dizia o seguinte, nós vamos resolver, espera que vamos resolver; calma, a gente vai dar um jeito; não se preocupe, nós vamos dar um jeito, testa tal coisa e eu pô, não deu certo, e ele calma, nós vamos resolver o seu problema, fique tranquilo. Aí eu saquei a dinâmica do treinamento do cara, que é essa história, passe para o teu ciente a certeza de que você vai resolver o problema dele e cinco horas depois ele chegou e falou, o computador está bichado, não tem jeito, me dê o número de série dele, eu estou te mandando um computador novo. Então o tempo inteirinho daquelas cinco horas, eu não me queixei de ficar tanto tempo com ele no chat, porque o papel daquele cara era me dar segurança de que ele ia resolver o meu problema e aí você baixa toda a expectativa.
Willian Nessa linha mesmo que você está contando aí, a gente tem focado na empresa que a gente tem atualmente, somos dois sócios, a gente tem muita preocupação com a experiência do usuário, a experiência do usuário virou commodity, todo mundo fala e tudo mais, mas assim, a gente entende que a experiência do usuário é você conseguir levar para ele, não necessariamente resolver de bate pronto o problema dele, mas pelo menos trazer ele junto com você. Eu tive uma experiência, semana passada inclusive, só para ilustrar o que a gente está conversando aqui, eu tenho três filhos e eu fui levar o menorzinho que estava com bastante tosse no médico. Quando eu cheguei no médico, era um médico de plantão, era uma moça e ela assim, não me tratou mal, não me tratou bem, foi super direta, olhou assim, toma isso, isso e isso, acabou e tal e mandou embora, assim provavelmente o que ela fez está certo, porque o que aconteceu? Ela passou remédio, realmente fiz o que ela pediu resolveu e tudo mais, mas eu já tinha ido no mesmo horário, com outro médico e ele explicou um monte de coisas para mim, ele conversou comigo, olha, o que está acontecendo com você é isso, a inflamação aconteceu por esse motivo, a mudada do tempo, contou um monte de história, não tem uma solução rápida, a gente vai tentar isso, mas talvez não dê certo, mas se não der certo a gente volta aqui, mas sabe, eu senti, por mais… inclusive o remédio que o primeiro passou, que é o que deu essa conversa comigo, não resolveu o problema do meu filho, só que eu me senti muito mais contente e satisfeito com o atendimento dele, que não me resolveu de primeira do que o dela que resolveu o problema, olha só, e nessa linha de você ter uma percepção, o que eu acho que é muito bacana? Primeiro, ser bastante transparente, transparente no sentido de… às vezes a pessoa que está, o seu cliente ou quem está tendo contato com você, não sabe, não tem background nenhum daquilo, então primeira coisa você perceber isso, ter esse feeling de perceber esse momento do cara e trazer o cara até o ponto mínimo que ele precisa saber para ele entender o que está falando.
Luciano Entenda que esse cara tem uma insegurança, ele está inseguro, então eu chego lá olha, eu não estou puto porque eu tenho um problema, eu estou puto porque eu estou inseguro, eu não conheço o que é e esse desgraçado vai me dar um balão, vai levar meu dinheiro embora e se bobear eu vou ter que voltar aqui dez vezes para resolver, então esse é o primeiro ponto, eu preciso dar a segurança a essa pessoa de que eu sou o cara certo para resolver o problema dela. Quando você faz isso 80% da encrenca está resolvida, você consegue até ter a boa vontade do cliente de que legal, não deu certo, vamos lá, a gente vai resolver, desde que eu entenda que tem alguém interessado em me atender, demos uma desviada aqui, mas vamos voltar na história lá. Muito bem, aí você está lá na empresa, e aí?
Willian Aí o que aconteceu? Comecei viajar para bastante lugares no Brasil e fora do Brasil e tudo mais e aí o que eu percebi? O que eu percebi é que existia aí a oportunidade de fazer tecnologia com qualidade, porque tem um outro ponto também que a TI acabou construindo dentro das empresas, a TI é o departamento feito para complicar o negócio…
Luciano Sim, ele insiste em que eu trabalhe para o computador e não o contrário.
Willian Exatamente. E eu pessoalmente achava isso, era uma visão muito ruim porque sempre quando a gente… que eu ia fazer alguma coisa, eu sempre buscava fazer alguma coisa que resolvesse o problema do cara, ou pelo menos que ajudasse a vida do cara e era impressionante, todo lugar que eu ia, ah você é do TI? Era impressionante como a cara da pessoa mudava só de eu falar que eu era do TI, aí eu falei não, não está certo isso daí, não pode ser assim e tinha um outro ponto também que TI sempre é caro e quando a gente vai fazer um projeto, muitas vezes o projeto, ele usa o movimento de software, ele é grande, é caro, é custoso e às vezes não entra nem para o som, joga fora, você pega muito dinheiro e joga fora, não foi uma, duas, foram várias vezes que eu passei em projeto que aconteceu isso e quando a gente esta falando de dinheiro, está falando da casa de milhões, você imagina você pegar milhões colocar num projeto, colocar tempo, estamos falando de um ano, um ano e meio de projeto, várias pessoas, dez, vinte, 20 pessoas e aí no final do dia chega e olha, vamos cancelar o projeto porque ele não deu certo. Então, eu achava isso muito ruim, eu trabalhei em empresas multinacionais, nacionais, trabalhei em instituto de pesquisa, trabalhei no exército, a gente foi fazer serviço da parte de rastreabilidade e tudo mais e era uma visão muito similar, todos eles tinham essa visão e eu, pessoalmente, não gosto dessa visão, então dentre as empresas que eu acabei passando, eu acabei tentando sempre focar em dar a solução para o cara, a gente buscou o menos é mais, ou seja, eu não vou dar para você a solução do mundo, eu vou dar para você o mínimo necessário para você resolver seu problema e para você continuar caminhando. Então, nessa linha de pensamento, agente começou a trabalhar com pessoal com empresas, que na época eu era funcionário de outra empresa, hoje são clientes da minha empresa porque lá atrás eles entenderam que a proposta que eu tinha como funcionário era resolver o problema dele da melhor forma possível, mas não necessariamente prometer o que eu não conseguia e depois que a gente montou a empresa, essas pessoas pelo networking, passaram a ser nossos clientes, então hoje a gente olha e fala poxa, valeu a pena lá atrás ter se dedicado, e vale a pena hoje, inclusive, porque o brasileiro, o cliente brasileiro, ele é carente do atendimento básico, ele não quer… a gente vai para fora do Brasil coloca a expectativa, poxa, você vai num Walgreens lá fora, que é uma farmácia que tem um milhão de itens lá para você comprar, você tem self checkout sem ninguém te vigiando, você pode comprar pela internet, você pode… ninguém fica lá preocupado se você vai roubar ou não vai…
Luciano Aqui nós não conseguimos nem fazer refil no McDonalds, os caras tiram fora o refil do refrigerante que “os neguinho comprava um e tinha seis nego bebendo aquilo lá”. De novo, nessa história que eu contei do service aí, quando chegou no final do processo inteiro, a única coisa que o cara me pediu foi qual é o número de série do equipamento, fim, não me pediu nota fiscal, eu falei, eu não vou trocar nunca, vai querer nota, nem tenho mais nada disso aí, ele não pediu nada, ele falou me dê o número, bateu o número, você está na garantia, estou te mandando computador novo, fim. Olha o grau de confiança, o grau de confiabilidade que se estabelece com um cara desses, todo aquele perrengue que eu passei, que eu fiquei puto com a Microsoft por não me dar assistência no Brasil, foi resolvido da forma melhor possível quando acionei os caras lá de fora. Então essa percepção de que o valor do teu trabalho não está no produto que você vende, nem no serviço que você presta, mas está no jeitão com que você faz isso, é que é o número um, por que que é tão legal fazer com o Polis e não é legal fazer com o Roberto se os dois trabalham com a mesma coisa e os dois entregam o mesmo produto? É porque o Polis tem um jeitão de fazer que é ali que eu quero, ele me dá muito mais do que simplesmente um produto ou um serviço bem entregue lá.
Willian Eu acho que essa questão do atendimento, eu acho que o princípio básico é você se colocar no lugar do outro e falar poxa, o mínimo que eu gostaria que me entregassem e você tem que ter esse pensamento a todo momento, tanto que nessa linha de pensamento o que aconteceu? A gente montou a empresa, eu e um sócio, a gente montou a empresa…
Luciano Vou te cortar…
Willian Fica à vontade.
Luciano … antes de você montar, quero saber o seguinte, quando é que pinta na tua cabeça a ideia de que pô, talvez se eu montar um negócio, seria uma boa eu montar meu negócio, primeiro quando que pinta isso e por que é que pinta isso, você está lá, está trabalhando, estou indo bem, estou legal, estrou crescendo na empresa e de repente me deu uma ideia, vou fazer meu próprio negócio. Por que e quando que isso acontece?
Willian Quando eu comecei a trabalhar com desenvolvimento de software e eu comecei a ir para os clientes, ele falava assim, poxa isso aí para você resolver, como é que funciona? Ah eu vou fazer o seguinte, eu vou abrir para você um chamado lá na empresa, o cara ih, nem continue, para, chega, já sei, esse chamado vai demorar um mês para ser analisado, três para ser aprovado e cinco para ser entregue para mim. Não dá, eu precisava da solução agora, se não for para ser assim, a gente vai continuar como está, então assim, a experiência de quem era cliente já era péssima e aí o que aconteceu? Falei assim poxa, eu consigo fazer isso daqui por conta, mas aí não é pela empresa, estou fazendo por fora, um horário fora e eu consigo fazer isso rápido para você. Você tem interesse? Ele falou tenho, vamos fazer. Aí eu fui num cliente, resolveu, a gente fez um relatório, eu fiz para ele em três dias, coisa que num processo normal ia demorar meses. Aí no segundo cliente eu fui e tinha uma coisa similar, também fiz e aí eu percebi, eu falei meu, está todo mundo com problema e problema fácil de resolver, mas por, sei lá, burocracia, organização, não sei uma resposta para explicar, as empresas não estão dando conta disso daí.
Luciano Você não teve um conflito ético nessa hora?
Willian Total. Não, total tanto que…
Luciano A empresa está te pagando para ir lá, você está indo resolver o problema e você pega e faz o negócio por fora?
Willian … o que aconteceu? O primeiro eu fiz dessa forma, o segundo, aí entra o peso do pai, meu pai era muito rígido, então toda vez que ia fazer alguma coisa errada dava aquele frio na barriga e vinha o pai falando alguma coisa na cabeça. Fui falar com o dono da empresa, falei é o seguinte, estou no cliente tal, o cara está explicando tal cenário, o negócio rápido de resolver, a gente sabe que na nossa fila aí de coisas está difícil de a gente atender o cara rápido, se eu fizer por fora, a gente pode fazer? Como é que faz? Ele falou, pode fazer, mas eu vou fazer de conta que eu não sei, então assim, eu joguei muito claramente para ele, porque ele sabia que internamente ele não estava conseguindo dar conta e se a gente não fizesse isso, talvez aquele cliente perdesse e aí isso acabou se tornando hábito, porque tinha muita demanda pequena, demandas que para a empresa fazer ia ser demorado e a gente deixava o cliente feliz.
Luciano Então, isso é, vamos estressar esse assunto aí, você teve então conflito ético, bateu e você foi falar com o dono da empresa e dizer para ele o que estava acontecendo, vou dar o meu lado agora, a minha história. Eu comecei a fazer palestras também lá pelos anos 90 e tudo mais, na empresa que eu trabalhava, onde eu era o diretor da empresa e de repente eu comecei a ser demandado para fazer palestras, não só fora no ambiente da empresa, como também fora, começaram me chamar para fazer fora e aí bateu aquele conflito ético, como é que eu vou sair no horário de trabalho, com o computador da empresa que me paga para fazer uma palestra para um lugar, um banco, que não tem nada a ver com a empresa, embora eu soubesse que aquele era meu futuro e eu fiz isso a primeira, fiz a segunda vez e aí bateu o conflito, falei não está dando certo isso aqui, não pode ser, não funciona, eu fui falar com meu chefe, presidente da empresa, falei ó, está acontecendo assim, assim e assado, o que você acha disso? Ele falou só não faça loucura, ele falou para mim, eu não gostaria que você fizesse loucura, se você não fizer uma loucura, vai tocando a tua vida aí, mas ele sabia disso aí. Até que um dia eu fui chamado para fazer uma palestra, duas coisas aconteceram, uma delas foi na GM, a GM me chamou, nós éramos um grande fornecedor da GM e eu fui fazer uma palestra dentro de um evento comercial da GM que não tinha ninguém de fora da GM, só eu, eu era o único cara que estava lá dentro de um fornecedor e eu assisti acontecer um negócio naquela reunião que jamais alguém de fora da GM saberia e eu só assisti porque eu estava lá dentro, sentado ali, isso me acendeu uma luz. Segundo evento foi um evento, uma premiação gigantesca que a Mercedes Benz faz todo ano para fornecedores, uma plateia com 700 fornecedores sentados lá e a palestra magna é a minha, eles me chamam e eu faço a palestra do Everest, terminada a minha palestra o presidente da Mercedes sobe no palco e faz o speetch dele inteirinho calcado na minha palestra, o tempo inteiro ele falando aquilo lá, quando eu vi aquilo tudo acontecer falei, quem é que está usando quem? Será que eu estou usando a empresa ou a empresa está me usando? Por eu ser o palestrante eu entrei dentro do intestino de um cliente nosso e soube de coisas lá que ninguém mais sabia, só eu sabia, portanto minha empresa sabia, eu era o único fornecedor naquela palco com 600 fornecedores na plateia e o presidente da empresa falando daquilo, então quando eu olhei aquilo eu falei pô, aí vou num programa da televisão, chego lá quem é esse? Esse aqui é o Luciano Pires da Dana, etc e tal e um dia eu parei e falei bom, então acho que equilibrou, o fato de eu estar saindo, eu estou levando o nome da empresa para lugares que jamais iriam, clientes estão me chamando para palestrar porque sou eu, não é porque é a empresa e aí a coisa equilibrou, mas eu tomei o cuidado de, como você fez, certamente lá falou está acontecendo tal coisa assim, eu não quero deixar parecer que eu estou por baixo do pano, então aí quando me deu o aval, passou o conflito ético.
Willian Você sabe que hoje, agora eu mudei de posição, agora eu sou o chefe no bom sentido, mas eu sou o cara que se alguém que estiver trabalhando fazendo isso por fora e bater a ética vão vir falar comigo e eu busco deixar muito claro, tanto que dentro da nossa empresa tem pessoas que fazem iniciativas pessoais para fazer empreendedorismo e tudo mais e eu apoio fortemente, porque eu acho que, até meu pai falava bastante, quer dar um problema para alguém? Dá para aquele cara que já está cheio de problema que ele é o cara que vai arrumar um jeito de resolver, o cara que está com o tempo livre, ele não vai resolver, ele não vai querer pegar aquilo. Então assim, quando o cara está com sangue no olho de querer fazer alguma coisa, empreender, criar a ideia dele, se você dá mais um desafio para ele, ele faz, então porque o foco dele é o resultado, não é o horário de entrada, hora de saída, é o resultado. Então assim, eu acho que a grande forma de ter um bom equilíbrio é o resultado, se você continuar conseguindo alcançar seu resultado e conciliar com as suas coisas pessoais, meu, que bom que você continue fazendo isso aí, que você cresça e que a empresa acompanhe você, porque se a empresa estiver acompanhando você e comportar seu crescimento, excelente, se a empresa ficar pequena demais, que você vá para algo maior, por quê? Eu acho que a gente é muito egoísmo da nossa parte querer segurar alguém que estão em pleno voo e esses jovens, a gente trabalha com um público bem jovem, o cara que entra para trabalhar com a gente está ali na base de dezessete anos assim, os caras estão com o turbo ligado, na rampa e rapando, se você não acompanhar eles, deixar os caras voar, você vai ser a âncora que vai atrapalhar ele, então assim, é importante isso daí, porque além de você criar um network lá na frente, e um ponto importante, desde os quatorze anos das pessoas que eu conversei lá que eu vendia CD pirata, hoje eu ainda encontro pessoas no mercado de trabalho que o cara me conheceu naquela época, então quando a gente se encontra o cara fala não acredito, não acredito, é você? Então assim, no networking é impressionante, você vai encontrar as pessoas, então assim, sempre se coloque no lugar do outro e deixe o cara crescer, porque deixando o cara crescer, você cresce junto, eu acho que essa é a filosofia de contribuir, de crescer, então lá atrás bateu a questão moral, a ética, falei com o cara, ele foi super bacana, deixou bem claro fez vista grossa, mas olhando hoje que você colocou esse exemplo, acho que foi exatamente isso, porque os clientes que estavam perto de deixar a empresa continuaram.
Luciano Ficou com você que é o representante da empresa e não foi para um concorrente, o que no fundo é uma jogada estratégica muito esperta do próprio dono da empresa. Muito bem, mas volta lá, vamos voltar lá atrás, você estava lá na… eu te cortei quando você falou da ideia de montar, você estava resolvendo ali, falou com o dono e pintou a ideia de montar o seu negócio. Como é que era?
Willian O que aconteceu? Aí beleza, um cliente pedia uma coisinha por fora, para poder resolver, fez, fez outro, fez outro, eu percebi o seguinte, poxa olha, bacana, da para fazer isso aqui, só que eu estava acabando, estava afetando a qualidade das coisas, porque aí o que acontecia? Eu trabalhava no horário de expediente normal, depois tinha que fazer essas coisas fora do horário, aí dormia pouco, ficava no final de semana… os pais cobrando, depois a namorada cobrando, pô só trabalha… aí eu cheguei num ponto eu falei não, vou fazer o seguinte, eu vou dar uma parada com isso porque quando você começa a encavalar as coisas, perde a qualidade, aí o lado bom que era para crescer, acaba atrapalhando. Aí eu foquei em fazer carreira, vamos dizer assim, entrei numa multinacional, fiquei ali trabalhando por três anos e lá chegou num ponto que eu já não tinha mais autonomia, porque era um negócio que pesa muito para mim, porque por exemplo, eu trabalhei em empresa grande pra caramba que a sua autonomia é muito limitada, muito limitada, você é feito para fazer aquela função, não pense mais do que aquilo, não extrapole aquilo, é aquilo e eu me sentia preso numa jaula assim, porque eu queria fazer as coisas e não podia, tinha que pedir assinatura de um monte de gente para fazer uma coisa simples e você vê aquela coisa improdutiva, parecia que tinha um bicho comendo por dentro, imagina uma coisa que você podia fazer em uma semana, demorava um mês, dois meses, eu falei não é possível, eu não quero fazer parte disso. Aí eu pedi a conta, pedi a conta dessa multinacional e fui trabalhar numa empresa pequenininha, tinha oito pessoas e lá totalmente o inverso, você tem total autonomia, basicamente só bate na questão de negociação financeira, mas de resto…
Luciano Tem que fazer tudo.
Willian … faz tudo acontecer, eu sou um homem ali, antes de qualquer coisa eu sou um homem fazendo. E aí nessa empresa eu comecei a atuar com varejo, supermercado, farmácia, padaria e tudo mais, mas em todos os critérios que você imaginar, porque a gente olha o supermercado, por exemplo, o supermercado ele parece assim, é um negócio simples, vamos dizer assim, porque você compra e vende, mas tem uma complexidade enorme por trás daquilo, recebimentos de mercadoria, você conferir se o produto que está chegando é o que você comprou, controle de validade, controle de produto que é perecível, se a temperatura está adequada, depois você, imagina você no supermercado que tem lá 15 mil itens, você saber onde da loja está aquilo, você saber se tem dois lotes de validade daquilo, depois também tem que saber se meus colaboradores estão fazendo a coisa da forma eficiente, falei varejo é um negócio apaixonante, a gente acabou atendendo outros clientes, mas varejo é apaixonante e aí eu trabalhei com varejo três anos, aí já estava…
Luciano Indo lá no chão da….
Willian … no chão da loja.
Luciano … quer dizer, você não era um nerd que fica trancado num lugar ali fazendo código no computador, você fazia e ia lá e tinha que implementar?
Willian Exato, porque o que acontece? A gente, vamos pensar, quando eu estava dentro do escritório sentadinho, tomando cafezinho, fazendo o programa para atender um programa do varejo, só para ilustrar o exemplo, a gente estava, eu estava em Natal, num cliente lá em Natal, um supermercado grande lá e aí ele tinha um desafio, na época era para fazer o cartão presente, hoje é comum, você compra um cartão no mercado e você tem o cartão presente, o cartão compra, você pode fazer recarga e tudo mais, mas naquela época não existia isso, então a gente desenvolveu e foi á fazer a implantação, você pensa que lá vai chegar o quê, vai estar tudo certinho conforme você pensou, rapaz do céu, mas não tem nada pronto, tudo feito assim do jeito que dá, colado com arame, colado com fita crepe, do jeito que dá, aí quando você chega lá para ver, você fala meu Deus do céu, tem um monte de coisa para acertar aqui, coisas básicas, por exemplo assim, ah e se o cara tentar passar o cartão e na hora tiver sem internet? O que acontece? Esse tipo de coisa que ninguém pensa, ninguém fala e quando ia lá no cliente, eu aprendia essas coisas…
Luciano Você estava na hora, está pronto, vamos usar.
Willian … junto com o cliente, a experiência ali de como ia ser o uso e aí eu me apaixonei por varejo, me apaixonei por varejo. Eu trabalhei com um cara que ele era, ele era muito inteligente sabe, ele era muito do negócio também, gostava de colocar a mão na massa e a gente trabalhou junto por um período e ele foi para trabalhar numa indústria, eu trabalhei no varejo por três anos e como eu estava viajando demais e nasceu meu primeiro filho, eu falei poxa, preciso dar uma parada de viajar agora porque o filho vai nascer e eu preciso acompanhar e aí eu fui trabalhar, de novo, em Sorocaba, nesse meio tempo que eu fiquei em Sorocaba, que deu mais ou menos um ano ali em Sorocaba, esse meu amigo que eu trabalho junto com ele, assumiu a diretoria de TI de um cliente, ai ele me ligou, ele falou estou precisando de gente que resolva meu problema aqui, porque aqui é varejo, você sabe como que é e aqui está enrolado o negócio, você topa vir para cá? Falei meu Deus do céu, estava tudo estável, um ano já em Sorocaba, filhinho novo, meu eu já estava acostumado àquela vidinha de… Sorocaba é tudo perto, não tem nem comparação, vai voltar aqui para São Paulo, falei meu, mas aí é aquilo que eu falei para você, eu vejo sarna eu quero entrar para fazer, falei vamos. Vamos fazer. E aí de uma iniciativa que era pequena, que era só um relatório simples, a gente cresceu lá para mais de vinte pessoas…
Luciano Saiu da empresa.
Willian Pedi a conta. Então, tem uma historinha aí, nessa empresa que eu estava, que era em Sorocaba, era uma empresa assim, em Sorocaba digamos que é a melhor empresa para trabalhar, perdi a conta, ali era loucura, então você imagina, esposa, família, falava você é louco, você conseguiu chegar até aqui, nessa empresa que eu trabalhava em Sorocaba é multinacional, então a gente tinha contrato com americano, ia para os EUA, Carolina do Norte, tinha contato com japonês, com chinês, então assim, era uma experiência bacana, só que naquele lance que eu te falei da autonomia, não tinha muita autonomia, então aquilo me incomodava um pouco, só que estava super tranquilo, muito perto de casa, todos os benefícios e tal, aposição bacana, aí o cara me ligou, aí o que eu fiz? Eu tinha férias vencidas, eu peguei minhas férias, só que eu não tirei férias, eu fui lá nesse cliente porque eu queria sentir, ele não era cliente ainda, ele só estava chamando para resolver um problema, eu queria sentir se tinha espaço lá para crescer. Quando eu cheguei lá falei cara, tem muito espaço aqui, o pessoal está precisando só do café com leite, de resolver o negócio simples, eu fiquei um mês lá, que é o mês de férias, daí eu voltei só para assinar o documento, pedi a conta e aí fiquei lá nesse cliente, e aí que começou, em três pessoas, e…
Luciano Valeu a pena em termos de grana, salário? Ou o que te moveu foi o desafio de construir algo?
Willian Em termos de grana, muito pelo contrário, não valia a pena, esse que foi o grande problema, porque, só em termos de ilustração, imagina que eu estava com o salário lá X, eu ia para São Paulo, ia ter o custo de ficar indo para lá, eu ia ganhar dois terços do X, ou seja, eu ia estar saindo de um negócio totalmente certo, para ganhar menos, para um negócio que talvez não durasse nem dois meses…
Luciano E aí? O que que isso faz um maluco, você estava casado?
Willian Casado.
Luciano Tinha filho?
Willian Já.
Luciano Que idade você estava?
Willian 22.
Luciano É, bom com 22, pô, você teve filho cedo.
Willian É, eu tenho uma enteada de 19, eu tenho, que mora comigo desde os 6, eu tenho um menino de 7 e um menino de 2.
Luciano Com 22 anos a gente é louco, a gente faz essas loucuras todas lá, fazer isso com 42 é complicado. Mas aí você chega em casa e dá a notícia para todo mundo, gente, estou indo para ganhar menos em São Paulo, vou me incomodar mais, mas o desafio é que me carrega?
Willian Então, inicialmente eu não contei que eu fui para lá, eu não contei que estava de férias, eu estava indo trabalhar, só que eu estava fazendo visitas assim, depois que eu fiquei esse mês lá, que aí eu tinha que tomar a decisão, aí eu cheguei em casa e falei ó, seguinte, pensei, conheci o cliente. Que cliente? Não, é um cara lá que eu trabalhei com ele lá atrás e tal, ele me convidou, fui lá conhecer o negócio e eu acho que vale a pena. Ah, vai ganhar quanto a mais? Não, vai ganhar menos. Foi feio, porque você imagina, internamente a sua cabeça fala tem que ir, é a oportunidade e todo o resto falando para você não ir e ainda pesando na questão, porque o filho era pequeno, você tem que ter responsabilidade e tal, mas aí o que aconteceu? O meu sócio foi muito bacana nesse aspecto, porque ele também comprou a briga, ele também tinha filho, ele também tinha família e ele falou vamos, porque é melhor morrer tentando do que ficar aqui parado. E aí eu falei beleza, vamos pedir a conta então, só que eu fiquei enrolando para pedir a conta, isso a gente conversou cedo no café da manhã da empresa, quando deu meio dia ele apareceu na porta da minha sala com a mochilinha na mão, falou “bora”, falei mas eu não pedi a conta ainda. Ele falou a minha eu já pedi, estou indo embora, beleza? Aí eu tive que ir, porque ele entrou no barco junto. Então eu acho que assim, entre você ficar pensando e você tentar, eu sou da opinião de tentar, por mais que todo mundo fale contra e tudo mais, porque assim, na hora que seu coração fala vá fazer, você tem que ouvir ele, porque eu acho que se você não fizer e lá na frente você olhar para trás e falar poxa, eu tive a oportunidade e não fiz, eu acho que arrependimento deve ser um dos piores sentimentos que tem.
Luciano Tem alguns contextos que tem que levar em consideração, primeiro é o seguinte, eu tenho 22 anos, então meu amigo, com essa idade eu posso errar de montão, dá tempo de consertar, já não tenho 40, 50. Segundo ponto, confio no meu taco, estou fazendo um trabalho legal, sou um cara demandado, eu acho que eu tenho competência para… estou seguro para saber se eu comprar essa briga eu vou levar adiante. Outra coisa que você fez, que foi fundamental, foi o fato de você ter ido lá, conhecer o cara, experimentar, falar deixa eu fazer um test drive durante trinta dias, enxergar e falar tem oportunidade aqui, tudo isso conta, se não fica parecendo que é o seguinte, ah meu coração mandou, chuta o pau da barraca e vai, não é assim.
Willian Não, e você não sabe do desespero, porque assim, olha o cenário, em termos de data, era setembro quando o cara me ligou, não, agosto, agosto ele me ligou, ele ficou um mês até setembro me atormentando, falou você precisa vir meu, então o cara fazendo uma puta pressão psicológica para eu ir e eu morrendo de medo, porque eu estava muito estável na empresa lá, eu peguei, nesse projeto que eu estava nessa empresa teve esse agravante, porque eu cheguei e eu entrei como salvador da pátria, porque o projeto estava decaindo e tudo mais, justamente porque quem estava liderando não tinha capacidade de conversar, a gente tem que estar…
Luciano Nessa multinacional?
Willian … é nessa multinacional, em Sorocaba. E aí esse cara foi tão bacana, gostou tanto, que hoje ele é meu amigo, ele vem em casa, ele passa lá alguns dias em casa e tudo mais, então quando eu entrei o projeto estava totalmente arrastando, ele subiu, decolou, foi muito legal, então eu estava no melhor momento, andava assim na empresa como se fosse o… flutuava, ó o cara que resolveu o problema lá. E aí você está no melhor momento da empresa e você vai largar? A sua família pesando para você não largar, porque que viaja bastante sabe, para quem olha de fora acha bonito, vê a pessoa na foto no Facebook lá, mas viajar direto é muito cansativo. Eu vou ter que voltar a fazer isso? Eu fiz o test drive de trinta dias mesmo sabendo que tinha oportunidade eu fiquei com muito medo, eu acho que o que foi determinante foi na hora que eu tinha gente comigo, que foi o meu sócio…
Luciano Sim, o amigo seu que falou estou no barco junto.
Willian … já fui…
Luciano Faz toda a diferença.
Willian … já fui, então assim, eu me comprometi com ele, eu dei minha palavra para ele que ia fazer, aí de novo o pai pesando na mente, “palavra dada tem que ser honrada”, aí eu fui, fui e assim, mesmo que não tivesse dado certo, puta graças a Deus deu certo, mas se não tivesse dado certo, do fundo do meu coração, foi a melhor coisa que eu fiz, porque a experiência que você tem, sabe aquele exemplo que você dá lá de pular de bung jump e pular de wingsuit, não tem sensação melhor, porque você tem que dar o seu melhor, se você não der o seu melhor, não vai dar certo.
Luciano Só para quem não sabe o que é, quem perdeu essa aí, ao pular de bung jump você tem um elástico na tua perna, então quem trabalha dentro de uma grande empresa e é um empreendedor dentro da empresa, ele pode, faz as loucura mas tem o elástico na perna dele, ele tem por trás dele uma baita empresa, tem uma marca grande, tem a quem recorrer e tudo mais, então tem risco de vida, tem adrenalina, só louco faz, mas tem um elástico preso no pé. Pular de wingsuit não tem nada, é aquela roupa que você abre, tem uma asa nela e você sai voando, se você errar você bate na parede e morre, não tem ninguém para te socorrer, não tem elástico para te segurar ali.
Willian Você sabe que eu sou… porque eu conheci você por acaso também no podcast e aí eu sou um, se eu não for o maior, um dos maiores doutrinadores evangelista seu, porque esses exemplos que você dá é muito bom. Armadura emocional, eu uso muito isso aí porque efetivamente é isso aí, efetivamente é você se dar a oportunidade, tem o medo, o medo existe, não vai ter como negar, só que em algum momento você vai ter que tomar uma decisão e fazer.
Luciano Ó o gancho que você me dá legal aí, que o pessoal pergunta para mim, da onde vem isso? Eu estava lá dentro, entendeu? Eu vivi, eu tenho 26 anos de experiência dentro do mercado corporativo, com aquela coisa da comédia corporativa, lidando com equipes, depois mais 15 anos, 16 anos como empreendedor, quer dizer, o que são essas histórias aí? É exemplo vivido, não tem aquela história ali num livro japonês e agora vou contar para você a história que o japonês contou, não, eu vivi isso aí, eu tive o elástico no pé e depois tive que botar a wingsuit e a diferença é brutal, na hora que você fala quais são as consequências de uma tomada de decisão minha enquanto diretor de uma grande empresa e essa mesma decisão sendo tomada como dono de uma pequena empresa, é a mesma decisão, você está na mesma encruzilhada e você vai tomar uma decisão, se der errado as consequências são totalmente diferentes, pode ser até que eu perca meu emprego aqui na empresa e se eu perder meu emprego, mesmo perdendo meu emprego tem o fundo de garantia, tem uma porrada de coisa, aqui não, deu errado eu trombo na parede e não tem volta, então exige de você um grau de coragem, um grau de loucura até, isso no Brasil, ser empreendedor no Brasil é complicado.
Willian Então, essa parte do empreendedor no Brasil, quer ver uma coisa que quando você… qual foi o motivador, eu consigo dar conta, eu vou dar o meu melhor, vai ter oportunidade e tudo mais, só que uma coisa é você fazer o seu trabalho bem feito, quando você vai ser dono da empresa, você começa a lidar com número de imposto, burocracia para você, da parte de documentação, se você for homologar numa empresa para você poder fornecer para uma empresa, uma burocracia enorme, isso é uma coisa que é o outro lado da moeda que eu não sabia que faltou preparo da minha parte em saber disso daí e foi esse ai o motivo… titubeei.
Luciano Então, mas deixa eu pegar esse ponto aí quer dizer, você e seu amigo vão, entram nessa empresa menor e o negócio decola lá também…
Willian Decolou.
Luciano … tá. De novo, voltar naquela que você acabou não respondendo lá atrás, qual é o momento do vou montar meu próprio negócio, como é que isso acontece?
Willian Eu acho que o grande motivador ainda não foi “vou montar o meu próprio negócio”, não era esse o objetivo maior, mas era vou trabalhar por conta própria, porque qual é a diferença nesse sentido? Porque montar o próprio negócio você pensa assim, puta eu vou ter um local físico, próprio, com mesa, cadeira, meu logotipo e tal, a agente foi lá, não sabia nome, quando a gente foi lá para apresentar o nome da empresa, a gente não tinha nome pra a empresa…
Luciano Como assim? Não estou entendendo. Onde você está agora?
Willian … eu estou naquele momento de tomada de decisão, eu estou lá na escada da empresa que eu trabalhava em Sorocaba, junto com meu sócio, tomando a decisão, vamos largar do emprego ou não? Para poder ir lá empreender, já tinha feito aquele período de test drive de um mês e está no momento de ou vai ou racha…
Luciano Sim, mas você não ia como empregado nessa outra empresa?
Willian Não, nessa outra empresa eu ia como prestador de serviço.
Luciano Ah, então tinha mais essa, você ia sair da multinacional com CLT, tudo certinho e essa outra que você ia ganhar dois terços ainda era como…
Willian PJ
Luciano … PJ?
Willian PJ e aí esse PJ é uma empresa e eu não tinha nome para a empresa, a gente ia chegar lá, vou prestar serviço para você. Qual o nome da empresa? Não tinha, então a gente não pensou nessa questão da empresa, a gente pensou assim poxa, eu quero fazer aquilo que eu acredito, eu não quero fazer aquilo que me mandaram fazer, eu queria fazer alguma coisa que eu acredito.
Luciano O cara que estava te infernizando, que garantia que ele te deu?
Willian Nenhuma. Isso foi o legal dele, falou ó, eu acabei de entrar aqui, eu não sei nem se eu duro aqui, porque ele também entrou numa situação lá que estava tudo lá, tudo desestruturado, ele entrou com o objetivo de estruturar e varejo é diferente de alguns outros segmentos, não é assim você tem anos para se estruturar, ou você acerta ali nos próximos três meses ou você está fora, então ele falou ó, tem esse desafio, eu conto com você, só que eu não te garanto nada, então essa transparência foi muito legal, por quê? Me deu medo, obviamente, mas me deu a abertura necessária para falar tem que dar certo, não tem opção de não dar certo. Então a gente, quando montou, não foi com a ideia de montar empresa, o momento da decisão foi: lá a gente vai fazer aquilo que a gente acredita, o que era um problema que a gente via que acontece ainda, talvez hoje menos, é a questão assim, qual é o fluxo de você fazer um projeto de sistema de computador? Vamos supor que você vai fazer o portal do Café Brasil, supondo que não existisse, aí eu como empresa, eu chego e falo assim para você, olha Luciano, eu vou fazer aqui o portal para você, você vai poder ter conteúdo aqui, você vai poder colocar vídeo, artigo, você pode dizer quem é colaborador, quem que é moderador, vai ter um fórum e tal, então vou levantar tudo com você aqui, vou ficar aqui um mês entendendo o que você quer, eu vou ficar seis meses fazendo e daqui sete meses eu volto para colocar no ar, certo? E vai custar aqui um caminhão de dinheiro. Você aceita? Vamos supor que você aceitasse, quando eu vou colocar no sétimo mês o sistema para rodar, você fala não era isso que eu estava querendo, não era assim que eu combinei. Mas você assinou um documento, você assinou na pedra. Então qual era o problema disso? Todo projeto não dava certo. E o que a gente acreditava? É ser humano, a gente muda de ideia, a gente erra e tudo mais, vamos fazer o menor ciclo possível, então toda semana a gente tem que ter software pronto, o que você precisa do portal como um todo? Ah preciso de um monte de coisa. Mas qual é o primeiro que você precisa? Ah eu preciso ter uma área que mostra o logotipo do Café Brasil. Quanto tempo demora? Uma semana. Está bom. Uma semana estava com o software rodando, gostou? Ah não, ajusta isso, ajusta aquilo. Beleza. E a próxima coisa? Agora eu vou ter uma forma de colocar artigo, então qual é o ponto? Que eu não fazia um negocião enorme, eu fazia pequenos bloquinhos, qual foi o lance disso daí? Para quem está olhando aquilo fala toda semana o negócio está crescendo, está melhorando, está aprimorando…
Luciano Genial, eu vejo o resultado acontecendo, eu vejo a coisa ali, numa semana tem resultado aparecendo pronto.
Willian … e não tinha isso naquela época, era um negócio absurdo, imagina você vai vender um projeto que você vai ficar entregando para ele, deixar o cliente pedir mudança? É. Então a gente acreditava nisso e isso não era uma coisa comum na época, que é o tal do movimento ágil, hoje é bem consolidado, mas o movimento ágil foi uma febre naquela época e fazer aquilo de uma forma correta era o desafio e a gente acreditava nisso, então o ponto foi na hora que a gente falou, nós queremos fazer aquilo que a gente acredita, esse foi o ponto de cortar a corda.
Luciano Legal. E aí então você está lá como prestador de serviço, você montou uma empresa com o teu amigo?
Willian Montamos uma empresa.
Luciano Vocês montaram uma empresinha lá, tá, que ficou trabalhando 100% para esse…
Willian Para esse cliente.
Luciano Para esse cliente. Tá. Quando é que vocês decolam?
Willian Então, o que aconteceu? Aí primeiramente era só para fazer um relatório pontualmente e tal e quando você mostra o relatório pronto de forma rápida, quem recebe fala que legal! Dá para colocar mais essa informação aqui? Dá. E dá para fazer o relatório tal? Dá. Aí chega uma quantidade de coisas, começa a enfileirar que o cara fala assim olha, mas eu preciso isso para daqui a duas semanas, aí você tem que colocar mais gente, falei olha, a gente sozinho não está dando mais conta, a gente pode trazer mais alguma pessoa aqui? Pode. Então vamos colocar mais coisa, coloca mais gente, a gente saiu de três pessoas inicialmente e fomos para dezoito pessoas, dentro desse mesmo cliente, dezoito pessoas…
Luciano Na tua empresa.
Willian … na tua empresa…
Luciano Então de repente vocês dois que se viravam e que eram auto suficientes, começaram a ter neguinho respondendo para vocês e era a primeira vez que você assumia papel de liderança de equipe?
Willian Então, já atuava como líder nas outras empresas que eu trabalhei, mas a situação é diferente, porque uma coisa é você líder de um cenário, de um projeto, de uma coisa…
Luciano Se não pode é porque é regra do RH, o RH não deixa, não pode porque… agora não, agora você era o decisor.
Willian … decisor, tem que resolver questões, por exemplo, aumento de salário, o cara faltou, a produtividade dele não foi boa, tem que demitir, tem que contratar bem, então todas essas coisas que a gente não sabia como fazer, começou a acontecer, então teve um período…
Luciano Você nunca tinha sido treinado para esse tipo de coisa.
Willian Não. Não porque não teve a necessidade, então quando aconteceu a primeira fez falei poxa e agora, o que eu faço? Então o lado bom do desafio é você não saber fazer não é um problema, mas como você vai buscar a solução para aquilo? Então nesses dois anos e meio, a gente cresceu de três pessoas para dezoito pessoas e entregou muita coisa para o cliente, então o cliente ficou muito feliz, porque o cliente falou meu, esses caras fazem rápido, fazem bem, quando erram consertam rápido, esse é um ponto importante, não tem que acertar de primeira, mas concerte rápido, esse que era o grande ponto e aí o que aconteceu? Gente que trabalhava, que era cliente nosso, que era comprador dentro desse cliente, foi trabalhar em outra empresa, aí quando chegou na outra empresa falou viu, tem uns caras lá na outra empresa que fazem um serviço legal, recebe eles aí e é nesse boca a boca, a gente acabou saindo desse primeiro cliente e foi para seis clientes, isso num período de três anos. Então de 2013…
Luciano Você que trabalhava 100% para aquele cara que te puxou para o projeto, de repente se viu em condições de começar a abraçar outros clientes e aí sim virou uma empresa e de repente não tem onde sentar. Tem que ter cadeira, tem que ter janela…
Willian … então o que aconteceu? Aconteceu o seguinte, até então a gente estava dentro do cliente, no primeiro ano de trabalho, começou a ter projetos que ele não tinha espaço físico para colocar gente nossa lá, lá em São Paulo, e ele falou assim, mas eu preciso que você resolva isso daí, põe gente sua lá de Sorocaba, então isso no primeiro ano, tá? Então a gente começou em 2013, final de 2013, quando foi meio de 2014 aconteceu isso, a gente falou e agora o que a gente faz? A gente alugou uma sala, colocou dois cavaletes e uma porta em cima do cavalete e duas cadeirinhas bem simplinha, era um calor, porque na janela não tinha cortina, não tinha ar condicionado, era um calor, então era duas cadeirinhas e dois ventilador, um embaixo do outro para poder dar conta do calor, então a gente colocou duas pessoas lá e eu ficava fazendo essa ponte de vir para São Paulo e ficar em Sorocaba, tanto para dar satisfação para o cliente quanto fazer o andamento do projeto, então em Sorocaba a gente começou no primeiro ano com duas pessoas, ainda em 2014 foi para a terceira pessoa e aí começou a ter mais demandas, em 2015 a gente saiu de Sorocaba de três pessoas para doze pessoas. Hoje a empresa está com mais de sessenta pessoas no seu quadro de colaboradores, em quatro anos.
Luciano Gestão de gente é um negócio complicado, vocês foram bater na porta de alguém para… meu, como eu faço? Vocês foram fazer um curso? Você foi olhar alguém? E aí, vou ter que mandar um cara embora, como é que manda um cara embora?
Willian Então, olha que interessante, eu falo que nada é por acaso, eu fiz a FATEC na época, 2003 e depois eu fiquei preocupado, ser tecnólogo talvez não seja suficiente, aí eu fui fazer gestão de projetos, um MBA, aí eu fiz um outro MBA em tecnologia distribuída e aí eu falei poxa, precisava fazer alguma coisa fora da minha área para complementar, nesse momento eu era funcionário ainda, não tinha nada de montar empresa, eu fiz gestão de pessoas na FGV, o MBA, e aquilo foi muito legal para mim, porque quando que me motivou a fazer esse curso? Quando assumi papel de liderança dentro de uma multinacional e eu falei poxa, eu preciso fazer alguma coisa para saber lidar com gente, é mais do que saber tecnicamente e eu fui fazer esse curso, isso foi fundamental para no momento que eu tive que fazer feedback, demissão, contratação, esse curso já tinha me dado uma base muito grande, então eu acho que esse preparo ai, despretensioso de estar sempre estudando e fazer coisas novas, acho que foi primordial para fazer as coisas bem feitas e o meu sócio, por outro lado, ele também tinha muito viés na parte administrativa, também não tinha a pretensão de montar empresa, mas ele tinha esse conhecimento administrativo.
Luciano E ele também era um técnico como você…
Willian Técnico, bem técnico.
Luciano … mas foi buscar o outro lado que…
Willian E é legal porque ele também não teve o medo de ir lá e fazer junto, buscar, aprender, então ele teve que aprender um monte de coisa, jurídico, administrativo, contabilidade, então tudo isso aí que demanda tempo e é bem perigoso, porque se você se perder ali, você pode quebrar a empresa rapidamente.
Luciano É ali que o bicho vai pegar, não é… eu sempre falo para o pessoal, o problema não é a tua competência técnica, se você não tiver competência você nem se estabelece, agora uma vez estabelecido, o que vai fazer o inferno na tua vida não é a capacidade de desenvolver bem o que o cliente quer, se você tem a competência técnica, esta na sua mão, se você consegue conversar com o cliente e se colocar no lugar dele, 90% está resolvido, a questão toda é o seguinte, tem que pagar conta, tem que mandar o cara embora, tem que contratar um fulano, tem que parar de trabalhar aqui para ver o cara chorando na tua frente, que ele está com problema em casa, tem o governo vindo em cima de você pegar aquele monte de imposto, então tem um monte de coisas aí que estão fora da tua…. da curtição que é fazer o trabalho, é aí que o bicho pega, então quando extrapola essa tua história que o cara de TI, leva isso para um cara que é músico, por exemplo, pô fazer música é tudo o que eu quero na vida, agora tem uma hora que você não vai estar compondo, você vai estar pagando conta no banco, você vai estar lidando com quatro neguinho que trabalha para você e não é composição, então é um horror.
Willian Um negócio que pegou bastante para a gente, que a gente fala… o que a gente falou mesmo? Não é possível isso. Crescer, quer ver? Foi assim, tinha lá uma informação de preço, então o preço era tanto e tudo mais, a gente foi crescendo, aumentando e tudo mais, chegou num ponto que a gente era SIMPLES nacional, pagava 6% de imposto, chegou um ponto que começou a crescer, aí a nossa margem de lucro não tinha mais, porque o imposto conforme você vai faturando, vai comendo sua margem, aí tive que renegociar com o cliente, aí o cliente fala o problema é seu, não é problema meu, nossa, crescer foi muito difícil porque são coisas que você não sabe que vai crescer, muda muito a questão da cobrança de imposto e isso interfere diretamente no preço que você cobra, para você renegociar é bem complexo, então crescer foi, chegou um ponto que falou não, não vamos crescer mais, vamos segurar um pouco, não faz sentido, tem que crescer, então assim, foi uma fase bem, ainda é uma fase complexa, mas essa transição de você ser SIMPLES para deixar de ser SIMPLES, foi bem complexo.
Luciano Como é o nome da empresa?
Willian Tegra.
Luciano Hoje você tem a Tegra. O que a Tegra faz?
Willian A Tegra trabalha com inovação em TI, então o foco dela é desenvolvimento de software especialmente na parte de aplicativos, para você ter uma ideia, a gente, ah duas notícias boas, a gente ganhou o prêmio nacional da FEBRABAN, que é a Federação Brasileira de Bancos, de aplicativo mais inovador, então a gente teve a Feira SIAB na semana passada, a gente expôs lá, foi o vencedor, uma visibilidade enorme, então foi muito bacana.
Luciano O que era esse aplicativo?
Willian O aplicativo foi o seguinte, qual que é o medo hoje do banco? O banco ele tem o medo de perder a clientela, porque vem as SINTEC’s ai que estão levando todos os clientes embora, ai ele fala assim como eu faço para trazer o meu futuro cliente de forma antecipada? Fazer o on board desse futuro cliente? A ideia é a seguinte, você é pai, cadastra seu filho no seu aplicativo normal do seu banco e esse seu filho ganha um cartão de crédito pré-pago, com esse cartão de crédito pré-pago o seu filho consegue comprar coisas que com dinheiro físico ele não compra, a geração dos filhos da gente não quer comprar com dinheiro, quer comprar mainecraft, quer comprar spotify, esse tipo de coisa, então ele ganha esse cartão, você como pai acompanha os gastos dele, inclusive o filho, no aplicativo dele, ele tem um bads para ser alcançado, então assim, você tem que poupar 5% da sua mesada e tudo mais, vai ganhando pontos ali. Então qual é o grande mote ali, o cliente que é o jovem, no caso, o futuro cliente, ele já está aprendendo a lidar com dinheiro, o pai fica super feliz com o banco que deu uma forma de dar educação financeira para o filho e para ele se transformar em cliente é só um botão, upgrade, upgrade e já vira cliente, então os caras piraram, falaram meu, eu vou conseguir chegar no cara que tem sete, dez anos.
Luciano Você desenvolveu isso sob demanda ou…
Willian Não, foi um Hackathon, sábado e domingo, 24 horas no ar lá, a gente fez no final de semana.
Luciano Pô que legal.
Willian E aí a gente agora está fazendo as visitas em bancos, em empresas de tecnologia que é desse segmento, eles ficam pirados, de verdade, é impressionante como o cara quer segurar a emoção, mas ele olha, que ideia legal.
Luciano Então vocês estão desenvolvendo esses aplicativos e o que mais?
Willian A gente, inclusive um mês atrás a gente lançou o aplicativo do Pão de Açúcar, então já está com mais de seiscentos mil downloads, que é um desafio grande também e a gente tem um produto na parte de varejo para ajudar na parte de operação física do varejo, por exemplo, o varejo tem um problema enorme de roubo, de quebra, de perda de produto, de produtividade dos colaboradores e a ferramenta é justamente para evitar a ruptura do produto, que é quando o produto… você não tem ideia que existem números de 18% de ruptura, o que é isso? O produto está dentro da loja, lá no fundo e o cliente não consegue comprar porque está escondido, não está na prateleira, isso chama-se ruptura e a gente consegue reduzir essa ruptura para 2%, então a parte de controle de validade, inventário, então esse produto está ganhando muita força, a gente está crescendo bastante nesse segmento, então é varejo e aplicativos mobile, que são o forte da empresa.
Luciano E você continua com aquele sócio da mochilinha, é o mesmo que estava lá atrás?
Willian É o mesmo.
Luciano Então, vocês dão uma parada de vez em quando para fazer uma avaliação daquela tomada de decisão, daquela loucura que quanto tempo faz isso?
Willian Faz quatro anos.
Luciano Quer dizer, já foi nesse Brasil maluco, não foi lá atrás…
Willian Não, a gente pegou o começo da crise.
Luciano … sim, quer dizer, vocês fizeram tudo errado, tomaram a pior decisão, mais complicada, sem garantia, num momento de crise e se jogaram no escuro para ver se dava e deu, e você, então, em quatro anos vocês saíram de dois carinhas com a mochilinha…
Willian três pessoas no começo.
Luciano … para sessenta
Willian Sessenta e duas.
Luciano Em quatro anos?
Willian Em quatro anos.
Luciano Isso é um modelo de sucesso fantástico.
Willian Então, esse é que é o assustador, porque assim, a gente para pra fazer essa análise de tempos em tempos e a gente fala poxa, a gente ainda não sofreu o problema, a gente não sofreu a depressão, diz que todo em negócio é normal passar pelas fases boas e fases ruins, a gente não passou pela fase ruim ainda.
Luciano Vocês estão só crescendo.
Willian Só crescendo.
Luciano É só crescimento.
Willian Só crescimento todo esse tempo e a gente tem a preocupação de estar bem estruturado para quando esse momento acontecer, a gente conseguir passar por ele, porque faz parte do processo, então a gente tem a preocupação muito da questão do gerenciamento, da produtividade, do fôlego financeiro que é bastante importante e essa questão de você não se deslumbrar, ficar pô, só crescemos e tudo mais, sempre pé no chão, sempre buscar ter bastante humildade de entender que é uma fase, assim como… diz que tudo nessa vida passa, toda fase boa passa, toda fase ruim passa também, então a gente tem que ter bastante pé no chão para continuar o crescimento forte e estar preparado se vier, eventualmente, um problema, a gente conseguir passar bem por ele.
Luciano Esse modelo de vocês aí de empresa focada em TI e tudo mais, eu não sei se não é o que mais tem no mercado hoje, porque o que eu vejo de empresa assim nascendo, as tais das startup, a cada momento tem dois neguinho com uma ideia maluca criando uma empresa dessa aí e da mesma maneira como elas surgem, elas quebram também, surge e quebra e vocês estão vindo com a consistência, embora quatro anos seja pouco tempo, de três para sessenta caras não é pouca coisa e com cliente nível Pão e Açúcar, quer dizer, vocês não estão ali chutando, vocês estão pegando uns caras bravos, quer dizer, o produto deve ser bom, a qualidade do trabalho de vocês deve ser legal também. Como é que você vê essa moçada toda ai que tem vinte e dois anos bota na cabeça que vai se juntar com um amigo, vai criar um aplicativo e vai vender para o spotify por dois milhões de dólares, dois bilhões de dólares daqui a seis meses e vai morar numa ilha do Caribe e curtir a vida. Como é que é?
Willian Olha, é assim, eu participei, participo muito como mentor dessa parte de incubadora de startups e tudo mais, o que eu percebo é o seguinte, todo mundo tem ideia, qualquer pessoa, não precisa ser novo, idoso, todo mundo tem ideia, você pode perguntar para qualquer pessoa, tem uma ideia legal? Tive uma ideia tal. O que é o ponto? Ideia todo mundo tem, mas você transformar a ideia em realidade é outro diferencial que faz as pessoas, as empresas crescerem e as pessoas chegarem onde querem chegar. O problema é que são milhares de degraus para você chegar onde na realidade, o ponto é que o jovem, ele tem muita expectativa de que ele vai ter uma ideia hoje e ele vai chegar no final da escada amanhã, sendo que tem um monte de degraus para essa caminhada, por exemplo, fazer o primeiro piloto, ou seja escrever o código, fazer funcionar bem, depois que você fizer o primeiro código, testar, coloca a pessoa apara testar, você coloca, porque você vai ver que quando você colocar para testar, dá um monte de problema, um monte, milhares de problemas, saber reagir rápido a esses problemas, saber lidar com dinheiro, porque por exemplo, se a ideia é boa e a coisa começa a ter investidor para colocar dinheiro, você não vai ficar gastando com mesa, cadeira, impresso; guarda o dinheiro, tira o menor nível de salário possível, põe o pé no chão, o objetivo é fazer a coisa crescer, ganhar fôlego, o que eu vejo muito é que o pessoal fica deslumbrado, recebe o primeiro aporte de investimento, por exemplo, aí quer montar escritório, com toda aquela decoração estilo Google, não existe isso. Assim, é pé no chão, é um passinho de cada vez, a gente chama de baby steps dentro da Tegra, passinho de bebê, então você tem que testar cada coisinha, dar o seu melhor e nem pensar que vai trabalhar oito horas por dia, esquece, é acordar seis horas, dormir ás dez, trabalhar de sábado, domingo, porque é naquele momento que você vai ter oportunidade de testar aquela ideia, se você esperar que alguma coisa aconteça de fora, esquece, então acho que o grande desafio do cara jovem primeiro, a expectativa de que é coisa rápida. Eu também, quando assisti, na época que a gente começou a montar, até antes, tinha lá a história do Steve Jobs quando ele montou a Apple, falei poxa, esse que é o legal, ou do Bill Gates, mas não existe, a gente olha o filme que o Bill Gates foi apresentar para a IBM o negócio, não foi assim, o cara ralou anos para fazer aquilo, então assim, é muito importante a gente ter o pé no chão, vislumbrar menos e fazer a menor coisa possível, diz que menos é mais, então assim, ao invés de fazer aquela coisa mirabolante, faz o menor possível e põe para funcionar. Menos sonho, mais ação, acho que esse é o meu conselho.
Luciano E eu acho que tem uma outra coisa importante também, quer dizer, no universo profissional da gente, pelo simples fato de você estar vivo, você não merece porra nenhuma, você não merece nada, pelo contrário, botaram você num banco de escola durante dezzessete anos, você gastou um tempo desgraçado aprendendo uma porrada de coisas que você não vai usar para o resto da vida, perdeu um tempo desgraçado, não deixaram você trabalhar quando você era moleque, você não podia trabalhar com doze, com treze, com quatorze, não pode fazer nada disso e você sai da escola com um nó, você é nada, você não merece merda nenhuma, você vai ter que conquistar cada ponto e esse conquistar cada ponto é o seguinte, eu vou criar valor para outra pessoa, se eu conseguir criar valor para outra pessoa eu passo a merecer alguma coisa, caso contrário eu não mereço nada, nem o salário que eu recebo. Eu estou botando um programa no ar essa semana que é um negócio interessante, o cara bota um insight muito legal que ele fala o seguinte, se a empresa te paga 10 por mês, você tem que fazer com que a empresa ganhe 11, 12, 13, 14, 15, você tem que gerar mais valor do que aquilo que você custa para a empresa, se não você não serve para nada e essa consciência de que eu só sirvo se eu gerar valor é que faz toda a diferença, então você vê dois moleques, um fica estagnado e o outro cresce que nem um louco, qual é a diferença de um para o outro, a competência dos dois é igual, só que um sacou que olha, minha competência é igual á dele mas eu vou botar essa competência a serviço de deixar claro para os meus clientes e meu cliente pode ser o meu chefe da empresa ou o cliente lá fora, de que eu sou o cara que agrega valor, eu sei que se ele investir dez em mim, ele vai ter de volta quinze, vinte. Essa consciência que é fundamental e a molecada não tem muito isso, eu chego aqui, eu estou vivo, portanto eu mereço, mereço o carinho que o papai me dá lá em casa, mereço o dinheirinho, mereço cargo novo, não, não merece nada, você tem que conquistar.
Willian E assim, o cara acabou de entrar no mercado de trabalho, o que eu percebo também que, não para esses que já estão empreendendo, estão tentando empreender, para esses que estão no trabalho, essa questão do tipo eu vou fazer carreira, mas eu vou fazer aqui o meu café com leite aqui no sentido de vou entrar às oito, vou sair às seis, vou fazer só o que me mandarem, nada mais do que isso, esquece, você tem que surpreender, você tem que fazer mais, você tem que sempre fazer mais, você tem que se dedicar mais, você tem que estudar além do horário, você tem que não se preocupar com questão de hora extra, de que não estou reconhecendo, não, faça por você, dê o seu melhor, nunca se limite a fazer aquilo que te mandaram, busque mais, acho que esse pensamento é uma forma de pensar, não tem outra explicação, é uma forma de pensar.
Luciano É mindset e o mindset é importante, tudo o que eu for colocado para fazer é uma oportunidade de aprender alguma coisa, não importa o que é, ah me contrataram e então me pedindo para tirar xerox, para tirar cópia das coisas, use isso para aprender como faz, o mínimo que vai acontecer é você vai aprender a lidar com pessoas, vai aprender o que é a expectativa da pessoa quando pede coisa, vai ganhar responsabilidade, tem gente dependendo de mim, quer dizer, tem toda uma coisa em volta daquela coisa que você olha, que é o deslumbre, eu serei o grande criador etc. e tal, em volta disso tem um monte de coisa que você só vai aprender no dia a dia ali, então acho que essa história de você olhar para isso e encarar como o grande aprendizado, não importa em que nível eu estou na empresa que é a coisa mas fundamental.
Willian Exatamente.
Luciano Muito legal e parabéns pela história, olha crescer desse jeito em quatro anos, nesse cenário brasileiro, não é muita gente que está conseguindo não, espero que vocês tenham aí pé no chão para fazer a coisa continuar nesse ritmo.
Willian E você sabe que tem um conceito chamado máquina de vendas, que é quando você consegue crescer de uma forma não verticalizada, mas uma forma exponencial, até diz que número mágico é crescer três vezes ao ano e a gente olhando nosso histórico a gente tem crescido dessa forma e cada vez mais a expectativa para o próximo ciclo é que isso continue a acontecer, então primeira coisa, exige de você a capacidade de olhar e ter uma visão realista da coisa, também não pode ficar imaginando ou almejando coisa que você não vai conseguir fazer; segundo, sempre manter nos valores, um dos pontos que a gente bate bastante lá dentro da empresa, são os valores, porque assim, a gente já contratou pessoas que tecnicamente eram extraordinárias, mas elas não compactuavam com os valores, então o que a gente percebe é nossa grande preocupação nesse crescimento, não é necessariamente o crescimento, muito menos o financeiro porque a gente entende que financeiro só o pulmão necessário para você continuar sobrevivendo e tudo mais, mas não é o foco, é você agregar valor, como você colocou, sem perder os valores que te mantem, então exemplo, transparência, comprometimento, você não ter medo de desafio, gostar do desafio, são valores que a gente sempre coloca à frente de qualquer outra coisa e eles são o que dão o norte das nossas decisões, porque se a gente, imagina que a gente continuar nesse ritmo aqui nos próximos anos, é muito provável que a gente saia de sessenta pessoas e vá para, sei lá, trzentas pessoas, como é que a gente continua crescendo mantendo esses valores, esse é o grande desafio que a gente busca hoje.
Luciano Sim e porque são esses valores que vão garantir sustentabilidade, sem eles você vai implodir na esquina e está cheio de exemplos sabe, isso que está acontecendo no Brasil agora dos campeões implodindo, você fala o que era aquilo? Era um castelo de areia criado com muito dinheiro, a coisa cresce numa velocidade absurda, todo mundo aposta naquilo, lá na frente ela explode porque ela não tinha essa base em que está sentada. Como é que a gente acha você, como é que a gente acha a Tigra?
Willian O site é www.tigra…
Luciano Tigra ou Tegra?
Willian Tegra.
Luciano Muito bem. Como é qu a gente acha você, como é que a gente acha a Tegra?
Willian É pelo site www.tegra.com.br e nós temos o nosso produto que também é o govarejo.com.br, nesse portal govarejo nós temos muitos artigos e conteúdos para apoiar o varejista de como ele melhora a operação dele e esse tipo de coisa e nas nossas fanpages Facebook e Linkedin que a gente tem bastante informação ali que agrega valor para os nossos clientes.
Luciano Tudo como Tegra?
Willian Tudo como Tegra.
Luciano Legal. Valeu grande Willian, obrigado por ter vindo, grande papo, você é um modelos desse que me interessa demais, que são os caras pequenininhos que estão ai fazendo a coisa acontecer, com um pé na frente, outro atrás, sem vir aqui de gravata colorida, cabelinho pintado, não sei o quê, com aqueles papos de americano, minha startup, não, sem jargão, que é muito importante, sem jargão, mas com trabalho duro, puxando o r de Sorocaba, aquela coisa toda, eu acho que é por aí, esses são os caras que vão fazer a coisa durar.
Willian Eu agradeço muito o convite e a oportunidade de estar aqui, eu sou bastante fã seu eu desejo assim bastante sucesso porque o conteúdo que você traz realmente agrega valor de uma forma muito mais profunda do que simplesmente um conteúdo raso, então assim, eu acho que ele entra na questão dos valores, ele faz a base que a gente tem, para você ter uma ideia muitas das coisas que eu uso hoje nos nossos valores vem daquilo que você me inspira, então agradeço bastante.
Luciano Um abraço.
Transcrição: Mari Camargo