Luciano Muito bem, mais um LíderCast, daqueles que eu gosto de fazer, porque chega diante de mim alguém que eu não conheço, que eu não sei o que vai acontecer, não sei para onde vai. Esse é o grande tesão de fazer um programa como esse aqui, que de novo, não é um programa de entrevista, é um bate papo entre duas pessoas, por isso não adianta você escrever reclamando que eu falo tanto quanto o convidado, porque nós não estamos fazendo uma entrevista, nós estamos conversando os dois. Tem três perguntas aqui que são perigosíssimas, se você errar a entrevista dança, então presta atenção: quero saber seu nome, sua idade e o que é que você faz?
Camila Oi pessoal, eu sou a Camila, eu tenho 25 anos e hoje eu vivo aquela realidade da geração milenium, a gente faz um milhão de coisas ao mesmo tempo e a gente quer tudo junto para ontem, então hoje a gente tem duas empresas, então tenho a Ponte 21 e o máster Tech e tem o Mulheres na Computação que é um blog que a gente gera conteúdo, então vou voltar lá, Ponte 21, o que é a Ponte 21? É uma agência de inovação, eu e meu sócio, Felpe Barreiros, a gente teve uma carreira fora do país e quando a gente voltou para a realidade de tecnologia do Brasil a gente não se encaixava muito bem, a gente brinca que a gente até tentou arrumar emprego, trabalhar normal, ser normal, fazer carreira, mas não existia o que a gente acreditava que tecnologia podia fazer e a gente decidiu montar o nosso. Cresceu super bem, hoje a gente está com quase dois anos de Ponte21, mas ela cresceu tão rápido, porque startup, a única diferença de uma grande empresa é que ela ainda não cresceu, mas ela tem os mesmos desafios, assim, é muito maluco e aí a gente chegou no começo de 2016 com o mesmo desafio que a gente ajudava as empresas a resolverem, que era conseguir ter mão de obra qualificada para inovar. Beleza, eu quero inovar, mas eu não consigo contratar, eu não sei quem contratar, qual é a habilidade desse cara. E aí como bons empreendedores a gente decidiu que a gente ia resolver esse problema também e aí foi quando nasceu o Mastertech.
Luciano Quando você vai num, você entra num hotel e o cara bota aquele papelzinho na tua frente para você preencher, tem um lugar ali escrito profissão, o que você escreve lá?
Camila Eu, em geral, escrevo engenheira de software, porque acho que foi a minha primeira profissão e acho que hoje me representa bem, eu me sinto confortável de falar, até por uma questão de representatividade assim, hoje tem “muita pouca” (SIC) mulher fazendo tecnologia, a gente hoje se você for olhar o Cubo, que é onde a gente está, hoje tem três fundadoras mulheres de 53 startups, então eu meio que bato no pé de falar não, eu sou programadora, eu sou desenvolvedora, eu sou engenheira de software antes de ah eu sou dona de empresa, porque eu acho que a representatividade é maior, então eu ponho engenheira de software.
Luciano Você vem de onde, nasceu aonde?
Camila Eu nasci aqui em São Paulo.
Luciano Sampa mesmo? E aí você falou que você foi… quando você era criança, vamos lá, vamos começar lá atrás, você queria ser o que quando crescesse?
Camila Eu não lembro, eu tenho uma irmã gêmea que tem a mesma cara que eu, tipo imagina você crescer com um espelho, para muita gente isso pode ser assustador, mas para mim era maravilhoso, porque eu tinha uma irmã gêmea de humanas e eu sempre fui de exatas, então eu não sabia muito bem o que eu ia fazer, eu falava, eu acho que teve uma época que eu falava que queria ser médica, mas eu não tinha muito claro o que eu ia fazer da vida e aí no terceiro… no segundo colegial eu fui fazer uma eletiva lá que tinha mecatrônica, que soldava uns negócios, eu ia fazer só o que estava na minha cabeça virar realidade, é isso que eu quero fazer, então eu decidi, cedo, relativamente cedo, que eu queria trabalhar com computador e tal porque meu pai fazia isso, mas eu bati o pé mesmo lá no segundo colegial, eu acho.
Luciano Você encontrou o caminho, então e a tua irmã foi para que lado?
Camila Foi ser professora de português, maravilhosa, as duas foram para a educação, porque depois minha vida deu uma volta e eu sempre conto essa história, porque nós duas, a gente, meus pais, as duas tinham que fazer faculdade juntas, na mesma época, então pagar faculdade particular era um negócio meio… meu pai tinha calafrios só de pensar na hora que acabasse o colégio e ele tinha que pagar a faculdade e aí o plano familiar sempre foi vamos estudar para a gente passar numa universidade pública porque aí a gente vai mudar e a USP e tal, então eu cresci com essa ideia que eu tinha que estudar numa faculdade pública e aí a gente… o plano deu certo, a gente estudou quem umas malucar e as duas foram fazer universidade de São Paulo, chegou lá, maravilhoso, ela foi fazer Fefeleche e eu fui fazer IME, e aí não, vocês nada a ver, uma de humanas outra de exatas, que absurdo, vocês tem a mesma cara e nada a ver uma com a outra, a gente ficava até meio magoada puxa, a gente é parecida, porque vocês acham que é tão diferente? Até que a gente se encontroou numa matéria eletiva que chamava linguística computacional, que era a junção das duas coisas, no fundo, no fundo as duas foram para a linguagem, só que ela era o português e eu falava com as máquinas e quando caiu essa ficha para as duas, caraca, a gente faz a mesma coisa. Para a gente foi… acho que para as outras pessoas, gente, por que vocês estão tão felizes? A gente faz a mesma coisa, no fundo é tudo linguagem, “a gente ficou super animada”
Luciano Como é que é, sua irmã é diferente de você?
Camila De jeito é, mas…
Luciano Gênio, jeito.
Camila … não muito…
Luciano É assim, se você é elétrica, ela também é?
Camila … também é, eu acho que ela é pior do que eu até, ela é pior do que eu.
Luciano Interessante, toda vez que eu pego gêmeos eu gosto de perguntar porque tem caras que sentam aqui na minha frente e falam: meu irmão é o oposto total meu e os dois saem do mesmo teto, com a mesma formação, tudo igual e um vira um negócio e o outro vira outra coisa.
Camila Mas é muito louco, eu brinco com a Carol que eu queria muito escrever um livro sobre isso, porque a relação do gêmeo é muito maluca assim, é óbvio que não tem aquela palhaçada de falar ah, o que um sente o outro sente, não tem isso, pensa você viver com uma pessoa 24 horas desde a gestação, óbvio que você vai ficando parecido, certo? Então só que eu e a Carol a gente também foi para lá bem diferentes, na infância a gente não era tão parecida, eu acho que depois a gente foi ficando mais, eu sempre fui um pouco mais tímida do que ela, então ela é mais…. fala mais do que eu, sempre falou muito bem, ela se arrumava mais, ela estava sempre arrumada, sempre bonitona, então a gente é diferente, mas é muito parecida, quem olha de fora fala gente, não é possível, vocês são a mesma pessoa.
Luciano Eu quero uma hora pegar um psicólogo e fazer um programa para falar sobre gêmeos, deve ser uma coisa louca, deve ser muito louco. Mas vamos lá, aí você toma a sua decisão lá atrás de seguir por um caminho que ia te jogar num ambiente de ogros, o ambiente dos nerds, “os gordo” (SIC) de barba e bermuda e etc e tal, de repente uma moça no meio desse ambiente, esse é meu mundo? Como é que foi?
Camila Eu conto para todo mundo meu primeiro dia de aula porque foi literalmente onde virou minha chave, porque meu pai programava, em casa, programação era uma linguagem e é muito louco como eu só fui depois de velha ter clareza o que isso significou, a mudança que isso trouxe para mim…
Luciano O que sua mãe fazia?
Camila … minha mãe criou a gente, quando ela engravidou de gêmeos ela era secretária, professora e tal, engravidou de gêmeos e falou ah, vou cuidar delas, é um trampo filho da mãe, Nossa Senhora e aí ela cresceu com a gente e sempre conversando muito e tal, uma relação incrível e aí meu pai trabalhava com programação e eu acordava de manhã, de madrugada, a hora que fosse, porque trabalhar com tecnologia você trabalha 24 horas, 7 dias por semana e ele falava código pelo telefone e eu cresci com isso, para mim era uma língua alienígena. Eu estava indo fazer uma faculdade que envolvia falar coisas que as pessoas não entendiam e que isso era muito legal porque resolvia problemas, então eu fui estudar tecnologia por causa disso, prestei vestibular, não sabia muito bem a diferença porque ninguém explicou o que a engenharia da computação, análise de sistema, sistema de informação, ciência da computação, sei lá, eu pus porque eu ia bem em matemática, tinha que fazer POLI, eu pus as opções que tinham dentro da POLI, que tinham computação no meio, então era engenharia da computação e ciência da computação, eu falei ah, o que eu passar está bom, porque tem computação e aí eu passei e cheguei no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, no Departamento de Ciência da Computação, no dia 8 de março de 2010, que era dia da mulher. E eu cheguei lá, o professor estava dando uma aula de algoritmos que eu nem sabia o que era, eu não sabia o significado da palavra algoritmos, esse era o nível que eu cheguei na faculdade. Cheguei, sentei, olhei em volta, não entendi nada, escutei cinco minutos do que o professor estava falando, falei eita, não sei nada, e agora? Vou arrumar um caderno, eu cheguei atrasada, porque eu morava em Guarulhos na época, então era meio treta chegar na faculdade, cheguei atrasada, falei não, ele deve ter falado alguma coisa que eu não peguei, eu vou arrumar um caderno e foi aí que eu saquei o que tinha acontecido, eu olhei em volta e não tinha o caderno, porque eu falei ah, vou pegar de uma menina que a letrinha é melhor, não tinham, não tinham meninas na turma e foi aí que caiu minha ficha, ei fiquei sentadinha lá quieta no canto, vendo se alguém ia vim (SIC) falar comigo, ninguém veio falar comigo e aí eu fui embora do mesmo jeito que eu voltei e falei ferrou, e foi aí que nasceu o Mulheres na Computação, porque eu cheguei em casa aos prantos achando que eu era a única, pessoa azarada, uma em 49 homens, tipo a sala lotada e eu era a única menina…
Luciano Você era a única mulher dentro da sala.
Camila … aí…
Luciano Que ano foi isso?
Camila … 2010…
Luciano 7 anos atrás, você com 18 anos.
Camila … 18 anos…
Luciano 18 anos.
Camila … cheguei em casa desesperada, imagina, gente, não vai dar mãe, eu sei que a gente estudou, eu sai do terceiro e passei direto, então a família estava em polvorosa, nossa o plano deu certo, agora é só estudar, o mundo é de vocês e tal, eu também estava super feliz, eu tive que chegar em casa e falar não mãe, não vai dar…
Luciano E a sua irmã vem contar como é que foi o primeiro dia dela.
Camila … já letras, só tinha mulher maravilhoso, exatamente, e aí eu falei digitei no Google, mulheres na tecnologia, mulheres na computação, mulheres programando e não tinha nada, tinha só coisa em inglês, uns textos em inglês, uns artigos, algumas pesquisas de Berkeley, Harvard, algumas bem específicas e não tinha entrada em português e aí eu acho que eu tive a minha primeira atitude empreendedora, porque eu falei da próxima vez que uma menina entrar e digitar mulheres na computação, mulheres na tecnologia, ela vai encontrar alguma coisa e aí eu comecei um blog, com 18 anos, chamado Mulheres na Computação, brincadeira total, comecei a escrever o que eu via na faculdade e tal, e aí de repente, tipo quatro anos depois, a fita avança e você ganha um prêmio, é a única em língua portuguesa, América Latina, estudante de visão, monte de coisa aconteceu, eu recebi toneladas de e-mails, estou até hoje, de meninas agradecendo, você foi minha melhor amiga, você me dá seu endereço para eu pegar o convite de formatura? Porque eu não teria me formado sem você. O blog foi muito maluco porque nunca me deu um tostão, mas apresentou gente, eu viajei o Brasil inteiro dando palestra em centro acadêmico, mostrando que elas não podiam aceitar certas situações, então eu recebia relato de menina que falava que não tinha banheiro.
Luciano Você sabe que eu falo isso para todo mundo, todo mundo, eu sento para conversar com as pessoas e elas vem me perguntar, ah estou numa transformação de carreira, ah eu queria escrever um livro, ah lá no futuro eu quero fazer tal coisa, como é que eu começo? Eu falo, você já fez o seu blog? Como assim? Você já começou seu blog ou não? Mas eu não sei escrever. Não interessa, você já começou seu blog? Aí eu tenho eu explicar para a pessoa, quando você era criança você tinha um diário, que você escrevia no diário suas coisas? Pensa que você vai fazer igual num blog, não se preocupa se você vai escrever bem o português, não interessa, leve lá os insights que você tem ao longo do dia, então eu estava andando na rua, vi uma batida de automóvel, aquele carro caiu, aconteceu um negócio que eu fiquei impressionado, chega em casa e registra aquilo, põe no blog, ou então pega um negócio que você gosta, vou aprender a criar tomate, vou plantar tomate, vou fazer um blog sobre minha dificuldade para plantar tomate. Puxa mas eu não sou especialista em tomate, não importa, você é um especialista em aprender a lidar com tomate. Bota no blog, daqui um ano você vai tomar um susto, você vai olhar para trás, se você fizer um post por semana que é nada, você vai ter 52 posts colocados ali e de repente esses posts, você vai olhar e falar pô, tem uma ideia legal aqui, vou trabalhar um pouco mais essa ideia, quer dizer, use isso como uma ferramenta para você juntar o teu conhecimento e se você cair no caminho certo, acontece o que aconteceu com você, você abriu um horizonte gigantesco que você não tinha a menor ideia de que isso ia acontecer, começou como uma curtição lá atrás e hoje em dia você olha para trás e fala meu, olha o tamanho dessa coisa, que legal.
Camila Hoje a gente é a maior comunidade da América Latina de mulheres na tecnologia e começou despretensioso porque eu digitei no Google e me incomodei com o fato… cara, será que eu sou a única? E aí comecei a pesquisar e tinha coisas, então um dos fatos que mais me incomodava era o início da tecnologia foi feito só por mulheres, por uma questão de física, não para o homem estar na guerra lutando e estudando e produzindo ciência.
Luciano Tem um filma agra lá, que foi no Oscar agora, com as três moças na NASA.
Camila Exatamente, quando eu descobri isso, meu mundo abriu, eu falei gente como não ensina isso na escola, eu vou fazer. Minha missão para a humanidade vai ser contar a história dessas mulheres. Então comecei a criar um monte de coluna e eu brincava, porque o nome no blog era no plural, para mulheres na computação, então a galera escrevia, ah a gente tem alguns convites aqui, vocês não querem vir, as editoras do mulheres na computação? Eu, ah claro, vou ver a agenda delas se elas podem ir, e era só eu, era uma menina de 18, 19 anos, então foi uma jornada muito louca.
Luciano O blog continua?
Camila Continua até hoje.
Luciano Ainda é blog, é em formato de blog, tudo certinho?
Camila Sim…
Luciano Mas ele cresceu e virou o quê?
Camila … cresceu, hoje a gente é uma comunidade, porque uma das dificuldades depois que a gente gerou bastante conteúdo, as meninas não tinham espaço. Eu sempre conto a história da Soraya, que é uma menina que eu admiro super e ela hoje escreve para o blog, eu cheguei em Natal para dar uma palestra para 700 pessoas e ela estava me esperando na porta com poeminha escrito com código, era um poema que ela escrevia, com código e ela falou assim Camila, ó eu fiz isso aqui para você, você podia ler? Eu li, achei o máximo, ela falou sabe o que eles falam para mim? Que eu estou destruindo código, que eu não podia fazer isso, eu falei não. Aí caiu minha ficha, não era só eu que estava querendo falar, não era só eu que tinha uma monte de coisa engasgada, tinha um monte gente que tinha um monte de coisa engasgada e aí hoje a gente é uma comunidade, então tem mais gente escrevendo e a gente faz bastante palestra, faz bastante curso, dá palestra em universidades que querem aumentar a porcentagem ou tornar o ambiente mais atrativo, palestra em empresas que a gente escancara, a gente brinca que parte da solução na nossa mentalidade é escancarar essa discussão, porque as pessoas não perceberam, muitas ainda não perceberam que é um problema, tipo ah não, está tudo bem, está todo mundo programando aqui, qual que é o problema de não ter mulher? Então a gente hoje da palestra tal, tem uma comunidade no entorno disso.
Luciano Você encaixa esse teu trabalho em algum tijolinho dessa luta feminista, dessa questão feminista, alguma coisa assim, encaixa de alguma forma lá ou essa preocupação não está na tua cabeça?
Camila Encaixa sim. Por muito tempo eu tive um pouco de medo assim, principalmente porque a gente chegava em grandes empresas de tecnologia e se você… e eu já fui bem menos política do que eu sou hoje, então eu chegava com o pé na porta mesmo, louca e falava e eu percebi que essa não era a melhor estratégia do mundo, que se eu fizesse palhaçada então eu tenho “trocentas” mil piadas e aí as pessoas começaram a refletir, eu consegui escancarar e ter um contato muito melhor do que se eu chegasse com mil teorias, mas na época do blog eu li… de teoria feminista até teoria da computação, matemática, tudo o que passava na minha frente, eu tentava explicar porque na minha cabeça não fazia sentido o que tinha acontecido para 40 anos atrás, 70% de mulheres e hoje ser 3.7%, na minha cabeça essa conta não fechava. Gente eu tenho muito mais liberdade do que a minha avó tinha de escolher a minha trajetória e hoje eu sou 3,7%, será que só eu quis fazer computação ou tem alguma coisa acontecendo aqui no meio do caminho? Então eu li de tudo, então eu consigo enxergar e hoje, depois de ter estudado muito, eu não tenho medo nenhum de falar que a Camila é feminista, o blog não necessariamente luta pelo feminismo, mas por diversidade de possibilidades, eu espero um dia e esse é o meu objetivo de vida, poder matar o blog, falar que é um blog de tecnologia, eu estou… acho que vai ser o dia mais feliz da minha vida quando eu falar gente, Mulheres na Computação acabou porque eu não preciso mais falar disso porque eu falo em tecnologia e as pessoas tem igual possibilidades de absorver esse conteúdo porque a gente quebrou estereótipo, porque a gente não está mais tendo todos esses problemas que a gente ainda vê hoje dentro das empresas, enfim…
Luciano Outro dia eu estava numa discussão dessa aí, esse tema já me cansa, eu não tenho mais saco para discutir porque virou bandeira, mas eu estava numa discussão dessa e os caras vieram mas e você, como é que é? A minha vida inteira eu contratei mulher direto, minhas equipes sempre foram com muito mais mulher do que homem, não é por preferência, nada. O que você contrata? Eu falo se eu trabalhasse e fosse gerente no porto de Santos e tivesse que carregar saco de cimento para botar no navio, eu contrataria só homem, eu teria um monte de homem para fazer esse trabalho aí porque não tem cabimento botar mulher para carregar saco, embora se tenha provado que dá, eu digo não dá e não é assim que se faz, o homem serve para carregar saco nas costas, como eu não trabalho lá, eu trabalho com criação de conteúdo etc e tal, quando eu tenho que contratar eu contrato o cérebro, ele chega na minha frente, para mim não interessa o que tem em volta dele, esse cérebro é legal? Ele é analítico? Ele pensa? Ele tem ideia? Ele pinta e borda? Então se vem uma mulher ou se vem um homem, não tenho o menor interesse nisso, eu quero esse cérebro, então essa discussão já terminou, mas é interessante como ela toma um espaço aí e como você, você começou lá atrás sem ter essa consciência e de repente você descobre e fala eu estou abrindo o caminho aqui, tem uma bandeira legal que eu posso levar adiante aqui.
Camila Porque é muito louco, tecnologia é uma área que a gente… você distanciar as meninas e literalmente existe um distanciamento. A menina, você chega para conversar com uma menina de 7 anos e a gente fez isso infinitas mil vezes e um monte de curso e você pede para ela descrever um profissional de tecnologia, ela descreve o profissional que você falou, o ogro, o nerd antissocial que odeia conversar, que trabalha, dorme e come tudo em cima de um computador, uma tela preta com letrinha verde, nossa eu nunca vou fazer tecnologia, isso distancia ela de oportunidades de assim, são em qualquer carreira, porque hoje em dia a tecnologia é tudo e mudou muito, mas a gente ainda carrega os estereótipos do Matrix, do nerd e aí eu estou distanciando as meninas de um potencial poder econômico do futuro, porque ela está distanciando a possibilidade, ela nem cogita a possibilidade de fazer isso…
Luciano Ela não se vê nesse ambiente.
Camila … exatamente.
Luciano Por que que tem esse modelo?
Camila Porque ele de fato existiu, Luciano, não dá para a gente tapar o sol com a peneira, o que aconteceu? Até os anos 80, a gente tinha uma equiparação, porque o computador estava dentro da academia, ele era um recurso, um meio, ele não era o objetivo final, ninguém fazia um curso de computação, o cara fazia física, matemática e aí ele, para ser mais ágil, ele usava computador, o cara fazia biologia e para mapear ele começou a estudar computador, não era uma área fim, era uma área meio. Só que aí a Apple lançou o computador como ferramenta doméstica e passou uma pinturinha nele, deixou ele colorido, começou a fazer um monte de propaganda falando que ele não, se o seu filho quer ser astronauta, ele precisa de um computador e aí a gente criou esse estereótipo do menino que quer ser astronauta, que vai ser presidente e criou-se o computador doméstico e aí a Apple tem bastante culpa, você digita no Youtube até hoje, tem um monte de comercial e todos envolvem o menino, brinquedo do menino, porque a menina brincava de cozinha, enfim, e aí a gente criou uma geração inteira que sonhava em trabalhar com computador, era tipo trabalhar com vídeo game, hoje ser youtuber, a galera sonhava, pô, é maior legal ficar no computador, eu quero trabalhar com isso e aí a gente tornou isso uma atividade fim, então mainframe, IBM, foi bem nessa época e aí a gente criou esse estereótipo do nerdão bem arraigado…
Luciano E o cinema ajuda de montão, o cinema é que trouxe o modelo, não é?
Camila … marketing maravilhoso, a Apple tipo ferrou geral, porque todas as propagandas é o menininho que judia da menina que não sabe, a menina não consegue lidar com aquela máquina que é muito grosseira para ela e tal e a menina é frágil e aí a gente cresceu muito. Fora que tem um livro que chama “O Sexo mais Rico”, da Liza Mundy que ela fala muito sobre a decisão de profissão da mulher e do homem. A mulher toma decisões de futuro baseada no inconsciente da sociedade que é: você precisa ter tempo, você não pode ir para uma carreira tão competitiva, você precisa cuidar do próximo, você foi educada para cuidar, para ser fofinha, então ela toma decisão baseada em talento, então ah vou ser psicóloga, vou ser historiadora, carreiras não necessariamente uma decisão financeira, já o homem, como ele é criado para ser arrimo de família, ele toma decisões financeiras, eu vou fazer advocacia porque dá mais dinheiro, ah eu aprendo, depois eu vejo o que eu vou fazer e computação começa a dar muito dinheiro, anos 2000 no boom, todo mundo queria fazer computação, todo mundo queria ir para essa área, então os meninos foram para essa área e aí arraigou super, anos 80, 90, era o estereótipo, do estereótipo do estereótipo, só que agora mudou tudo, hoje eu tenho uma evolução muito rápida, onde tudo depende de tecnologia, onde programar um site é totalmente diferente de cartão perfurado, que era o que a gente fazia antes e a gente não mudou o estereótipo ainda, a gente ainda consome…
Luciano É a mudança cultural é sempre… ela…
Camila … ela é mais lenta.
Luciano … e se tiver uma guerra no meio do caminho, então sai da frente, porque aí a tecnologia vai avançar 50 anos e a cabeça fica para trás, não é? Mas legal, então você vai estudar, conseguiu se adaptar àquele meio estranho que você estava lá, você continua o curso inteiro sendo a única moça da sala de aula?
Camila Depois eu descobri que tinham outras meninas, a gente entrou em três meninas, uma foi fazer intercâmbio na Alemanha e atrasou o curso e a outra foi para FAIR… e aí eu terminei o curso então em 2014, você pega lá o folhetinho sabe, que você ganha quando você se forma, tem os nomes e eu sou 3.7% porque se formaram 30 pessoas no ano e eu era a única menina da turma.
Luciano Você era a única menina. E aí você tem nas suas mãos um diploma de?
Camila Ciência da Computação.
Luciano Ciência da Computação, muito bem. Pai, está aqui o diploma, o que que eu vou fazer da minha vida?
Camila Então, fazer computação é bom porque as pessoas vêm atrás de você. Eu fiz a graduação inteira achando que eu ia trabalhar na NASA, o meu sonho era trabalhar na NASA e eu fiz a graduação inteira, acelerei o mestrado, comi um monte de matéria durante a graduação ainda porque eu li em algum lugar que precisava ter mestrado e por ser a única menina, eu tinha uma necessidade muito grande de provar que eu estava ali porque eu merecia, então eu sempre… eu queria tirar as melhores notas, eu queria me formar no período ideal, eu queria fazer todo certo para ninguém, não dar brecha nenhuma, sabe?
Luciano E fez.
Camila E fiz. Tanto que fiz que quando… estava tudo certo, eu vou fazer mestrado, em um ano, depois que eu terminar a faculdade eu vou aplicar e vou trabalhar na NASA e está tudo bem, o plano era esse e aí tocou meu telefone e era um recrutador do Google convidando, que eu tinha sido, como eu era uma das top3 da faculdade, se formando no período ideal com uma média boa, Camila, você não quer fazer um processo seletivo para vir fazer um estágio aqui na Califórnia? Eu falei não, não, não vou passar…
Luciano Ah, foi da Google lá.
Camila … da Califórnia…
Luciano Eu estou achando que é a Google daqui, foi a de lá.
Camila … é e aí ele falou assim… eu falei não, não vou passar, ele falou então eu vou pedir demissão, porque se você não passar, o Google está ferrado e isso tem um monte de coisa que a gente consegue discutir, porque na minha cabeça a sociedade inteira falava Camila, você é muito boa, mas eu não aceitava esse fato assim, foi muito difícil para mim conseguir digerir tudo isso, e aí beleza, está bom, vou fazer a prova, fiz as três, quatro entrevistas lá, que é uma “doidera” e eu acabei a faculdade, fiz a última prova no dia 4 de dezembro, dia 6 de dezembro eu estava entrando num avião para ir morar na Califórnia, com mais uma galera. Então a gente foi para uma repartição lá que tocava o CS Academy, que era justamente entender como que eles podiam melhorar o gap entre o cara que sai da faculdade e o cara começar a render frutos e aí caiu minha ficha que eu queria fazer. Então eu fiquei três meses lá, falei então, preciso voltar para o Brasil, não vai dar para ficar aqui não. O Vale do Silício mexe com a cabeça de qualquer um, é muito louco, só que a minha sensação é que lá estava tudo certo, eu sentava tipo a pior escola que você ia lá, era dez vezes melhor do que a que eu tinha estudado aqui no Brasil e a galera pedia desculpas, ah o computador é muito velho, putz será que vai dar? Galera, esse computador é o mais novo que acabou de chegar na escola, vocês são malucos, vocês podem ser o que vocês quiserem, os problemas já estão resolvidos aqui, eu vou embora. Ai eu decidi que eu ia voltar para o Brasil e queria trabalhar com educação em alguma instância, só que aí você volta para o Brasil, eu precisava pagar as contas e tal, fiquei desenvolvendo para uma ONG americana, meio no contra turno…
Luciano Você voltou para cá sem emprego, sem nada?
Camila … sem plano B…
Luciano Terminou seu período lá, é isso? Você chegou no final?
Camila … é, porque você vai com um visto de estudante e aí eu ainda tive um monte de problema com a imigração porque eu fui como estudante, só que quando eu voltei, eu já estava formada e aí quando eu fui passar na imigração de novo, eles me deram waver, sim, o caos, mas terminei o período que o Google tinha assinado comigo, que é o período de três meses e aí na hora do vamos ver, meu chefe e aí, quais são os planos? O que você vai fazer? Você vai ficar? Eu falei não consigo ficar, eu queria um tempo aqui no Vale porque eu acho que isso aqui é importante, eu queria pensar o que eu vou fazer, mas não é aqui o meu lugar…
Luciano Se quisesse ficar você teria ficado?
Camila … acredito que sim, Luciano, na minha cabeça não fazia sentido eu ficar lá, porque a minha sensação, e foi lá que caiu a minha ficha, que eu tinha uma arma muito grande, saber de tecnologia é meio e é muito maluco o que eu vou falar, mas a gente voltou para uma era dos escribas sabe, onde tem uma parcela da sociedade que sabe se comunicar com as máquinas e tirar vantagem delas, enquanto a outra só consome e é massa de manobra e eu lá, quando eu vi tudo aquilo, eu vi o Google 6 mil engenheiros, é uma cidade e eu andava de bicicleta e o carro era elétrico, tudo diferente, eu falei preciso voltar para o Brasil eu tenho uma arma muito grande na mão, eu não posso aceitar ficar aqui, ganhar os meus dólares, que aliás era um salário bom, mas a minha cabeça não fazia sentido, eu não ia conseguir conviver com a situação sabe, eu aqui tudo bem e minha família se lascando aqui, por exemplo, e o Brasil sem resolver os problemas…
Luciano Você tinha 23 anos.
Camila … tinha 21…
Luciano Você tinha 21 anos, nós estamos falando de 2014, é isso?
Camila … isso…
Luciano Com 21 anos. Com 21 anos é legal, dá para errar à vontade, você pode errar de montão, dá para quebrar a cara, se não der certo eu volto para cá, mas aí você define, então, vou voltar para o Brasil e chega aqui sem nada, só com teu diploma, teu estágio lá e aí?
Camila …não, eu consegui, quando eu saí eu falei assim, eu preciso ficar aqui um tempo e aí eu falei, preciso arrumar um emprego, eu vou ver se rola e aí surgiu uma oportunidade de eu trabalhar remoto para uma ONG americana como desenvolvedora, ganhava em dólar e trabalhava a hora que eu quisesse, no contra turno…
Luciano Na tua casa.
Camila … era ótimo, porque eram 7 horas de diferença, então eu trabalhava de madrugada e podia fazer, entre aspas, o que eu queria aqui no Brasil, e foi uma fase ótima, porque ganhava em dólar e estava bombando a área que eu queria que era ensino de tecnologia. Eu decidi voltar para o mestrado, então eu mudei de tema, não queria mais NASA, então mudei, eu fazia pesquisa com verificação formal de softwares embarcados de missão crítica, assim um negócio super específico para a NASA, tipo na minha cabeça eu vou para a NASA, aí e era um negócio super específico, e ai cheguei para a minha orientadora e falei e então, professora, eu quero voltar para o mestrado, eu acho que a academia tem uma posição importante dentro da transformação da evolução…
Luciano Isso aqui no Brasil?
Camila … aqui no Brasil…
Luciano Você voltou para a USP?
Camila … na USP, isso e aí eu falei professora, eu preciso mudar, e ela falou beleza, ótimo, olha que legal, você descobriu uma coisa que você não quer fazer dentre 1 milhão de oportunidades e ai fui pega de surpresa, tipo como assim professora, você não vai me matar? Você não vai falar que falta só um ano para eu tirar… ter um título de mestre com 22, você é louca? E ela falou não, não adianta, eu não quero que você faça isso só pelo papel, fala aí qual que é seu tema, tanto que eu demorei 3 anos e meio, vou defender agora, porque a gente mudou tudo. E aí eu falei, eu preciso trabalhar com educação, preciso dar um jeito de trabalhar com educação e aí foi quando eu conheci meu sócio, o Felipe, no contra turno, eu fui fazer um projeto chamado Maratona de Aplicativos, então eu fui trabalhar na FIAP e conheci o meu sócio, ele já trabalhava lá e aí eu vim com contato, com a porta aberta com o Google, conhecia uma galera, porque não foi nenhuma briga assim, foi bem tranquilo a saída, voltei conhecendo a galera e falei gente, tem um projeto aqui, a gente quer ensinar o ensino médio do Brasil a programar e a galera, como vocês vão fazer isso? E aí eles compraram a ideia, a gente começou a fazer a Maratona de Aplicativos…
Luciano Isso surgiu do papo com o teu sócio, vocês sentam para conversar, que te aflige, o que me aflige, o que a gente podia fazer?
Camila … eu nem lembro muito bem, porque foi assim, eu cheguei… quando eu voltei para o Brasil eu saí na capa da Info, lembra da Info Exame?
Luciano Lembro.
Camila Que acabou agora, enquanto eu estava lá, uma menina me fez uma entrevista falando sobre que ia ter uma edição especial em março sobre mulheres, então ah ta bom, entrou pelo blog, falei vamos lá e a gente fez tipo duas horas de reunião, acabei ficando amiga até da jornalista e aí do nada chega um e-mail, vou mandar um fotógrafo aí porque eu quero tirar uma foto sua, era o meu último dia de Google, eu tinha tipo acabado de decidir que eu ia embora e estava feliz da vida e ele tipo, preciso tirar uma foto sua, está bom. Então assim, abri um sorriso, ele não, eu preciso que você esteja séria, é da Info, e eu era uma menina…
Luciano Na frente do logo da Google.
Camila … no meio do escritório, ele levantou, era um iraniano, eu lembro até hoje e ele tipo, fica até… um inglês bem polêmico assim, eu falei não, eu estou feliz, eu tomei uma decisão grande, eu estou animada, por quê? Ele falou não, ele não explicou o que era, nada, tirou uma foto, no mais sério que dá, mas nem estou muito séria e aí virou capa da revista e eu não sabia que ia ser capa, quando eu cheguei, eu estava no Brasil, nem lembro, um amigo falou que palhaçada é essa que você está na capa da Info? Eu falei não sei, manda uma foto, e aí tinha uma foto, foi uma capa super polêmica assim, porque era uma capa preta e falava sobre a invisibilidade das mulheres na tecnologia, embaixo estava escrito, tecnologia também é coisa de mulher e uma foto colorida, tipo páginas de reportagem e aí foi muito louco, eu acho que foi o grande marco na discussão de mulheres na tecnologia, diversidade da indústria aqui no Brasil assim, precisava de uma capa dessa para a galera começar a refletir, sabe? E aí um monte de porta abriu, um monte de oportunidade e aí o presidente da FIAP na época, me chamou pra conversar, falou não sei o que você vai fazer aqui não, mas eu queria que você sentasse do lado daquele menino e eu queria que vocês trabalhassem com vídeo, com curso, sei lá o que você vai fazer aqui. Você não quer? Falei pô, é uma boa proposta de emprego. E aí sentei do lado dele, no segundo dia a gente já estava gravando vídeo, a gente já estava com mil ideias, tanto que depois a gente percebeu que era um pouco maior do que isso e a gente saiu para abrir o nosso, então eu nem lembro muito bem como que nasceu, viu Luciano, o Fê já tinha a ideia da maratona que era um dia de curso, onde ele ensinava, juntava 30 alunos num dia de formação e eu voltei com aquela cabeça do Vale que tudo tem que escalar, tudo tem que ser para um milhão de pessoas, tudo tem que valer, eu falei não, isso aqui é muito legal, vamos fazer isso para o Brasil inteiro e aí a gente começou e até hoje a gente é assim.
Luciano Volta lá naquela entrevista, naquele lance do fotógrafo lá, você já parou para pensar como é que você lida com imaginar essa questão da sorte, como é que é a fortuna, a fortune, como é que é esse negócio da sorte, que sorte não? Essa menina ter contatado, que sorte você ser uma menina no Google, que sorte a jornalista te achar, que sorte o fotógrafo, que sorte a capa da revista, você já parou para pensar nisso?
Camila Postei hoje no Instagram, porque eu cheguei às 10 para as 7 da manhã no escritório e estava só a galera lavando o escritório e eu chegando no escritório e aí eu ainda postei, falei assim, é, a galera fala que é sorte, porque a gente escuta muito isso e eu sempre escutei muito isso, ah Camila mas você sempre deu sorte, as coisas sempre vieram fáceis para você. Falei é, a galera vê as pingas que a gente toma e não vê os tombos que a gente leva e para mim sorte sempre foi isso, é aliar… óbvio que você estar no lugar certo, na hora certa e você se colocar lá, catalisa um monte de processo, eu estava preparada, a hora que eu cheguei no estágio que foram ver quem que poderia ocupar essa vaga, quem poderia vir para cá do Brasil e aí eles chegaram em mim, eu me coloquei naquele lugar, eu estudei 4 anos que nem uma louca, maluca, óbvio que a oportunidade aliada à capacidade, então para mim eu não acredito muito nesse lance de sorte assim, das coisas caírem do céu, olhando de fora, as redes sociais, que foi uma coisa que as redes sociais fizeram, a galera vê meu Instagram, ah porque a Camila ganha prêmio fora, porque a Camila não sei quê, a empresa da Camila, ah saiu na Forbes, olha que sorte. Ninguém vê que a gente trabalha 24 horas por dia, então…
Luciano Para criar essa exposição toda. Eu estava discutindo isso, umas semanas atrás, com a minha filha, falando para ela, a gente estava lendo sobre o filme que está passando aí, “A Bela e a Fera”, que a Disney vai lá e resolve fazer o filme, quer fazer um filme totalmente novo, vem o cara, o diretor, convence a Disney de que o filme tinha que ser o desenho animado reproduzido live, e vai procurar uma princesa e encontra a menina que fez o….
Camila A Ema Watson.
Luciano … a Ema Watson e traz a Ema Watson, ela vai, faz, foi muito bem no papel está lá, ganhou milhões com a participação que ela tem ali e eu falando para a minha filha, olha a sorte que essa menina tem, qual é a sorte dela? É ter a idade certa, na hora certa. Ela explodiu e na hora que os caras precisavam de uma menina com aquele shape que ela tem, com a idade que ela tinha, tinha a Ema lá prontinha para buscar, então essa questão, aí você consegue ver o negócio de sorte, pô eu tinha idade certa, estava no lugar certo, na hora certa, só que para chegar ali a Ema não chegou do nada.
Camila Não, a Ema trabalha desde pequenininha e rala.
Luciano Tem um talento etc e tal, mas é legal você lidar com essas duas coisas aí e ver essa coisa da sorte. Bom, vamos lá, aí vocês começam a conversar e resolvem que vão agitar, botaram na mão de vocês as ferramentas e vamos começar a fazer, e aí, como é que vem essa ideia de criar um próprio negócio. Deixa eu elaborar um pouco melhor essa pergunta: você podia ter botado na tua cabeça que você fazia uma belíssima carreira dentro de uma baita empresa e ia se transformar na diretora, numa big executivo, com um baita salário, ganhando um bom dinheiro, ia pela vida desse jeito aí. E aí pinta essa ideia de ser um empreendedor, seu pai era um empreendedor?
Camila Não.
Luciano Ele não era, quer dizer, esse vírus do empreendimento não estava na tua família, não estava impregnado em você. E aí, como é que pinta essa história, sabe, é contra mão, você conversar com a garotada hoje no Brasil, a maioria absoluta ainda está naquela coisinha de vou arrumar um emprego público em algum lugar, vou fazer o concurso e vou arrumar um emprego que eu estou garantido para o resto da vida e aí vou cuidar da minha vida e você fala não, espera, meu esquema é outro, eu vou fazer a loucura suprema desses tempos que é ser empreendedor no Brasil, não deve haver nada mais louco do que isso, ser empreendedor no Brasil, de onde vem isso? Como é que pinta?
Camila E é muito louco porque a nossa geração, eu cresci escutando, ai filha, presta um concurso público que é uma beleza, você é tão inteligente, fez um concurso público e de fato oi uma decisão, eu não sei se chegou a ser uma decisão e eu acho que a gente acaba virando empreendedor porque não é uma decisão, é um negócio que você é, então chegava um problema para mim, eu não conseguia simplesmente pegar esse problema e dormir com ele, tipo cara, o que eu faria? Eu acho que isso vem desde pequena mas eu não identifiquei, porque na minha época não tinha empreendedorismo no colégio, hoje eu acho que a gente tem explorado um pouco mais isso nas crianças…
Luciano É hippie, virou hippie, empreendedorismo é hippie.
Camila … sim, então acho que é meio resolver problema, para mim, empreendedor é o cara que resolve os problemas que não estão sendo resolvidos, então eu sempre tive isso próximo de mim, tanto que antes de ser empreendedora a galera já falava que eu era empreendedora, porque durante a faculdade, você paga faculdade… você não paga faculdade pública mas você também não ganha nada, você não pode trabalhar porque é integral, então você faz freela, a gente que programava era muito fácil arrumar freela, porque todo mundo acha, a menina é da USP, pode fazer, era uma beleza, então aprendi todas as pancadas que eu podia tomar, morando na casa dos meus pais, com tickets baixos e projetos pequenos, então foi ótimo, minha fase de freela foi maravilhosa e desde essa época eu comecei a tomar contato porque eu não conseguia ficar só no técnico, eu via a pessoa falando eu falava não, vamos nos encontrar, vamos fazer um canvas? Você já ouviu falar de linha startup? Você percebeu que você tem um produto… você sabe o que você está fazendo? Você não sabe? Eu não conseguia ficar só na parte técnica ali tipo ó, senta quieta, ô programa isso aí e cala a boca, nunca foi do meu feitio. Então acho que eu já nasci meio parecida com isso e aí eu tomei várias porradas antes de estar com meu próprio dinheiro, então antes disso a galera já falava, ai Camila, você é empreendedora e eu tipo o que isso significa? Eu fui ter o meu primeiro CNPJ há dois anos e a galera há muito tempo já falava, a Camila é empreendedora, Camila vem dar palestra de empreendedorismo? Mal sabia eu que empreender com o próprio dinheiro é a coisa mais maluca e é uma gangorra emocional todos os dias e eu lembro até hoje a primeira vez que eu contratei uma pessoa, eu falei agora não sou só eu que tenho vinte e poucos anos, que se precisar volto para a casa dos meus pais, agora eu estou contratando uma pessoa que tem filho, como que eu vou demitir? E seu não tiver dinheiro para pagar? Eu chorei uma noite inteira e o Harley sabe disso, que foi nosso primeiro funcionário, ele tinha dois filhos, a esposa e a gente tirou ele de uma empresa super estruturada, CLT, para pagar TJ e ele falou não, beleza, estou com vocês, eu vou com vocês e eu tipo meu Deus, chorei uma noite inteira, porque aí agora não era só mais eu e hoje tem 30, toda vez que eu saio, que eu fecho, eu olho a galera e falo mano, eu estou largando o escritório com 30 “nego” e quem paga o salário e quem tem que acordar todo dia, você não tem mais um monte de luxo, é muito maluco.
Luciano Você atropelou uma pergunta minha que eu ia fazer agora que eu sempre faço, que era aquela que é a seguinte: muito bem, você vem tocando a tua vida, pinta e borda, onde bateu o vento eu vou, deixa comigo lá, até que um belo dia você se vê diante dessa situação, fala agora tem um cara adulto, com família, que depende de mim. Ninguém te ensinou a ser líder, você não teve aula nenhuma de liderança e etc e tal e de repente você está com teus números agitando lá e você tem que parar aquilo que é a tua arte para atender uma demanda de um cara que está na tua sala porque não tem dinheiro para pagar o tratamento dentário da filha mais nova dele. Com vinte e?
Camila Dois na época.
Luciano 22. Como é que faz quando você se vê diante de uma bomba dessa, que é aquela história, nenhuma escola me preparou para isso, não é? Ninguém meu deu aula disso, eu não vi meu pai fazendo isso para poder falar vou fazer o que meu pai fez. Como é que é? Onde você foi buscar o insight para isso?
Camila É muito louco. E sendo mulher, e aí eu vou voltar nesse assunto porque eu não tinha nem referência de pessoas parecidas comigo fazendo aquilo assim, hoje a gente tem a Paula Belizia que é uma super… presidente da Microsoft aqui no Brasil, super inspirações, mas eu não tinha essa referência assim, você olhava para o lado e não tinha ninguém fazendo aquilo e de um jeito que é diferente, não adianta eu querer passar por cima de tudo que eu fui criada, então eu brinco até hoje, tipo a Camila é líder que manda no e-mail, 1000 beijos. Se você reparar todos os meus e-mails, eu continuo mandando 1000 beijos porque isso faz parte do que eu acredito, quando eu mando abraços se esconde, porque eu estou brava e muita gente, tipo Camila você é louca, você mandou para o presidente do Itaú 1000 beijos, você é louca. Mas é o jeito que você… o jeito que eu entendi que eu ia ser líder, era sendo genuína, vou tratar do mesmo jeito que eu trato a minha vida pessoal, os meus problemas e eu vou dar tanta empatia quanto eu tenho comigo mesmo, então se eu tiver que assinar 1000 beijos, eu vou assinar 1000 beijos, se eu tiver que colocar carinha feliz, eu vou colocar carinha feliz e dane-se, ninguém vai mandar eu … sei lá, seguir um by the book, então na real, a minha resposta é não sei e eu demorei muito tempo e eu acho que o que me faz, entre aspas, uma líder hoje, é ter a tranquilidade máxima de falar eu não sei, vamos descobrir junto? O que a gente pode fazer? Hoje a com a minha statup eu não tenho fluxo de caixa, eu não posso pagar o tratamento inteiro da sua filha, mas o que você acha de a gente adiantar e aí você vai me pagando aos poucos… Atende. Eu acho que para o meu jeito de liderança é ter tranquilidade para falar que eu não sei fazer aquilo, eu nunca estive ali.
Luciano Que idade tem o teu sócio?
Camila 26.
Luciano Está ali.
Camila Está ali, é.
Luciano E vocês olharam para o outro, que puta fria que a gente se enfiou.
Camila Todo dia, é uma gangorra, vira e mexe a galera liga para fazer entrevista: Camila, você podia falar um pouco de empreendedorismo? Eu: olha, putzgrila, ninguém me avisou que era assim, é uma gangorra desgraçada, é uma montanha russa, não sei quê e aí depois você percebe que não e aí é de novo e aí não é e aí é bom e aí você sai na revista e aí você dá entrevista e todo mundo acha que é sorte, aí você trabalha e você tem que demitir, você tem que contratar. É muito maluco empreender no Brasil assim, empreender já é maluco, porque é uma gangorra emocional e depende muito de você, das suas decisões, no Brasil então, é uma doidera. Eu brinco, eu e o Fê a gente tem uma relação muito legal, todo mundo fala que sócio é ai, é horroroso, assim eu não acho que eu estaria onde eu estou sem o Felipe e vice-versa, a gente tem uma relação muito transparente, muito legal, que a gente fala na cara e todo mundo fala, a gente brinca que não tem melindre, a galera que olha tipo a gente tem uma relação meio de irmão de gritar um com o outro e xingar, falar cala a boca, não sei quê, e a gente se acerta do nosso jeito e todo dia a gente olha um para o outro e fala puta, a gente podia estar ganhando os nossos dólares, o Fê trabalhou no Microsoft, trabalhou na HP, podia ter feito carreira e a gente decidiu que não, a gente vai mudar o país sabe, então a gente se olha todo dia e fala puta, que cagada, “né”?
Luciano Você encontrou um propósito, a hora que você bota o propósito na frente sai, não há mais lógico, propósito e fé é a mesma coisa…
Camila É isso.
Luciano … meu raciocínio é na base da fé, eu tenho fé e não vem querer discutir comigo logicamente porque ela não sobrevive…
Camila Logicamente ela não vai, não sobrevive.
Luciano Mas você está falando um negócio interessante que eu estou lembrando do meu dia a dia, eu fui empreendedor bastante jovem também, saí da escola, montei minha própria empresa, quebrei a cara, etc e tal, arrumei emprego numa band e fiquei 26 anos como executivo numa multinacional, terno e gravata, etc e tal, ali aprendi de montão e saí com 52 anos para montar meu próprio negócio, voltei a ser empreendedor, nesse período maluco do Brasil aqui e a gente vê que o dia inteiro é essa loucura, essa gangorra sobe e desce e de repente vem alguém me visitar e eu me pego explicando para a pessoa as coisas que eu estou fazendo e eu olho a cara da pessoa, o olho dela esta brilhando e quando eu termino de explicar eu falo meu… outro dia um altíssimo executivo, que o cara era chairman de uma baita multinacional ai grandona, me liga, queria almoçar com você, vamos almoçar, falei o que é? Ele falou aqui com 66, 67 anos, é o seguinte, chegou no meu ponto, já passei do ponto, eu já vou me aposentar já vou sair da empresa e tudo mais, vou parar e vou seguir meu próprio caminho e você para mim é um modelo, porque você foi um cara que fez isso, saiu da empresa e você funcionou, deu certo, eu queria que você me desse uns insights, como é que eu vou fazer agora que eu vou parar, para que lado eu vou? E aí caiu na tua cabeça uma enxurrada, porque você fala: mas eu sou só um bosta, essa merdinha de negócio que eu faço aqui e de repente as pessoas estão olhando para cá…
Camila Como referência.
Luciano … me vendo explicar e falei meu, quanta coisa você está fazendo e você olha para aquilo e fala mas não é tanto assim…
Camila Não é tanto.
Luciano … não é tudo isso, não sou tão bom assim, mas é totalmente diferente, você não consegue ver o jogo, você está dentro do campo e não consegue ver o jogo, então recentemente eu até passei por um negócio interessante, vou apertar esse botão bastante com você aqui porque acho que tem uns insights muito legais aí. Eu fui contratado para fazer um evento do Bradesco, um evento gigantesco do Bradesco, para você ter uma ideia é um evento que eles reúnem as gerências deles, eles trazem 14 mil pessoas para São Paulo, alugam o maior lugar de São Paulo, o Transamérica inteirinho, montam plenária, a plenária que estava lá era para 3 mil pessoas e o evento era o seguinte: durante cinco rodadas, toda noite, tinha lá a cada duas noites 3 mil pessoas ali dentro e uma apresentação com quatro palestrantes fazendo palestras de 20 minutos e os caras me ligam e me querem contratar como cartunista, a minha raiz é essa, eu sou cartunista, tenho cartoon como meu negócio, mas eu não ganho dinheiro com isso, eu não faço cartoon, faço, faço para mim, faço, me divirto fazendo, é uma delícia e de repente eles vêm com uma demanda, a gente vai fazer, a gente queria que você sentasse lá, enquanto o cara faz a palestra você faz o cartoon igual o Paulo Caruso faz lá no Roda Viva. Eu olhei e falei mas faz muito tempo que eu não faço isso, quer saber de uma coisa? Eu não vou querer ir fazer não porque isso dá uma remuneração pequena, eu falei está bom, manda aí, manda o negócio que para eu fazer, bom, ouça minha história. Acabou que me aceitaram, me contrataram para fazer esses cinco eventos, mudaram no final, na reta final mudaram tudo, já não era mais o cartoon mas era um mind map, e o cara ia fazer a palestra eu ia ter que desenhar a palestra dele, quando terminasse a palestra do cara eu teria um desenho pronto. E lá vou eu, sai desesperado correndo para achar o papel certo, a canela certa, porque iam transmitir em vídeo, foi uma loucura aquilo e eu vou lá e faço o evento…
Camila E dá certo.
Luciano … faço a primeira, perco quatro quilos na primeira noite e vem todo mundo, cara que fantástico, em vez de olhar o palestrante fiquei olhando você, porque o material que você fez, deixa eu ver. Aí eu botava em cima da mesa, cara que maravilha, que coisa fantástica e tudo e na minha cabeça, isso aqui está uma bosta, não está legal, está ruim esse negócio, não é o que eu acho que devia ser, e todo mundo que legal, aí você cai na geral e você fala será que eu não estou botando a minha barra muito acima? E quando você coloca ela tão acima ela acaba de impedindo de executar as coisas porque você entra numas de perfeccionismo de não fazer porque acha que não será bom o suficiente, quando o teu nível de mais ou menos seria exatamente aquilo que o cliente precisa.
Camila Sei lá, a gente fala, eu e meu sócio, a gente tem uma brincadeira que vira e mexe a gente tipo nossa, tá horrível e aí a gente fala uma frase um para o outro que é: o nosso bom, o nosso ruim já é muito bom, porque a gente começou a se boicotar, tipo não, não posso fazer, não isso está ruim, não… tipo, calma, calma, você faz um milhão de coisas, o seu ruim já é muito bom, só que ao mesmo tempo no nosso caso assim, a gente tinha que conversar com altos executivos e aí você chegava na reunião e o cara parava para escutar a menina de 23 anos que ia mudar a área de TI dele, não, porque não é assim que faz e aí a pessoa parava para escutar e eu tipo, caraca! O que é isso? Como que ele está me escutando? Quem sou eu para falar isso? Isso tem nome, chama síndrome do impostor, a gente começa a gerar uma fantasia na nossa cabeça que a gente nunca acha que a gente é bom o suficiente porque a nossa barra está lá em cima e aí você se boicota, então a gente … tem um livro que fala sobre isso, da Valerie Ang, ela que cavou esse termo, síndrome do impostor, que ela fala que você tem que arrumar gatilhos externos, então a gente tem um combinado, eu e o Fê, que é a gente lembra um ao outro que o nosso ruim já é muito bom e aí a gente tenta não se boicotar, escancarar essa situação, porque no mundo que a gente vive, no volume de informação, a gente nunca vai achar que é bom o suficiente, então a gente já estudou muito sobre isso porque eu acho que empreender é muito maluco e quando eu falo empreender, não precisa ser alta tecnologia, ser dono de um próprio negócio que cresce, que você vê o negócio florescer e você não tinha a menor ideia do que ia acontecer, você está muito suscetível a isso, mas muito.
Luciano Legal, essa discussão é gigante, essa coisa do auto boicote. Bom, vou voltar para a trilha então, vamos lá. Daí vocês então estão lá trabalhando os dois, querendo inventar e ensinar o mundo como é que faz e etc e tal, como é que isso vira um negócio?
Camila É, a gente saiu, nem eu nem o Fê, a gente tem dinheiro de família, não tinha grandes fortunas, não tinha dinheiro para nada, resumindo: não tinha dinheiro para nada, a gente vivia do salário e tal. E aí a nossa primeira decisão foi: tá, a gente quer fazer o nosso, mas como que faz o nosso sem dinheiro? Que eu acho que isso é uma grande dificuldade também, a gente põe a primeira barreira é tipo eu até quero, mas eu não tenho dinheiro, como eu vou pagar? E aí o nosso primeiro negócio, a gente saiu e se desviou um pouco até da missão de educação porque a gente saiu para ser uma consultoria de inovação e muito rápido a gente conseguiu o primeiro cliente, a gente foi fazer um CNPJ porque a gente fechou um contrato com uma multinacional que falou ah beleza, eu quero esse serviço. E a gente como assim eles vão comprar? Ah tem que homologar vocês como fornecedores, manda aí o CNPJ. A gente não tinha CNPJ. Aí a gente correu, fez o CNPJ, começou a atender e aí foi quando a gente decidiu que a gente ia, cara, é isso que a gente vai fazer da nossa vida…
Luciano Só para entender: o que era esse primeiro projeto?
Camila … era um projeto de inovação, porque o que a gente fez? A gente inventou, na nossa cabeça, sei lá como, um método que era criar um novo produto em oito semanas, a grande dificuldade da grande corporação, das áreas de inovação, isso me incomodava muito, porque o cara ia lá e pegava um red de inovação, que era o cara que tinha feito Stanford, que tinha feito Harvard e que agora era um engravatado que ia em eventos e a grande empresa pagava ele para ir em eventos e escutar e gerar, causar a faísca da inovação na grande corporação, só que a grande corporação é um transatlântico, Luciano, ele não consegue se mover e esse cara, para conseguir aprovar um projetinho minúsculo, dependia da TI, que tinha que manter a operação rodando, que estava emitindo nota fiscal, ele dependia da logística, de todas essas áreas que não tinham como ele mudar todas juntas e aí ele não conseguia tirar nenhum projeto do papel, porque obviamente o projeto de ah vamos fazer um e-commerce de tintas. Nunca ia passar na frente da prioridade do sistema de logística de caminhão de entrega de tinta, nunca e a gente falou e se a gente fosse um plug and play dessa área de inovação? A gente vai lá, entende o que o cara quer, constrói isso com ele, entende o que é o mínimo produto viável daquilo, constrói em oito semanas, que era o nosso tempo limite, mais do que oito semanas, demorou tempo demais para lançar, está errado, não é inovação. Se é para demorar seis meses, vai contratar outro, não quero. E aí a gente fez um esquema de splints, como que descobre o MVP, inventamos um negócio e aí deu muito certo com a primeira, aí a gente falou beleza, temos um método e aí a gente começou a vender esse método e de fato ele dá certo, então a gente atendeu “trocentos” mil clientes desde o pessoa física que vende o carro para pagar o projeto de inovação, a grande ideia e tirar a ideia dele do papel, até Itaú, Accentre, Leroy, então o tipo de problema é: eu tenho problema de diminuir a idade das pessoas que frequentam a minha loja, hoje eu sou uma grande multinacional e as pessoas mais novas não entram porque a minha marca é velha, o que eu faço? Dá para resolver com tecnologia? Então a gente falava beleza, vamos descobrir junto. Eu acho que a nossa grande, a gente era tão jovem e a gente nem tinha noção do que a gente estava fazendo na real, porque a gente desceu do salto e falou eu não vou falar qual é a solução para o seu problema, o que eu vou fazer, é junto com você, emprestando o meu cérebro para esse problema, vamos descobrir junto? Vamos testar? Vamos pegar umas possibilidades, a gente entrega, mede, que isso a gente é bom em fazer, a gente mede e aí eu vou te falar, vai por esse caminho e aí a gente começou a ganhar concorrência tipo das pessoas que a gente achava incrível assim, de grandes consultorias, caraca como eles escolheram a gente? Por que eles estão escolhendo a gente? E aí foi quando a gente viu que a gente tinha faturado milhões, primeiro ano foi tão atropelado, Luciano, que a gente não tinha noção, esse ano a gente foi pegar o balanço e tipo mano, como a gente fez isso? Porque a gente vai atropelando e a gente não percebe, que é muito louco.
Luciano Mas aí nasce então a…
Camila A Ponte 21…
Luciano Ponte 21.
Camila … que está lá ainda, que é uma agência de inovação, a gente tem grandes clientes, só que aí depois de um ano de operação da Ponte, a gente tinha feito um caixa bom, tinha resolvido um monte de problemas, só que aí a gente começou, a gente percebeu, eu acho até no fim do ano, que a gente tinha se descolado um pouco da missão, porque dinheiro é bom, aí cresceu um pouco no olho, a gente tipo, estamos lucrando e a gente meio que se distanciou de educação, a gente estava atendendo, sendo uma consultoria de grandes empresas, o que tudo bem também, depois a gente meio que tudo bem, foi uma fase importante, até a gente decidiu que a gente precisava voltar para essa missão que a gente tinha e mais do que precisar voltar, de querer voltar, a gente precisava, porque a gente não conseguia contratar, como a gente era uma consultoria, a gente tinha que contratar gente para poder atender mais gente, não é um negócio altamente escalável e eu não conseguia contratar e olha que a gente, entre aspas, era o topo da cadeia alimentar, eu tinha acesso a lista de pós graduação da USP, o Fê tinha estudado, a gente conhecia todo mundo, a galera vinha pedir emprego para a gente e a gente não conseguia…
Luciano Que ano era isso?
Camila … isso 2015, final de 2015.
Luciano 2015, muito bem. Você não conseguia contratar por quê?
Camila Porque hoje não sai da universidade o profissional que eu precisava.
Luciano Quer dizer, não é uma questão de você… você não encontrava gente com as características que você precisava para trabalhar…
Camila E nem volume, Luciano.
Luciano … não é tua barra que estava alta demais?
Camila Talvez, mas não tem volume, eu achava que talvez fosse isso até que eu vi uma declaração do Sequoia Captol, que é um grande investidor de startups e inovação e tal e aí eles estavam decidindo qual era o próximo país que eles iam e aí o Brasil, eles foram questionados, ah por que que você não vem para o Brasil? A gente tem um ecossistema incrível de startups. Sabe o que ele falou? Eu não vou porque não tem mão de obra para sustentar isso. Hoje saem 50 cientistas da computação da maior universidade do seu país, você acha que com 50 pessoas que sabem programar, que sabem colocar, fazer tecnologia eu consigo sustentar a inovação? Não adianta que tem um monte de gente com ideia e quem vai executar tudo isso? Quem que sabe?
Luciano Sabe que eu republiquei outro dia um artigo que eu escrevi há dez anos, onde eu peguei um trabalho, eu não me lembro o nome da consultoria que era, não me lembro se era Edelmann, era uma grande consultoria que tinha na área de RH e os caras fizeram levantamento e ali na entrega do levantamento eles fizeram um resumo e disseram o seguinte: daqui a dez anos o mundo vai estar vivendo um problema terrível de falta de mão de obra, aí você olha o Brasil e fala como assim? Tem 13 milhões de desempregados e você está dizendo para mim que não tem mão de obra? Onde é que está? Aí eu escrevi um outro artigo onde eu falava sobre a questão não é a quantidade do trabalho, é a qualidade do trabalho que eu estou procurando, então existe vaga para muita coisa, só que eu não acho gente para preencher essa vaga aí, ou seja, nessa qualidade que eu quero não tem, agora, se eu precisar de pedreiro, deve ter um monte, se eu precisar de gente que faça um trabalho que não precise da qualificação…
Camila E a gente continua formando, Luciano.
Luciano … sim, sim, e mesmo assim a quantidade… fui fazer um evento para a Vale, Vale, era um evento gigantesco, a Vale é dividida em várias áreas e uma dessas áreas é uma área de seria o equivalente a uma incubadora, tem uma área que é gigantesca, os caras estão incubando projetos e projeto da Vale é o seguinte: é um projeto de 8 bilhões, de 5 bilhões, de 6 bilhões e ali eles incubam, quando aquele negócio fica maduro, eles pegam e passam para uma outra área e a área vai levar aquilo lá adiante e o presidente dessa área estava fazendo um Split lá, ele chegou lá, ele botou os números dele e falou nós vamos precisar de X mil engenheiros nos próximos 5 ou 6 anos, não tem, eu estou liberando a vocês para ir buscar no Paquistão, na Índia, onde for, engenheiros para poder suprir nossa mão de obra que a gente não tem aqui no Brasil, é uma loucura isso.
Camila A gente começou a esbarrar, a gente resolvia esse tipo de problema na grande empresa, quando a gente, uma startup cocô, pequena, começou a não conseguir contratar a gente falou qual é o nosso problema? Aí a gente sacou que não era nosso problema, era um problema que a humanidade estava vivendo e o pior de tudo é que a gente cresce numa velocidade exponencial, só que o sistema educacional que a gente tem hoje não consegue suprir essa demanda exponencial, porque ele foi criado no século XIX, totalmente fabril, desculpa, mas a minha faculdade era uma das melhores e eu uso hoje o que eu aprendi na faculdade, 30%, menos até…
Luciano Aqui no Brasil então que está totalmente distanciada…
Camila Menos…
Luciano … tem um problema ideológico terrível que afasta a universidade do trabalho, vem cá, fala uma coisa para mim, quando você vai fazer uma rodada de contratação e passam na sua frente assim 8 meninas de 26 anos, com currículo na mão para conversar com você, você conversa com as 8 e no final do dia você não contratou nenhuma das 8, o que se passa pela sua cabeça? São meninas como você, com a sua idade, etc e tal, o que você vê aí?
Camila Eu vejo um sistema, e eu não culpo elas, eu vejo um sistema educacional totalmente falido assim, a gente não gosta muito porque se eu for chorar as pitangas do sistema educacional eu não vou avançar e a gente tomou essa decisão numa CERTEC de fazer um negócio totalmente separado do sistema porque eu ganho agilidade, porque hoje eu vejo e eu falo isso abertamente, eu vejo um MEC que não me deixa inovar, que ainda está preso, nossa, lá atrás, que regulamenta qualquer curso de engenharia, por exemplo, é um senhorzinho de 80 anos que teve… que não tinha contador para trabalhar na faculdade, ele acha que está errado, que tem que fazer tudo no papel, é muito maluco assim, a minha sensação é que elas são vítimas de um sistema e que elas não tiveram oportunidade, porque hoje quando uma CERTEC vai lá e faz um bootcamp de oito semanas e consegue em oito semanas pegar alguém que não sabia nada e empregar esse cara para gerar inovação em tecnologia, eu só posso acreditara que essas meninas são vitimas de um sistema, só que eu também não posso aceitar isso a falar ah beleza, todo mundo vítima do sistema, vamos fazer o nosso, vamos fazer o que a gente acredita, beleza, você está cagando regra falando que o sistema está falido, faz o seu então e me prova, que foi a resposta que o Mastertech fez…
Luciano Que assim nasce a Mastertech.
Camila … foi assim que nasceu…
Luciano Me fala o que que é Mastertech?
Camila Mastertech hoje a gente se posiciona com uma plataforma de educação contínua, se a gente for descer lá o nível, no fundo, no fundo a gente é uma escola que ensina as habilidades que a gente acredita que tem que ensinar de um jeito diferente. A gente se posiciona como plataforma porque hoje eu não preciso de um prédio, não preciso que as pessoas se desloquem até lá…
Luciano É a EAD, ensino à distância?
Camila … também, a gente tem bastante live, mas a gente faz cursos imersivos, então a galera vai, convive, 8 semanas, 8 horas por dia e decide que vai mudar de carreira…
Luciano 8 semanas, 8 horas por dia?
Camila … é, 360 horas super compacto, com o que nasceu ontem e que vai fazer ele ser empregado amanhã, essa é a missão, empregar, acelerar essa carreira.
Luciano Dá um exemplo de temas que vocês fazem.
Camila … hoje, por exemplo, um dos bootcamps que a gente mais faz é o de tecnologias exponenciais, onde a gente pega gente que não manja nada de tecnologia, mas que acha que é o futuro e aí a gente ensina desde que o cara… lógico que é de programação, programação web, programação de aplicativos, inteligência artificial, internet das coisas, impressão e modelagem 3D e o cara sai conseguindo causar revolução onde ele quiser. Óbvio que ele não vai sair o programador sênior high society diretor, não, mas ele sai com todas as ferramentas para poder se tornar aquilo e arrumar um emprego amanhã como programador pleno, como catalisador desse processo.
Luciano Em 8 semanas?
Camila 8 semanas.
Luciano 2 meses?
Camila 2 meses, eu sempre conto a história…
Luciano Tem aquele que chega lá você dá uma pílula para ele, tem uma azul e uma vermelha, você fala pega uma, ele toma, o que que é?
Camila … essa é a grande diferença, Luciano, a gente não acha que a gente precisa dar a mão para ele e mostrar o caminho inteiro, eu mostro a direção, é isso aqui e você vai praticar enquanto eu estou aqui, então todos os dias, um dia tradicional numa CETEC, são no máximo uma hora de lecture, de exposição do professor, que é um especialista de mercado, trabalha amigão, eu não vou te dar tudo, eu vou te ensinar a aprender a aprender, é isso que eu faço numa CETEC, então o cara sai com a cabeça totalmente virada e é insano porque troca, dá um nó na cabeça da pessoa, eu brinco, tem uma menina que hoje é meu braço direito, que é a Gisele, e ela era intérprete de libras e fazia isso e aí ela estava, enfim, com uma vida que ela trabalhava 1000 horas por dia, sem ver a filha crescer e o marido trabalhava com tecnologia,ela falou chega, não quero mais trabalhar com libras, ele falou ow, tecnologia, estou falando para você, tecnologia é uma boa para você. Ela não, odeio, eu faço interiorização nessas aulas de tecnologia eu saio com dor de cabeça, nossa, não gosto. E aí o destino fez ela chegar no Mastertech, essa menina em 6 meses, hoje ela trabalha comigo, a gente acabou contratando ela, ela ensinou 500 crianças no país inteiro que querem internet das coisas, ela acabou o curso e eu precisava de alguém que conseguisse pegar gente que não sabia nada de internet das coisas e ensinasse num vocabulário que não é um vocabulário que a Intel vende, e essa menina andou o país ensinando criança o que é internet das coisas, a gente foi junto para Belém, a gente fez formação da comunidade ribeirinha num barco, tinha chego (SIC) há 4 anos energia elétrica naquele lugar e a gente foi lá e ela, em 6 meses, mudou a vida dela drasticamente, por ter ritmo exponencial, Luciano, talvez isso não fosse possível antes, eu precisava de uma educação fabril, porque era Séc. XIX, revolução industrial, hoje em dia não tem mais cabimento eu sustentar o modelo que eu vim sustentando, assim não vai sobreviver.
Luciano Você deu o exemplo voltado para essa coisa da tecnologia, a Mastertech é só na área da tecnologia?
Camila São habilidades do Séc. XXI, hoje a gente começa, porque eu e o Felipe, eu e meu sócio, se a gente precisar a gente vai lá e dá aula, então a gente começou pela área de tecnologia, mas hoje a gente está com o pé bem forte em marketing, negócios, então são habilidades, muito mais do que habilidade técnica, eu quero te ensinar a aprender a aprender, eu quero te ensinar a ser curioso, a ser um líder, a ser pró ativo, então tem um monte de coisa cross que faz da gente uma escola de habilidades do Séc. XXI…
Luciano Você já tem um módulo de marketing lá? Já tem um módulo?
Camila … Não, a gente tem feito bastante lives, porque o bootcamp ele é um pouco mais polêmico.
Luciano Então o live é você marca um determinado dia comunica as pessoas…
Camila Terça feira às duas horas.
Luciano … as duas horas o pessoal entra e assiste vocês dando uma aula, quanto tempo dura?
Camila Duas horas.
Luciano Duas horas e a pessoa paga para assistir essas duas horas?
Camila Não, se ela vier ao vivo comigo, ela…
Luciano Ela pode ir lá, senta…
Camila … não, é online, mas se ela acessar o link enquanto estiver tento live, enquanto estiver streaming, ela vê a aula…
Luciano De graça…
Camila … ela tem um chat, de graça, tem uma galera assim, é bem legal essa história, a Oi, a gente encontrou um grupinho da Oi e aí o cara posso tirar uma foto com você? Eu tipo pode, por quê? Ah porque a gente mudou nosso horário de almoço para a gente poder almoçar vendo a live de vocês de terça feira, então de terça feira a gente almoça às duas horas, porque toda semana tem um conteúdo novo, é legal e aí a gente come assistindo vocês. Então a gente poder chegar nessas pessoas, se ela sintonizar terça feira, duas horas, não paga nada. E aí a gente está investindo nesse modelo de negócio hoje porque até hoje não acho que ninguém acertou no modelo de educação à distância.
Luciano Como é que você espera monetizar isso?
Camila Se o cara quiser ver depois esse conteúdo, porque o conteúdo é muito bom e a gente gasta uma, nossa, um tempão e pensa como que a experiência vai ser viva e tal, se ele quiser acessar esse conteúdo depois, aí eu tenho que monetizar de alguma maneira isso, então ele conseguir ter esse conteúdo para o resto da vida dele, aí a gente vai ter que monetizar, mas a gente está testando e eu acho que o jeito bom de startup é isso, você pode testar, você não tem trackrecords, você não tem nada, se eu quiser mudar amanhã eu mudo, então a gente está testando.
Luciano Legal, é excelente. Se eu não me engano você falou em três negócios quando a gente começou aqui, qual era o terceiro?
Camila O Mulheres na Computação, a Ponte21 e o Mastertech.
Luciano Mas você trata o Mulheres na Computação como um negócio? É um business?
Camila Não.
Luciano Não é, é uma curtição.
Camila É um projeto, é uma curtição.
Luciano Também não monetiza ele?
Camila Hoje a gente ganha, vai, palestra, meia dúzia de palestras, conteúdo, mas não é monetizado, nunca foi o objetivo.
Luciano Então são três negócios que você está tocando aí. Que legal. Vocês estão ali no Cubo do Itaú. Como é que vocês foram parar ali? É outra história que eu vou… quem ouve a gente, é todo tipo de gente, então tem um moleque de 26 anos no busão, indo trabalhar ouvindo, tem uma menina de 24 alucinada para fazer a vida dela acontecer, tem um senhorzinho de 60 anos aqui que está se aposentando e tem tudo, tem uma dona de casa ouvindo a gente aqui e como a gente fala para esse pessoal de montar um negócio, de seguir, seguir adiante, falar de empreendedorismo etc e tal, na cabeça dele começa a se desenhar onde será o meu escritório, que casa eu vou alugar, que tamanho tem que ser? Como é que vocês lidaram com essas coisas? Essas coisas mundanas, eu tenho que estar em algum lugar, como é que é? Você está quebrando isso tudo, não é?
Camila É, a gente trabalha muito bem remoto e acho que tecnologia, você saber de tecnologia tem essa opção de trabalhar onde você quiser, de onde você quiser, como você quiser, então não foi uma primeira preocupação nossa, mas a gente conhecia o Cubo e conheceu o Flávio Pripas, que era o presidente, que é ainda o presidente do Cubo, diretor do Cubo, sei lá e aí a gente aplicou, estava aberto e a gente aplicou e eu lembro inclusive da conversa, disse assim meu, eu não sei se esse negócio, era muito jovem, a Ponte era muito jovem nessa época, porque a gente entrou na primeira turma de residentes do Cubo, não existia muita coisa, a gente estava em três quando a gente entrou e eu lembro do Pripas falando assim, ó, beleza, eu vou deixar vocês entrarem aqui como Camila e Felipe e aí vocês veem, porque eu acho que isso ai não vai dar certo não e aí em menos de 6 meses a gente tinha subido para uma sala em 18 pessoas, então foi muito rápida essa transição assim, não foi um primeiro passo que a gente ah, onde a gente vai trabalhar, porque a gente estava… éramos três pessoas, a gente trabalhava remoto muito bem e aí surgiu essa oportunidade de ir para o Cubo, que foi transformador assim, porque lá a gente conseguia não… a gente não ia atrás de clientes, os clientes iam atrás da gente porque a gente recebeu um endosso enorme, então para a nossa história o Cubo foi essencial…
Luciano Sim, o fato de você estar se aproximando de uma marca reconhecida, sim…
Camila … um ecossistema, empreender é uma atividade muito solitária assim…
Luciano Você quer ser tubarão, ande com os tubarões, esse é o lance.
Camila … exato. Apesar de ter sócio, é um negócio, cara a gente vai para cá ou para lá. Puta não sei. Puta ninguém passou por isso, só que lá no Cubo tinha alguém que já tinha passado mais ou menos, que gostava daquilo que você descia um andar e falava assim, você levantou um hound de 3 milhões de dólares, você foi para o Vale, você fez aceleração, o que eu faço? E a pessoa fala não sei, mas eu fiz assim, assim, assado e aí num papo de meia hora com a pessoa que estava no andar de baixo, você mudava a sua vida, então acho que você colocar agente junto, catalisar muito esse processo, então é o propósito, inclusive, do Cubo, que é ser esse ruby, catalisar esse processo.
Luciano O pessoal diz muito aí, não lembro que foi que disse isso ai, mas estavam comentando bastante, ah foi um texto do Raiam Santos que eu estava vendo aqui que você é a média das cinco pessoas com as quais você anda. Então se eu andar com cinco mané, eu sou um mané, se eu andar com cinco caras geniais, eu acho que eu posso não ser genial, mas estou próximo porque esse ecossistema deles acaba me puxando para cima. Vamos caminhar aqui para os nossos caminhos finais aqui, só me dá mais uma dica aqui, tocar um negócio exige essa parte tua da arte que se tem que fazer, dessas sacadas todas, mas exige alguns atributos que são bem pentelhos, você tem que pagar conta, você tem que ir no banco, tem que…
Camila Pagar o DAS…
Luciano … que horror meu Deus do céu, como é que você fez a hora que apareceu diante você aquela história que você falou: não tenho CNPJ aí você descobriu que tinha um mundo de atividades sórdidas que não tem nada a ver com o tesão que é criar etc e tal, que você ia ter que fazer se não o negócio não andava, como é que vocês fizeram com isso ai? Foram buscar alguém que conhece ou se viraram, como é que é?
Camila Não, no início a gente se virou muito, até o momento que a gente não conseguia mais dar atenção para vendas e produzir, fazer contrato, negociar, a gente fazia tudo e é muito louco como a gente tinha personas e eu vestia a camisa, tipo ó, agora eu vou vender, agora eu vou fazer finança, agora eu vou fazer folha de pagamento, agora vai… muito maluco assim e eu ainda tinha a sorte de poder dividir com o Felipe, mas é um negócio que você cai assim, você desmorona, tipo ah eu achei que ia ser só coisa legal e agora eu tenho que pagar conta e o DAS, como que vai comer? Vou pagar 30 mil de imposto? Que palhaçada é essa? Para onde vai esse dinheiro? Foi um processo super doloroso assim para a gente, mas caiu no nosso colo uma pessoa incrível que chegou só, ah eu dou uma ajuda aqui para vocês, hoje ela é nossa funcionária, a Madalena, que é um back office inteiro numa mulher só, que por exemplo, uma coisa que muda muito, a gente era muito jovem, eu e o Fê a gente tinha zero vivência e tarimba e contrato e passar a perna, a gente não tinha analisado muito os contratos, então quando a Madalena chegou para a gente foi bem forte ter essa voz experiente, galera tem que assinar contrato, a gente não assinava contrato, a gente tomou uns dois calotes porque a gente era idealista e eu já fui, por isso que eu falo, eu já fui bem menos política, a gente achava que estava tudo bem, não depois a gente vê e ela não, não, não, pelo amor de Deus, não, não pode ser combina salário, não, tem que registrar, tem hora, tem que bater ponto, tipo vocês são loucos, então essa voz da experiência foi uma pessoa que a gente não foi buscar mas que apareceu no nosso colo assim e eu agradeço ela todos os dias porque ela colocou ordem na casa, essa voz da experiência, porque tem muita coisa, muito detalhe que meu, é sem noção, ainda mais no Brasil, CLT, você vê legislação trabalhista, sou a favor, tal, mas a vivência que eu tive lá fora, por exemplo, que não tem direito nenhum, mas você tem o básico, aqui para você contratar alguém CLT, é um parto, meu Deus.
Luciano É verdade, aquilo que é feito para proteger é um…
Camila É um empecilho enorme.
Luciano … é um empecilho, sim. Fala uma coisa para mim agora, vamos lá para… eu vou pegar um modelo de um garoto de 26 anos, que tem como meta criar um aplicativo e daqui a 2 anos vender para uma empresa norte americana por 2 bilhões de dólares e aí ele vai cuidar da vida dele, isso é… o que é empreendedorismo? É isso, vou fazer uma startup, daí vendo por 2 bilhões e ganho dinheiro.
Camila Não ter chefe.
Luciano Exatamente, não tem chefe, trabalho a hora que eu quiser, acordo a hora que eu quiser, a vida é uma festa e eu vou assim… Dá o recado para essa moçada aí vai.
Camila Gente é mentira.
Luciano De novo, vamos começar de novo. Quantos anos você tem?
Camila Eu tenho 25.
Luciano Perfeitamente, então vamos, do alto dos seus 25 anos, por favor, vamos passar um recado para essa turma aí.
Camila Eu acho que é muito maluco e a gente fez isso e eu ponho até mea culpa essa visão romântica do empreendedorismo, ela é muito maluca, óbvio que não é essa nossa, que desespero, não empreendam. Eu acho que todo mundo que acha um propósito tem que empreender sim, porque eu acho que são as startups e é quem pensa diferente que vai fazer o mundo melhor, mas essa visão romântica do empreendedorismo não existe, é mentira e eu acho até que faz um desserviço quem fala nessa visão leviana de tipo ah, vamos seguir os seus sonhos, ah vamos achar quem… meu, você tem que ser herói para conseguir bater de frente com a receita federal, tomar processo trabalhista, são muita musculatura que você tem que desenvolver até você ir poder viver seu sonho sabe, então eu acho que o meu recado é: empreendam sim, porque é incrível e á uma jornada que vai valer a pena e eu acho que é muito típico da minha geração você querer aproveitar a jornada e não só o fim, tipo eu vejo os meus pais e a geração dos meus pais, não necessariamente os meus pais, mas vamos prestar um concurso público, ganhar muito dinheiro, acumular esse dinheiro para depois dos 60 anos poder viver e viajar para a Europa. A minha geração escuta isso me dá calafrio, só vou começar a viver depois? O que eu vou fazer com a minha vida? Eu vou bater cartão para sempre? Então acho que é totalmente lícito você ter esse sonho, mas tenha certeza que não vai ser um mar de flores e que você vai fazer coisa que você não gosta e que você gosta, é muito louco assim, eu só aprendi tomando tapa na cara, que não dava para fazer o que eu gostava, eu tinha que fazer o que precisava, então acho que o recado é esse, não tenham essa visão romântica do empreendedorismo mas empreendam, se você tem certeza que você tem uma visão diferente do mundo, cara, o mundo precisa muito de você, mas tem que ser resiliente, você vai tomar um monte de tombo, não vai ser só flores, não vai ser bonitinho, é glamoroso a Camila estar aqui no podcast, na frente do Luciano, ah que legal, ela foi convidada, ela passa um monte de trampo, ela teve que vir correndo e ela vai ter que correr para o outro lado porque o contrato, ela vai ficar até as 3 da manhã montando aula porque amanhã tem live e eu estou terminando o contrato, então a visão que a gente olha é romântica, mas a realidade não é.
Luciano E a Carol quando olha você agora o que ela pensa, essa doida? Ou que legal? Ela está aonde? Onde está a Carol?
Camila A Carol é incrível, a carreira dela meteórica também, ela dá aula tipo turma da medicina do Tamandaré, foi muito rápida a ascensão da Carol também…
Luciano Mas ela tem um emprego?
Camila … ela tem um emprego…
Luciano Ela não empreende, ela tem um emprego?
Camila … é, ela tem um emprego…
Luciano Ela tem emprego, salário etc e tal.
Camila … sim… eu acho que ela entende bem, é muito maluco porque a gente se espelha muito uma na outra e acho que ela seria bem mais dentro da caixinha assim do que se eu não existisse, eu também seria muito mais maluca e louca se ela não existisse, então acho que hoje a gente se olha com muita admiração. Ontem, domingo de Páscoa e tal, a gente se viu e conviveu e conversou junto sobre a vida e tal, são realidades muito diferentes, mas no fundo, no fundo as duas tem missão muito clara, ambas as missões estão muito claras, eu quero educar as pessoas, eu quero melhorar a vida delas, eu quero transformar a vida desse garoto que eu dou aula no quinto ano, eu não quero ser mais uma professora, eu quero mudar a vida desse cara, então acho que as duas, apesar de caminhos diferentes e eu acho isso, de novo, é totalmente lícito você querer arrumar um emprego e fazer a sua missão ali, o que eu não acho certo é você não achar a sua missão, porque aí você vai viver uma vida empurrada, mas se você achou sua missão e você acha que é arrumando emprego e fazendo a diferença lá, vai com Deus, é isso que você tem que fazer, não compre um ideal de ah não, porque agora eu sou jovem e eu tenho que ter um aplicativo porque está na moda, eu acho que você tem que achar a sua missão e o que te faz feliz e ela achou, então acho que a gente se olha com muita admiração, porque eu reconheço nela uma pessoa que achou a missão dela, mas seguiu um caminho totalmente diferente do que o meu.
Luciano Está fazendo acontecer.
Camila E esta fazendo acontecer, é.
Luciano Que legal, fala para mim uma coisa aqui, quem quiser conhecer o seu trabalho, entrar em contato, etc e tal pelos vários canais ai, vamos lá, um de cada vez. Primeiro o blog.
Camila O blog é mulheresnacmputacao.com mas acho que o jeito mais fácil é meu sobrenome é um sobrenome ACHUTTI (soletrando)…
Luciano ACHUTTI (soletrando) Achutti.
Camila Achutti, é um sobrenome um pouco incomum, então se você digitar Camila Achutti, vem trocentas mil coisas, então, e só vem coisa minha, porque só tem eu, Camila Achutti com esse sobrenome com dois T’s, então acho que é o jeito mais fácil e o site hoje, acho que nossa grande missão de vida, eu brinco que o Mastertech é de 2016 para sempre, acho que eu achei o que eu quero morrer fazendo, prestar consultoria é super legal, mas né, eu quero mudar o mundo com educação, então acho que mastertech.tech e o tech tem CH…
Luciano Mastertech com CH no final.
Camila Isso .tech…
Luciano E o tech também é com ch.
Camila Isso.
Luciano mastertech.tech
Camila É, aí também acha, tem tudo lá para a gente mudar o mundo.
Luciano Que legal, eu sou um “veião” aqui, ver essa energia dos 25 anos é uma delícia sabe e ver vocês fazendo acontecer desse jeito é muito legal, tem muita garotada aí que está realmente nessa ilusão de que eu com 25 anos eu sou imbatível, ninguém ganha de mim, eu sou invulnerável, eu sou invisível, eu faço acontecer, eu vou arrebentar, é legal, dá uma baita energia, te dá coragem de se atirar em coisas que você com 25 anos pode erar à vontade, mas o mundo não é isso não, tem coisas muito chatas que tem que ser feitas, já eram feitas com seu pai, com seu avô e vão continuar para o resto da vida acontecendo, então se você entrar nesse caminho aí do ficarei rico depois de amanhã, você não vai, ainda tem que gramar como vocês gramaram ai.
Camila E sem trabalho, né Luciano, eu acho que muita gente vem falar, ah vocês muito jovens e tal, como que vocês chegaram longe tão rápido? Trabalhando, não adianta você querer já virar diretor com 25 anos se você não está ralando aqui embaixo, de novo, é aquela visão romântica de quem olha de fora e fala nossa, olha que maravilhoso, não vê os tombos que a gente levou, então acho que esse jovem que tem toda essa vontade, eu também tenho, tem que pegara essa vontade e trabalhar que nem um maluco porque ai sim você vai colher os frutos, mas colher os frutos sem ter plantado é impossível.Mari
Luciano Viu só? Ela tem 25 anos, achou um propósito, está seguindo atrás, vocês não estão vendo aqui mas o sorrisão gigantesco, o olho brilhando, quer dizer pô, isso tem caminho, é para sempre, é de agora para sempre. Obrigado pela presença, 1000 beijos.
Camila 1000 beijos, é isso aí, não vamos mudar que a gente é, 1000 beijos.
Transcrição: Mari Camargo