Luciano Bom dia, boa tarde e boa noite, bem vindo, mais um LíderCast. O programa de hoje chegou a mim, aliás o pessoal sempre me pergunta como é que eu escolho os entrevistados para o LíderCast. Existem várias formas, eu já escolhi gente aqui que me foi indicada, entrevistados que vieram aqui e indicaram outros entrevistados, gente que eu conheço, que eu entrei em contato e às vezes eu recebo algum material de informação. Então, como no caso de hoje, eu recebi um release que me chamou a atenção para algumas coisas que estavam colocadas lá de uma pessoa que escreveu um livro mas que tem alguns outros interesses, falei deixa eu chamar, ver se a gente consegue fazer uma troca de ideias aqui. O programa tem três perguntas fundamentais que são as únicas que você tem que acertar, as outras você pode errar tudo, então essas três aqui tem que fazer muito certo, eu vou fazer a pergunta, você me responde, quero saber seu nome, sua idade e o que é que você faz?
Alex Meu nome é Alex Bezerra de Menezes, eu sou escritor por necessidade e advogado por vocação, tenho 43 anos.
Luciano O que que é “escritor por necessidade”?
Alex Por necessidade porque escrever, além de ser uma audácia da parte do sujeito que se propõe a esse tipo de atividade é uma forma como diz o meu professor, meu ex professor, é uma forma de, ao mesmo tempo de uma vaidade imensa e também de uma humildade sem tamanho, porque você, quando escreve você expõe ali as suas dores mais profundas, você de alguma forma exorciza seus demônios e é uma forma, talvez seja, entre todas as artes, seja a forma mais pungente que o artista tenha para se revelar e também de alguma forma abrir uma janela para o mundo.
Luciano É, quem não escreve não entende isso, quem não escreve não saca essa capacidade que o “botar para fora” as coisas por escrito têm de, como você falou, exorcizar, de repente você está com uma angústia, você está num momento ruim, você passou por uma experiência complicada e o escrever, a hora que você senta, racionaliza aquilo tudo e passa para o papel, é um processo de maturação, de fazer uma reflexão em cima daquilo tudo que você viveu e tentar transformar numa forma em que as pessoas possam dividir isso com você, isso é muito legal, pena que quem não escreve não tem essa oportunidade, mas quem escreve sabe muito bem o que nós estamos falando. Tua formação, você se formou… é advogado?
Alex Eu sou formado em direito.
Luciano Nasceu em São Paulo?
Alex Nasci no Recife.
Luciano Em Recife?
Alex Nasci no Recife, na terra de Manoel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, aliás se diz que a tradição de literatos em Pernambuco é bastante grande, eu estou tentando seguir a trilha aí, vamos ver se vai dar certo.
Luciano Cuidado, você está com uns modelos legais. Aliás, Bezerra de Menezes, isso aí é do próprio?
Alex É muito curioso, eu tenho um amigo que ele tem uma das maiores bibliotecas judaico cristãs aqui na América Latina e eu fiz questão de pedir para ele. Ele tinha a genealogia dos primeiros judeus que vieram para a América do Sul em meados do século XVI e a primeira menção que existe ao meu nome, Bezerra de Menezes, é de 1749, de uma família de fazendeiros da Paraíba e daí, a partir dessa raiz comum que se ramificou para várias regiões do Ceará e de Pernambuco também, de onde vem o médico espírita, Dr. Bezerra de Menezes, que é uma das referências aí na filantropia no Brasil e tal, é um nome consagrado, então a raiz é comum, mas não existe nenhum parentesco próximo, até, pelo menos, onde eu sei.
Luciano Sim. É o meu caso, eu sou Pires, eu sou Pires, durante muito tempo o pessoal falava, ah você é Pires? Pires de onde? Eu sou Pires quatrocentão, com o maior orgulho, eu sou Pires quatrocentão, até o dia que eu estudei um pouco de história e descobri que quatrocentos anos atrás, os caras mandaram para o Brasil um puta bandido… Ou então espera um pouquinho, vamos devagar aí.
Alex E é difícil fazer um país com uma matéria prima dessas.
Luciano Pois é, mas a Austrália foi feita com matéria prima igual.
Alex Exatamente, os irlandeses que lá habitaram eram os degredados das ilhas britânicas.
Luciano Mas vamos mergulhar lá na nossa história aqui. Você acabou então, veio para São Paulo criança?
Alex Vim para São Paulo com 14 anos, eu na verdade até escrevo isso, que eu fugi de uma situação, eu venho de uma família muito humilde e eu tive oportunidade de vir para São Paulo, porque meu pai mudou para cá, ainda hoje está aqui estabelecido e vim para cá com sonhos de uma vida melhor, como a maior parte dos imigrantes nordestinos que…
Luciano O que seu pai fazia?
Alex … meu pai é comerciante, ainda hoje é comerciante e enfim, vim fazer a aventura aqui e está dando certo.
Luciano E o teu sotaque, ficou aonde?
Alex Não sobrou nada, o sotaque, no primeiro livro que eu escrevi eu falo que o sotaque nada mais é que uma lesão que se faz na superfície das palavras e eu acabei, de alguma forma, corrigindo essa lesão, há quem diga que não sobrou nenhum sotaque de Pernambuco e há quem diga também que o meu sotaque não é paulista, então eu sou um homem sem sotaque, como o Fernando Pessoa era um homem sem pátrias, ele dizia que era um homem sem pátria, eu sou um homem sem sotaque, eu sou…
Luciano É, o sotaque é uma questão de ponto de vista, se eu estiver lá em Pernambuco como paulista, vão dizer que eu sou o deformado da palavra. Mas vamos lá, você veio para cá então, acabou se formando em… foi ser advogado, o que leva alguém a ser advogado além daquela coisa do pai, da mãe, lá nos anos não sei o que, dizer o seguinte, ou é médico, ou é doutor, ou é engenheiro ou advogado, o que que era?
Alex São as profissões quatrocentonas, você citou os quatrocentões, então todos os romances que o Machado de Assis, todos os grandes romances dele, todo mundo ou era médico ou era advogado como era a predisposição natural, eu digo que em qualquer família abastada, a partir do século XIX no Brasil. Mas, eu não sei explicar muito bem como veio essa história de advogado, eu poderia até me inspirar em grandes advogados, como foi o orador Demóstenes, na Grécia Clássica; como foi Cícero, outro grande orador romano, como foi Kafka que também foi advogado, tem alguns bons e grandes nomes que acabaram formando, se formando em direito e tal, Abraham Lincoln também foi advogado, mas a minha história com relação à questão universitária é bastante curiosa também, que vai desaguar também na questão de como eu resolvi escrever, eu venho de uma família, como eu já disse, bastante humilde, nós não tínhamos muito contato com livros e tal, eu vou ler meu primeiro livro com 27 anos, então é…
Luciano Que livro foi?
Alex Foi “Inocência”, do Visconde de Taunay, caiu na mão, eu li, depois li centenas, talvez milhares até. E é curioso porque também não estudei, eu repeti a quinta série acho que cinco vezes, ou seis vezes, acho que as pessoas nem repetem mais a série, mas eu repeti, eu era muito ruim na escola.
Luciano Deixa eu dar uma dica aqui para o pessoal mais novo que está nos ouvindo, repetir significa o seguinte, antigamente, quando você ia mal na escola e chegava nas provas de final de ano, se você não tivesse feito uma média de notas ali num nível suficiente, você repetia de ano, ou seja, você cursava de novo aquele ano e era um horror porque você ficava para trás e para quem tem 7, 8, 9, 10, 14 anos ficar para trás é um horror porque a turminha nova que vem é a turma de molequinho mais novo e você era o pirulão dentro da sala de aula de moleque mais novo, a molecada de 12 anos, chega um de 13, quase 14, a diferença é grande, só que isso passou, hoje em dia não se repete mais.
Alex Isso denuncia a idade na verdade, falar que o sujeito repetiu, que tem recreio, mimeógrafo, tem que ter legenda embaixo porque se não ninguém vai mais entender.
Luciano Mas aí, você estava contando a história da universidade.
Alex E aí eu, aos 32 anos, eu vou decidir fazer um supletivo, porque eu, na verdade, não tinha sequer, antigamente se falava o ensino médio completo para poder ingressar na universidade, então eu fiz um desses supletivos aí que não supletiva ninguém na verdade para conseguir o diploma e poder ingressar na universidade, foi quando eu fiz o vestibular, passei, milagrosamente, e enfim, me formei em direito e aí abriu-se várias possibilidades, abriram-se na verdade várias possibilidades para que eu tivesse um crescimento profissional e tal e na esteira disso veio a questão dos livros, eu escrevi, eu publico meu primeiro livro em 2005, um livro de contos e tal e enfim, e é isso.
Luciano É uma história interessante, quando você se formou, aliás, quando você entrou na faculdade, você já estava trabalhando?
Alex Já estava trabalhando.
Luciano Você começou a trabalhar cedo?
Alex Comecei trabalhar cedo, muito cedo, eu trabalhava com meu pai, ajudava meu pai no comércio, 14 anos já acordava às 4 da manhã, ia dormir, não tinha hora, tinha hora só para acordara, para dormir não tinha e foi bastante tempo assim, nessa toada aí, mas nunca como… na minha família e no meio social de onde eu vim não havia muito contato com cultura, com livros e afins, eu nunca me interessei, eu sou a primeira pessoa que tem curso superior na minha família, pela parte materna e pela paterna também, então… e acaba sendo um exemplo porque agora eu vejo sobrinhos meus que estão trilhando o mesmo caminho porque na verdade eu meio que abri uma…
Luciano E o mundo também…
Alex … uma trincheira e o mundo obviamente.
Luciano … é outro também. Qual é, o que que é, deixa e explorar um pouco essa tua, quer dizer, você vem numa batida, você vem de uma situação social como você contou aí, que não era nada abastada, você chega aqui ajudando seu pai, você não tinha feito escola, você tinha tudo para ficar patinando na vida e me fala que leu seu primeiro livro aos 27 anos, de repente aí pega o gosto e começa a ler um atrás do outro, qual foi o snap, qual é aquele momento que você fala espera um pouquinho, tem cultura, existe um mundo aí que se eu mergulhar nesse mundo eu posso… que ao invés de jogar bola, jogar futebol, ao invés de partir para alguma atividade que me leve para a força bruta, ao invés de partir para alguma coisa onde eu seja um comerciante, eu resolvo abraçar esse mundo de literatura e tudo mais e vai fazer direito, que te exige também um grau de leitura e de penetração na língua portuguesa que como poucas atividades exigem, qual foi o ponto de virada?
Alex É você falou do futebol, o futebol também é uma parte importante na minha vida, aos 17 anos eu joguei futebol, joguei no time de juniores do São Paulo Futebol Clube, inclusive com o Caio que é comentarista hoje da rede globo, a gente jogou na mesma época no São Paulo e tal e era a tendência natural para uma situação que até hoje ainda é recorrente no Brasil, mas por outro lado também eu fujo um pouco desse papel de vítima social, de achar que ah, puxa vida, eu venho de uma situação social que não é benéfica e agora vou ficar me vitimizando e sofrendo, não. Machado de Assis, que vem a ser a maior figura literária do país, da América Latina talvez, ele vinha de uma situação ainda mais triste e delicada do que a minha, imagina, Machado de Assis era negro, em pleno regime escravocrata, Machado de Assis sofria de epilepsia, num tempo em que a epilepsia era vista como uma posição demoníaca, não havia conhecimento médico, científico e quem sofria os ataques de epilepsia na rua, as pessoas iravam sarro, ah esse cara está possuído pelo demônio e tal e Machado era gago também, então imagina o tanto de dificuldade para uma pessoa que estava fadada a ter um destino como teve talvez outros milhares de Machadinhos, no Rio de Janeiro, século XIX e ele apesar de todas essas dificuldades, ele se ergue como a maior figura das letras portuguesas, seguramente depois de Camões, talvez Fernando Pessoa, se erguer como um mestre, como diz o Roberto Shwarz, um mestre na periferia do capitalismo, então assim, às vezes a dificuldade, ela pode ser um dínamo, ela pode ser um motivo a mais para que você faça a coisa fugir da rota e você busque um destino absolutamente diferente do que você está mais ou menos fadado a percorrer.
Luciano Vou voltar para a pergunta que eu te fiz, qual foi o…
Alex O start foi esse, foi o Machado. Quando eu comecei a ler as obras do Machado de Assis e descobri depois a biografia dele, foi quando eu falei espera aí, pô, se o cara sofria todas essas agruras do destino, da vida, todas as misérias, ele é órfão aos 10 anos, ficou órfão de mãe, perdeu um irmão aos 12, só tem miséria, só tem tragédia na vida do cara e o cara conseguiu se erguer, por que não eu? Por que não qualquer um de nós? Porque é muito mais fácil você condenar o teu destino, reclamar é uma coisa muito fácil, as pessoas fazem isso com muita frequência e lutar contra essa adversidade é mais difícil, para mim o que faz mais sentido é desvirtuar a lógica.
Luciano Você sabe que grande parte do que a gente é, é em função do contexto que a gente vive, eu imagino que nesse momento aí em que você toma a decisão de partir para esse caminho de mergulhar na leitura e tudo mais, você tinha um grupo de amigos, você devia ter um grupo de jogador de futebol, que eram os caras que iam ser jogador de futebol, era a turminha toda e essa turma não deve ter ido na mesma praia e de repente você é uma coisa estranha que é quase como sair do armário, chegar no meio daquele bando e falar o seguinte, não vou jogar bola porque hoje eu vou ler, cadê o Alex, o Alex está lendo, escrevendo, quem é esse maluco aí que…
Alex Exatamente isso, um alienígena.
Luciano … então isso é uma pressão que muita gente não consegue suportar.
Alex E você lembrou bem, porque era exatamente assim que acontecia, porque quando eu passei a ter essa paixão por livros e tal, por cultura e tal, eu vivia isolado e quanto mais você aumenta seu nível cultural, infelizmente você vai subindo o cume da pirâmide e no cume da pirâmide tem menos gente, tem menos sociabilização na verdade, mas eu sabia lidar muito bem com tudo isso porque… Aristóteles dizia que o homem, como você disse aliás, que o homem é fruto do meio em que vive, ou seja, todas as condicionantes do seu ambiente social vão te levar por um caminho para outro, mas eu ainda assim, apesar dessas pressões, como é que pode, o sujeito quer jogar bola, tinha aspirações de ser jogador de futebol profissional, agora quer ficar com essa história de livro, livro é coisa de menininha, eu não achava isso, é até mais estimulante, enfim.
Luciano Que papel tem o seu pai nessa tua formação?
Alex Muito pouco, meu pai e minha mãe são pessoas muito simples, minha mãe é costureira, meu pai como eu disse é comerciante, mas eles, apesar… existe até uma dicotomia, uma diferença entre a questão de inteligência, cultua e sabedoria que são coisas absolutamente estanques, são coisas que são bem apartadas, o sujeito não precisa ter lido, ter tido acesso a uma boa educação para ser sábio, mesmo porque grandes nomes da filosofia e até da literatura, pelo menos recente, são pessoas, como Shakespeare, que jamais frequentou uma universidade e era um gênio, então o gênio ele transpõe essas barreiras convencionais, na academia, da escola, dessa tradição ocidental de formar pessoa dentro de uma academia, dentro de um conceito e acho que eu perdi o foco de onde nós estávamos.
Luciano Eu estava te perguntando o papel que o seu pai, seus pais tiveram nessa tua decisão.
Alex Meu pai, apesar de não ter tido uma educação formal, ele é uma pessoa sábia, muito curioso também e de alguma forma me insuflou essa busca pelo conhecimento, apesar de não ter tido estudo e tal, ele tem a sabedoria dele que é intrínseca talvez à própria pessoa, independente ai da…
Luciano Quando você foi fazer a universidade, você trabalhava com o quê?
Alex Eu trabalhei numa imobiliária, mas antes disso, que foi o momento que eu mais li, eu acabei tendo uma divergência com meu pai e tal e fui entregar jornais numa Kombi velha que mal tinha assoalho, parecia o carro do Fred Flintstone, ficava apoiado lá nos pedais porque era uma coisa terrível e eu entregava jornais, para a folha de São Paulo e era muito divertido, porque eu tinha acesso a todos os jornais, podia ler todos os jornais e aí depois saí desse emprego, fui trabalhar numa administradora de condomínios e foi a partir daí que eu tive um pouquinho mais de condição para poder me formar.
Luciano Você pagou a tua universidade?
Alex Paguei a universidade, olha que na época eu lembro bem, eu ganhava meu salário, custava 700 reais, eu ganhava 700 reais e a faculdade custava 900 e se você me perguntar qual a mágica que eu fazia para pagar a faculdade, eu até hoje não sei, ficava devendo mês, era uma confusão, mas eu consegui concluir o curso, paguei tudo que tinha de débito lá e fui até o fim, não tive ajuda externa para fazer nada, foi tudo com suor.
Luciano E um belo dia você pega o diploma na mão, duro, mas doutor.
Alex Sim, mas doutor, exatamente.
Luciano Chega em casa. Teus pais foram na tua formatura?
Alex Foram, foram, fiz questão de trazer.
Luciano Como é o nome dele e dela?
Alex Faustino e Irene.
Luciano Seu Faustino e Dona Irene, estão sentadinhos lá e de repente o filho sai togado, de toga, vai lá, pega o canudo, desce e fala meu pai…
Alex E mais do que isso, eu fui o orador da turma.
Luciano Mais essa ainda…
Alex Mais essa ainda.
Luciano … você tem irmãos?
Alex Tenho irmãos, tenho mais quatro irmãos.
Luciano O mais novos, mais velhos?
Alex Eu sou o do meio.
Luciano E aí, como foi o impacto para a tua família de ter um filho doutor.
Alex Foi e ainda é incrível, eu tenho… mais do que isso para mim, além de, claro, tem a questão da vaidade pessoal embutida e tal, mas eu encaro isso como sendo um farol para que olha, você conhece tudo o que eu fiz, minha história, minha vida, e consegui fazer, você também pode, qualquer um pode, então é isso que, de alguma forma, faz com que as pessoas mais próximas que acompanharam minha trajetória vejam que é tudo possível. Esses dias saiu uma matéria sobre o meu livro no Diário de Pernambuco e minha mãe pegou o jornal, minha mãe ainda mora hoje no Recife e o jornal saiu, ela pegou, comprou vários exemplares do jornal para mostrar para as pessoas lá e tal e isso eu acho que é uma satisfação extraordinária para mim de poder, minha mãe é uma pessoa que sofreu muito na vida também, de poder dar essa alegria para ela, esse orgulho, eu sempre… a minha maior preocupação na minha vida inteira foi essa, poder dar orgulho aos meus pais.
Luciano Esse programa aqui é um programa que fala de liderança e empreendedorismo, já está embutido nessa tua história um pouco disso aí, mas eu quero explorar um pouquinho mais, quer dizer você pega o diploma na mão, quanto tempo foi para se formar, cinco anos não é?
Alex Cinco anos.
Luciano Cinco anos devendo 200 reais por mês, aquela dureza toda, você cara o diploma na mão e fala muito bem, cá estou eu com meu diploma, agora vou conquistar o mundo porque se eu, partindo de onde parti, consegui chegar até aqui, eu posso seguir adiante. Qual era o plano? Tipo a hora que eu botar a mão nesse diploma, qual era o plano?
Alex Na verdade não tinha plano nenhum, mais ou menos como a história do Cristóvão Colombo que fez planos para chegar nas Índias e acabou esbarrando aqui na América, então não tinha planos, mas nessa trajetória, nessa época eu já fazia palestras e tal sobre,… aliás foi a época, em 2007, 2008, quando teve o centenário da morte do Machado eu fui convidado para fazer palestras e tal, porque eu acabei sendo, me tornando especialista na obra e na vida dele e eu passei a conhecer muitas pessoas, então fui formando uma rede de contatos bastante interessante e enfim, fui construindo essa trajetória empresarial também, que hoje a gente tem uma empresa de…
Luciano Então, mas você sai com teu diploma na mão de olho em se tornar o que? Eu vou ser um professor, eu vou ter uma banca de advocacia, eu vou trabalhar numa grande empresa, eu vou fazer o que da minha vida?
Alex Então, eu queria, a ideia era usar o diploma como um trampolim para possibilidades que são infinitas na verdade, mas eu nunca quis advogar na verdade, eu nunca imaginei fazendo lá o papel do advogado tradicional, do tribunal e tal, então me especializei na área que eu já tinha um trânsito razoável que é na área do direito imobiliário e a partir disso aí que eu criei a minha própria empresa, a gente tem uma empresa de investimentos imobiliários, que atua aí em alguns segmentos de imóveis comerciais, a gente compra imóveis em leilões e tal, então a história foi baseada nisso, eu tinha, como disse, não tinha um planejamento, tinha uma ideia mais ou menos programada do que eu iria fazer e do que eu não queria fazer, você falou de dar aula, eu sou convidado a fazer alguns eventos de aula e tal, isso eu me divirto, mas para eu fazer uma aula, ser um professor formal, acho que eu não teria a habilidade adequada e necessária para tanto.
Luciano Fala uma coisa para mim, eu gosto de explorar essa história toda, do que é que move, do que é que move a pessoa, quer dizer, você colocou ali na frente que você pegou o teu diploma e se abriu para as possibilidades, então o que viesse ia pintar aí, que idade você tinha nessa época?
Alex Tinha 35 anos.
Luciano Estava casado?
Alex Não, solteiro.
Luciano Solteiro.
Alex Solteiro.
Luciano Muito bem. Então solteiro é mais fácil porque você quebra a cara sozinho, mas você tinha lá que decidir para que lado você ia e de repente, no momento, pinta essa suprema, como é que eu vou dizer? Que termo que eu vou usar aqui?
Alex O improvável.
Luciano Não, não é improvável, pinta essa coisa arrogante, essa coisa insuportável, essa coisa metida que é: vou escrever um livro, entendeu? Quem sou eu para escrever um livro? Você que foi um cara que começou muito tarde no livro, que leu uma porrada de coisa, que se meteu a ler Machado de Assis e agora acha que é capaz de fazer o que o Machado de Assis fez. Eu não sei como foi para você, para mim, o primeiro livro, ele demorou anos para nascer porque ele era, não é que era uma incógnita, era uma coisa tão ameaçadora diante de mim que eu não conseguia começar, eu estava naquela, preciso escrever, preciso fazer, preciso fazer e sempre, mas quem sou eu, pô, como é que eu vou fazer, então até eu conseguir lançar meu primeiro livro, foi um bom tempo que passou, mas eu me lembro que eu trombei bastante nessa coisa de botar o papel na minha frente, olhar para aquilo e falar, mas quem sou eu, o que que eu tenho para dizer num livro? E vencer essa barreira foi muito complicado. Você tinha um problema maior do que o meu, porque você, como eu falei, começou tarde e de repente bota na cabeça que vai escrever um livro. Para quê?
Alex Para quê? É uma boa pergunta. A história do meu primeiro livro, ele foi forjado em carne viva. Tem um carta do Van Gogh para o irmão dele, que ele fala que um dos quadros ele forjou em carne viva, a história do meu livro é igual, imagine um sujeito nordestino aqui em São Paulo e tal, que não tem a menor referência de ninguém, de jornalista, nada, ah vou publicar um livro, como você diz, de uma audácia sem tamanho e eu lembro que eu peguei o recurso do FGTS dessa empresa que eu trabalhava, dessa administradora e tal, era acho que 12 mil reais na época e eu, puxa vida, podia comprar uma casa, dar entrada numa casa…
Luciano Que ano era isso?
Alex … isso a gente está falando em 2004. 2003 – 2004, comprar um carro, estava sem carro essa época e tal, aí eu falei não, eu já sei, eu tenho uma ideia, vou publicar um livro, o livro estava mais ou menos pronto, vou publicar um livro, mas a gente sabe a dificuldade que é uma editora tradicional de publicar e aí eu lembrei das histórias, imerso aí em várias grandes histórias de liderança, de empreendedorismo que o Carlos Drummond de Andrade pagou a publicação do seu primeiro livro, em 1937 e aí tem a história mais curiosa ainda que é de um poeta inglês, que hoje é um clássico universal E.E. Cummings, ele mandou o livro para várias, escreveu o primeiro livro, mandou para várias editoras, todas elas recusavam e a mãe dele vendeu a parte que ela tinha de um imóvel em Londres e pagou a publicação do livro, o livro foi um sucesso muito grande na Inglaterra e o Cummings escreveu um poema, na segunda edição do livro, chamado “No Thanks”, Não obrigado e colocou o nome de todas as editoras, como forma de agradecimento por não ter sido aceito e o meu livro foi assim, eu fiz uma auto publicação com muito esforço, um livro feito de forma muito primária, muito precária…
Luciano Você pagou o teu livro.
Alex … paguei o meu livro, é assim, não é que eu paguei porque tinha muito recurso sobrando e tal, não, era o dinheirinho que eu tinha lá…
Luciano E o teu livro em mãos.
Alex … é, exatamente.
Luciano Quantos exemplares você imprimiu?
Alex Eu imprimi três mil exemplares.
Luciano Três mil exemplares, do teu próprio livro.
Alex Do meu próprio livro.
Luciano E aí você botou na tua sala.
Alex Botei na minha sala, ia vendendo um a um, naquela época a internet não tinha essa projeção que tem hoje e tal…
Luciano Que distribuição de livro, é a pior parte do processo.
Alex A pior parte, justamente.
Luciano Aliás, vamos lá, para quem está nos ouvindo aqui que não é do ramo, a parte mais fácil de escrever um livro, é escrever o livro, a parte mais fácil sentar e escrever o livro, isso é facílimo, depende só de você, você controla sempre, você se dedica, dá um prazer desgraçado fazer aquilo lá e um belo dia você tem aquele teu manuscrito pronto, ou aquele teu pen drive com o livro lá dentro, a tua obra, o teu filho maravilhoso e aí começa a tua agonia…
Alex A via crucis.
Luciano … e essa agonia vem, a primeira agonia industrial que é: quem é que vai produzir esse livro e transformar esse arquivo aqui em alguma coisa palpável e aí vem a pior das piores partes que é como é que eu distribuo esse livro, porque eu levo os três mil para a minha casa, sento em cima… Eu tenho um amigo meu que é escritor também e ele sempre fala, eu sou escritor fracassado, é a pior coisa da minha vida é acordar de manhã, entrar na sala e ver três mil livros ali e eu me sinto um bosta, cada vez que eu entro na sala e vejo os três mil livros, aquilo derruba a minha auto estima porque está lá o livro parado, não sei quanto tempo, amarelando e eu não consegui fazer nada com aquele livro que estava lá, portanto eu sou um fracassado, ninguém me ama, ninguém me quer e assim vai. E você não tinha os recursos para falar, imprime, põe aí, se der dá. Não, tem que dar certo, tem que fazer.
Alex Tem que dar e assim, apesar de tudo isso, a gente conseguiu um sucesso razoável, vendemos dois mil livros, tem ainda uns quatrocentos livros e distribuía vários enfim, foi, para a minha realidade, um milagre, um verdadeiro milagre.
Luciano Qual era o tema do livro?
Alex Um livro de contos. Um livro de contos e um desses contos eu, que é o último texto do livro, eu trago Machado de Assis para o século XXI, esse texto até a prefeitura de São Paulo patrocinou uma encenação num dos CEUS’s aí da prefeitura e causou até uma pequena repercussão na época e foi um desafio, como você disse, eu tenho a foto até hoje de eu lá no meio dos livros falando e agora? O que eu faço com esse monstro aqui para me devorar.
Luciano Primeiro feliz, sorridente, e dali a pouco…
Alex Realizado, e agora?
Luciano Aquela trambolhada. Pegou de volta o dinheiro que você gastou para fazer o livro?
Alex Peguei.
Luciano Conseguiu?
Alex Milagrosamente consegui pegar e aí eu fui convidado pelo SESC para fazer palestra, a primeira vez até eu tenho a cópia do cheque, a xerox do cheque que eu recebi do SESC, da primeira palestra que eu dei remunerada, falei eu sou o máximo, eu sou o rei do mundo…
Luciano Que legal.
Alex … e foi extraordinário isso, enfim.
Luciano Então se eu entendo a tua história, você fez como eu fiz num determinado momento, de dia eu sou Clark Kent, a noite eu sou super homem, de dia eu estou de terninho, gravata, ganhando meu ganha pão, como fizeram vários, você citou o Carlos Drummond de Andrade, quer dizer, o cara trabalha numa repartição pública, passa o dia lá e é um dos maiores poetas, se não for o maior poeta brasileiro. E você foi levando isso adiante, foi conduzindo essa coisa adiante, como é que essa, como é que você cuidava de ponderar ou de equilibrar essa coisa mundana que é eu aqui com meu terninho, vendendo prédio, comprando apartamento, fazendo para ganhar dinheiro e do outro lado essa coisa do dono do mundo, do cara que senta e do que escreve e que não tem limites e são duas pessoas que vivem momentos totalmente distintos, uma coisa eu imagino que te dá um puta de um prazer, a outra pode até de dar prazer, mas são prazeres totalmente diferentes, como é que você equilibra, como é que… eu entendo que você não ganha dinheiro com livro.
Alex Não, não ganho dinheiro com livro.
Luciano Você não ganha dinheiro com livro, você ganha dinheiro vendendo as coisas.
Alex Ganho dinheiro com meu trabalho, enfim, com as consultorias que eu dou na área imobiliária.
Luciano E como é que é? Uma coisa você não ganha dinheiro mas ama fazer e te dá tesão e faz você ficar vivo e a outra te sustenta e consome uma boa parte do teu tempo.
Alex É um pouco o médico e o monstro, o romance lá do Robert Louis Stevenson, do sujeito que é médico durante o dia e virava um monstro, tem desenho animado, que tornou ainda mais clássico o romance, eu na verdade, no meu caso, completando sua pergunta, eu não sei quem é o médico e quem é o monstro nessa minha dualidade de personagens, a minha realização, na verdade, é com a escrita, obviamente, eu faço o meu trabalho e tal, desenvolvo meus projetos profissionais para sustentar o escritor, mais o prazer é tal na feitura da escrita, que eu acho que eu trabalho pouco ainda para poder sustentar essa paixão.
Luciano Você lançou o segundo livro.
Alex Lancei o segundo livro agora em abril…
Luciano Que se chama?
Alex “Depois do Fim”.
Luciano “Depois do Fim”, me fala um pouco desse livro ai.
Alex Então, Depois do Fim é um livro que, bom, o primeiro livro é de 2005, o “Incandescências” e o “Depois do Fim” que foi publicado agora em 2016, um lapso aí de 10 anos, 11 anos, é um livro que já tem uma estética totalmente diferente, toda a situação já é bem favorável de todos os pontos de vista e tal. O professor Leandro Karnal, muito generosamente, escreveu a orelha do livro, prefaciou o livro, eu tenho até uma história muito curiosa com o Leandro, porque o Leandro, ele era coordenador da Casa do Saber, eu conheci em 2003, eu lembro que os cursos eram muito caros, muito longe da minha realidade e eu vi uma notinha lá no jornal, vai ter um curso sobre história da arte e tal, eu falei vou fazer esse curso hoje, quando eu liguei lá, como diz aquela música do Chico Buarque, a tarifa não tinha graça, então liguei lá, falei não tem outra possibilidade e tal? Tem. Aí eu fui lá, mas tinha que preencher requisitos, requisitos era você tinha que ter uma renda, sei lá, salário mínimo, cumprir essa renda e tinha que ter boas notas na escola ou na faculdade se estivesse cursando, eu tinha notas adequadas e tal e eu consegui fazer as aulas com o professor Leandro Karnal com a bolsa na verdade, então nunca paguei porque não tinha condições de pagar o curso e a partir dai a gente desenvolveu uma amizade bastante sólida, até hoje a gente conversa praticamente todos os dias e aí surgiu o livro, a gente fez o lançamento muito bom aqui com 300 pessoas no auditório do clube onde foi feito o lançamento e o livro está aí, está no Brasil inteiro e tal…
Luciano Você conta uma história, um romance.
Alex É um romance…
Luciano Durante o período Collor.
Alex … exatamente, até teve bastante ecos com o impeachment da presidente Dilma Roussef porque eu fiz a composição do livro, o livro começa em 1989 e termina em 2003 quando o ex presidente Lula assume o poder, porque para mim esse foi o momento mais significativo do Brasil em termos históricos recentes, porque você, nós estávamos no momento de ruptura com o regime militar, que foi opressivo, etc e tal e existem de fato muito diálogo com o momento que acontece hoje, porque uma breve pincelada sobre o livro. O livro trata de dois irmãos, um professor universitário que sai de Pernambuco para São Paulo, mais ou menos como a minha história e eles herdam esse irmão ele herda um quadro do pintor holandês Frans Post, Frans Post tem uma história incrível, ele é o primeiro pintor a retratar as paisagens das américas, então os quadros dele, que eles foram pintados no Recife esses quadros, quando da invasão holandesa em Pernambuco, esses quadros tem valor inestimável, nem existe nenhum mais à venda e esse professor.. é uma ficção, obviamente, esse professor herda esse quadro e ele disputa esse quadro com o irmão porque o irmão é um doidivanas, ele é um cara professor universitário, todo certinho e tal e eles vão disputando esse quadro durante toda a história, porque na verdade ele tem, o professor recebe a herança, mas ele tem só a informação, ele não tem a matéria, ele não tem o quadro fisicamente em mãos, ele tem várias pistas que ele vai seguindo até descobrir o quadro e aí nesse meio tempo acontecem várias sub histórias dentro do romance e é perpassada a toda a questão ética, a falta de ética dos personagens para botar a mão no tesouro e vender e fazer fortuna que dialoga com o momento que o Brasil se encontra hoje, com essa discussão ética sobre corrupção que a gente vê todos os dias no noticiário, mas que de alguma forma é mais do mesmo, a gente vê o Brasil como diria lá a música do Cazuza, eu vejo o futuro repetir o passado, então tudo o que eu narrei nesse romance, que era a corrupção endêmica no governo federal, os caras pintadas lá lutando contra uma bandeira ética e agora a gente vê a história se repetir com as mesmas personagens, com gente que defendeu o impeachment do presidente, no caso do Lindberg Farias hoje senador e hoje de uma forma apoia lá, tem uma base de governo com o presidente Fernando Collor, então assim, o Brasil é um país que está fadado a essa loucura, está fadado a essa corrupção que ela não atinge só a parte mais alta do governo federal, mas atinge também o sujeito que paga propina para não ser multado, ou enfim a rotina do dia a dia.
Luciano São as corrupções, o Brasil não tem a corrupção, ele tem as corrupções. Esse teu livro, você conseguiu já editora?
Alex Sim, editora, agora já foi, já estou em outro mundo, tem a distribuição nacional já estou…
Luciano Então espera um pouquinho, o autor de um livro só, dez anos atrás decide fazer um segundo livro, primeiro ponto complicado, não é um nome conhecido, é um cara que tem um livro lá atrás que está dentro de casa, uma produção independente, resolve fazer seu segundo livro, escolhe um romance, que não é lá essas coisas em termos….
Alex Apelo popular…
Luciano … é complicado, vai enveredar pelo segmento político e tudo mais, como é que é. Vamos falar sobre essa coisa de você tomar a decisão de enfrentar esse novo desafio e conseguir chegar até uma editora, qual foi a mágica?
Alex A mágica foi que eu mantinha um blog, eu escrevia praticamente um artigo por dia, depois que comecei a escrever esses outros livros agora eu parei um pouco de escrever nesse site e tal, mas eu devo ter uns 1500 textos escritos lá e eu conheci o Rodrigo Simonsen, que é da Editora Simonsen, que publica aí grandes nomes, Constantino, publicou Mário Vargas Lloza, recentemente e tal e eu mandei um rascunho para ele porque eu lembrei da história do Wittgenstein, Wittgenstein é uma das mentes mais brilhantes do século XX, Wittgenstein, ele foi aluno de Rousseau, o filósofo Rousseau e ele um dia chegou para o Rousseau e disse para ele, olha, eu fiz um rascunho aqui sobre filosofia e me diga, se o texto for bom, eu vou me tornar filósofo, mas se for uma porcaria eu vou ser aeronauta, que ele tinha lá paixões lá por aviação, aí passaram sei lá, quatro meses e o Rousseau chama o Wittgenstein na sala e diz para ele olha, não torne-se um aeronauta, porque o seu texto é muito bom e depois esse texto se transformou num livro, que chama “Tratados Lógicos Filosóficos”, que é um dos textos fundamentais da filosofia moderna e aconteceu a mesma coisa comigo e o Simonsen, eu levei o dia que eu encontrei com ele, mostrei lá o rascunho, aliás o Simonsen eu conheci por intermédio do Leandro Karnal, fazíamos curso lá e tal, eu levei o texto para ele, levei os primeiros capítulos do romance e levei essa história escrita do Wittgenstein com o Rousseau, eu falei, não se envergonha, nós não éramos amigos, não éramos próximos, não se envergonhe de dizer que eu sou um completo idiota e recuse o texto, enfim, eu deixei lá o original, devia ter umas 15 páginas, 20 páginas talvez…
Luciano Que era o quê?
Alex … que era o romance, era o script do romance, mas era já os quatro, cinco primeiros capítulos do livro. Entreguei para ele, ele olhou assim meio com desdém e tal, ok. 72 dias depois ele me escreve, só que nesse interregno de tempo eu continuei dando corpo ao romance e tal, ele falou assim, vamos publicá-lo que a história faz sentido e aí foi o milagre, o livro está em todas as grandes livrarias.
Luciano Quer dizer, você seguiu aquele caminho que é um caminho que eu dou dica para as pessoas, você não foi bater na porta de um cara e falou muito prazer, eu sou o famoso quem, tenho um livro aqui que eu estou te mandando, você não mandou o livro para uma editora dentro de um envelope para dizer, por favor, se der deu. Você explorou seus contatos…
Alex Exatamente.
Luciano … e eu imagino que aquele teu blog deve ter algum papel nisso, porque teu blog te botou em visibilidade com uma série de pessoas, você estava lá fazendo os cursos junto com o Karnal, você aproveitou que o Karnal te apresentou e você usou esses contatos para poder chegar até alguém que pudesse interessar, quer dizer, você venceu uma barreira gigantesca que é a barreira das editoras que é um negócio complicado, que se você pegar qualquer livro aí de como fazer, eles ensinam lá, não, pegue, faça a tua sinopse assim, assim assado, bote num envelope assim assado, mande lá e aí os caras vão receber 25 envelopes por hora e vai ter um estagiário que vai abrir o envelope, vai bater o olho no envelope e vai falar isso aqui dá, isso aqui não dá, naquilo ali a tua obra maravilhosa já desandou ali…
Alex Vira fogueira.
Luciano … você investiu no network…
Alex No meu relacionamento…
Luciano … no relacionamento network, não é?
Alex … exatamente.
Luciano E aí, a hora que pinta a ideia de que agora vai ter uma editora, muda tudo?
Alex Muda tudo, a infraestrutura, distribuição principalmente, o livro está no Brasil inteiro hoje, enfim, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte o livro está exposto, eu venho sendo convidado a fazer eventos, agora semana que vem eu vou para a FNAC aqui da Paulista fazer um evento, fui convidado pela livraria por intermédio da editora que tem grande penetração e tal, abre as portas para várias possibilidades que, enfim, e outro mundo, mas tudo, na verdade, colher isso é tudo fruto daquilo que eu fiz com meu FGTS lá, coitadinho, sem dinheiro para nada e eu arrisquei tudo para fazer aquilo, isso é resultado daquilo.
Luciano E haja paciência, porque você está falando de 10 anos, é um hiato de… mais, que 10, você falou 2004, é um hiato de 12 anos até você conseguir botar teu livro para valer aí, mas houve investimento lá atrás, imagino a quantidade de gente que te chamou de louco quando você falou que ia botar 12 paus para fazer, essa coisa vaidosa que é editar o teu próprio livro estava lá atrás. Eu encaro livros hoje, já publiquei oito, já tenho oito livros aí, livros para mim hoje são cartões de visita, é o meu cartão de visita um pouco mais elaborado, em vez de eu te dar o cartãozinho eu te dou o livro e eu tirei da frente essa história de que o livro vai ser minha peça, de que eu vou ganhar dinheiro com ele, não vai, é complicado, então eu tenho usado mais como uma… eu quero deixar alguma coisa e grande parte do que eu tenho a deixar está escrito nos meus livros e trombo sempre nessa dificuldade que é o Brasil, é um país complicadíssimo…
Alex O Brasil leitor, não é?
Luciano … o Brasil como um todo, o Brasil geograficamente é um desastre para quem quer viver de livro, você vai para a Alemanha, Alemanha você pega uma distribuidora de livros, o cara pega o carro de manhã, bota 500 livros dentro do carro, no final da tarde ele passou por 25 cidadezinhas e largou livro em todas as livrarias que tinha lá, entendeu? Não tem problema lá de distribuição, aqui no Brasil é um inferno, as editoras querem que a gente, a editora não, a distribuidora pega o livro, bota no meio de um pacote, aí você quer mandar para uma rede o cara lá de Recife pede um exemplar, se bobear…
Alex A logística para isso…
Luciano … é um terror, o Brasil ele é um desastre logístico e aí eu acho que tem uma oportunidade gigantesca que pouca gente se dedicou a ela ainda, que é, isso precisa ser implodido, essa…
Alex Esse modelo.
Luciano … esse modelo tem que ser implodido, da mesma forma como foi implodido a questão industrial do livro, hoje você não precisa, não tem mais aquele rolo, para fazer um livro eu preciso de uma editora, não precisa de editora coisa nenhuma, você mesmo faz, você mesmo bota a capa, tem gente que faz para você, você pega, contrata a editora, imprime, não tem mais segredo nenhum produzir a peça em si.
Alex Não tem mais barreira, não é?
Luciano Isso foi tudo implodido, divulgar o livro já é fácil fazer pela internet, tem caminhos para fazer isso aí, mas a distribuição continua sendo um horror.
Alex Continua sendo um pesadelo.
Luciano Você não consegue entrar e alguém…
Alex Tem uma máfia lá.
Luciano Alguém tem que implodir esse modelo.
Alex Exatamente. É o próximo passo, talvez seja o próximo passo agora do mercado editorial.
Luciano Pois é, mas eu acho que ele não será implodido com o modelo de livro que a gente conhece, essa história do livro de papel na mão, etc e tal, isso não vai implodir esse modelo, o pessoal acreditou muito no e-book, porque o e-book ia implodir, também não vai implodir o modelo porque o e-book é uma coisa muito… é elite ainda, os volumes são muito baixos ainda para o e-book mas tem algum caminho que eu não sei qual é que é que vem pela frente aí, algo me diz que o que vai implodir esse modelo vai ser o livro por fascículo, vai ser o livro que você vai, toma, toma, toma, no final do ano, sabe a enciclopédia Conhecer? No final do ano eu tenho o livro, encapo e tenho o livro na mão.
Alex No século XIX era muito comum isso, os livros do Charles Dickens na Europa, eles eram publicados por fascículos, chegavam, imagina, tem histórias que as pessoas ficavam no porto de Nova York esperando o fascículo do Dickens chegar, o Machado de Assis também era assim, o livro saía semanalmente em fascículos nos jornais.
Luciano É o modelinho aquele, estou te mandando aqui, se você gostar do livro em papel imprime aí, vai imprimindo, vai imprimindo no final do ano você vai ter, sem perceber, você imprimiu 400 páginas, é só botar uma capa e o livro está pronto, eu não sei como esse modelo vai ser…
Alex É uma saída, você acabou de dar uma luz aos ouvintes que estão…
Luciano … eu não sei ainda como é que isso vai fechar…
Alex … querem empreender…
Luciano … esse é o modelo enciclopédia Conhecer, a diferença é que a enciclopédia conhecer era impressa no parque gráfico da Abril e era enviado para a banca e você ia lá e comprava um fascículo na banca, agora eu consigo te mandar o fascículo pelo teu e-mail e você imprime na tua impressorinha Epson, com cartuchinho a cor, vai imprimir dez, quinze páginas, não vai fazer diferença nenhuma e no final do ano você tem o livro pronto ali, talvez seja esse o caminho, mas estamos viajando, já virou viagem aqui, já estou falando coisas aqui par outros empreendedores. Me fala uma coisa, o negócio que você me falou que você está trabalhando agora num livro que é a biografia de Alexandre o Grande.
Alex Exatamente, esse é o meu próximo desafio.
Luciano Haja. Deve ter umas 528 biografias dele só na língua inglesa, imagino que deve ter biografia desse cara ai. Como é que é isso, como é que você parte dessa intenção de escrever a biografia sobre um personagem histórico que já foi super estudado e tudo mais, para quê? Por quê? O que é isso? É uma forma de você dar vazão a uma curiosidade sua? O que é?
Alex Rapaz na verdade assim, eu acredito nesse, afora questões religiosas, não pisou, afora Jesus Cristo que tem uma ascensão divina, filho de Deus, diretamente de Deus, todos o somos, não pisou na terra nenhuma figura de maior expressão que que Alexandre Magno, Alexandre o grande é a figura mais extraordinária que se possa imaginar, dentro e fora da ficção não existe ninguém, nem existiu e talvez nem exista alguém igual a ele. Imagine um sujeito que sozinho mudou, ele mudou a geografia do mundo literalmente, não é uma geografia um país não, ele mudou a geografia, na costa do Líbano existe hoje uma ilha que não é mais ilha, ela está literalmente ligada ao continente porque ele fez um cerco a essa ilha, isso em 331 A.C. ele aterrou, ele destruiu uma floresta inteira e aterrou o mar para chegar até a ilha e poder invadir essa ilha, porque tinha uma fortificação lá, dos fenícios, que era a maior armada marítima da antiguidade e ele conseguiu fazer esse cerco de oito meses e enfim, ele uniu uma ilha, o que era uma ilha, hoje faz parte do continente, então isso é apenas algum dos feitos que ele realizou e você falou das várias biografias, eu li mais de trinta mil páginas sobre ele, sobre o momento histórico que ele viveu, sobre a Grécia antiga, sobre a Pérsia e o tema é absolutamente inesgotável, eu li centenas de biografias dele em português e em inglês e um dado que as pessoas podem, eu quero trazer a biografia para o momento mais atual, por exemplo, quando ele fez a primeira batalha em 330 A.C. aconteceu um eclipse lunar e esse eclipse ele mudou completamente a figura da batalha, foi a maior batalha, uma das maiores batalhas da antiguidade, ele tinha um exército de 30 mil soldados, sendo que o exército persa tinha, segundo estimativas, 250 mil soldados, então ia ser um massacre do império persa contra os gregos e esse eclipse lunar, ele mudou completamente a batalha porque a parte dos persas e dos iranianos, viam naquele eclipse um significado místico e os gregos outro e isso mudou a logística da guerra, porque eles ficavam lá acordados boa parte da noite e aí eu falei como eu vou descobrir quanto tempo durou esse eclipse para que ele fizesse algum sentido para a logística da guerra? E é o site na NASA mostra todos os eclipses que aconteceram de 1000 a 2000 D.C. e aí eu vi lá que naquela exata noite e tal o eclipse durou 3 horas e 22 minutos e tal, então essas informações são detalhistas demais mas que fazem todo um sentido porque o tema dele não ficou completamente esgotado ainda, uma das teorias que eu defendo na biografia é de que se não houvesse, se Alexandre não tivesse existido o cristianismo simplesmente não seria possível, porque é com as guerras de Alexandre que o idioma grego é disseminado no oriente, na Bacia do Mediterrâneo e é com esse idioma que o novo testamento é escrito, o novo testamento inteiro é escrito em grego, que era a língua, era o inglês da época e foi a única forma de difusão do cristianismo seria essa, porque se fossem falar o aramaico, que Jesus falava, é uma língua absolutamente impenetrável, intraduzível, ou mesmo o latim dos romanos que também nunca teve penetração nas línguas não latinas da Europa, então assim, há quem diga atém que existe um arranjo entre aspas, divino, para a vinda de Alexandre para ele destruir o império dos persas e a partir dele ter surgido o império romano e tal, mas a história é muito longa.
Luciano Como é que você… nós estamos vivendo num mundo curioso, de onde você tem acesso a todo o tipo de informação que você quiser, você consegue entrar dentro de uma galeria romena e pesquisar os quadros que tem lá e se bobear você acha o texto a respeito daquilo, não tem mais limite, você consegue mergulhar em qualquer lugar e ao mesmo tempo tem uma molecada aí que não quer saber de nada de história, você pergunta para um cara de 22, 23, 25 anos alguma coisa de quem foi Barão do Rio Branco, o cara não tem a menor ideia e não tem interesse em saber e eu não estou me referindo a molecada, não é o pobre, não, é qualquer, é qualquer um. Ou seja, há um desinteresse brutal sobre a nossa história, ninguém quer saber de história, quer saber daqui para a frente e se você for bater, os caras pô, mas perder tempo… outro dia eu tive um lance interessante, cheguei na hora do almoço em casa, que eu estava falando sobre um trabalho que eu estava fazendo aqui, precisava dar um nome para os personagens, a persona, não sei o que, falei bom, um vai chamar Santa Maria, o outro vai chamar Pinta, o outro vai chamar Nina. Não, mas tem que ter quatro, tem que ter quatro, então o quarto é Colombo. E aí eu contei isso na hora da mesa e o pessoal… a quem interessa saber que as três caravelas chamavam Santa Maria, Pinta e Nina. Isso para mim era uma coisa sagrada, que eu fui aprender lá atrás e eu tinha orgulho de dizer que eu sabia disso e essa coisa de você procurar o saber lá atrás desandou, me parece que aquilo, eu vou repetir para você, é daqui para a frente o que interessa, entendeu? O que tem para trás não tem o menor interesse, não serve para nada, quando você vem falar de Machado de Assis, já morreu, já era, já enterrou, acabou, etc e tal, então não há essa perspectiva de que a partir do repertório que eu consigo de tudo o qe aconteceu lá atrás, eu consigo me projetar à frente, essa molecada não tem mais isso, passa uma régua e é daqui para a frente que interessa, como é que você tem visto isso, como é que você lida com isso, porque vai lançar um livro contando a história de um cara que morreu…
Alex Mas é interessante isso, porque a história na verdade ela é uma ciência que estabelece o futuro, imagine que se não houvesse… quando você se refere à molecada, a gente pensa em Einstein, Einstein é de alguma forma o pilar de todas as tecnologias que a gente tem hoje…
Luciano Mas Einstein não vale, Einstein é pop…
Alex Einstein é pop…
Luciano … é pop…
Alex … aliás nenhum cientista é tão pop quanto ele…
Luciano … é pop, quando você fala, todo mundo sabe que é, mas sabe porque, porque é pop.
Alex … mas a base de Einstein é Copérnico, a base de Copérnico… espera aí, a cronologia é a seguinte, é Einstein, é Copérnico, é Galileu, então assim, sem um não existe o outro…
Luciano Tem Newton no meio.
Alex … desculpa, é Einstein, Newton, Copérnico e Galileu, ou seja, sem um não existe o outro, entendeu? Então se a molecada hoje se diverte tanto com a tecnologia que manda, se não existisse um sujeito, como Pascal, por exemplo, que foi Blaise Pascal, um matemático filósofo francês que fez o primeiro computador analógico de que se tem notícia, nós não podíamos ter o Twitter hoje, o Facebook, ou enfim, as mídias sociais que são tão adoradas, então assim…
Luciano E daí?
Alex … e daí que…
Luciano E daí que o Pascal…
Alex … que eles não terão referências e sem referências nós não somos nada, é o mal do Alzheimer, não há memória, sem memória não há humanidade, então por mais que haja relativo desinteresse pelas questões históricas e tal, a gente vê a questão do ENEM aí, toda essa loucura, toda essa celeuma em torno da prova do ENEM, mas se o cara não tiver uma base histórica, ou enfim, de uma cultura relativamente geral, ele vai tomar bomba e ele não vai ser o querido, enfim, pela turma dele e tal se ele for um sujeito medíocre e a gente vive hoje numa sociedade que é absolutamente hedonista, que é uma sociedade que é a sociedade da imagem, mas o gregos também tiveram isso aí tempos atrás.
Luciano Você não acha que esse fascínio que se cria hoje em dia, por exemplo, por um cara como o Karnal, Karnal é um historiador, não é?
Alex Sim, historiador.
Luciano E é um historiador e está lá colocado entre os novos intelectuais brasileiros e há um fascínio gigantesco por ele exatamente porque ele preenche uma lacuna gigantesca, eu não sei de merda nenhuma de história e o cara senta na minha frente e você fala meu, que coisa maravilhosa…
Alex Que bonito, não é?
Luciano … que coisa linda, coisa maravilhosa, no entanto o mesmo cara que diz que coisa linda e coisa maravilhosa, não está nem aí para o Pascal, eu quero que o Pascal se dane, estou querendo chegar num ponto aqui que é o seguinte, por que perder tempo construindo essa coisa toda do passado para um povo que só tem olhos para a frente? Por que não projetar e lá para a frente falar eu vou falar, que agora está na moda, você só vê futurismo, entra na internet é o futurismo, é a inovação, é a escola do futuro, é os caras que pensam para a frente e não tem mais nada para trás.
Alex Pelo menos o caso específico do Alexandre, veja você que ele é tão moderno, tão atual apesar de ter vivido 2300 anos antes dos nossos dias, imagina o sujeito que chega em locais remotos da Ásia vê povos relativamente civilizados que não enterravam seus mortos porque não queriam profanar a terra, nem queimavam os cadáveres para não profanar o fogo e literalmente deixavam-nos sobre os telhados ou em descampados para serem devorados por aves de rapina, então isso é um avanço em termos sociais que pouca gente se dá conta, não é? O sujeito que tem um conceito de oriente e ocidente unificador, é uma ideia absolutamente moderna e avançada, que hoje a gente não é capaz de depreender, o grande projeto de Alexandre era fazer a unificação dos mundos, e eram mundos que à época eram divergentes, eram cada um do seu lado e tal e ele achava que não, que isso era uma bobagem, a unificação das civilizações é que ia trazer um avanço maior e a gente ainda vê esse problema acontecer hoje nessa rivalidade entre o mundo árabe e o mundo ocidental, capitalista, se a gente estudar o que aconteceu no passado, especificamente do meu objeto de estudo que é a Grécia antiga que é Alexandre o Grande, a gente vai descobrir que se os conceitos que ele adotou naquele momento tanto tempo atrás, se fossem administrados hoje, teríamos muito menos conflitos, não teríamos, talvez, o terrorismo, não teríamos talvez invasões inúteis do ocidente a terras árabes.
Luciano Ou teríamos uma ditadura em escala planetária como nunca se viu na história, não é?
Alex Pois é, mas…
Luciano Eu acho que a história toda que a gente tem que bater a tecla aqui, eu costumo sempre dizer, eu sempre falo, você que está aí ouvindo a gente e está arrancando os seus cabelos com seus problemas e etc e tal, para para pensar o seguinte: um grego, três mil anos atrás já pensou a respeito disso, eu não importo qual é a tua angústia, não interessa a angústia que você tem, algum grego tratou desse assunto há três mil anos e depois esse grego, porradas de outros caras, mergulharam nisso, então conhecer o que esse pessoal pensou, saber de onde eles vieram, saber como é que eles lidaram com esses assuntos lá atrás, explica muito do que a gente vive hoje, eu acho que não tem problemas novos, tem problemas sendo colocados de outra forma, está tudo muito mais rápido, está tudo muito mais conectado, é muito mais fácil. Tem muito mais cor, muito mais música e tudo, mas no fundo, no fundo, no fundo, os temas que nós estamos discutindo hoje em dia já foram tratados lá atrás e tem porradas de filósofos aí que explicam isso tudo. Quando eu corto meu laço com esse passado, com essa história toda, eu não tenho base para poder interpretar, então eu sou a velha história, eu tenho uma palestra chamada “Geração T” e o T é T de testemunha, quer dizer, eu sei tudo o que acontece, se você perguntar para mim porque acontece, eu não tenho a menor ideia porque eu não tenho base histórica nenhuma, eu não tenho de onde partir, então talvez aí valha a pena e por isso eu fico fascinado, eu gosto demais, eu mergulho também nessas histórias todas, eu estudo essa turma toda, me fascinam esses pioneiros que se fiam no fim do mundo, o cara vai morrer lá em cima do monte Everest pelo prazer de conquistar algo que ninguém viu e essa história toda dessa coisa do ser humano de se mexer é, para mim, tem uma perspectiva fantástica para projetar o futuro, eu mergulho muito nessas histórias todas, então acho muito legal e essa tua história aí de vir buscando essas histórias e botar isso em livro e contar para as pessoas, que baita esforço e eu admiro essa tua persistência, espero que esse teu livro que você lançou agora aí tenha um resultado legal…
Alex Está tendo já.
Luciano Eu sei que a remuneração por ele é uma piada, é uma piada porque, de novo, para quem não conhece a história toda, num livro de 40 reais, um autor bem remunerado na média vai ganhar 4, se estiver tudo certinho…
Alex Tem que vender muito livro.
Luciano … você vai comprar um livro de 40 e vai chegar na mão do autor, que foi o cara que escreveu o livro, 4 reais. E o que é que vem pela frente além do teu livro novo, o que você tem imaginando ai?
Alex Eu tenho bom, como eu disse, eu tenho recebido convites para fazer eventos sobre o livro, a FNAC agora é uma delas, vou participar da FLIPOSTS que é acho que talvez a segunda feira literária do Brasil em termos de participantes e tal e venho recebendo aí, enfim, convites para entrevistas e tal, mas eu queria só voltar num ponto sobre o modo de fascinar os jovens, o pessoal conectado para coisas históricas, que fala ó, você cheira a mofo e tal, mas eu venho falando com plateias e eu vejo muitos jovens nessas plateias para temas que sejam… que agucem a curiosidade, eu sempre falo a história de Eratóstenes. Eratóstenes foi um engenheiro que viveu na Alexandria no século II D.C., ele foi capaz de medir a circunferência da terra com um graveto, eu acho isso extraordinário, o erro dele foi de menos de 1%, depois cálculos com os satélites fizeram a medição da terra e viram que ele estava absolutamente certo, porque ele usou…
Luciano Usou a sombra do sol.
Alex … o graveto com a sombra do sol, você conhece bem a história, isso é extraordinário porque é fascinante, uma história fascinante…
Luciano É para você imaginar a mecânica de raciocínio de um cara desse, ele não tem ponto de partida…
Alex Ele não tem referência nenhuma.
Luciano … é isso aí, ele bota o graveto em pé, vê a sombra, fala bom e se…
Alex Exatamente, e se…. exatamente, imagine… é quase um milagre, é divinal, é enfim, extraordinário. Um outro sujeito também que vivia em Alexandria, chamava Heron, Heron de Alexandria, Heron, ele criou a primeira máquina, o primeiro dispositivo a vapor de que se tem notícia, mas aí a gente vai, ai a questão da história, do presente, dos problemas e das misérias que a gente vê hoje, por que não foi desenvolvido o sistema a vapor? É um conhecimento que exista há 2 mil ano e e ele só vem a ser executado em escala industrial no século XVII, XVIII, a revolução industrial na Inglaterra, por exemplo, mas por que aconteceu isso? Porque o Faraó de então viu aquilo e falou assim, você é maluco? E os escravos, o que faremos com os escravos? Quando ele fez a demonstração do dispositivo a vapor, ou seja, é tudo é uma questão social.
Luciano É mais ou menos essa discussão que tem hoje, se você tirar o cobrador do ônibus, se você fizer a cobrança automática no ônibus o que eu faço com os cobradores?
Alex Exatamente, então isso de alguma forma aguça a curiosidade do pessoal conectado para buscar referências como você disse para que possa discutir algo, porque é fazer exercício sobre o futuro é fácil, mas o futuro sem um balizamento, ele é absolutamente tolo, ingênuo.
Luciano Alex, parabéns por essa história tua, quem quiser te encontrar acha você, aquele blog, o livro, onde é que você está?
Alex O blog, colocar Alex Bezerra de Menezes aí no Google acha ai no Instagram, as mídias sociais todas, enfim…
Luciano Repete o nome do teu livro.
Alex … “Depois do Fim” publicado pela Editora Simonsen…
Luciano Está em todas as boas livrarias.
Alex … boas livrarias do Brasil inteiro.
Luciano Maravilha.
Alex É isso.
Luciano Obrigado pela visita valeu o papo.
Alex Obrigado a todos os ouvintes.
Transcrição: Mari Camargo