LíderCast 023 – Luiz Alberto Machado

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Bem vindo, bem vinda a mais um Líder Cast, hoje converso com Luiz Alberto Machado, um velho e querido amigo, economista, vice-diretor da Faculdade de Economia da FAAP e ex jogador quase profissional de basquete e fascinado pelas questões da criatividade. Um papo delicioso.

Muito bem, mais um LíderCast dessa vez com um grande amigo meu, uma pessoa com a qual eu tenho um relacionamento, eu não vou nem dizer que é profissional porque é de curtição, há pelo menos uns 10, 11 anos que colabora, é um dos isqueiros titular de uma das colunas mais tradicionais das iscas intelectuais do portal Café Brasil. Nós vamos tentar lembrar como é que eu conheci durante esse papo aqui, mas eu vou àquelas 3 primeiras e indefectíveis perguntas do LíderCast: como é seu nome, sua idade, que é muito importante e o que é que você faz?

Luiz                   Meu nome é Luiz Alberto Machado, eu completei 60 anos agora no dia 4 de julho, sou economista, professor, sou vice-diretor da Faculdade de Economia da FAAP e sou conselheiro federal de economia e eu brinco com o meu tempo entre essas várias atividades.

Luciano           Tá bom isso aí. Como é que a gente se conheceu? Você lembra?

Luiz                   Lembro, foi num evento em Aracaju.

Luciano            Fórum Internacional de Criatividade e Inovação, não é isso?

Luiz                   Isso. Eu não sei se era primeira ou segunda vez que eu participava e eu vi aquela programação inteira e fiquei encantado, porque era uma quantidade de gente que eu não estava acostumado a falar e no sábado a tarde, que eu acho que era o dia de encerramento, às 2 horas da tarde tinha uma palestra lá, “Brasileiros Pocotó”…

Luciano             Cara, isso faz 11 anos, 11 anos.

Luiz                   … e aí eu pensei comigo, falei bom, vou assistir essa palestra e vou sentar num cantinho aqui porque grande chance de eu pegar no sono, tinha almoçado bem, depois… e aí sentei lá no cantinho, mas que pegar no sono nada, a palestra era arrebatadora e dali para a frente a gente acabou se conversando lá e você me falou dos teus projetos e foi muito bacana.

Luciano             Foi muito legal porque, só para o pessoal que está ouvindo entender o que acontece, o Fórum Internacional de Criatividade e Inovação é uma aventura de um maluco, um sujeito sozinho que bota na cabeça, o nosso amigo Fernando Viana que lá em Aracaju, ele bota na cabeça que ele vai criar um evento no Brasil, fora do eixo Rio-São Paulo, a partir do conhecimento de vários grupos lá com a universidade de Búfalo, o pessoal voltado para a criatividade, cria esse evento, eu acho que isso aí era 2003, 2001, 2002, eu não estou bem lembrado da história, e monta um evento que acontecia em Aracaju com o patrocínio de Petrobrás, uma coisa interessante. E, um belo dia eu não sei porque me convida, eu vou para lá e vou por amor à causa e chego lá num teatro, com 800 pessoas, em Aracaju, discutindo criatividade e inovação, dou uma olhada na programação, eventos acontecendo o dia inteirinho e mil palestras acontecendo ao mesmo tempo e gente de fora, cara do exterior, um monte de gente discutindo coisas, eu falei cara, quem é esse povo? Que loucura é essa? E ali eu conheço meia dúzia de pessoas, uma delas era você e a gente acabou conversando, a gente encontrou muitos pontos em comum e de lá para cá fomos nos cruzando em vários momentos, então muito obrigado por cultivar essa amizade viu? É muito bom ter a chance de trocar com você essas ideias legais.

Luiz                   Sem dúvida Luciano, entre as tuas palestras, você tinha uma, não sei se ainda continua oferecendo, chamava “Gente Nutritiva”, eu incorporei nas minhas, falei, é muito bom quando você conhece gente nutritiva, porque é muito chato quando você tem que conversar com gente que não agrega nada e com você eu sinto isso, a gente tem sempre uma troca que resulta em agregação para os dois lados.

Luciano             Legal. Bom, você já conhece o LíderCast, sabe qual é a pegada daqui. A pegada do LíderCast é o pano de fundo aqui é liderança e empreendedorismo, mas não é um programa sobre liderança e empreendedorismo, é um programa onde eu converso com gente que faz acontecer, gente que de alguma forma não importa em que ramo de atividade, faz acontecer e eu sei que você tem uma história riquíssima, eu sei que você tem uma história que vem lá de trás e que passa por seleção de basquete, dá um aperitivo para nós aqui rapidamente.

Luiz                   É, eu cresci jogando bola, eu adorava esporte, eu jogava futebol, modéstia à parte jogava bem, jogava no dente de leite do Pinheiros e jogava basquete ao mesmo tempo e aí teve que optar, porque de vez em quando cruzava, os jogos coincidiam e eu acabei ficando com o basquete e não me arrependo não, mas levei para o basquete o apelido do futebol que era Pelezinho…

Luciano             Pelezinho?

Luiz                   … no basquete é Pelé até hoje e  aí meu mundo era uma bola de basquete, eu peguei uma fase muito boa, o basquete era o segundo esporte do Brasil, eu fiz parte de uma seleção brasileira que foi jogar um mundial em Porto Rico com 13 anos de idade, foi a primeira vez que saiu uma delegação oficial do Brasil, com garotos dessa idade, depois seleção mirim, infantil, até juvenil eu fazia parte das seleções do paulista, o brasileiro, conheci um monte de países do mundo, até os 8 anos quando viajar para o exterior não era uma coisa tão comum e aí deu um pepino, quer dizer, eu falei porra, eu tenho 1,70 m, o basquete era aquele rolo, era meio amador, meio profissional, eu falei o que eu vou fazer da vida? Provavelmente não vai dar certo com esse tamanho e eu falei bom, é melhor eu continuar jogando para brincar, mas fazer um curso para valer e foi um dia muito difícil quando eu pedi dispensa de uma seleção brasileira de basquete juvenil para fazer o vestibular do Mackenzie…

Luciano             Você está falando em 1970 e …

Luiz                   73…

Luciano             … 73

Luiz                   … 73, eu jogava no Palmeiras, era o meu último ano de juvenil…

Luciano             Dá uma dica para nós aqui, quem eram os companheiros que você tinha no time na época, só para a gente saber?

Luiz                   É bom, eu jogava o juvenil do Palmeiras, mas como juvenil eu já muitas vezes entrava no principal, o time do Palmeiras da época do principal era fantástico, era Carioquinha, Guerman, Gonzales, Adilson, Geraldo, o Ubiratan, era um timaço.

Luciano             E gente que foi para a seleção brasileira principal.

Luiz                   E no juvenil tinham caras que jogavam muita bola, jogava comigo o João Marino, jogava o Jamá, jogava o PR, naquele ano o Palmeiras tinha 8 jogadores que foram convocados para a seleção brasileira e aí eu falei, bom, eu vou pedir dispensa e vou fazer o exame do Mackenzie e meu pai falava assim, mas por que no Mackenzie? Por que não na USP? Eu tinha tanta certeza do que eu queria fazer, Luciano, eu falei pai, porque o time do basquete do Mackenzie é fantástico, ou seja, eu escolhi um curso superior porque o time de basquete era bom e não me arrependo, porque eu acho que eu só cheguei no final do curso porque o time de basquete era bom, que eu só comecei a gostar da economia no terceiro ano.

Luciano             É mesmo? Mas deixa eu explorar um pouquinho mais esse momento, quer dizer, você vem, você é garotão, 18 anos de idade, fazendo aquilo que ama que é jogar basquete, chega o momento que você está diante de uma escolha e você tem que parar para pensar naquela escolha, como é que foi esse teu processo de falar, pô, eu vou ter que pedir dispensa para me matricular na escola, essa tomada de decisão, eu não consigo ver maturidade suficiente num garoto de 18 anos para tomar…hoje em dia, por exemplo, a molecada quer agitar e tudo, mas parar para pensar, falar não, eu vou deixar esse meu amor de lado para seguir a minha carreira, como é que foi esse processo, você lembra?

Luiz                   Foi complicadíssimo, até porque eu não tinha muita certeza do que eu queria, sabia o que eu não queria, não queria fazer engenharia e não queria fazer medicina, minha dúvida era vou para direito, vou para economia, vou para área de humanas. Eu tinha um tio que era um professor muito benquisto, ele era professor da USP, do Mackenzie, da GV, da FAAP e ele falou não, faz a escola que você quiser, se você tiver que dar alguma coisa não é o rótulo da escola que vai definir, então se você quer fazer o Mackenzie faz o Mackenzie e eu fiz o Mackenzie. Eu já tinha jogado pelo Mackenzie, pelo colégio Mackenzie e excursão para o exterior, mas eu não tinha estudado, eu estudava no Dante e aí eu fiz o Mackenzie, o time era bom, eu não gostava muito do curso mas desde o primeiro ano eu comecei a me envolver com atlética, com DA e entrou cada vez mais gente até que dois anos depois entrou o Oscar e aí o time do Mackenzie ficou muito forte, o time do Mackenzie era um time tão forte que se ele fosse federado ele disputaria campeonato, ele estava entre os melhores times de São Paulo…

Luciano             E era um time amador …

Luiz                   … é, time universitário…

Luciano             … era amador, molecada.

Luiz                   … naquela época a universidade, o torneio de UP era um torneio legal, tinha outros torneios, agora viraram zona, mas na época era, economia, uma série de outros torneios que a gente disputava e alguns desses caras já ganhavam nos clubes, então eles não tinham escolha, quando coincidia jogo do clube com o Mackenzie ele não podia optar, mas se pudesse escolher tinha cara que falava não, eu prefiro joga no Mackenzie. Foi uma época muito gostosa. Então, eu jogava universitário no Mackenzie, ai eu parei de jogar em clube de primeira linha, eu continuei jogando basquete no Pinheiros, depois no Paulistano, fiz a faculdade  e quando acabou a faculdade eu comecei a trabalhar no escritório de projetos de engenharia e arquitetura e fui convidado para fazer um curso, entre o final do curso e o começo do trabalho, teve um curso de aperfeiçoamento para professores universitários de uma entidade que nem existe mais chamada Convívio, Convívio dava cursos de formação política para estudantes universitários em plena época da ditadura pelo o Brasil inteiro e quando me convidaram para fazer esse negócio eu falei, mas eu não quero ser professor, os caras falaram pô, não custa você fazer, você tem uma formação boa, de repente você vê uma forma de você ir ganhando alguma maturidade, pô…

Luciano             Você tinha o que? 20 e?

Luiz                   22 anos, 21 para 22, 22. E aí eu fiz o curso e comecei a viajar, era solteiro, trabalhava nesse escritório durante a semana e muitas vezes me ligavam na quinta, como é que está o teu fim de semana? Como é que é o negócio, quer ir para Campo Grande? Quer ir para o Recife?

Luciano             Dar aula?

Luiz                   Dar aula.

Luciano             Quer dizer, o basquete, bau bau?

Luiz                   Eu continuava jogando, continuava jogando mas no Pinheiros, quer dizer, ainda era um esquema de basquete que treinava 3 vezes por semana, os jogos eram durante a semana, fim de semana só quando  era estadual, os campeonatos eram separados e ai fim de semana muitas vezes eu ia jogar no interior, jogava em Bauru, jogava na tua terra, jogava em Oswaldo Cruz, pintavam umas coisas meio complicadas e eu continuava jogando mas eu sabia que o basquete a essa altura era mais uma diversão do que um objetivo de vida e comecei a dar aula e comecei a gostar do negócio, aí a FAAP…

Luciano             Deixa eu, antes de você colocar, tem uma coisa que está me batendo aqui, quer dizer, a tua decisão de não continuar no basquete era por uma limitação, quer dizer, você sabia o seguinte, eu não consigo vencer a limitação de ter 1.70m, quer dizer, não vou chegar muito longe, já estava claro que o basquete ia para o caminho que atualmente, quer dizer, jogador de 2m, 2m e cacetada que nem o vôlei e você olhou para aquilo, como é que você lidou com essa frustração de falar, amo fazer esse treco aqui mas não tenho… tenho uma limitação física que não vai deixar com que eu siga isso adiante, foi um…

Luiz                   Foi complicado…

Luciano             … uma brochada?

Luiz                   … e foi uma, muita gente falou assim, você arregou, você podia ter enfrentado. O Nilo, que é um cara um pouco mais alto que eu, os caras falaram ah mas você é o mesmo tamanho do Nilo, não é bem assim, o Nilo tem 10 cm a mais do que eu, mas para o basquete é um anão, 1,70, 1,80 é tudo anão. O Nilo teve coragem, foi lá, treinou para cacete e chegou à seleção brasileira, fez uma carreira bonita e eu lembro um dia que nós estávamos jogando agora, recentemente, o campeonato veterano juntos, seleção brasileira jogando em Orlando e o Nilo chegou e falou assim, você era o meu ídolo, falei como é que é? Falou puta, eu falava assim, um dia ainda vou jogar como esse cara joga. O Nilo era meu adversário na universidade, ele jogava por Mogi das Cruzes eu jogava pelo Mackenzie, aliás eram as grandes finais e o Nilo falou assim, puta Pelé, você era o meu ídolo, falava, um dia ainda vou jogar o que esse cara joga, falei veja como a vida dá volta, e você virou meu ídolo. O Nilo foi um cara que assumiu, foi morar no interior, treinou feito um alucinado, quer dizer, com 1.70m, 1.80m, o cara tem que ter mais habilidade que os outros, tem que ser mais rápido do que os outros, tem que ter uma inteligência brutal para enxergar o jogo e o Nilo fez tudo isso, então não é que fosse impossível mas eu reconheço que eu tive medo daquela hora.

Luciano             Rola um arrependimento hoje?

Luiz                   Não porque eu continuei curtindo, acho, o que o basquete tem de bom, o medo foi o seguinte: até pintar alguma coisa que me agradasse, quer dizer, então aquele período que eu comecei a dar aula, eu comecei a gostar daquele negócio, aí eu fui convidado para dar aula na FAAP, falei ah eu vou lá para dar uma aulinha, a minha ideia era continuar trabalhando no mercado, no setor privado e dar uma aulinha para me manter atualizado e de repente o mundo foi dando volta, peguei a FAAP numa fase muito boa, a FAAP era muito rápida naquela época, ela se internacionalizou muito antes de se falar em internacionalização de universidade e ela abriu oportunidades ótimas, tanto que eu, depois fui dar aula no Mackenzie que era a minha escola de origem e eu me senti um ovni dando aula, porque na FAAP eu me sentia muito mais à vontade…

Luciano             São duas culturas, totalmente distintas.

Luiz                   … gozado que o público era um pouco parecido, mas a cultura gerencial era muito diferente.

Luciano             Eu sou mackenzista, eu fiz Mackenzie também e na época que eu fiz o Mackenzie eu fazia comunicação no Mackenzie e tinha a turma de comunicação na FAAP, tinha uma rixazinha ali entre as duas, mas era notável a diferença cultural das duas embora fosse um púbico parecido mas havia uma diferença, uma presbiteriana com aquela cultura presbiteriana e a outra uma cultura de empreendedorismo bastante diferenciada lá, mas que legal essa história, antes de você partir para a continuidade dela eu queria que você me dissesse o seguinte aqui, como é essa relação de esporte e universidade, quando a gente olha para os paradigmas, ou seja, você fala esporte e universidade você tem como paradigma e o pessoal me critica pô você só ua EUA, papapa mas é que de lá vem esses inputs para cá e a gente sabe  que lá esporte e universidade é uma coisa que anda amarrada, abraçada lado a lado, os caras tem um investimento brutal, grandes atletas profissionais dos EUA saem do circuito universitário e durante um tempo o Brasil quase fez isso, ele quase foi, aprece que com o tempo a coisa passou, hoje em dia já não se fala mais no time do Mackenzie, o time da FAAP, como é que você interpreta essa coisa do esporte e a universidade atuando em conjunto?

Luiz                   Bom, eu não tenho frustração pela escolha, mas eu tenho uma frustração pelo esporte brasileiro, o modelo está todo errado, você tem toda razão, nos EUA a base do esporte é o colégio e a faculdade, com acesso praticamente universal, então você tem quantidade de gente praticando e quando você tem quantidade, é muito mais fácil você tirar qualidade. No Brasil a base do esporte são os clubes e o acesso aos clubes é muito restrito, então você tem uma quantidade muito pequena de praticantes de  esporte no Brasil e aí tirar qualidade é uma coisa complicada, por isso que o Brasil é bom no futebol, claro agora é mais reduzido o número de campos de várzea, esse negócio todo que a urbanização diminuiu, mas mesmo assim o pessoal joga na praia, joga no campo, joga na rua, então o Brasil vai ser sempre favorito. De vez em quando vai levar um 7×1 da vida por causa de problema de gestão, mas o futebol brasileiro tende a ser favorito nos torneios em que entrar porque todo mundo joga bola no Brasil, nos EUA são várias modalidades, na China todo mundo joga ping-pong e por aí vai, então me preocupa muito, nós vamos fazer uma olimpíada no ano que vem e provavelmente nós vamos ser um fracasso nas quadras, vai ser igual, eu acho que vai ser igual copa do mundo, o povo brasileiro é muito legal, vai ser uma festa, vai receber bem todo mundo, eu acho até que  a organização vai ficar tudo pronto em cima da hora, está melhor do que a copa do mundo, muito do que foi feito para a copa já vai ser aproveitado agora no Rio, mas em termos de resultados esportivos eu acho que vai ser muito fraco, nós já perdemos essa oportunidade e isso se reproduz no  Brasil, quer dizer, eu vejo em outros países que até tem menos gente, menos tradição do que a gente, mas quando tem um grande ídolo o cara muda a história do país, você pega o Villas na Argentina, depois do Villas a Argentina se transformou numa potência no tênis, nós tivemos o Guga, não vou nem falar da Maria Esther Bueno porque aí é uma outra época, mas na era da comunicação nós tivemos o Guga que é um dos atletas mais carismáticos da história do tênis, o cara fez um sucesso no mundo inteiro e o nosso tênis continua uma porcaria, aliás ele, muitas vezes, é mais lembrado pelas brigas de bastidores do que propriamente pelo trabalho que está sendo feito nas quadras. Isso aconteceu, são raridades, você tem no Brasil um bom exemplo no voleibol, foi um trabalho muito bem feito lá atrás pelo Nuzman, eu gostava muito do Nuzman antes de ele se eternizar no Comitê Olímpico Brasileiro, mas o trabalho que ele fez no vôlei foi um trabalho meritório e o vôlei hoje é referência tanto em quadra quando em praia e o resto é coisa excepcional. Pinta um Cielo da vida que vai estudar nos EUA, pinta um Joaquim Cruz, pinta um não sei quem ou agora tem um trabalho no handebol, também um trabalho bem feito, no handebol é mais fácil porque a quantidade de praticantes é muito menor do que basquete e vôlei…

Luciano             Mas vem um técnico europeu…

Luiz                   … é um técnico europeu…

Luciano             … europeu, bravo de montão que impõe a…

Luiz                   … as jogadoras todas jogam lá fora, no Brasil não tem estrutura, então a nossa estrutura esportiva ainda é muito fraca e eu acho que você tem razão, foi um loby muito forte dos clubes, quando eles viram que as escolas estavam crescendo e aí o outro lado, quer dizer, o esporte universitário acabou, antigamente você tinha macmed, você tinha eventos que tinham uma tradição danada, hoje não. Meu filho quando fazia faculdade, pô, tenho jogo hoje, que dia é hoje? Sábado. Que horas? 11:30 da noite. Aonde? Lá no não sei onde, quem é que vai fazer um negócio desse?

Luciano             É verdade. O Brasil, bom, você falou um negócio, tem briga de bastidor do vôlei, briga de bastidor no judô, briga de bastidor no futebol, onde mais? Outro dia um cara do MMA no Brasil, olha só, MMA do Brasil me mandou um e-mail aqui dizendo cara, você não faz ideia do que é o bastidor do MMA no Brasil, onde juntou gente e alguém assumiu o poder, aqui no Brasil, para dar uma, jogar água fora da bacia está na hora.

Luiz                   Uma pena.

Luciano             É uma pena, é uma pena porque a…

Luiz                   Tem gente com muita qualidade com muita…

Luciano             Sim e tem uma outra coisa que eu quero que você faça para a gente, uma avaliação interessante, quer dizer, você olhando para a tua carreira, o que  o esporte te deu que você pode usar para construir a tua carreira, uma carreira bem sucedida e tudo mais, o que vem do esporte?

Luiz                   Quase tudo, mas antes do esporte tem uma coisa, a educação, eu acho que quando eu falo que eu viajei para vários países do mundo eu não nego para ninguém, eu acho que viajar é uma das melhores formas de você aprender, tem um background de educação por trás, conheço um monte de gente que viajava comigo e só sabia o caminho da zona. Então eu aprendi muito com essas oportunidades que o basquete me ofereceu e eu tenho até uma palestra que eu dou com uma certa frequência sobre isso, que chama “Das ladras para a Vida”. O esporte ensina, o esporte individual ensina algumas coisas melhor do que o esporte coletivo, o esporte coletivo ensina algumas coisas melhor do que o esporte individual, mas não precisa ter sido um grande ídolo não, o cara que jogou bola, o cara que a gente chama de  boleiro, na praia, na várzea, no campo, se ele prestou atenção, alguma coisa ele aprendeu, o esporte coletivo te ensina muita disciplina, respeito, trabalho em equipe, organização, seriedade, persistência e aí se você aplicar isso na tua vida pessoal, na tua vida profissional, você pode trazer muita coisa útil.

Luciano             Você sabe que eu tenho um texto meu, eu falo da minha frustração de nunca em nenhuma entrevista de trabalho que eu fiz na minha vida, ninguém deu bola para um dos atributos que eu coloco no meu currículo que é ter sido goleiro de futebol de salão durante anos e os caras dão risada, eu falo cara, ninguém veio perguntar para mim e eu tenho certeza absoluta que muito do que eu conquistei foi pelo fato e eu ter, durante 7, 8 anos quase joguei a segunda divisão do campeonato paulista de futebol de salão, como goleiro de futebol de salão, o cara fala mas o que é que tem a ver, cara, você está ali atrás, jogando no gol do futebol de salão, isso me trouxe uma porrada de atributos que eu não teria conseguido de outra forma, quer dizer, aquela ideia de que você está assistindo o jogo de uma posição privilegiada, você consegue ver o jogo do jeito que nenhum outro jogador vê, você  tem o lance de correr riscos como nenhum outro jogador corre, quer dizer, um lançamento mal feito o cara domina a bola e faz o gol, você tem que trabalhar com explosão, quer dizer, você está parado, um jogo totalmente parado, de repente tem que explodir e tem que criar uma capacidade de desenvolver, de reflexos e tudo mais, quer dizer, tudo isso traz para a vida da gente alguns comportamentos e eu tenho certeza de que muito do que eu fiz, as loucuras que eu fiz ao longo da vida e que deram certo, a minha escola foi lá, foi estar num joguinho de futebol de salão ali tomando porrada e aprendendo no dia a dia e muita gente não dá bola para isso, acha que esporte é, aha esporte é só diversão, não é, esporte é preparação, é para a vida. Mas aí você abraça uma carreira de economista, economista no Brasil. O que é mais difícil, é jogar basquete contra Cuba ou é ser economista no Brasil?

Luiz                   Ah não, economista no Brasil é muito mais complicado, ainda mais naquela época, eu falo de uma época eu a inflação no Brasil atingia 4 dígitos, nós tivemos 2567 de inflação ao ano. Quando a gente fala isso para a garotada hoje eles olham, falam assim, será que é verdade?

Luciano             … eles não conseguem nem dimensionar o que é isso, quando se chega nesses valores é impossível, o cérebro não processa e a gente viveu isso, você ter mudança de preços no supermercado ao longo do dia, você chega de manhã o preço é um, à tarde é outro, à noite é diferente. O pessoal recebeu o pagamento e ia imediatamente para o mercado comprar tudo que pudesse porque se não o dinheiro perdia o valor de um dia para o outro. E essas coisas a garotada não assimila hoje em dia.

Luiz                   Eles não viveram isso, existem certas coisas que eu costumo dizer, só quem viveu para ter a noção exata da coisa. Tem ali no prédio do Instituto Fernando Henrique, ele criou o museu do real, eu tenho ido com muita frequência, eu estimulo os professores a levarem os calouros lá, para eles sentirem na pele, ali você tem algumas atividades interativas, então eles vão sentir o que era uma inflação de 80% ao mês e aí tem, é um negócio muito legal, porque tem uma sala lá que é a sala instável, casa instável, então tem a  série de anúncios de planos econômicos, então eles vão lá, eles ficam olhando, depois quando ele  tem uma aula sobre aquele tema ele faz a ponte, fica mais fácil dele entender. Então, agora nós estamos vivendo uma crise muito complicada e tem muita gente falando que é a pior crise, eu falei, vamos devagar, nós tínhamos inflação de 2500, nós temos inflação de 10, 10 é bom ou não? Não é bom, mas não dá para comparar com o que  era, então eu acho que são momentos diferentes, claro que não estou atenuando não, porque junto com a crise econômica nós temos uma crise política terrível, nós temos uma crise moral terrível e tudo isso somado quase que equivale àquilo lá tudo, mais do que isso, a gente não sabe para onde isso vai e isso talvez seja a coisa mais desesperadora que tem, mas ser economista numa época dessa, exige de você uma série de coisas e o economista brasileiro é visto como um cara  criativo, criativo no bom sentido, porque nós tivemos agora o exemplo do mau uso da criatividade, eu que depois acabei enveredando pelo campo  da criatividade, eu falo a criatividade é boa em quase tudo, menos na contabilidade, um contador criativo é um perigo.

Luciano             A gente acabou de ver isso ai. Isso que eu ia comentar com você, quer dizer, quando você fala, a gente vê até a história da economia, os economistas, os primeiros que vieram. A gente quando fala em economia o pessoal tem aquela ideia, bom, o que é o economista? É o cara que faz conta, é o cara que trabalha com a planilha Excel, é o cara que 1+1 dá 2, é um cara que cuida de entradas e saídas, é o cara que cuida da matemática e a matemática não admite que 1+1 não dê 2, não dá para dar outra coisa e na verdade economia é muito mais que isso, economia é, se há uma coisa que não explica a economia é  a matemática, matemática é uma ferramenta pequena dela e a gente vê que com o tempo a economia vem mudando, a gente hoje, quando você fala, eu sou um economista, isso engloba um rol de atividades que pô, hoje em dia envolve psicologia, sociologia, história, você tem que saber um pouquinho de  cada coisa para poder dizer hoje eu sou um economista de boca cheia. Fala um pouco dessa evolução da economia e até como é que você chegou nessa questão de trazer a criatividade para um negócio que me atrai muito que é essa história da economia da criatividade, economia criativa que está começando a entrar muito na moda isso, fala um pouquinho.

Luiz                   Bom, eu me formei em economia, fiz aquele curso de aperfeiçoamento, fui convidado para trabalhar na FAAP, na FAAP eu, de cara, enveredei para os professores da área chamada de humanidades da economia, então eu trabalhava com história econômica, metodologia, com formação econômica do Brasil e tive que ler muito porque como você viu eu era um estudante que jogava basquete, então a minha formação de economista foi depois do curso, foi na vida em grande parte, claro que eu tive bons professores que me deram as bases, me indicaram as fontes ideais, mas eu fui aprender economia, fui trabalhar com economia, eu nunca fui só professor, eu sempre trabalhei com alguma coisa em treinamento, alguma coisa assim e aí em 93 a FAAP resolveu dar uma jogada pesada que foi investir em criatividade, mandando um monte de gente par participar do maior evento de solução criativa de problemas do mundo que era lá em Búfalo, ela mandou a gente para lá para cada um voltar e usar o que aprendesse lá nas suas disciplinas. Mas no fundo, a própria FAAP não sabia direito aonde ela estava se metendo, porque na segunda ida nossa, falou não, não é só para usar na sua disciplina, isso aqui pode ser muito mais, nós criamos a disciplina de criatividade que aos poucos foi sendo incorporada a todos os cursos, depois criamos um centro de criatividade e inovação. A FAAP foi pioneira nisso, claro que ela investiu muito, ela manou quase 100 caras para os grandes eventos, 100 professores.

Luciano             O que tem em Búfalo e por que Búfalo?

Luiz                   Porque Búfalo tem um evento…

Luciano             Búfalo, cidade dos Estados Unidos.

Luiz                   … a cidade lá no norte dos EUA perto de Niagara Falls, no norte de Nova York, o campus da universidade de Nova York em Búfalo tem um centro de altos estudos em criatividade, isso criou uma PL lá, surgiu um monte de centros independentes de pesquisas no entorno da Universidade de Búfalo, em Nova York, uma delas é a Criate Education Foundation que realiza já há 60, 70 anos, sei lá, o CPSI que é o Create Problem Solve Institut, que é uma conferência de  solução criativa de problemas, aberta para todas as tribos possíveis e imagináveis. Então vai desde cara iniciante até cara que já vai lá há 50 anos e a FAAP mandou. A nossa iniciação na criatividade foi nisso, foi lá em Búfalo e aquilo me despertou, eu lembro que eu levei um susto quando me convidaram, eu achava que tinham convidado errado porque eu achava que eu era a pessoa menos criativa do mundo e eu vi que eu estava errado, que aquilo lá me abriu uma janela fantástica que hoje eu exploro com uma satisfação muito grande, às vezes eu falo assim: eu sou um economista eu trabalho com criatividade, ou sou um criativo que trabalha com economia? Mas graças a Deus agora a economia criativa reúne isso daí, claro que o Brasil está atrasado nisso daí, pior, já fez um trabalho extraordinário na secretaria de economia criativa com a Cláudia Leitão que foi a secretária, depois por questões políticas esse trabalho foi interrompido, agora o ministro da cultura acaba de extinguir a secretaria e um trabalho extraordinário vai ter que ser começado de novo.

Luciano             Conta outra vai.

Luiz                   Parece coisa de país rico.

Luciano             Mas fala um pouquinho mais então, essa questão toda da criatividade, que tem muita gente que acha que criatividade tem a ver com artista, que é coisa, eu costumo muitas vezes já ouvi gente falar para mim, eu não sou criativo, eu não tenho talento, eu não sou criativo, como é que é isso aí, você que mergulhou nesse estudo?

Luiz                   É, primeira coisa que a gente aprende lá é que não existe esse papo de eu não sou criativo, potencial criativo todo mundo tem, explorar esse potencial, desenvolver esse potencial é a segunda coisa, mas esse potencial todo mundo tem, hoje existe muita pesquisa por trás. Eu resumo as 5 gerações que trabalham com criatividade, 5 linhas de pesquisa diferentes em criatividade, de 1950 em diante, a mais recente delas é a economia criativa, então hoje você tem criatividade incorporada a muita coisa, por isso que não é só uma coisa de artista, claro que o artista muitas vezes tem esse lado da criatividade mais natural…

Luciano             Mais lúdico né? Eu diria que assim ele trabalha com o lúdico, trabalha com a tua emoção, trabalha com a estética de uma forma muito forte, mas  a criatividade não está só nisso, é possível ser absolutamente criativo com uma planilha Excel, não é isso?

Luiz                   … é, porque a criatividade se ela por um lado é pré-requisito da inovação, quer dizer, não existe inovação sem criatividade, você pode ter criatividade sem inovação, dá para não gerar alguma coisa inovadora, ou adaptada, ela ode morrer ali, mas ela é um pré requisito fundamental e qual o pré requisito da criatividade? É um conhecimento mínimo sobre o funcionamento do cérebro humano. Então quando você fala é uma coisa de artista, é porque esses caras tem o lado direito do cérebro muito explorado, o pessoal da área de exatas, os engenheiros, os economistas, os matemáticos, esses caras trabalham muito com o lado esquerdo do cérebro, que é  o lado racional, lógico e assim por diante, à medida que você conhece um pouco disso e você  trabalha um pouco isso daí, você passa a utilizar integradamente os dois hemisférios do cérebro e aí a tua criatividade passa a crescer muito mais, isso pode ser feito de forma espontânea, natural, quer dizer, depois de eu estudar a criatividade eu falei porra, já fazia isso e não  sabia porque, ou isso pode ser feito através de envolvimento, estudo que  é o que me aconteceu quer dizer, eu me achava não criativo quando eu vi que aquilo podia ser explorado eu fui fundo, estudei em várias dessas linhas de pesquisa, fiz um mestrado nessa área agora em Portugal e me sinto muito à vontade, porque eu acho que eu tenho uma possibilidade de explorar ali uma série de campos de aplicação da economia que é justamente o que foge ao conhecimento tradicional. Ah  mas o cara então é economista e trabalha com música? Sim, trabalha com música e é muito legal e o Rock’n Rio é um grande exemplo de economia criativa, quanto rendeu o Rock’n Rio, tiro o chapéu para o Medina.

Luciano             Quer dizer, antes de tudo aquilo é um negócio…

Luiz                   Claro.

Luciano             … aquilo é um baita negócio, tem gente que reclama muito, que disse que quando você transforma arte em negócio você descaracteriza aquilo que é a coisa mais importante da arte que é essa coisa da arte pela arte, pelo prazer da arte e tudo mais e quando você transforma isso num negócio ela descaracteriza, mas eu acho que aí é que está a arte de verdade, quer dizer, você conseguir ter um negócio, como por exemplo o Rock’n Rio, ter na plateia 80 mil pessoas chorando diante de um Queen ou reproduzindo o que aconteceu 30 anos atrás sem a figura do Fred Mercury e cara, tem alguma coisa legal nessa história toda, eu vi um monte de crítica, o pessoal criticando, descendo o pau no Rock’nRio, falando mal das bandas, falando mal, mal, mal, eu falei cara, não há crítica que resista a 80 mil  pessoas com o olho cheio de lágrima e revivendo um momento daqueles, fala ah, isso é exploração, cara, mas é o momento em que a arte surge com a sua força e ela ganha do comercial, porém o comercial está lá, a economia está lá e o business está por trás daquilo tudo lá. Então eu acho que eu estou contigo cara, eu tenho que dar os parabéns para o cara que bolou aquela história toda e que conseguiu construir um projeto como aquele, na minha visão eu achava que o Rock’n Rio vinha decaindo ao longo do tempo e esse ano eu me surpreendi quando eu sentei na frente, opa, hoje tem Rock’n Rio, de ligar para assistir o que é que vinha ali, ou seja, dá uma revigorada e 30 anos depois a coisa está arrebentando, acho que é uma…

Luiz                   Está em Lisboa, está em as Vegas, quer dizer, virou uma marca, uma marca de sucesso do Brasil e é fantástico e cada um tem seu interesse lá, eu, essa vez, tive interesse muito particular, meu filho tocou…

Luciano             Seu filho tocou no Rock’n Rio

Luiz                   … meu filho tocou, tocou no clássicos do terror, nunca tinha tocado com aqueles caras, André Abujamra e aí eles combinaram, foram lá, as 3 e meia da tarde da sexta feira e fizeram um sucesso danado, curtiram pra burro e meu filho me ligou de manhã e falou assim, eu estava em Curitiba dessa vez não deu para ir, eu gosto de acompanhar quando eu posso, mas essa vez não teve jeito, ele falou, estou nervoso, eu falei se você não estivesse eu ia ficar preocupado e ele ficou em êxtase, ele adorou, a grande parte da crítica gostou, depois teve um cara que botou no Estado de São Paulo que tinham 200 caras, eu falei, manda uma carta lá dizendo que o cara ou é cego, ou ignorante ou mal intencionado…

Luciano             Não, esse cara é do datafolha, deve ser…

Luiz                   … ou trabalha no datafolha, eu falei porra ele não consegue olhar a foto, então são exemplos como esse, perde um pouco talvez da autenticidade, do primeiro, que era um negócio mais rude, se você pensar em Woodstock e tal perde, mas é parte do processo, você pega escola de samba no Rio, tem os nostálgicos, porra não é mais a mesma coisa, virou produto para turista, mas é um negócio/, Parintins, porra é fantástico aquilo lá, Parintins se transformou na segunda cidade mais importante do Amazonas com um negócio que é uma disputa entre bois bumbás.

Luciano             Dois bois. Coisa interessante. Vamos voltar nessa história da economia criativa, só vou te dar uma dica aqui, estou tão interessado nessa história, eu estou tentando encontrar um jeito de fazer uma pós em economia criativa, de encontrar um jeito de fazer um curso que eu possa me aprofundar um pouco nela porque o pouco que eu andei mexendo aquilo me atraiu demais a atenção. Se eu tentar definir o que é, a economia é o resultado da interação de milhões de pessoas, então quando a gente vai falar de economia, você tem que considerar coisas que vão muito além dessa planilha, da soma de números porque quando você reduz a tua vida a números você não consegue explicar, não dá para explicar a vida com números, você não consegue, eu até usei isso num texto recentemente, eu falei, se tentar explicar o ataque às torres gêmeas com números eu vou dizer que aquilo foi um ataque de dois aviões, que derrubaram duas torres e mataram 3000 pessoas. Aquilo mudou a história da humanidade de uma forma brutal onde a menor coisa é a quantidade de gente que morreu, o impacto na sociedade é que foi muito maior e a economia criativa ela trata disso, ela começa a estudar psicologia do consumo, a psicologia da interação entre as pessoas e vai desembocar lá na frente na questão de como é que o mercado se interage, como é  que é esse movimento das pessoas que é um movimento de interação entre seres humanos, acaba impactando no sucesso ou no fracasso de um negócio, no sucesso ou no fracasso de uma nação, no PIB, na crise e tudo mais. Fala um pouquinho mais dela para a gente poder botar um doce na boca de quem está ouvindo aqui.

Luiz                   A economia criativa tem dois grandes gurus no mundo, um é um inglês, chamado John Hawkins, que a origem dele é a economia, então é uma visão economicista da economia criativa, o outro é um urbanista, canadense mas que passa a maior parte do tempo nos EUA, Richard Florida, que analisa mais por um ângulo sociológico, o grande livro dele é a ascensão da classe criativa, claro que eles tem alguns pontos de divergência mas evidentemente muita coisa em comum e aqui no Brasil nós temos uma, eu a reputo uma pessoa do mesmo nível desses caras, que é a Cláudia Leitão, aliás ela me convidou, você falou de um curso, dia 23 agora vai começar um curso de formação de formadores em economia criativa, aqui na USP e eu vou participar da aula inaugural junto com ela, fiquei muito honrado com o convite que ela me fez porque infelizmente no Brasil, por essa falta de sequência nas coisas, está muito devagar, mas o Brasil podia ser referência disso, veja, quando Ricupero era secretário geral da UNCTAD, ele percebeu o alcance desse negócio e fez a UNCTAD mergulhar de cabeça nisso, quando o Gil foi ministro da cultura ele fez um negócio, falou pô, o Brasil tem tudo para explodir nesse negócio, mas falta alguém acreditar para valer, lamentavelmente ainda no Brasil tem gente que vê a economia criativa como um negócio marginal, menor, ah é um negócio para inclusão de deficiente físico, porra, a  economia criativa é o carro chefe da economia inglesa, a Inglaterra foi líder da revolução industrial, estava com a indústria obsoleta, pô, o Toni Blair fez lá uma virada completa e aquilo teve continuidade com os outros primeiros ministros e a economia criativa hoje é o carro chefe da economia inglesa. Claro que eles dão uma conotação de economia criativa mais ampla do que o, por exemplo, a do Florida, incluir esporte, turismo entre economia criativa, então a própria questão da medição, da aferição hoje no mundo está sendo discutida, tem gente que acha que uma coisa cabe, gente que acha que outra coisa não cabe, mas a economia criativa é algo que vai além daquela visão original que depende da remuneração da propriedade intelectual, não, vai mais além disso daí e inclui áreas questão se transformando com o mundo, a gente falou agora há pouco do Rock’n Rio, você vê o que é o mundo da moda hoje, os desfiles de moda, pô, São Paulo Fashion Week hoje movimenta milhões, aliás não é uma semana, são duas semanas, uma em cada semestre, isso faz parte hoje do calendário de São Paulo, é importantíssimo e faz parte do calendário da moda no mundo, então aonde o Brasil se insere de forma competente na economia criativa, consegue resultados muito bons apesar da falta de uma estrutura, vamos dizer assim, de fundo que pudesse coordenar essas atividades todas.

Luciano             Imagina que quem está ouvindo a gente aqui é um garoto, é uma menina de  23, 24 anos, que está na sua. Está estudando, está trabalhando etc e tal, se ele tiver algum interesse em conhecer um pouco mais de economia criativa, qual é o caminho hoje em dia? Vai no Google e digita economia criativa ou tem um lugar que eu posso buscar alguma coisa para poder entender do que se trata e até quem sabe me dedicar um pouco mais a isso?

Luiz                   Claro que no Google é uma opção, ali você tem um monte de comandante Google hoje dá uma série de saídas, você tem cursos especializados disso daí em São Paulo, você tem a Escola São Paulo lá na Augusta, que trabalha com economia criativa, você tem faculdades que tem economia criativa dentro dos seus programas, a FAAP foi pioneira mas eu diria que hoje tem outras faculdades que estão no mesmo padrão ou até superando. A Belas Artes acaba de fazer um contrato com o John Hawkins, o John hawkins esteve aqui na semana retrasada dando uma série de palestras na Belas Artes, existem esses programas, eventos…

Luciano             Olha o que você falou, a escola de Belas Artes trouxe um dos papas da economia criativa como as coisas estão se, quer dizer, isso é humanas e exatas totalmente abraçadas uma à outra, está caindo o muro entre uma outra.

Luiz                   Está, sem dúvida nenhuma. A Lídia Goldenstein que é outra grande pesquisadora, vejam bem, a Lídia era professora quando eu entrei na FAAP, ela trabalhava com o João Sayad em economia brasileira, ela hoje trabalha direto com economia criativa, ela é consultora, mas  abraçou o campo da economia criativa, ela é diretora da Bienal e tem gente que fala assim, a Lídia agora entrou no negócio de cultura, como se fosse um negócio menor e ela vai agora participar de um grande evento lá na cidade do Porto, dia 20 de outubro, 30 de outubro, sensacional sobre cidades, o nome não é nem cidades criativas, é um negócio mais amplo mas ela vai trabalhar exatamente com cidades criativas ou cidades que fazem de projetos culturais como o seu carro chefe lá de alavancagem e de desenvolvimento. Vai estar o Jordi Prado que é um cara que é atrelado à explosão de Barcelona como exemplo para o mundo de cidade criativa junto com Bilbao por causa do Guggenheim, então você tem hoje exemplos no mundo inteiro de cidades que viraram a sua história através da chamada economia criativa.

Luciano             Vou olhar isso com mais calma.

Luiz                   Você é um exemplo, Luciano, o trabalho que você faz tem tudo a ver com economia criativa, é um dos setores que mais cresce em economia criativa é esse que envolve o uso da tecnologia da informação, os games, os softwares, os jogos e quando você falou de interação, quer dizer, hoje a própria definição original de economia para o setor primário, secundário e terciário está muito quebrada, quer dizer, a gente fala em indústria de cinema e é indústria mesmo, um dos grandes nomes do Brasil na economia criativa é o Carlos Saldanha…

Luciano             Que é?

Luiz                   … o produtor do Rio, quer dizer, aquele filme é o que? É a tecnologia da informação no cinema, sucesso no mundo, com uma trilha musical sensacional que concorreu ao Oscar, aliás perdeu injustamente, então quer dizer, isso tudo é essa revolução que está acontecendo que mistura a chamada economia tradicional, e o que eu acho que é mais legal da economia criativa? Uma das definições da economia tradicional é que a ciência da escassez, a escassez dos recursos frente às necessidades, recursos humanos, naturais e de capital. Claro que a matéria prima da economia criativa passa por isso, é recurso humano mas é basicamente a inteligência, a criatividade e a imaginação humanas.

Luciano             Que é infinito. Que aí é aquela história, faz todo o sentido você falar em escassez quando você pensa num tijolo, faltou barro, faltou água, não tenho tijolo, eu consigo entender, olha estão construindo muito mais prédios do que a capacidade de produzir tijolo, consigo entender escassez, consigo entender que o preço do tijolo subiu, mas quando você traz isso para o intelecto, não tem fronteira, não tem. É isso que está explodindo nessa área digital porque não tem mais limite, não tem limite geográfico, não tem limite de tempo, não tem limite mais de tamanho e aí essa revolução é tecnológica que permite hoje que um alguém que está nos ouvindo aqui lá em Sinope, no interior do Mato Grosso tenha acesso ao mesmo nível de informação que eu tenho estando aqui na cidade de São Paulo, esse cara lá em Sinop consegue fazer um curso em Harvard e bem feito de uma maneira…. isso não se pensava há pouto tempo. Então, eu imagino qual vai ser o reflexo disso daqui a 10, 15, 20 anos, ou seja, nessa moçada toda que esta buscando, por exemplo, vem no podcast, conhecer o podcast e aquele tempo que ela usava no ônibus para ler um gibi ou para fazer alguma coisa, até me comentaram recentemente uma coisa interessante, o cara falou, eu usava meu smartphone para jogar game, jogar joguinho e agora eu uso meu smartphone para ouvir podcast, então qual é o resultado, o impacto que isso vai ter nessa geração nova que está chegando aí com esse volume de informação caindo em cima das pessoas, eu vejo um mundo completamente diferente daqui a 10 anos e o Brasil dentro desse pacote com todo esse rolo que nós estamos vivendo aqui, o que você acha?

Luiz                   Também a gente é eternamente otimista e eu vejo tanto país aí que não tem nada do que tem o Brasil, que consegue resultados incríveis, então eu acho que mais cedo ou mais tarde nós vamos superar essas loucuras e o país tem tudo para dar certo, é por isso que os caras continuam pondo grana aqui, quer dizer, hoje um pouco menos porque é muita roubalheira, é muito escândalo, mas os caras não querem olhar o Brasil para daqui 6 meses ou para daqui um ano, eles estão olhando daqui 30 anos, então é gente pra burro, é mercado, é sol o ano inteiro, é terra, mas tem um negócio, frustra um pouco a gente ver número? Frustra, quer dizer, é um país maravilhoso e nós vamos ter 6 milhões de turistas e Portugal vai ter 16, nada contra Portugal, eu adoro Portugal…

Luciano             Não, pelo contrário, é capaz de alguém dizer não, abaixa, vamos fazer baixar Portugal para 4 para poder o Brasil ficar melhor, não, eu quero subir para 18. Eu vejo aí um problema sério de economia, faltam economistas para tomar algumas definições no Brasil. Fiz uma viagem no final do ano passado, agosto, setembro, eu fiz o interior do Mato Grosso, fiz 22 palestras no circuito da soja, e foi para mim uma aula exuberante do Brasil de um jeito que você não vê em lugar nenhum porque eu entrei no intestino do agronegócio, eu viajei pelas cidades, eu conversei com os caras, que moral lá, eu fui falar com os caras que estão plantando, não só como o fazendeiro que tem uma avião mas também um fazendeiro menor, que você pega na mão do cara, aquela mão grossa do cara que está no campo trabalhando ali, eu falei com prefeito da cidade, eu falei com gente de todos os lados e tive uma aula de Brasil como não se tem em lugar algum, então eu pude perceber ali primeiro, aquilo é muito maior do que qualquer tentativa que possam ter de mostrar para você o tamanho daquilo, não adianta, isso tudo que você viu na televisão, os números, não representam o que é o impacto de você chegar num campo de uma plantação de soja, uma plantação de algodão e a hora que você vê a dimensão daquilo você fala, cara, eu que sou brasileiro não fazia ideia que pudesse haver uma coisa tão grande. Atinge um volume tão grande que as pequenas decisões tem um impacto econômico gigantesco, então se eu compro um pouquinho a mais de defensivo agrícola, esse pouquinho de nada é um volume de dinheiro gigantesco no final das contas, então o pessoal está lidando com aquilo com um cuidado até científico, que me chamou demais a atenção e aí você olha para aquilo e fala cara, eu estava com uns gringos comigo, tinham dois americanos em algum momento e os caras diziam o seguinte aqui, olha eu estou passando por aqui e eu não consigo acreditar nessa estrada por onde nós estamos passando e os caras ficam alucinados porque a turma que dirige lá, dirige como se estivesse num tapete e passa pelo buraco, aquelas baita caminhonetes, poda o caminhão na subida, não querem saber, aquilo é um negócio horrível, os americanos ficam enlouquecidos, então diziam o seguinte, cara,  vocês não tem estrada digna, a estrada de vocês é um horror, vocês não tem onde guardar os grãos que vocês colhem, vocês não tem portos, vocês não tem ferrovia, isso aqui é um horror e mesmo assim vocês dão um pau na gente, vocês estão pau a pau conosco, nos EUA que temos tudo isso, o dia que vocês resolverem esse problema todo de infraestrutura, nós estamos fodidos, os gringos diziam isso lá. E aí você olha para isso tudo e fala, cara eu vejo um lado que está na mão da iniciativa privada, técnicos, científico, sendo trabalhado de uma forma extremamente profissional que bota o Brasil a nível pau a pau com qualquer lugar do mundo e ao mesmo tempo a parte que cabe ao estado completamente jogada às traças, as estradas não acontecem, nada desenvolve ali e fica muito claro para mim que está faltando uma visão de economista em algum lugar, ou seja, vamos decidir onde botar o dinheiro, quem é que deve decidir, se eu tenho um real para investir, aonde eu devo investir? Quem deveria ter essa visão? Seria um economista? Seria um administrador, seria um político? E a gente começa a entender então o tamanho do buraco que o Brasil vive, quando eu defino onde investir do ponto de vista do interesse político, eu não estou mais tratando de economia e aí a gente chega nesse buraco que nós estamos aqui, estou certo ou estou errado?

Luiz                   Ah ta, perfeito Luciano, só para não ser, embora eu seja um liberal assumido, eu tenho que reconhecer que se tem uma coisa da esfera pública no Brasil que deu certo, a EMBRAPA, existem outras agências além da EMBRAPA que explicam muito desse sucesso do nosso agronegócio, mas por que a EMBRAPA deu tão certo? Porque não dá para se vender sacanagem lá dentro, quer dizer, ali é trabalho, pesquisa…

Luciano             Técnicos…

Luiz                   … técnicos, exatamente, não dá para aparelhar aquilo, instrumentalizar aquilo e agora o que falta no Brasil, você matou a charada, há quanto tempo a gente não tem uma visão de longo prazo no Brasil? Claro que essa conjugação do político, do economista, do administrador, enfim, mas a gente fica falando aí política econômica digna desse nome já não temos, pode falar mal dos militares o quanto quiserem, eu também acho que eles fizeram um monte e bobagem, mas o último plano que nós tivemos foi o segundo PND, que pensava o Brasil a longo prazo, na época do ministro Reis Veloso, de lá para cá a gente vem tendo política econômica de puxadinho, cobre aqui, cobre ali, desonera aqui, faz ali…

Luciano             E quando mudou o presidente desmonta tudo e começa de novo, desfaz o ministério e é muito claro, você consegue ver claramente se você avaliar o que aconteceu nos últimos… pensa na redemocratização do Brasil, o que aconteceu de lá para cá, os períodos em que a gente viu o Brasil funcionar a contento foram períodos em que a gente teve um presidente do Banco Central, um ministro da economia, você pega o Malan com o Fernando Henrique, quanto tempo o Malan ficou? O Malan ficou o tempo todo do Fernando Henrique, tinha o presidente do Banco Central igual, o Lula enquanto ele manteve uma coerência ali a coisa, agora quando começa a mudar, começa a trocar, começa… essa coisa toda cai por terra, então essa incapacidade de manter um projeto de longo prazo explica muito do que é o problema sério que o Brasil vive e aí nós vamos trombar numa outra área que eu queria falar com você até para trazer essa questão da economia criativa, que é a questão de falta de planejamento. Você já viajou o mundo inteiro, você jogou basquete, você sabe muito bem o que significa planejar, sentar antes de um jogo, deixa eu ver o adversário, como ele é, como ele joga, aliás até aquela cena do técnico pela plaquetinha, todo mundo com a adrenalina nas nuvens em volta do cara durante 15 segundos, eu olho para aquilo e falo, será que algum jogador está enxergando o que o cara está desenhando ali? Mas é um plano, você pega aqui, e faz a cesta. Como é que você conhecendo essa questão do planejamento e a importância dele, analisa o que acontece com o Brasil de hoje, mas eu quero que você trate não só do Brasil como essa coisa federal, o Brasil como um negócio, o empreendedorismo no Brasil, as grandes empresas no Brasil, até você como professor, como é que você vê o brasileiro tratando a questão de planejamento?

Luiz                   É muito deficitária essa formação, claro que você tem aqui algumas ilhas de excelência, também no mundo acadêmico, mas o problema é essa transição da academia para a vida real, para a política. Primeiro porque você tem uma desilusão muito grande, muita gente fala assim, não, nesse negócio eu não quero porque isso aí não presta, nós precisamos quebrar essa mentalidade, enquanto os bons estiverem longe, os maus vão tomar conta, tem um ditado que fala isso e é verdadeiro, então claro que tem um monte de explicação. Nós tivemos a ditadura, teve um gap de gerações mas não adianta ficar jogando a culpa lá para trás, é necessário pensar o país com a potencialidade que ele tem, enxergar esse momento é o pior do mundo, Luciano, porque nós estamos numa crise, incerteza, nós tivemos uma situação mais ou menos parecida depois do Collor, claro que toda a analogia é perigosa, mas o Collor no desespero, quando já estava tudo perdido, ele montou um senhor ministério, é que ali não deu para fazer nada, mas o melhor ministério do Collor foi o ministério final dele, tinha o Marcílio Marques Moreira, o Celso Lafer, o Melão, é que a….

Luciano             No desespero

Luiz                   … no desespero, ali não deu para fazer mais nada, essa daqui do desespero fez uma mudança agora que eu olho eu falo assim, meu Deus do céu, quer dizer, não é meritocracia, é todo jogo, toma lá dá cá, para se manter no poder, que veio depois do impeachment? Veio o Itamar que era uma incógnita e foi uma fase de transição que deu certo, ele ali, porra, deu força para o Fernando Henrique criar as bases de um novo plano econômico, claro que o Brasil inteiro naquele momento apoiava alguma coisa porque ninguém aguentava mais aquela inflação, Fernando Henrique inclusive fala isso, eu tenho mérito, mas eu tinha um povo inteiro que queria que a coisa acontecesse então todo momento de transição é importante, um momento de crise pode ser um momento importante de transição.

Luciano             Eu não tenho dúvida nenhuma.

Luiz                   Para isso, grandes cabeças vão ser necessárias, independentemente de estarem ou não agora na política, mas também políticos, quer dizer, não é possível que todo político seja ruim, deve ter gente boa e tem gente boa nesse meio todo e eu vejo que o planejamento é fundamental, quer dizer, o Brasil vai ter que redefinir as suas principais linhas de ação, montar essa estratégia, eu acho que a economia criativa pode ser um elo disso daí, mas falta muito, porque falta consciência da importância disso, coisa que já existiu em outros países aqui não tem. Vejo o esforço de algumas pessoas que trabalham com esse tema, mas são os fortes isolados porque não há apoio num município, no estado por causa de um governador ou de um prefeito, mas falta uma visão ainda mais ampla geral e rezar para ter um cara iluminado que assuma a função disso daí né, eu acho que em todas as áreas de ação, do conhecimento, eu adoro esporte, continuo adorando, acabei de ler o livro do Guardiola e eu falo assim: meu Deus do céu, todo técnico devia ler esse livro porque é um cara que está num padrão completamente diferente e domingo eu estava assistindo jogo do Bayern contra o Borussia que é o maior clássico da Alemanha e foi 5 x 1, ai não queria nem lembrar porque o meu time também levou de 5 no domingo, mas vendo o jogo do Bayern eu lembrava das páginas que eu estava lendo, existe o que? Existe um conceito de futebol, então ele, no Barcelona ele transformou o Barcelona no maior time do mundo, ele está no Bayern ele vai disputar os maiores títulos do mundo, é um cara que tem essa visão, o Bernardinho é um cara um pouco parecido, é só lá fora que tem, não, o Bernardinho é um cara parecido, o Zé Roberto é um cara parecido.

Luciano             Você que se meteu no esporte e que tem essa visão toda, me responda uma pergunta que eu faço há muito tempo e que eu não tenho resposta para ela, o pessoal sempre responde se você botasse o Bernardinho como técnico da seleção brasileira de futebol, o que aconteceria?

Luiz                   Provavelmente coisa boa. Ele seguramente é um estudioso, ele  é um perfeccionista, conhece tática, acompanha, ele cercaria de profissionais de primeira qualidade, procuraria tirar influência externa que é o que ele conseguiu no vôlei tanto que ele se decepcionou quando ele viu que tinha sujeira no vôlei, ele quase que abriu mão da carreira dele…

Luciano             Tirou inclusive elementos craques que eram desestabilizadores.

Luiz                   … claro, porque ele trabalha com dois consensos, você precisa ter pessoas de confiança e competência, não adianta você ter o cara que é craque mas que não é confiável, não adianta ser o cara mais confiável se não tiver competência e ele há quantos anos que consegue aliar essas duas coisas. O Zé Roberto na mesma linha, então não é para menos que o vôlei está nessa posição que as outras modalidades não conseguem. Veja, eu elogio o Nuzman pelo trabalho que ele fez lá atrás, o que eu lamento que o Nuzman, quando chegou no COI ele se eternizou e aí começa a ter um monte de coisa…

Luciano             é o poder absoluto corrompe absolutamente.

Luiz                   … mas a estratégia do voleibol é uma estratégia que mostra o que o país poderia ser se o planejamento fosse levado a sério.

Luciano             Não é a toa que tentaram botar o Bernardinho como candidato a governador do Rio de Janeiro.

Luiz                   Que pena que ele não topou, não, que pena não, o vôlei perderia muito.

Luciano             É isso que eu ia dizer, o vôlei não perdeu um baita técnico e ganhou um político medíocre, não porque ele não tivesse condições, porque talvez ele não se sustentasse ali, seria devorado num instantinho. Bom, estamos indo aqui, chegando na reta final,  eu queria agora pegar esse finalzinho aqui para te fazer algumas perguntas aqui que tem a ver com o teu dia a dia hoje, você é professor, primeira coisa que veio pela minha cabeça, quanto tempo você trabalha como professor? 40 anos já?

Luiz                   Eu estou completando 35 de FAAP.

Luciano             35 de FAAP, ou seja, você ainda da aula? Sala de aula e tudo mais né? Como você vê essa molecada que está frequentando a aula hoje, compara com essa molecada com a de 10, 20, 30 anos atrás, essa meninada que está vindo para sentar na tua frente hoje, escutar um professor falar, quem é essa molecada?

Luiz                   Eu não acho que ela é pior, ela é diferente, claro, eu acho que a maior parte do problema está nos professores dando aula, os professores querem dar a mesma aula de 20 anos atrás para um aluno que não é o mesmo de 20 anos atrás, então quando você estimula o aluno, quando você põe o aluno na condição de protagonista ele costuma corresponder de forma muito positiva.

Luciano             O que significa que se você quer ser o professor bem sucedido hoje em dia você tem que falar a língua dessa tribo.

Luiz                   Tem que falar a língua dele, tem que explorar o que ele tem melhor que você, que é o domínio da tecnologia, o domínio… tem professor que fala assim, pô, não pode usar celular na minha aula, não pode usar tablet na minha aula, meu Deus do céu, quer dizer, o mundo hoje é esse, então eu gosto que eu falo alguma coisa ou me falta uma palavra na hora ele vem e fala o nome é esse professor, e ele checa, quer dizer, ele é muito rápido e ele exige resposta muito rápida, mas é o que eu te falo, o aluno, ele quer ser protagonista.

Luciano             É mais difícil dar aula hoje do que era…

Luiz                   É mais difícil.

Luciano             … anteriormente?

Luiz                   É mais difícil porque o mundo hoje quer mais do que ele queria antes, antes o mundo queria um super especialista, hoje ele quer um especialista generalizante.

Luciano             Especialista generalizante, essa é boa, essa é boa.

Luiz                   Formar um cara que seja bom naquilo que ele faz, mas que tenha uma cultura geral muito grande, como a informação hoje se multiplica num ritmo alucinante, estimular a molecada a correr atrás dessa informação é que é o grande desafio.

Luciano             Eu sei que você já disse que é um otimista incorrigível, mas eu quero que você deixe de lado esse teu toque ai, esse teu transtorno obsessivo compulsivo pelo otimismo e olhando essa garotada que você esta vendo por aí, você vê coisas legais vindo pela frente, essa molecada que vai assumir logo mais aí a direção desse país aqui?

Luiz                   Vejo, eu acho que essa mobilização que eles fizeram aí nos últimos anos que foi em grande parte organizada por eles mostra o poder que eles tem de mobilização, tem coisa surgindo nova e tem um partido que acabou de ser aprovado, o novo partido novo, pode ser que eu não concorde com tudo o que eles falam mas a garotada idealista que vem com uma série de ideias diferentes do que está por aí e eu acho que exemplos como esse tem pelo Brasil inteiro, como você, Luciano, eu acabo viajando muito por causa do conselho, por causa de palestra e eu me espanto também. Quer dizer, Mato Grosso nós estivemos juntos no ano passado, as vezes eu vou para o interior de estados aí que a gente fala, pô, mas tem alguma coisa? Tem, se você, tem gente ávida por querer, por saber, por aproveitar, agora, falta para eles muitas vezes oportunidades, mas tem gente que dá para apostar sim.

Luciano             Sim, e vem com uma coisa que nós estamos perdendo, eu e você, que é energia, essa molecada vem com energia e então juntar essa energia com um pouco da sabedoria e os dois se respeitarem para mim é o ponto de equilíbrio ideal para cá. Para encerrar, para chegar no final realmente para valer aqui, eu quero saber do teu ponto de vista agora como professor e olhando para a classe de professores, imagine que tem professores te ouvindo agora, caras que dão aula para todo nível aí, tem a garotada lá do primário até universitário, qual é a importância desses caras? Professor é uma, como é que eu vou dizer, eu não queria chamar de profissão, para mim, chamar professor de profissão é uma coisa denigre um pouco, mas vamos lá, a profissão de professor, ela perdeu o valor de forma bárbara ao longo dos tempos, quer dizer, antigamente o professor era que nem gerente de banco, teve uma época que professor e gerente de banco eu ia visitar, meu pai ia lá, levava um whisky para o cara de presente, tratava a pão de ló, hoje em dia, gerente do banco e o professor perderam demais valor diante da sociedade e no entanto você vê gente aí abnegada, você vê professores que fazem aquilo porque tem tesão por aquilo e por essa arte de ensinar que é o que o Brasil precisa barbaramente, então está nos ouvindo aqui um professor, uma professora com aquele salário complicado, tomando porrada, querendo trabalhar e com greve para todo lado, essa confusão toda aí. Você com teus 30 anos de cátedra aí, vamos lá, conversa um pouco com esse pessoal aqui.

Luiz                   Bom, é uma profissão, diferenciada mas é uma profissão, sacrificada, mas muito gratificante quando você consegue resultado e quando você vê o produto do seu trabalho estourando, não tem preço que pague eu ver hoje na mídia um Sami Dana. Pô esse moleque foi meu aluno, ou quando eu abro o jornal e vejo que não sei quem assumiu a presidência daqui, o Roger Agnelli que era o presidente da Vale, que fez e aconteceu, eu falei porra, de alguma forma eu contribuí para a formação desse caras, claro que eu sempre trabalhei em lugares estruturados, em condições muito favoráveis e imagino a dificuldade que é para uma professora que trabalha num rincão desse país com condições mínimas, mas você já viu também exemplos fantásticos aí, eu aprendi muito com alguns desses caras, como é que esse cara consegue, esse cara consegue porque ele tem tesão naquilo que ele faz, então o que eu posso dizer é isso, eu sei que não dá para escolher, mas quando perdeu o tesão, procura outra coisa para fazer, porque é fundamental passar isso para o aluno, você perguntou se eu ainda dou aula,  dou, claro que eu dou muito menos turma do que eu já dei antigamente, mas cada aula para mim continua sendo um grande desafio, eu continuo sentindo dorzinha na barriga, eu continuo preparando, um dos meus grandes amigos do esporte foi o Oscar e quando o Oscar já estava velho, brigando muito, um dia eu falei, escuta, quando é que você vai parar? Ele falou, quando antes do jogo eu não sentir mais dor na barriga e suor na mão, enquanto eu continuar com isso eu vou continuar jogando. É um pouco por aí, eu sei que o problema do recurso é terrível mas tem professores que não são maus professores porque não tem recurso, até porque ganham demais para aquilo que fazem, então acho que o tesão é fundamental na educação, no professor, em qualquer área de atividade, por isso que eu dou graças a Deus quando eu vejo que eu consegui encontrar alguma coisa que me deu a mesma satisfação que me dava uma bola de basquete.

Luciano             Que legal. 10. Quem quiser te conhecer, você tem um blog, tem como te encontrar? Dê o endereço.

Luiz                   Tem, tem é Souza Aranha machado Representações Ltda. e www.souzaaranhamachado.com.br né e tem ali, é meu e do meu filho, não sei se está muito certo, você que é o rei da comunicação, que juntar economia, criatividade e música, não sei se  é o melhor negócio do mundo.

Luciano             Eu acho que é fantástico.

Luiz                   E a gente já faz algumas coisas juntos e acho que nós vamos fazer muito mais coisa nesse mundo que cada vez mais aproxima as coisas.

Luciano             Que legal, repete de novo…

Luiz                   Souza Aranha Machado Representações Ltda.

Luciano             Tem ali uns artigos, tem alguma coisa lá?

Luiz                   Tem a área de artigos, tem a área de agenda, tem a área de produtos, tem os livros, as publicações, é um mini portal Café do Brasil.

Luciano             Ah a gente chega lá. Muito obrigado viu Luiz Alberto de Souza Aranha Machado, é um prazer ter você aqui espero que a gente consiga repetir essa rodada mais vezes.

Luiz                   E aquilo que eu falei desde o início, Luciano cada vez que eu estou com você eu aprendo muito.

Luciano             Muito obrigado.

Luiz                   É muito bom e vamos continuar com essa parceria muitos anos ainda.

Luciano             Vamos. Grande abraço.

Luiz                   Outro.

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