Kiko Bom, prazer estar aqui né? Bom Luciano, meu nome é Kiko Loureiro, sou guitarrista, da Banda…
Luciano Que idade você tem?
Kiko A minha idade? A minha idade… 43.
Luciano É importante, você vai entender porque ao longo do caminho a gente, a gente precisa…
Kiko 43 anos, nasci em 72 e sou guitarrista, então comecei minha carreira ali com o Angra né? E tenho outros trabalhos, mas basicamente as pessoas me conheceram com o Angra.
Luciano Sim e hoje você toca onde?
Kiko Hoje eu toco… estou aqui no Brasil para fazer o show do Rock in Rio e toco com uma banda americana chamada Megadeth.
Luciano Megadeth, aquela banda ali de Birigui, aqueles carinhas de Birigui, aquela coisa ali, você nada mais, nada menos do que o guitarrista do Megadeth?
Kiko Exatamente. Aquela banda, para quem não conhece, que é um som mais metal, mas é uma das grandes bandas mundiais.
Luciano Eu vou soltar um pouquinho do som ai que a turma vai ouvir na boa.
Mas então Kiko, foi uma surpresa você abriu que você foi para o Megadeth, foi em abril desse ano não foi?
Kiko Que anunciaram, é, foi, super super rápido o lance todo né, primeiro contato foi em março.
Luciano Eu vou querer saber como é que foi essa coisa toda ai, mas a mim interessa aqui discutir um pouco algumas coisas importantes que eu tenho, quer dizer, você é um cara que vive de música…
Kiko Vivo de música.
Luciano … você é um músico, a tua vida é, você ganha a vida praticando música, eu vi que você inclusive desenvolveu um trabalho legal que foi o que me chamou a atenção de trazer você rapidamente para cá, que você está ensinando como é que se trata a música como um business né, o que em termos de Brasil é um negócio complicadíssimo, é muito pouca gente no Brasil que consegue viver dignamente de música né, não tem muita gente que consegue isso e eu queria que você desse uma perspectiva para a gente assim… como é que começou essa história ai cara, quando você era o Kikozinho lá, o molequinho Kiko, que um belo dia resolve, cai na mão dele algum instrumento e decide que ia perseguir esse sonho.
Kiko Lá para trás, lá para trás, não, eu comecei na música, bom, não tenho família de músicos, não tenho referência perto de algum músico ali, minha irmã fazia aula de violão em casa, porque o vizinho tinha um professor que ia no prédio, começou afazer, deu alguns meses ela falou não aguento mais uma hora, esse cara é chato. Minha mãe falou, bom já paguei, então vai o irmão mais novo, tipo assim e eu lembro assim como fosse hoje, eu estava de pijama, falou vamos lá, entra lá no quarto que o professor já está lá, já está pago e vê se você gosta também. Eu tinha 11 anos, fazia basquete tal, tinha outros interesses, andava de bicicleta e foi lá, o violão, meiar a aula de uma hora com a minha irmã, meia hora cada um e ai eu comecei no violão dessa forma, sem referência nenhuma e comecei a estudar e obviamente, quando você começa a tocar violão, dói o dedo, é chato, você acha que vai ser fácil e nossa, eu não tinha referência, a única referência que tinha era esse professor que ia uma vez por semana, professor Pedro, ele tinha uma jaqueta, estava sempre de guarda chuva, tinha um cabelo meio de príncipe assim, aqueles meio Chanel tal, estamos falando isso ai, com 11 anos de idade né, 83, né, e ai ele ia lá, eu tocava, não tinha internet né, obviamente tinha aquelas revistinhas de banca, que tinha umas músicas com uns acordinhos né, e ele me ensinava Roberto Carlos, me ensinava umas músicas nada a ver…
Luciano Violão e Guitarra era o nome da revista.
Kiko … é, de banca. E me ensinava música folclórica brasileira, umas coisas nada a ver, que eu não estava a fim, mas não tinha outro recurso, não tinha o Youtube que você vai lá e vê quem você gosta, como toca.
Luciano E você não era o cara que curtia música, não era o moleque apaixonado por música, era normal.
Kiko É, era normal, como qualquer um, andava de bicicleta, jogava basquete, que eu lembro que era uma coisa que eu realmente gostava na época e fui lá, violão, comecei, só que no final da aula o cara pegava e tocava uma música chamada Romance de Amor, tocava aquela música, então aquele mesmo violão que não saia som de nada, que doía meu dedo, de repente encheu o som da sala e era a última música do livro.
Luciano Deixa eu usar essa referência, espera um pouquinho.
Você ouviu, Romance de Amor, que fez a cabeça do Kiko Loureiro
Kiko Exatamente. E ai ele tocava no final da aula, então o quarto enchia com aquele som, ele tinha umas unhonas né, que violonista tem aquelas unhas amarelas e compridas, horríveis né, numa mão só em 4 dedos né, mas eu via, era a última música do livro certo? E ai eu percebi ali, não sei se eu percebi, mas eu vi que era o passo a passo, não tem outro jeito de você aprender a coisa se você estudar, então começa na página 1, página2, página 3 e vai treinando cada música, se você quer aquela grande música no final.
Luciano Mas ali você pegou o gosto, você pegou o gosto pela coisa?
Kiko Foi pegando o gosto, mas eu lembro assim, toda vez que ia ter aquela aula eu falava ah não quero essa aula, ah vou fazer outra coisa, porque não era legal, não era tão legal…
Luciano Prender uma criança de… eu conheço um monte de gente que, tem uma conhecida minha que fez piano durante 8 anos, obrigada pela mãe, o dia que ela se formou, ela pegou o diploma, virou para a mãe e falou, ta aqui o diploma, fechou o piano e nunca mais tocou na vida, porque ela odiava aquilo, cara.
Kiko A minha mulher começou tocar piano com 3 anos de idade e também, quando estava com 12 já não, piano erudito, ela não consegue ir numa orquestra, não ouve, não gosta, mudou o estilo, continua pianista mas que seja. Mas ai eu aprendi isso, que o estudo te leva ao resultado, assim, de formação de família, é assim, tem que ler, tem que estudar, meus pais ali sempre foram, então eu percebi, estuda e você chega lá, você toca a última música do livro, a Romance de amor. Então fui indo, a minha irmã desistiu e eu continuei então a ter aula de uma hora com esse professor e fiquei uns dois anos ali e toquei a Romance de Amor e toquei outras músicas lá, pecinhas clássicas e comecei a pegar, ai peguei o gosto porque quando você, o ser humano é para isso né, para quando você tem um resultado…
Luciano Exatamente.
Kiko … você fala é isso, conquistei, e ser mais…
Luciano Isso é fundamental…
Kiko Está dentro do ser humano né, então eu descobri isso na música, ai fui deixando o basquete, fui deixando outras coisas que eu gostava ai e fui. E quando vem com 13 anos, Rock in Rio, 85, ai eu vejo aqueles caras lá, Queen, Yes, Iron Maden, Whitesnake, essas, aqueles caras que 100 mil pessoas, já estava meio roqueirinho mas não, quando eu vejo aquilo na televisão, com Pedro Bial falando besteira lá, apresentando errado as vezes os nomes dos caras tal, cara, ai eu me apaixonei pelo negócio. O professor do violão clássico chegou para a minha mãe e falou, olha, compra uma guitarra para o moleque, porque ele está bem, está indo bem, mas ele gosta desses caras, porque eu ficava ouvindo Iron Maden o quarto escuro e imaginando aquele, 100 mil cabeças me assistindo, com o violão na mão e depois quando eu ia tocar eu tocava Romance de Amor, não combinava né…
Luciano Cara, olha que loucura, quer dizer 30 anos atrás você teve um sonho, você está realizado…
Kiko Sim… sim, eu sou o cara que corri sempre atrás desse sonho.
Luciano … você está no Rock in Rio, tocando para aquela plateia que você sonhou há 30 anos atrás quando era um moleque de 13 anos…
Kiko Exatamente…
Luciano … aprendendo violão.
Kiko … nunca desisti desse sonho, sempre guardo ali, toda vez que eu estou no palco ali, várias situações com o Angra já, de tocar em festivais, tocar, de viajar o mundo com a guitarra né, a guitarra é o meu passaporte para o mundo, eu conheci, a gente pode falar de tantos países que eu viajei, cidades e nossa, é incrível o que a música pode te dar de cultura, das viagens, mas eu comecei ali então, me imaginando, tocando violão, ai eu, minha mãe ouviu o professor, ai eu…
Luciano Onde era isso? Onde, em São Paulo?
Kiko São Paulo, Perdizes.
Luciano São Paulo, Perdizes, tá.
Kiko E ai eu fui numa escolinha de bairro, ali em Pinheiros para ter aula de guitarra, com uma guitarra lá, que eu fui lá no centrão de São Paulo com a minha mãe, ela comprou uma guitarra Gianinni lá, porque não tinha importação nessa época né, com marca gringa não sei o que era, ai eu comecei aula de guitarra, ai aprender Led Zeppelin, eu gostava de Led Zeppelin, ai pô, primeira aula o cara toca o riff do Led Zeppelin, é um sonho, eu não fazia ideia como passar do violão para a guitarra, eram dois mundos completamente antagônicos para mim e ai eu vi o cara tocar na minha frente, uns solos que eu adorava, Van Halen Led Zeppelin, o que eu ouvia não tinha ideia como fazia, porque tem que lembrar que a gente não tinha nenhuma informação né, basicamente tinha partitura, não tinha esses vídeos, via o cara na televisão, como é que ia tocar aquilo, porque eu chegava na aula de violão o cara estava tocando peça clássica, com a unha comprida, não tinha palheta, completamente diferente, e ai não tinha essa ligação né e ai eu pô, quando o cara tocou isso na minha frente eu falei é isso, ai eu lembro até hoje, todas essas aulas de guitarra, dessa época ai de 13, 14 anos, eu lembro muito bem, foi muito marcante.
Luciano Isso nós estávamos no final dos anos 80, começo dos anos 90, é isso?
Kiko Isso ai é 86, é 86, 87, ai eu começo a estudar, ai quando eu estou, 15 anos, mais ou menos, eu não sei que que me dá, tem um cara que foi, tem uma época na guitarra americana que começou um virtuosismo exacerbado…
Luciano Steve Vai, aquelas coisas…
Kiko Steve Vai, então é isso ai, você conhece. O Van Halen, o virtuosismo absurdo e nasceu um monte desses caras, começava a ouvir, começou a chegar no Brasil o vinil dessa galera e ai ei começava a ouvir, comecei a ir na Liberdade comprar revista japonesa, que tinha partitura, tentava um amigo, trazia o negócio, não tinha, xerox, cópia de VHS de uma vídeo aula e comecei a entrar nesse mundo. Um desses caras, chamado Jason Becker, por exemplo, não é conhecido, tão conhecido, ele tinha 17 anos, eu tinha 15 e o cara já tinha um disco gravado com um virtuosismo absurdo, falava, como é que em 2 anos eu vou sair dessa coisinha que eu estou tentando tocar né, com professorzinho aqui de Pinheiros, para ser o cara com esse disco gravado fazendo um negócio absurdo desse, alguma coisa me deu, eu falei, a única referência que eu tinha era a escola, o colégio, que segunda feira você tem aula, uma hora de matemática, uma hora de não sei o que, uma hora de ciências né, terça feira você faz isso, falei, é o jeito, botei uma cartolina no quarto, segunda feira, estudo meia hora disso, disso, disso, o dia inteiro. Terça feira, quarta feira, quinta feira, então com 15 anos, 16 anos, eu tinha no quarto umas cartolinas lá…
Luciano Você montou, você fez um planejamento…
Kiko … eu fiz meu planejamento de estudo, não tinha Excel, eu nem sabia o que era Excel, não tinha nem computador, mas eu fazia um papel quadriculado na mão e marcava a data, os exercícios e minha velocidade, tem o metrônomo que é tipo cronômetro né, do esportista, tinha o metrônomo, as batidas por minuto e qual a velocidade que eu faço esse exercício na data tal e botava meta.
Luciano Como é que o moleque de 15 anos bola um plano estratégico e coloca na frente, que você está dizendo o seguinte, você criou um sistema de…
Kiko Eu fiz o meu sistema…
Luciano … de planejamento, controle e medição, quer dizer, isso é matemática pura, não era, não era conversinha, metas, botou e foi vendo a tua evolução. Como é que um moleque de 15 anos bola uma coisa dessa, cara?
Kiko Ah, era o amor de querer conseguir tocar aquelas coisas, o único jeito que eu vejo. Eu não falava para ninguém que eu tocava, que eu lembro que eu toquei com 17 anos no último festival da escola, eu já cheguei tocando lá uns negócios super complicados, os caras descobriram que eu tocava ali, quer dizer, eu não era o cara do violãozinho…
Luciano Da festinha.
Kiko … da festinha, nunca fui esse cara, nem falava para ninguém, porque eu não sabia tocar as músicas da festinha, eu não tocava Legião Urbana, que era o top né, eu não sabia tocar, não era isso que me interessava, eu tinha o foco de ser um cara bom na guitarra. E estudava as harmonias, os acordes, eu dividia meu tempo, segunda feira é jazz, terça feira eu preciso saber blues, eu preciso ser um cara completo, como é que é isso? Como eu não tinha ninguém na família de referência, tive que fazer…
Luciano Tinha que criar… O mais fantástico disso é o seguinte: você está fazendo isso para você, quer dizer, não era nem assim, eu vou tocar pra cacete para no sábado eu arrebentar no bar, não tinha o bar, era para você, quer dizer, era uma coisa que era um desafio…
Kiko … e não era para ganhar uma comissão maior, ganhar uma grana, eu não fazia porque alguém me cobrava ou porque eu tinha que fazer uma prova no final do ano sobre aquilo, não tinha nada a ver, era por puro prazer em conquistar.
Luciano Então, isso que eu queria dizer, quer dizer, você viu um cara que era muito bom, botou aquilo como uma meta, falou eu quero tocar igual a esse cara, e se bobear eu quero tocar melhor que esse cara ai e vou dar um jeito de fazer isso para mim, para minha própria satisfação e o que te alimentava era isso ai, você olhar no dia seguinte falar, cara, consegui fazer mais rápido hoje, acertei, está tudo redondinho, esse som que eu estou ouvindo esta me agradando e aquilo bastava para você.
Kiko Exatamente, ai eu ficava lá tentando tirar um solo, tentando tirar umas músicas, claro que tinha a bandinha que tocava no fim de semana, mas não tinha onde tocar, ensaiava no quarto dos amigos, na garagem.
Luciano De onde vem essa disciplina cara?
Kiko Eu não sei, essa disciplina eu não sei, mas eu sei que eu sempre fui um cara disciplinado, acho que da formação da minha casa tal assim, a minha mãe, meus pais sempre foram. Minha mãe funcionária pública tal, certinha nas coisas, fazendo tudo certinho tal, talvez um pouco dai, mas assim, meus irmãos nem são tão assim, eu acabei sendo mais, eu achei que esse era o caminho, me ajudou muito na escola, então sempre quando dei aula de guitarra, que eu dei muito tempo de aula, com uns 16 anos eu comecei a dar aula, porque tinha uma amigos que eu já estava tocando bem imagino né, melhor que os caras perto e os caras, ô, eu lembro de pagar um pouquinho e eu começar já a dar aula em casa.
Luciano Quer dizer, você começa a ganhar dinheiro…
Kiko Ai, com 16 anos…
Luciano … dando aula para os caras…
Kiko … para os amigos perto, ali do bairro.
Luciano … sem se apresentar em lugar nenhum, sem nada, você era só o cara que curtia guitarra lá.
Kiko Estava morando com meus pais obviamente, mas assim, para poder comprar a corda nova da guitarra, de repente comprar um equipamento novo, importado, alguma coisa melhor, juntar grana para comprar uma guitarra importada que isso era o sonho de consumo da época né, que algum cara trouxesse de muamba né, porque não tinha importação nem nada, esse era o sonho de consumo, então eram as aulinhas, juntando o dinheirinho, comprando dólar, aquela coisa né e comecei ai, assim, só que já nessa época, ai eu vou atrás de professores melhores, já nessa época eu também percebi que eu gostei, sempre gostei muito de música brasileira, eu era o cara roqueiro, tinha o Rock in Rio como referência, Iron Maiden, esses caras virtuosos da guitarra, tudo dentro do rock, mas eu sempre gostei de música brasileira, na minha casa, no meu prédio morava o Tom Zé, então assim, eu ficava ouvindo o disco da Tropicália
Luciano Logo quem…
Kiko … é, exatamente né, do sétimo andar né, então, ah esse cara, ai eu tinha, minha mãe tinha o Tropicália, eu falava nossa, o cara da Tropicália com Gil, com Caetano, mora aqui no sétimo andar né.
Luciano Com os Mutantes lá dentro e com aquela guitarra louca dos Mutantes na época…
Kiko Exato, exato, exato. Quer dizer, ai eu ouvia direto, então Tropicália, Caetano, vinil que a minha mãe tinha, meu pai sempre gostou de música erudita então ficava ouvindo também de tabela, o Paco de Lucia, fui descobrindo essas coisas, tinha muito interesse em buscar caminhos também musicais diversos, de estudar, ia tentar aula com outros professores, estava bem dentro do querer ser um grande músico, ai eu já mudo um pouco o sonho daquele moleque que quer tocar para 100 mil pessoas, eu já queria ser o melhor músico possível, músico, que é aquele cara que toca de tudo, que pode gravar com qualquer um, que entende realmente de música, que sabe de teoria, que sabe… eu comprava uns livros, estava estudando música, mas eu tinha muita dúvida se era uma profissão, quando você chega nessa fase do terceiro colegial, eu não sabia, não tinha certeza.
Luciano Cara, era o teu hobby, era tua curtição e uma coisa legal que você está falando ai que é interessante, cara, durante todo esse tempo, você é um lone ranger né, você é o cara sozinho, você por si e é engraçado que a maioria das histórias que eu vejo do pessoal que toca em banda, é aquele pô, a gente é um grupo de amigos que gosta de alguma coisa, a gente se junta, aprende a tocar e forma uma banda né, eu vou aprender a tocar guitarra do lado do meu amigo que está aprendendo baixo, com o baterista, que todo mundo é ruim, esses caras vão junto melhorando e um belo dia formam uma banda, então, está cheio de histórias assim né?
Kiko Eu tive um pouco disso, tinha uns caras do bairro assim, mas eu era o cara que estava muito mais focado, entendeu? Tinha uns amigos também, porque também é legal você tocar alto com a galera, na garagem de alguém e tal, tinha isso, mas eu voltava para casa e tocava meu instrumento, talvez eles não, eles estavam só nesse momento da garagem e curtir né. Eu voltava para casa e ficava estudando, me ajudou muito no colégio, eu estudava muito as matérias do colégio porque eu não queria estudar em casa, mas eu prestava muita atenção na aula, porque eu sabia que ia me atrapalhar na guitarra.
Luciano E o tempo em casa era o tempo da guitarra.
Kiko Exatamente. E muitas vezes, quando a aula era chata no colégio, eu levava livro de teoria de música para ficar lendo enquanto o cara estava dando aula, professores né, lentos e chatos né. E ai eu comecei a ficar um bom aluno em física, em matemática tudo, porque eu sentava na frente e ficava escutando, quero aprender isso porque eu não quero que isso me atrapalhe meu tempo, minhas tabelinhas tal. Isso, quando eu dei aula de guitarra, eu vi alguns alunos acontecer isso também, do cara realmente aprender a estudar, que é o grande lance, o cara aprender a estudar, realmente eu vou estudar agora, vou me concentrar, aprendo isso e tchau, parte para a próxima né. Então me ajudou muito na escola, mas quando eu cheguei no terceiro colegial, vem aquela dúvida, viver de música? Isso ai não vai dar, porque a gente não tem essa referência de, você vê o Michel Teló, milionário, Ivete Sangalo, sei lá, tocando em estádio, Legião Urbana na época e você vê o cara no boteco trocando pelo prato de comida. Qual que é o meio termo, o que existe, que profissão é essa, como é que você chega? Muito do que eu faço hoje, mostrando todos os caminhos possíveis para a pessoa que quer viver de música, os caminhos…
Luciano Que é o do jogador de futebol cara, é a mesma coisa cara, você vê o cara ganhando milhões e um monte de neguinho se ferrando ali…
Kiko Só que no futebol você não vê esse cara que, o cara que não ganha nada, que está no time da várzea, que sei lá, eu não sei nem quem é esse cara, o músico, você vai num barzinho em aquele cara tocando lá, você fala, pera lá, o cara tá ganhando o que aqui? Ele está trabalhando, ai você vê o cara saindo, desmontando as coisas dele e tal, você… é um pouco mais presente talvez né, pelo menos imagino, que você vai no restaurante, você vai num bar assim…
Luciano Não é no domingo, no estádio, não é o cara que está treinando escondido em algum lugar que no domingo você vê o jogo, ele está do lado da tua casa.
Kiko Eu imagino, se o cara que está tocando, joga num time de várzea, eu já imagino que ele tem outro emprego. Eu já imagino que ele tenha outro emprego, mas o músico, você vê o cara, ele vive dali e ganha quanto, 100 reais, 50 reais? Você faz uma conta na cabeça, o cara está ganhando couvert artístico ai de 10 reais por cabeça, mas tem 20 cara aqui, quanto esse cara está ganhando? Então é um 8 ou 80 né.
Luciano Se aquilo era ou não viável como profissão. Mas…
Kiko As pessoas falam né, a música, assim como a arte de forma geral, talvez esporte também, você tem certeza que você vai fazer isso? Você vai sair do, eu estudei no Rio Branco né, um colégio bom de São Paulo, tradicional, você tem certeza que você vai sair do Rio Branco para tocar no boteco? Essa pergunta não era a minha mãe, era eu fazia para mim mesmo.
Luciano Deixa antes de a gente entrar nessa, é fascinante essa história. Deixa eu voltar um pouquinho atrás aqui, para retomar aquele momento que você falou da questão de você definir claramente que o teu estudo na escola vai ser focado aqui, esse negócio do foco né, quer dizer, você aos 15 anos de idade deixou muito claro que você ia seguir um caminho, você focou naquilo, criou um planejamento para aquilo e é impressionante você contar que também conseguiu criar o foco separado para a escola, quer dizer, quando estou na sala de aula eu estou absolutamente focado em aprender matemática, física e geografia, história etc e tal, para quando eu chegar em casa eu mudar o meu foco e não fazer com que as coisas batam uma com a outra…
Kiko Exatamente.
Luciano … e o brasileiro tem o problema serissimo. Eu estou terminando um material, uma palestra sobre produtividade e eu abro com essa constatação, quer dizer, o brasileiro tem o problema de foco brutal cara, eu começo a trabalhar em dois minutos tocou o celular eu já parei, passou mulher gostosa eu já parei para olhar, o cara que chama para o cafezinho, o outro vem contar uma fofoca e aquilo é tudo truncado né. Não consigo falar olha, vai ser das 8 às 12, eu vou ficar absolutamente focado nisso aqui né e quando a gente leva isso para nível do dia a dia do trabalho do brasileiro, explica muito dessa complexidade que nós temos da falta de produtividade do brasileiro né? De novo, isso tem a ver com disciplina, tem a ver com foco, etc e tal.
Kiko Mas no meu caso nasceu…
Luciano Da onde vem esta porra cara?
Kiko … eu acho que a música é muito apaixonante, eu não sei, eu achei o que eu gostava e isso, e eu achei as referências que me impulsionaram também né, quando eu falei de alguns guitarristas, eu quero tocar que nem esses caras, eu achei a referência que tocou em mim…
Luciano O que te dava a satisfação, cara? Que você olhava e falava, puta, valeu…
Kiko Porque a música, eu acho…
Luciano … naquela época, com aquela idade, o que dava satisfação para você?
Kiko Era conseguir tocar…
Luciano Era ouvir os solos, um solo acontecer…
Kiko … era conseguir tocar aquilo, aquilo que você ouve, você conseguir reproduzir né, e também ai já entra na loucura da satisfação, ai já tem um lado do exercício como um esportista, dos 100 metros, cara que meu, conseguir baixar um milissegundo da minha corrida, então eu já estava assim, nossa, consegui tocar nessa velocidade, está soando melhor, está mais bonito, mas a música é um negócio, é a melhor das artes, é a escultura do ar, como já disse o Frank Zappa, é uma coisa que você não vê, você não toca, mas ela te comove…
Luciano Sem dúvida.
Kiko … então assim, você está totalmente ali dentro daquela música, se você gosta de uma banda, de uma música, de um solo, de um tipo de som e você consegue reproduzir aquilo, você faz, o negócio é muito intenso, então quando você começa a descobrir que você é capaz de fazer aquilo, é muito forte, então acredito que seja isso, essa vontade de saber mais, de descobrir e por que então esse acorde é bonito? Então vou ler o livro do Schoenberg, vou ler o livro do cara, do filósofo da música, do cara, por que?…
Luciano … vou buscar a teoria para explicar por que…
Kiko … explicar a teoria, por que? Então eu entrava, mas ai depois eu descobri que não era muito a minha onda de ficar essa matemática da música, tem umas viagens completas de teóricos, Pitágoras, já vem lá do… Matemática em cima da música, ciência em cima da música.
Luciano Música e matemática, cara é unha e carne né, é tanto que se você partir para composição erudita e tudo, aquilo é quase que uma equação matemática né?
Kiko Sim, principalmente os modernos, mas assim, eu fui estudando e descobrindo essa sensação, eu acho que dá essa força e você querer saber mais, mas sem motivo de querer ser um profissional, ainda sem querer ser um profissional, nunca pensei na questão de viver de música, ainda com 16, 17 anos, estava, era por puro prazer de tocar.
Luciano Você já tinha assim uma visão de que…
Kiko Não era de pegar mulher, porque muitas vezes, ah vou tocar porque vou tocar no barzinho, para ganhar as minas, não era isso, porque não ficava tocando para as pessoas, aliás, muito pelo contrário, namorada que eu tinha era um problema, ela falava, não, você não vai ficar tocando guitarra sábado o dia inteiro, eu falava não vou. Ah vamos viajar para a praia, não vou. Eu era assim, eu não ia com a galera…
Luciano Um cdf mesmo…
Kiko … eu era um nerd da guitarra…
Luciano Sei…
Kiko … eu era um nerd, talvez se eu nascesse hoje eu estaria no computador lá, sei lá. Mas eu realmente era um nerd da guitarra, quando chega com 17 anos, ai começa a pintar algumas bandas, já pintou ate o próprio, galera do Angra, o Rafael me conheceu nessa fase, ele morava no Morumbi, eu morava em Perdizes naquela época a gente nem dirigia nem nada, ouviu falar que tinha um cara em Perdizes que tocava, até a gente brinca, ele ouvia falar que tocava um arpejo em sei lá de quantas notas em tantos segundos, a lenda urbana, e ai ele foi na minha casa, tocou o interfone falando, eu queria que você tocasse com a gente tal, queremos que você toque algum arpejo de tantas notas em tantos segundos, olha só, um moleque e ai começo a tocar então com o Rafael, com 17 anos…
Luciano No Angra, já no Angra?
Kiko … não era Angra ainda, era uma bandinha, uma banda eu já começo a entrar nesse mundo de banda, da garagem, de ensaiar tal, eu continuei estudando e ai eu fui fazer então a faculdade de biologia…
Luciano Isso que eu ia te perguntar agora, quer dizer, tirando a música de lado, havia uma carreira que você podia, olha, por esse caminho acho que eu vou seguir?
Kiko É, meu pai é bioquímico, então assim, na minha casa, eu acho que por ai assim, gostava, tinha uns microscópios, eu ficava fazendo uns negócios também, eu gostava disso de moleque, tinha uma sensação boa nesse caminho e eu tive bom, ótimos professores de biologia no Rio Branco e de física, eu comecei a gostar muito de física, pensei até fazer faculdade de física, sei lá, mas ai biologia foi mais forte e na hora de escolher, com 17 anos o que você vai fazer da vida, não tinha a mínima ideia, não tinha referência nenhuma…
Luciano É terrível.
Kiko … terrível, horrível, mas a música não, eu não via como um caminho, eu tinha medo da música e não era pressão de pai, claro que meus pais também eu acho que não gostariam que eu fosse músico e fui lá então e fiz a FUVEST para biologia e eu entrei na USP, na biologia, não me matriculei, não quis fazer, bateu, não, vou ser músico.
Luciano Espera ai, me fala desse momento, cara, que que foi isso…?
Kiko … FUVEST quando que foi, sei lá, dezembro? Sei lá, ai saiu o resultado lá, passei, biologia…
Luciano E ai você se vê numa encruzilhada e tem que tomar uma decisão.
Kiko Tem que tomar uma decisão…
Luciano Como é que foi? Isso é um processo de reflexão, com 17 anos de idade, o que você fez cara? O que é que te levou ah! vou para a música?
Kiko Não vou matricular. Fui lá e não matriculei. Aí minha mãe falou, você está abrindo mão da USP né, tipo, biologia, falei não vou. Não fui. Não fui, tipo não me matriculei e não fui, alguma decisão maluca de não ter ido, ai eu falei, ai eu estava com 18 anos, passei aquele ano, fiquei com medo de pegar o alistamento militar, porque eu estou fazendo nada, ai eu ficava dando aula em casa, já estava com os alunos, ganhando minha graninha ali dando aula e tal, mas nada… dando aula com aluno sentado na minha cama, tipo no quarto, negócio… e ai passei o ano nesse conflito, devia ter feito a faculdade, ah não, vou ser músico, ah não sei o que, quando está chegando o final do ano, não, vou fazer, fui e fiz o, como chamava, o pré vestibular, sei lá…
Luciano O cursinho, aquele cursinho.
Kiko … cursinho, cursinho, cursinho intensivo de 2 meses, bem no finalzinho a decisão, só para dar aquela relembrada, fui lá, fiz e entrei de novo, ei me matriculei…
Luciano Biologia outra vez?
Kiko … biologia, na USP de novo, só que ai na dúvida, fiz FUVEST pra música na UNESP e biologia na USP e passei nas duas e fui então fazer UNESP a tarde, de música, composição e regência e a noite, peguei o curso de biologia que era só a noite, não era o dia inteiro, era um ano a mais, eram 5 anos e fui fazer os dois, por incrível que pareça eu desisti da música uns 3 meses, na FUVEST, porque eu queria tocar guitarra, eu descobri que o cara falando que a corda de violino é feita de não sei o que e ai tinha greve de professor, aquelas coisas, eu falei não, isso aqui é uma perda de tempo, vou sair fora. Fiquei uns 3 meses, era um embaço lá, realmente a FUVEST, não sei como é hoje, mas ali naquela época, estou falando de 91, por ai. 90, sei lá e ai, é biologia, pesado o negócio, biologia na USP pesado, os caras já dando matéria, eu falei, aqui que eu gosto, sabe, eu lembro bem e me senti bem, dos caras pegando pesado ali, prova e não sei o que e tal, ai eu fiz praticamente um ano e meio de USP, já aos trancos e barrancos já, porque eu fui, comecei com uma banda de rock, começou a tocar por São Paulo já, chamava “A Chave”, os caras me chamaram e ai… lembra de uma banda chamada “Dominó”?
Luciano o tal do “Dominó”, os meninos do Dominó?
Kiko É, você vê, o cara que sonhava em ser o Iron Maden, o meu primeiro emprego foi ser guitarrista do “Dominó”… risos Exatamente.
Luciano Espera ai, vamos ouvir um pedacinho aqui…
ai que delícia cara, isso faz parte da infância de uma moçada gigantesca, e a guitarra era tua cara? Era você na guitarra…
Kiko Não, não, eu não gravei o disco tá, na época tinha uma banda “Polegar” também né, e as pessoas confundem, ah é o “Polegar”, daquele cara, o Rafael ilha, não, eu falo, é o “Dominó”, que é Gugu Liberato e tal, e ai o Polegar era os carinhas tocando com banda e o Dominó era os caras dançando, então eles falaram, não, a gente precisa ter banda, então chamaram, montaram uma banda para acompanhar o Dominó ao vivo e um dos caras do Dominó, que é o Afonso, era super cantor, super músico, apaixonado, então ele ia nos shows das bandas de Rock em São Paulo e me viu tocando, e falou bom, quero você na minha banda, porque ele curtia, ele tocava, essa coisa virtuosa da guitarra, então fui lá então tocar com o Dominó e eu comecei realmente ver qual que era o mercado da música, porque a gente começou a fazer aquelas festa de peão, sei lá, pelo interiorzão do Brasil, o primeiro show nosso foi em Sinope, não esqueço, em 92, 92…
Luciano Chega lá…
Kiko … nossa… nossa, inesquecível a viagem e tudo rua de terra, de repente eu estava naquela época lá, e comecei a viajar pelo Brasil com o Dominó, foi legal e logo depois com o Supla também, eu tinha 19 anos, já comecei a tocar profissionalmente ai já né, Ordem dos Músicos do Brasil, tal, sempre conto uma história da Ordem dos Músicos do Brasil que é fantástico né, nossa orem né, para ver como é que é o nosso nível, quando eu fui lá, eu entrei no Dominó, então precisava ter a carteira da Ordem dos Músicos do Brasil para poder exercer a profissão né e ao obviamente eu imaginava que era tipo uma OAB, CRM né, eu achava que era alguma entidade assim realmente séria, eu fui lá no centrão para fazer o teste e já fui recusado já de cara, porque minha foto não estava de terno e gravata, não só de terno, essa foto não está… eu falei, ok, então aqui o negócio é sério, desci, procurei um fotógrafo que a mulher indicou, peguei uma gravata toda “veia” lá do centrão, o cara fingi que era um cara né, elegante e executivo, com a cara de executivo…
Luciano Já era cabeludo, tudo?
Kiko … cabeludo, cabeludo, sempre, sempre. Ai fui lá, ai então espero fazer o teste, entro na sala, tem uma senhora lá, tipo sei lá quantos, perto dos seu centenário e ai cm violão velho e uma mesa, aquela sala vazia, ela falou, menino, o que você toca, falei bom, toco guitarra, que estilo? Rock. Então pode demonstrar né…
Luciano No violão.
Kiko … no violão e ai eu sempre gostava de música brasileira, então treinei uma bossa nova que eu sei que nessas horas, para tocar para tia, você manda um Tom Jobim que sempre funciona, então tinha na mão, tinha na mão, que você não vai tocar iron Maden né, então eu gostava de música brasileira, sempre treinei e tal, quando você pega um violão, primeira coisa que você faz, qualquer instrumento, você dá aquele primeiro um acorde para ver se está afinado né? E eu dou aquele primeiro acorde, ela falou, está ótimo, você desce agora no quarto andar, paga a anuidade, vai no sexto andar, paga o sindicato e você já é um membro da Ordem dos Músicos do Brasil. Não toquei. Ai, o negócio é assim, é isso ai, ai na mesma fila, eu estava com o baterista, o baterista do Dominó e ele entra na mesma sala depois, entra lá, tem um violão, a mesma e a senhora, não tem bateria, nem pandeiro, nem chocalho, nem berimbau nada, o que você toca? Toco rock toca o que? Bateria, ah então batuca um rock na mesa, ele batucou um rock na mesa e também desceu no quarto andar pagou o sindicato e se transformou num músico da Ordem dos Músicos do Brasil. Contanto que você pague a anuidade…
Luciano “Tá” feito.
Kiko Está tudo certo, entendeu?
Luciano Não é que a mulher fosse um olheiro do futebol, daquele que pelo som do chute ele saca que é um craque, o cara é tão bom, pelo som do chute…
Kiko Se você pagar o sindicato e a Ordem dos Músicos, está bem, você já é um músico, então assim, essa a nossa profissão. Então não me admira se nessa época que foi a coisa que eu estava fazendo a faculdade, vou continuar na biologia, que pelo menos parece um negócio mais sério, porque se a Ordem dos Músicos do Brasil é isso, como é que, pensa bem, então assim, a excelência não existia, era a gente mesmo, você mesmo ter que fazer a sua própria excelência da tua profissão.
Luciano Que para você não era problema, você já vinha nessa pegada da excelência há muito tempo né?
Kiko É, de estudar, de querer, de ter outras referências, mas assim isso foi forte, que eu não esqueço também porque, qual que é o embasamento que você vai ter uma profissão com esse tipo de apoio, é uma piada até hoje a Ordem dos Músicos do Brasil e ai você assiste vídeos da Elis Regina em mil novecentos e setenta e pouco metendo o pau no presidente lá, que era um déspota por décadas, que ficou décadas. Mas é coisa do Brasil né? Que a União, você vai nos EUA, a União dos músicos é uma coisa que realmente ajuda o músico, ajuda a manter o piso salarial, aquela coisa que é necessária se você for ter uma ordem né, bom esse foi minha primeira profissão, o Dominó, o Supla e ai o Angra começa meio que ai e eu ai quando o Angra a gente começa uma demo tal, grava uma demo, quando a gente vai gravar o disco já com uma gravadora, ai a gente grava na Alemanha e eu perco as provas finais do semestre do quarto semestre, ai foi quando eu falei não, agora tchau. Só que eu não desisti, eu falei vou trancar, sempre com aquele medo ali né, mas eu já estava, já tinha tocado com Supla, com Dominó, dava aula, ganhava a minha graninha, estava com o Angra, gravando o primeiro disco…
Luciano Na Alemanha.
Kiko … na Alemanha…
Luciano Que não é pouco.
Kiko … já financiado por uma gravadora japonesa, foi o primeiro contrato e já estava então entrando, mas mesmo assim, vou trancar, mas eu nunca voltei, mas eu sempre, sempre tinha uma coisa, será que? Será que eu volto? Tal, que eu tive o lance de realmente privilegiar a educação, saber que o principal, que você tem que adquirir na sua vida é educação, estudar, o resto vem depois, você quer gastar dinheiro aonde? Gastar em educação, em se educar, eu sempre tive esse…
Luciano Que também é interessante ouvir você falar isso ai, porque normalmente, quando você pega uma pessoa que tem um talento como esse que você teve, que desenvolveu, não é normal você, aliás, não é anormal você ouvir a pessoa dizer larguei tudo para me dedicar de cabeça, deixei de estudar para poder me dedicar, virar um ator ou uma atriz, parei de estudar para virar jogador de futebol, deixei de estudar para virar um músico porque aquilo tomou conta da minha vida né? E você entendeu claramente que uma coisa é a base para a outra e levou aquilo à diante, muito legal cara.
Kiko Sempre com esse medinho de não estar fazendo o status quo, sempre com medinho de não ter o diploma na parede, será que isso vai, o que que vai trazer na minha vida não ter esse diploma na parede, nessa fase dos 18, 19 anos
Luciano Claro, até porque você tem uma pressão de família e tudo mais, você fala pô, eu quero que meus pais fiquem tranquilos comigo né…
Kiko Também… também…
Luciano … não quero meu pai imaginando que eu vou estar em cima de um palco, cabeludo sem saber se eu vou ganhar ou não…
Kiko … tocando em boteco por comida, porque tem esse lado também, mas as questão de você se preparar, estudar, você falou da coisa das 10 mil horas né que falam tal né, mas realmente as 10 mil horas não é nada se você não tiver essa meta cara, se não o taxista seria corredor de fórmula 1 né, tipo não é só você fazer aquilo, é como você estuda, como você vai metrificar as metas, aonde você quer …
Luciano Aonde você quer chegar, eu quero estar correndo fórmula 1, não quero ser o melhor taxista do Brasil, mas se você não define isso claramente você não vai chegar nunca lá..
Kiko Tem gente que toca violão há anos, não é o que conta, é como você se preparou, quanto você estudou…
Luciano … isso é ambição cara, é ambição, não é ganância, é ambição, que é aquela história, quer dizer, o moleque de 15 anos olha para aquilo e fala, minha ambição é um belo dia estar naquele palco, tocando para aquele povo lá e você olha para aquilo e fala, meu, 15 anos de idade, seu fedelho aqui, o que que você acha que você é, grande bosta que você é. E o moleque 30 anos depois está lá no palco tocando porque ele teve uma ambição que lhe puxou para lá, ambição é fundamental cara, sem ela você não chega em lugar nenhum né. Mas ai de repente então fica claro pra você que aquilo pode ser a forma como você vai ganhar a vida né?
Kiko É. Exato.
Luciano Você tinha uma compreensão naquela época de que ao abraçar uma carreira de músico você não seria aquele cara estável que ia estar na sua casa, segunda, terça, quarta, quinta e sexta, casado, com sua filha, seu filho, vendo seus garotos com a sua esposa, aquela que seria uma vida totalmente diferente daquilo que a gente chama de uma vida normal da classe média normal, você sabia disso, sabia desses riscos e abraçou isso assim, como é que foi?
Kiko É eu acho que eu só, eu não pensava muito ai né, apesar de os meus pais serem esse tipo né de profissionais, eu não tinha essa referência, foi acontecendo, a paixão pela música, de fazer, foi acontecendo então eu nunca pensei nisso ai e a minha, então minha profissão, o jeito que eu encarei a música, eu tentava fazer uma coisa um pouco mais como se fosse uma profissão normal, que era dar aula, dar aula você tem uma certa base né, porque você tem os alunos que vem lá todo mês, pagam ali a você, dá um chão e ai você, então sempre tive essa administração da minha carreira, eu dou um pouco de aula, para me dar o chão aqui, graninha mensal e dou meus voos por fora, se pintar show ótimo, se não pintar, também está tudo certo, está garantido, então sempre tive uma certa, digamos, uma educação financeira, digamos assim, para não ficar dependendo do boteco, do show, porque se não você começa a cair, porque se você fica dependendo de marcar, você vai para baixo, porque ai você começa a topar qualquer coisa e você está com a conta atrasada, então eu tinha aquela…
Luciano Para a auto estima isso ai é um horror. Você está falando um negócio interessante que é o seguinte: é a consciência de você trabalhar o Kiko Loureiro S/A que é aquela empresa do eu sozinho, que é uma coisa interessante que você já vinha cuidando disso ai e ao mesmo tempo você tem um grupo né, como um business, quer dizer, você tem uma marca, você tem o Angra, que aquilo é um negócio que envolve uma porrada de gente e tudo mais e você é um elemento ali dentro para fazer aquela coisa andar né? Você nunca….
Kiko … fui aprendendo ai, fui aprendendo …
Luciano … mas você nunca abandonou o Kiko Loureiro S/A, esse sempre, continua com você…
Kiko não, não…. é… é…
Luciano pois é, mesmo assim, tem gente que se entrega absolutamente ao empreendimento, ao negócio, um belo dia lá na frente ela sai e ela não tem mais chão, porque, eu perdi a minha identidade…
Kiko … ah sim, bom, se você trabalha numa empresa né…
Luciano … perdi minha identidade não tenho mais o sobrenome corporativo, meu cartão não existe mais, agora eu sou um bosta que… de onde é que eu sou? Sei lá, não tenho mais para onde ir, não sou mais eu, eu nunca me preocupei em construir… eu tive essa preocupação quando eu estava na minha transição, que eu fiquei meus 26 anos na empresa, quando eu decidi que estava chegando a hora que eu ia em algum momento sair da empresa, foram 8 anos antes eu comecei a trabalhar o Luciano Pires para o dia em que eu não fosse mais o Luciano Pires da Dana, e o Dana caísse, o Luciano Pires tivesse força suficiente para me segurar, então montei um trabalho em paralelo de construir, então Luciano Pires S/A foi uma construção que começou muito tempo antes né, mas o dia que eu parei um eu estava com o outro pronto, me aprece que você também manteve isso normalmente né?
Kiko É mas eu pensando aqui, essa pergunta é interessante, pensando aqui, aconteceu obviamente lá no começo dos anos 90 aconteceu de uma forma natural, eu não estava com essa… esse pensamento, mesmo porque o Angra era uma coisa embrionária, não sabia quanto que o Angra seria meu sobrenome, Kiko do Angra ou não. Eu sempre fui muito ativo, eu imagino…. hoje eu enxergo dessa forma, eu sempre fui muito ativo, mais ativo que o pessoal da banda, de certa forma, então ou … muitas vezes eu me metia em outros assuntos da banda, que não seria para o guitarrista se meter, era no gerenciamento da banda, me meti muito e também tinha mais espaço, tempo e energia para correr atrás de outras coisas, patrocínio de instrumentos, um show meu sozinho, seção de fotos, uma entrevista e ia fazendo isso porque eu, como eu falei já desde os 15 anos, para mim era dezembro e janeiro, não era para ir para a praia, era para aproveitar que tinha o dia inteiro livre para se dedicar no que eu queria ser né, não era para, tipo agora vou relaxar na areia, nunca pensei assim, não sei porque, mas nunca pensei assim, então quando chegava dezembro, janeiro e fevereiro, eu estava bolando o que que ia fazer ou fazendo, sempre inventando alguma história, então isso, fui achando os buracos dentro da banda e fui acontecendo e ai meu nome foi crescendo também fora e dentro da banda.
Luciano Que é interessante isso é uma veia de empreendedorismo brava né cara, porque o empreendedorismo é exatamente isso, quer dizer, eu tenho atributos que eu preciso cuidar de todos eles para poder fazer esse meu business andar adiante, quer dizer, não basta eu ser um virtuose da guitarra, e ser o melhor tocador de guitarra etc e tal se eu não cuidar dessas questões….
Kiko Sim, eu fui aprendendo isso na raça. Porque, o que aconteceu? Quando a gente… foi assim, a gente tinha uma banda, o Angra, juntou vários caras bons, a gente era uns caras muito… a gente achou os melhores que a gente conhecia em São Paulo…
Luciano Músicos… Melhores músicos…
Kiko … músicos, melhores músicos, muito importante isso, é um grupo onde todos acreditem em cada um, respeitem e a gente era muito diferente uns dos outros, muito diferente e a gente ao longo de muitos anos entendeu essa diferença e respeitou né, porque tinha o nerd, que era eu, o Rafa, Rafael, outro guitarrista muito mais Frank Zappa, Raul Seixas e tal, outro estilo né e a gente trocou, eu relaxar mais com ele, ser um pouco mais lúdico, digamos assim e ele ser um pouco mais esse cara incisivo, da virtuose, de buscar, de correr atrás e a gente tinha um cara, um baixista que se vestia de roupa do exército e lutava muai tai e o vocalista de roupa de príncipe, de babado, tocando piano clássico, era assim, só que todos fazendo muito bem o que faziam, mas personalidades bem diferentes, isso cria uma banda, isso cria um grupo, uma equipe forte, como os Beatles, os caras completamente diferentes, tinha um John Lennon completamente diferente do Paul McCartney, depois você enxerga melhor isso, com o passar do tempo, mas eles juntos fizeram…
Luciano Quer dizer…
Kiko … o Lennon e McCartney fizeram um negócio que eles juntos não tem nada melhor…
Luciano … muito maior que qualquer um dos dois separados né?
Kiko … exatamente…
Luciano … não, e é legal, porque essa, isso explica muito bem, se você pegar qualquer desses grupos fantásticos ai que fizeram a cabeça da gente, todos eles são muito parecidos, tem o maluco, tem o outro que é mais, tem o cara de business, tudo mais, você consegue entender quem é que está cuidando das coisas ali e da mesma forma como isso explica essa riqueza que faz um grupo explodir e virar sucesso, também explica porque que ele explode, desmancha um pouco mais a frente né? Chega uma hora que ele vai implodir, vai desmanchar, talvez por isso os Stones sejam um case a ser colocado numa parede, porque cara, como é que os caras conseguem até hoje estar ali ou talvez porque atingiu um volume tão grande que os caras sabem que, cara…
Kiko Não, ok, eu acho que até mais que o Roling Stones, o U2, eu acho que são os mesmos quatro caras há 40 anos também e eu acredito que vão continuar, mas o U2 é um exemplo, Rush, são trios há sei lá quantos anos, tem também, realmente são casos específicos, casos específicos. Rolling Stones mudou, mas tem lá os 3 que estão juntos há sei lá, 50 anos…
Luciano Sim, estão lá há tanto tempo junto e cada um deles tem a sua própria persona, cada um deles teve uma carreira independente, o baterista virou jazzista…
Kiko Foi bem… essa coisa… foi bem estruturado esse momento talvez deles, eles devem ter brigado, voltaram…
Luciano … imagino que deve ter… e ai mas nada resiste a 250 milhões de dólares num ano né?
Kiko É, sim e não, porque eu acho que várias bandas, os Beatles seriam muito mais também, tem uma chora que o cara fala, não quero tocar com esse cara, tchau, não quero mais, não me interessa. O The Police podia estar fazendo shows em estádios lotados, a gente sabe, quando eles voltaram fizeram, mas o Sting está, não, quero fazer, visitas os Yanomamis, entendeu?
Luciano Sei, chegou num ponto da carreira dele que ele pode e dar ao luxo de escolher o que ele quer fazer…
Kiko … é… as vezes o cara não precisa, por que ele precisa de 250 milhões,, sabe assim…
Luciano … a ambição é outra
Kiko … a ambição é outra, ficar viajando, porque é um casamento, é um casamento sem sexo, uma banda. Você está… toma café da manhã com os caras, viaja o tempo inteiro, o tempo inteiro, não é só no palco, o palco é a parte boa né, então como é que você faz para ficar unido todas as pessoas, é muito difícil.
Luciano Como é que faz, Kiko? Que eu sei, que quebraram o pau de montão…
Kiko Ah, o Angra sim, mudou formação, quebrou pau, é difícil você encontrar… é a maturidade de manter mas assim, faz parte das mudanças também, eu acredito, essas diferenças de personalidades, as vezes elas são antagônicas e elas se fundem, entendeu? Eu toco com o Rafael há sei lá, a gente se conheceu eu tinha 17 anos, eu estou com 43, entendeu? Somos duas pessoas completamente diferentes, a gente encontrou esse respeito, eu sei que tem respeito, brigou que seja, mas encontrou o respeito, com outros nem tanto, cada um foi para um lado, deu uma né…
Luciano Você consegue ver ciclos no… eu estou falando especificamente do Angra, estou falando o seguinte, uma banda como essa de vocês, que tem essa…. ela tem ciclos, do tipo assim, a gente está junto, nasce um disco novo, o disco é publicado, passou o ciclo, começa um ciclo novo que vai desembocar lá na frente num novo disco ou não? É um processo independente?
Kiko Não, tem… é cíclico sim, porque você lança um produto, faz a turnê e ai tem muito do empresário, as pessoas não sabem o que que faz um empresário, na realidade o empresário é estrategista, as pessoas acham que o empresário é o cara bom, é o que rouba o dinheiro…
Luciano E que contrata né?
Kiko … e que contrata, é o cara que vende o show, o cara que vai… não, isso são outras pessoas, quem vende o show é o cara que vende o show, é o vendedor de show, quem vende… a gravadora que grava o disco é o produtor musical, é o cara que vai no estúdio, é outro cara, contratado também, quem faz o contato com a rádio é outro, assessor de imprensa, tem as figuras ali, se a banda for bem pequena, de repente pode ter a própria banda fazendo tudo isso, óbvio, mas uma banda grande vai ter essas figuras e está a figura do empresário lá que é simplesmente o estrategista.
Luciano Esse cara define para onde a banda…
Kiko Esse cara, que se ele for bom, esse cara que vai entender que a banda grava, faz a turnê e que tamanho que essa turnê, a ponto aproveitar ao máximo o momento mas não destruir a banda, porque isso que acontece, a banda está tendo sucesso, mete os caras para viajar, mete os caras sem dormir, mete os caras no avião indo para o Acre, depois para Porto Alegre, depois não sei que, vai para a China, quando você vai ver os caras estão se odiando, porque os caras estão longe de casa, longe dos outros amigos, estão sem dormir direito, não sei o que. Ou o cara cai para a droga e acha que está todo feliz…
Luciano Cria uma realidade paralela ali…
Kiko … outra realidade…
Luciano … e foge…
Kiko … que não foi o nosso caso nunca e então você fala, o que que eu estou fazendo aqui? Não é tão legal assim mais porque não aguento mais isso ai, o empresário tem muito essa função assim, de ó, para aqui, cada um vai pra sua casa, fica lá, relaxa, família, amigos, faz o que você quer, mas dia tal a gente volta, próximo ciclo e vamos aproveitar ao máximo, então…
Luciano … que é interessante né, eu estou… você está falando e eu estou tentando trazer esse teu exemplo para dentro de um ambiente corporativo, que a maioria das pessoas que está ouvindo a gente aqui não são músicos e trabalham numa empresa onde você não pode fazer isso cara, eu não posso simplesmente falar bom para agora, vão para casa e volta… porque eu tenho um horário a cumprir, eu tenho…
Kiko Mas você tem os lançamentos, você não tem o produto novo?
Luciano … sim, mas eu tenho das 8 às 18 eu tenho que estar lá, queira ou não queira todo dia, o que eu posso tirar é 30 dias de férias por ano, mas para quem trabalha com liderança é uma dica fantástica ai, quer dizer, eu sou o líder de um grupo e eu tenho que entender essas carências do grupo e eu tenho que agir para que eles não, esse atrito não aconteça…
Kiko Mas a banda em si não para, é cíclico e tem os momentos, a banda em si não pode parar, mas você tem os outros caminhos, o merchandising, o que você vai ter o site, tem que estar rolando né, o que, como você pode aproveitar isso, mas isso já aprendi desde o começo, que é uma profissão sazonal, mesmo se você for dar aula de música, quem dá aula, o cara não está em janeiro, fevereiro, se você toca rock no Brasil, esquece janeiro, fevereiro, é carnaval, entendeu? Não vai ter nada, então você não vai trabalhar em janeiro, mesmo que você queira, você não vai trabalhar janeiro, fevereiro, se você for um professor de música você também não vai trabalhar, o cara está na praia, as pessoas acham que também… estudar música é só quando vai para a escola, eu não entendo isso também, mas você tem que trabalhar os 12 meses do ano, mas na música tem isso, então desde o começo eu já aprendi que é sazonal, que você tem 9 meses do ano que você tem que fazer o teu dinheiro para te sustentar, você não vai ter, não tem fundo de garantia, não tem assistência médica, não tem nada…
Luciano E ai você começa…
Kiko … por isso…
Luciano .. e ai você vai ter que fazer tuas clinicas de guitarra, as edições de….
Kiko … o músico é um empreendedor nato, primeiro que ele tem, ele sabe o que, ele tem a paixão por alguma coisa e ele quer mudar o mundo com aquela coisa que, o principal né? O por que eu faço isso? O tal do por que está fazendo né? Então, propósito, então o músico nasce com um propósito, essa música que eu adoro, quero mudar a minha letra, quero fazer como John Lennon fez, eu quero fazer como Bob Marley fez, eu quero ser esse cara especial, as nossas referências são essas. E ai você é um empreendedor nato, o que falta no músico, muitas vezes, é o lado do empreendedor administrativo, o cara que entende da parte do negócio, tá, como é que é esse negócio da música? Porque não é só a música em seu romantismo, o músico esquece, não é que esquece muitas vezes ele é contrário à parte administrativa do negócio…
Luciano Porque eu sou um artista, cara, eu sou artista….
Kiko … eu sou artista e alguém vai aparecer e vai descobrir, um empresário vai me descobrir, só que “tá” louco, isso nunca vai acontecer…
Luciano … não me venha com esses detalhes sórdidos, eu não quero ficar lendo contrato cara, não quero ter que pagar conta, não me encha o saco e no entanto, se você não se meter a pelo menos entender o que está acontecendo você vai virar vítima dessas…
Kiko … e eu tive a sorte, que o Angra, a gente teve um empresário, no começo da banda e ele conseguiu, ele tinha um contato na Alemanha, era época de fita cassete, mandou por correio para esse cara da Alemanha, que esse cara tinha mais contatos, porque na Europa… ele tinha um contato no Japão, no Japão ainda tinha um mercado fonográfico mais… melhor para esse tipo de música que a gente fazia, um heavy metal lá meio tipo Iron Maden e no Japão tinha esse… então a gente falou, a gente precisa fazer uma demo, uma fita demo, demonstração com algumas músicas com o melhor que a gente conseguir no Brasil, no estúdio melhor que a gente possa pagar, para mandar para esse alemão, para se der certo, esse Alemão gostar e ai se ele gostar, ele vai pegar e vai fazer o network dele e vai mandar para o Japão, era uma chance para a coisa, era uma linha, se não rolasse, volta vai tocar no boteco, talvez eu terminasse a faculdade de biologia, sei lá. Ai mandou para o alemão, o alemão gostou, falou ta bom, mandou para o Japão, o Japão gostou, falou, a gente financia o disco, 50 mil dólares, na época, em 92 e a gente então, vamos fazer o que com essa grana? Bota no bolso e grava no estudiozinho da esquina, ai entra o lado empreendedor, não, vamos pegar toda essa grana e mais um pouco e fazer o melhor possível, porque a gente tem uma chance para que a coisa vá dar certo, porque um tiro, a gente estava fazendo o que? Heavy Metal no país do samba, cantando em inglês no país de analfabeto né? E tocando po, samba e usando jaqueta de couro na praia, tipo usando bota de couro, jaqueta de couro no país do chinelo havaiana né, tipo não combina, a gente ainda fazia uma música sofisticada, a gente queria ser um Hermeto Paschoal entendeu, a gente queria ser o Frank Zappa…
Luciano Mas isso é uma coisa legal que eu queria te perguntar, a coisa é o seguinte aqui, estamos falando de Angra, você vira um músico profissional, com uma banda profissional que não faz parte mainstream do ponto de vista de que ela não está na televisão, cara, vocês não vão tocar no Gugu, não vão no Faustão, ela não acontece em nenhum lugar desse, então ela tem um foco muito específico, para um público extremamente especifico que é um público que não tem as dimensões que tem uma banda Calypso e nunca vai ter né?
Kiko Foi uma decisão nossa, questão de gosto ai aquela coisa…
Luciano Então, isso que eu ia perguntar para você…
Kiko … não quero tocar no estádio, porque o que eu gosto é isso, então é o por que? já de novo, é o bem empreendedor, eu vou atingir esse nicho, a gente ia fazer a calda longa em 92, esse termo, sei lá, aprendi uns anos atrás, era calda longa, eu estava trabalhando o meu nicho onde ele estava, a gente sabia que tinha esse metaleiro na Holanda, tinha um pouco de metaleiro no Japão, tinha um pouco do metaleiro em Fortaleza, tinha esses caras, porque quando fez o Rock in Rio em 85, tinha 100 mil caras lá no dia do metal, existe esse cara, tem o público, mas onde está esse cara e quem são essas pessoas, como que chega neles, então a gente foi aprendendo isso lá prá trás.
Luciano Numa época em que você não tinha um Youtube, que você bota um vídeo lá, manda o link para o cara e está feita a…
Kiko A gente fez uma série de coisas que as empresas fazem hoje que tem muita coisa que as empresas tem que aprender com as bandas de rock, com as bandas de garagem, que cada vez está mis claro para as empresas, porque elas tem a internet, deixa lá direto com o cliente…
Luciano O Gene Simmons, do Kiss, lançou um livro agora exatamente isso, é o que as empresas podem aprender com…
Kiko … Gene Simmons já tem…. é, esse livro, ele lançou agora Eu S/A né?
Luciano … diz que é uma coisa assim, o que as empresas podem aprender com uma banda de rock…
Kiko … é, o Kiss é um exemplo clássico disso, porque… e a gente utilizou muito disso quando a gente fez o Angra lá pra trás, em 92, é você lidar… é meio óbvio hoje por causa do Facebook, é você, a sua corporação lidar diretamente com o seu cliente, só que não o seu cliente, é antes de ele comprar, você trata bem o cara antes de ele comprar, não é o SAC, você só fala com ele depois que ele comprou, mande uma carta com a embalagem para provar que você comprou nosso produto que a gente conversa com você, a gente te dá um prêmio. Não. Eu gosto disso, eu toco esse tipo de música, você também gosta, somos amigos.
Luciano … é, os caras que agora estão fazendo, trabalhando, chamam isso de audiência proprietária, aquela audiência que é tua, é proprietária e você cuida e trata muito bem dela no momento em que surge um produto cai nessa audiência ela está preparada para te remunerar e consumir aquilo.
Kiko Em 1973, quando o Kiss começou, ao mesmo tempo eles abriram o que? Um fã clube. Que é o da audiência proprietária, assim, você gosta da gente? Entra no fã clube e ai tudo o que a gente lançar, a gente vai te avisar, eles foram os primeiros caras a realmente fazer essa questão do fã clube, que é óbvia mas na realidade é quando você realmente define a empresa, cria essa conexão com o fã, de verdade e eles montaram o Kiss Army, a legião do Kiss, lá em 73, quando a banda começou, então o Angra também, quando a gente começou, porque tinha esses exemplos que a gente buscou nas bandas mesmo, a gente tinha, então, nossa caixa postal, recebia as cartas, respondia mesmo, escrevendo, mandava cartão de natal para os caras, até a gente estava nos EUA na semana passada, o cara veio com um cartão de natal de 93, que a gente mandou para o Texas…
Luciano É fantástico isso.
Kiko … assinado a mão, está a minha assinatura lá…
Luciano É fantástico isso, os caras me perguntam, até hoje, quer dizer, guardada a proporção, eu também tenho um grupo que me acompanha e tudo mais, e os caras me perguntam, bicho, você responde e-mail? Eu falo, cara, eu tiro uma parte do meu dia para responder e-mail e eu sei que eu não consigo responder 20% do que chega, é humanamente impossível, mas eu faço questão de responder 20% e esse tempo que eu estou gastando ali escrevendo e-mail para mim vale um… que o cara que recebe a resposta fala, porra, eu não imaginei que você ia me responder diretamente e isso é um…
Kiko … a gente fez lá pra traz, o tijolinho…
Luciano … é um tijolinho na construção desse processo.
Kiko … principalmente que na época a gente não estava atingindo massa, não tinha possibilidade de ter uma gravadora grande, que era o que rolava, o mercado fonográfico, ele foi um dos primeiros que mudou com a internet, foi o primeiro que mudou com a internet né, com o MP3, foi o primeiro quem em 2000 deu a quizomba toda, que os caras ficam no Uber ai, falando do Uber, isso ai em 2000 já estava, os caras do Metálica botando os ternos e gravatas deles mofado do armário para brigar na justiça contra os moleques que baixavam música, imagina só, então hoje em dia é um absurdo, mas… o Napster né e as gravadoras, grandes potências, mas a gente já sofreu isso lá em 2000, 15 anos atrás, de acabar o mercado, já desde 2001 eu falo, a gente vende máquina de escrever meu, a gente está vendendo máquina de escrever, qual é o caminho? Mas ninguém achou, hoje em dia foi tomando uma forma nova, isso é um outro papo assim do….
Luciano Eu estou vivendo isso agora, nesse momento eu estou fazendo….
Kiko … o caminho da música tal, que está… se fala muito…
Luciano … para tentar encontrar uma forma de você, como é que a gente monetiza uma coisa que não é mais um suporte, eu não tenho mais uma caixinha de plástico, um treco lá dentro, produto que eu pago por ele e pego e boto no meu bolso e falo é meu, eu tenho…
Kiko … é, isso aconteceu em 2000 na música…
Luciano … eu tenho um embate, cara, eu tenho um treco que eu sou dono mas eu não tenho a sensação de propriedade daquilo porque aquilo não existe, é um ebook dentro do meu leitor de ebook, pô eu entro aqui na minha sala, ó os livros que eu tenho, eu tiro do ebook, leitor de ebook, tem 5000 livros lá dentro, cara então…
Kiko … na músico ficou mais confuso ainda, porque a gente tem direito de performance, direito fonográfico, na realidade eles estão se misturando porque não tem mais o suporte material que você fala, não tem mais o suporte material, é tudo uma coisa só.
Luciano … então você está lá, vocês estão numa banda que não está no mainstream, vocês definem claramente, aquilo tem um propósito, aquilo vai, a Angra se torna um paradigma no Brasil porque quando você fala em metal hoje em dia é a Angra, é o nome principal, ela acontece, os membros do Angra começam a aparecer em vários momentos e de repente você se vê num palco onde da tua frente a 10 metros de você está tocando um cara que foi o teu ídolo a vida inteira, de repente esse cara vem e conversa com você…
Kiko Do Megadeth, você diz?
Luciano Não, eu estou falando em geral, qualquer coisa, eu estou falando de um belo dia que você chegou num lugar…
Kiko O primeiro momento, essa coisa do preparo, você está preparado, tem dois momentos que me passam pela cabeça, um foi o show em 94, a banda, meu, ainda cabaço, Monster of Rock, que era o Kiss, sei lá a banda principal e um show, em 96, se não me engano, abrindo para o AC DC, isso me marca muito, estádio do Pacaembu lotado, 40 mil pessoas, show do AC DC…
Luciano Cara já me arrepiei aqui…
Kiko … moleque tocando, moleques, e a gente está lá todo pronto, com nosso equipamentozinho pobrinho, os caras com aquele mega, montando o palco, o AC DC já tinha tocado dois dias atrás, em Curitiba e estava toda atrasada a montagem daquele circo todo que era o show do AC DC e ai o show do AC DC era às 9 da noite, 9 da noite o Pacaembu lotado, 40 mil negos e a gente atrás do palco, falamos bom, não vamos mais tocar, atrasou todo, vai ser o AC DC, ai chega o tour manager, o gerente lá do AC DC e fala, podem entrar, entra ai galera, pode entrar que o AC DC vai demorar ainda uma meia hora para ficar pronto, os caras da banda, vai. Quando os caras falaram vai, a gente então empurra o amplificador para dentro daquele palco gigante, 40 mil, um breu de gente e toca ali, meia hora, então eu não esqueço esse momento porque é aquele momento do salto né, que muitas vezes acontece na sua vida, da hora da verdade, você é bom mesmo? Você estudou quando você tinha 15 anos as tabelinhas, você vai…
Luciano Você se preparou ao ponto de poder chegar aqui e…
Kiko … você se preparou de entregar nesse momento que você está sob uma pressão violenta, você nunca tocou num tamanho de palco desse, o som não vai estar regulado perfeito para você porque você está entrando numa roubada total, 40 mil negos, que está na hora do show do que eles vieram ver, que eles pagaram…
Luciano … a expectativa deles não é por esse bando de moleque ai, era pra ver o…
Kiko … é, era para ter entrado no palco as 7 da noite, enquanto os caras estão entrando a gente está fazendo aquecimento, essa era a ideia da abertura, não é na hora que o cara já chegou, está esperando um tempão, entra uns moleques tocando umas musicas que eles não conhecem, você está pronto para entregar um negócio que convence os caras e ai você transforma esse momento em uma oportunidade gigantesca e a banda da um salto ali, de apresentar um show bom, na medida do possível, nas situações e não queima o filme, faz legal, toca para 40 mil pessoas ali e apresenta o som, então foi, isso é um momento forte que eu me lembro bem de ver os caras do AC DC passando dando ok…
Luciano Isso que eu ia ter perguntar agora, como é que é esse negócio ai de você…
Kiko … eles eram tipo metade do tamanho que eu imaginava que eles já eram pequenos…
Luciano … isso que eu ia perguntar, quer dizer, como é que de repente você está em carne e osso, na tua frente e de repente os caras vem conversar com você e você está falando com ele, fala meu, eu ouvi esse cara a vida inteira, admiro esse cara de montão e ele está falando comigo aqui e se bobear eu peguei a guitarra e eu estou tocando junto com o cara…
Kiko … isso é muito louco, mas assim, quando você está vivendo, você…
Luciano … você não repara nisso…
Kiko … você não repara tanto, é muito louco isso, em 98 a gente tocou no Le Zenit, que é a maior casa da França, antes de você ir para um estádio, para 6 mil pessoas, nosso show, só do Angra e veio Bruce Dickinson, que era cantor do Iron Maden, pegou um avião, que ele é piloto né, voou lá e cantou duas músicas com a gente, só porque…
Luciano … porque… porque…
Kiko … é porque a gente estava bem, ele queria estar no nosso show, olha só, para ele era legal estar tocando…
Luciano … você considera que esse momento é, se perguntar para você qual é o ápice da tua carreira?…
Kiko … esse é um ápice, esse e um ápice, mas na hora não tive essa noção.
Luciano … sim, na hora é um amigo, é o Bruce que vem ali, depois que você…
Kiko …é, não mas… mas assim, na hora que vai crescendo, que fala meu, está lotando esse show, esse show vai dar certo, esse show não sei que, tal tal tal e foi um grande show, claro que na hora você tem a preocupação, preciso tocar direito, preciso entregar um negócio direito, você perde a noção da grandiosidade, você acha que aquilo é… porque não foi de repente, a banda foi crescendo, a gente foi para a França um, dois anos antes, tocou num lugar menor e foi crescendo, em 95 a gente foi lá, tocou para mil, depois foi de novo e depois foi de novo, eu fiz turnê de Fnac, eu e o cantor, o André, várias, rodando a França inteira, cumprimentando cada fã, de mãozinha ali, entendeu? Fazendo seção de autógrafos nas Fnacs pela França, então é um trabalho de formiga também…
Luciano Embora você que está me ouvindo ai talvez não conheça o Angra, lá fora tem uma legião de fãs…
Kiko É então, na França foi o ápice da França…
Luciano … o nosso amigo Aquiles me contava, sempre me fala… cara o que acontece no Japão, a gente vai para o Japão é recebido como se fosse o… porque o fã japonês é um negócio impressionante né de…
Kiko … mas o manager foi bom, na época o manager era alemão que a gente tinha que quando a gente fez o primeiro show, a primeira turnê do primeiro disco, o manager falou, a gente ganhou o disco de ouro, o primeiro disco que lançou no Japão foi disco de ouro lá, a gente não imaginava…
Luciano Caramba.
Kiko … é, um bando de moleque, disco de ouro, só que o manager era alemão e falou, vocês não vão para o Japão, se fosse outro manager falava, vamos lá que a gente vai ganhar uma grana lá, o cara falou, não, vocês não estão prontos, o teu disco está vendendo igual ao do Mettalica mas vocês não são o nível do Mettalica, o show de vocês, a performance, o produto não esta no nível, mete as caras, vai tocar no Brasil, se vira, faz…
Luciano Amadurece e ai nós vamos para lá…
Kiko … amadurece, faz um próximo disco, foi o que aconteceu, a gente foi 4 5 anos depois para o Japão, já com muito mais, já tinha tocado com AC DC ai, já tinha tocado outros shows grandes e mesmo assim foi difícil também. Então foi bom o toque do manager ai nesse caso.
Luciano Kiko, estamos aqui na reta final, eu não quero perder a chance de falar de duas coisinhas mais, Megadeth, como é que entra na tua vida, de repente aquele, o garoto das Perdizes…
Kiko É muito louco isso…
Luciano … ta num palco tocando com ninguém menos que, eu não sei se ela é a segunda maior, ou terceira banda…
Kiko … não, somos do big four, que são as 4 maiores ai…
Luciano … ela está lá, é uma das 4 maiores né? E cara, você não foi lá para tocar berimbau lá no fundo, você foi…
Kiko … não, sou guitarrista da banda.
Luciano … guitarrista cara…
Kiko … são 4 membros, eu sou um dos 4.
Luciano … cá entre nós, puta que pariu, quer dizer, o guitarrista duma banda de heavy metal…
Kiko Histórica, que vem dos anos 80 e tantos.
Luciano … como é que isso acontece, cara?
Kiko Bom, como aconteceu o lance, foi surreal, o baixista mandou um e-mail, falou estamos procurando, eles já deviam estar me pesquisando para caramba, eu me enquadrei em várias coisas lá, não só como guitarrista, mas pessoal, eu fui um dia lá e falei com o Dave Mustaine, que é o cantor e tal, passei um dia com ele e ai o cara foi só sentindo, porque banda né, não é o que você toca, o que você toca você vê no Youtube hoje em dia, ah o cara consegue, fiz um vídeo tocando as músicas dele, mas não era o que eles queriam saber, eles queriam saber a personalidade desse cara que vai viajar com a gente, vai ficar com a gente, vai entrar na banda e ai eu acredito que essa vivência toda com o Angra, profissionalismo ao longo de 20 anos assim, as coisas que falei foram boas, na conversa, só no papo…
Luciano Até porque você não devia ser o único guitarrista na mira, eram vários…
Kiko … não era, tinha lista, ele me falou.
Luciano … e eu sei que esses processos de seleção dos caras é um negócio complicado, é aquela história do casamento né, eu escolho alguém para me casar né?
Kiko Exato, exato, exatamente. E eu, é, e tem a experiência, acredito e a minha resposta rápida, tudo que eles pediram, acho que isso contou, porque um dos outros caras, que eu sei que estavam no páreo, demorou para responder, eu sempre fui um cara muito ativo, quando o cara me ligou e falou, você pode vir aqui? Eu falei, era uma sexta, eu falei pode marcar segunda, dei um jeito, na minha vida não estava planejado isso ai, mas assim, a você pode tirar uma música, não sei o que? Não, tiro 4, ai no fim de semana aprendi 4 sabe, entreguei mais do que era para ser entregue…
Luciano Mas esse é o ponto, cara, esse é o ponto…
Kiko … então você veio dar virada no cara e ai o cara gostou de mim, provavelmente e ai falou, já está, ai tipo uma semana depois falou, vem pra Nashville aqui que a gente está gravando disco.
Luciano … então, então, me fala desse momento, que eu acho que esse momento ele coroa uma história de 30 anos, você está lá, passou por tudo isso de legal e o momento em que você recebe, não sei se é um telefonema, um e-mail, é alguma coisa, alguém te liga e fala assim, cara, é você, vem. Esse momento para mim é o momento em que você coroa a tua história de vida e fala, meu, cheguei, eu diria, eu não sei se eu consigo almejar algo mais do que isso sabe, talvez você vai dizer, só se fosse o Mettalica porque eu sou fãzaço dos caras, como é que é?
Kiko Você pode sempre ter coisas maiores obviamente, mas as coisas vão aos poucos, então assim, quando o cara me ligou a primeira vez, legal, vou fazer, visitei o cara, quando eu visitei, eu acredito muito em mim também, tem essa, quando eu fui lá falei, eu entro nessa banda, eu sou capaz de tocar isso, eu sou uma boa escolha para…, sem… sendo prepotente talvez até, mas…
Luciano Não cara, mas você construiu isso bicho, é o Kiko S/A que foi construído…
Kiko … lá de trás, é…
Luciano … claro…
Kiko … além de tocar, como eu vivi 20 anos muitas coisas dentro de uma banda, eu tenho muita experiência do que é dentro da banda a parte boa e a parte ruim e eu sei que os caras passaram por isso também, né, então assim, a minha conversa era muito sabendo como que é uma dinâmica de grupo, não era o moleque …
Luciano … você sabia o que que o teu cliente…
Kiko … sabia…
Luciano … precisava ouvir…
Kiko … sabia…
Luciano … qual era a expectativa dele…
Kiko … sabia, sabia, sabia. Tentei arrancar mais dele, querendo saber, mas tudo o que ele me falava eu sei, eu sei disso…
Luciano … de novo, de novo..
Kiko … em outro nível e ao longo desse… na semana que foi, quando eu… o primeiro e-mail do cara até o encontrar, minha casa era só Megadeth, então assim, já comprei a biografia do cara, já sai lendo, já sai vendo tudo, tudo que era negócio, vou estudar esse… ví vídeos da filha dele cantando no programa de televisão, o que fosse, estou entendendo o que é esse cara aqui, que que essa banda é, que que ela fez, que que ela não fez, quais são os problemas, que que aconteceu, beleza. Quando sento com ele já sei que que ele precisa…
Luciano Sim, referências, você já tem tudo aquilo…
Kiko … é, ai acho que a conversa foi boa, eu saí dali senti… eu não sabia se tinha outro cara guitarrista ou se tinham 200 caras que ele estava testando, já foi um sinal o cara ter pago a passagem para eu ir pra Nashville, pagou hotel para ficar lá, acho que já foi um sinal, ele não ia fazer isso com 100 caras, mas de repente tinha uns 4 caras, alguma coisa assim, mas ai quando o manager me ligou, deles, ai eu falei opa, o negócio ficou sério, quando o attourney, o manager, comecei receber uns e-mails copiados com tipo, eu tenho Megadeth ink, o negócio ficou sério, os caras estão mandando antes de anunciarem e ai falei, esse negócio vai rolar, mas eu não podia falar para ninguém, porque eu podia botar por água abaixo, que é um jeito de os caras testarem se eu estou pronto a entrar num grupo tão…
Luciano Sim, você não deslumbrou…
Kiko … deslumbrar…
Luciano … e você falou que isso foi um processo rapidíssimo, aconteceu…
Kiko … eu estou falando de o primeiro e-mail foi em um mês eu estava… foi um mês, isso assim, passou duas semanas eu visitei, 10 dias depois eu estava em Nashville já, assinando os negócios e já lá, ele falou vem para cá, não era nem para gravar, fica aqui, alugou uma casa lá no mato lá, uma mega casa, alugou um carro, fica ai, estamos aqui, está tudo certo e ai do lado do estúdio, um mega estúdio, nossa que lugar lindo lá que estava e fiquei lá e fiquei gravei em duas semanas, mas passei um mês e pouco lá.
Luciano Gravou um disco?
Kiko Um disco, é.
Luciano Um disco já, você não subiu no palco com eles ainda?
Kiko Subi um show, que foi, ali eu senti mesmo, na gravação estava os caras é o cara, você está com o cara ali, é legal tal, mas o show, ali eu senti, porque ai você vai armar um esquema, você entra no back stage com a polícia de Quebec, a gente tocou em Quebec, escoltado pela polícia de Quebec…
Luciano Sim, super star…
Kiko … mega star, ai você entra num camarim que você nunca entrou na tua vida, que tem a sala de ensaio no camarim, cada um com seu camarim, com o nomezinho, com o que que você toma, coloca a marca da água que você toma,, você quer cerveja do Brasil? Você quer… o que você quer? Tipo uns luxos assim que.. ai vinha a menina do guarda roupa, cadê tua roupa que a gente vai passar e vai arrumar para deixar aqui, qual que é a marca de sei lá o que que você usa para a gente deixar aqui, você quer uma gaveta de Starbucks? Sabe assim.. é…
Luciano Aconteceu, eu imagino que deve ter acontecido, no momento pós show…
Kiko … e no palco, não, e no palco, só que foi uma pressão, tinha 70 mil pessoas, era um festival da cidade de Quebec que teve Rolling Stones no dia anterior, Foo Fighters e Megadeth, uma dessas…. e que… Urban também, só mega star, então cada dia um desses, então a gente era o had liner desse grande festival que tinha… 70 mil pessoas, um palco que eu nunca tinha tocado num palco desse tamanho na minha vida, um negócio impressionante e cai uma chuva, naquelas de diagonal, caindo em mim assim, com o palco meio escorregadio e que me lembrou muito o show de 98 com Bruce Dickinson, na França, que foi esse high light da história, que a gente tinha os caras cuspindo fogo no começo do show e quando a gente entrou no palco, não tinha pensado nisso, o querosene deixou um… no palco… deixou um negócio liso escorregando, falei eu não acredito que a gente está tocando para tanta gente nesse mega show e eu estou patinando aqui, os caras, pit stop, foram lá, limparam rapidinho assim e de novo no Megadeth, nesse teste, chovendo, meio escorregadio, aprendi 3 dias de ensaio só, 15 músicas que eu nunca toquei na vida, com um monte de fã, televisão do Canadá e tudo ali filmando tudo assim, você via,… eu até parei de olhar na internet, no celular, porque estava assim, pô, hoje é o primeiro show do Kiko, ele vai representar o Brasil, estava aquela coisa, parecia copa do mundo…
Luciano Os fãs brasileiros…
Kiko … é, vamos assistir, falei, não vou em olhar, sei que eu vou ficar mais preocupado…
Luciano Que nota você dá para a sua performance nessa noite?
Kiko … não, eu fiz certo, não deu nada errado, entendeu? Foi ótimo, foi bem falado, tipo, foi super, eu toquei tudo certo, super concentrado, mas eu utilizei todas na forma de estudo que eu utilizava desde moleque.
Luciano Ai terminou o show, você voltou ara o camarim, e houve um momento que você ficou sozinho ali, você sentou ali, ficou sozinho e deve ter dado um suspiro…
Kiko Sim. Mas isso ai esse pensamento já estava no palco, depois eu…porque o show é uma hora e meia, depois da primeira meia hora eu comecei já… falei cara, olha onde eu estou, é aquele tipo era muito grande o palco, tanta gente e tocando com o cara ali né, esses caras históricos assim, do meu lado, entendeu? Já rolou no palco assim, misturado com a preocupação de não errar, misturado com o de lembrar que tem que lembrar posicionamento do palco, nessa música eu ando para cá, nessa sai fora, não sei o que…
Luciano Cara, isso deve ser igual ganhar uma medalha olímpica, bicho, deve ser uma coisa, deve ser igual, ganha um ouro olímpico sabe, acho que deve ser uma coisa parecida cara, um negócio assim parecido né?
Kiko … de estar na competição, é, realmente.
Luciano … genial, fantástico, eu estou aqui, fiquei arrepiado aqui agora. Mas para a gente chegar no finalzinho agora que eu queria dar um salto para o teu momento agora e o que me chamou a atenção é você estar fazendo esse trabalho de ensinar para as pessoas o music business, o negócio da música como uma coisa com começo, meio e fim, o que que é, de onde veio, de onde você tirou, o que você fez?
Kiko Cara, veio assim, eu estava, eu fui convidado para fazer umas palestras na Oi, eu acho que começou meio que por ai, eu sempre fui muito ligado no marketing business, sempre gostei, quando te conheci, fui assistir porque você era um cara interessado, palestras de outros meios, outras coisas, para trazer para a música, para o negócio da música, então marketing, finanças e tudo mais e eu comecei a escrever numa revista de guitarra alguns pensamentos assim, um diretor da Oi falou, Kiko, gosto muito do que você escreve, ele lê a revista, no aeroporto, quero que você venha na Oi falar… que eu estava falando sobre o brasileiro não ter a visão de conquistar o mundo, o americano ele fala global, o cara pensa global, o brasileiro é site em português, pequeno e os caras vem, os músicos fala, Kiko, como você consegue ter a carreira lá fora? Porque eu pensei global, ai eu escrevi sobre isso, quando eu fui para a China eu falei, eu fui para a China tem nego do mundo inteiro, só não tem brasileiro nas feiras da China e tal, ai eu escrevi sobre isso e ai o cara falou, cara, que quero que você vá aqui falar como é que é você conquistar um mercado maduro e conseguir, que é o que eu fui, eu moro na Califórnia e consegui um espaço na terra dos guitarristas, na Califórnia consegui entrar na banda na frente de qualquer guitarrista lá…
Luciano Da terra dos guitarristas.
Kiko … da terra dos guitarristas e já fui dar aula de guitarra em Hollywood, já fui dar aula em Londres, na terra dos papas, não é, é tipo um chinês dar aula de berimbau na Bahia, então assim, então assim, tipo o que que esse brasileiro está fazendo aqui? E eu consegui estar lá, então o cara da Oi falou: vem aqui que eu quero que você fale isso para a gente conquistar os mercados que tem as outras operadoras. E ai começou essa ideia dai, ai eu montei um esquema, fiz algumas palestras para a Oi, fiz outras assim, no mercado corporativo, trazendo esse mundo da música, falando das bandas de garagem, que podem mudar, preparei isso, só que eu falei, cara, na realidade eu estou falando para os caras que meio que já sabem, tudo bem, eu estou dando um lado lúdico, mas e o músico em si? Ele não tem a noção, não, deixa eu trazer então o lado corporativo para o músico e ai eu falei, vou ensinar e percebi que era uma coisa realmente que os caras não sabem, porque os caras não sabem porque não tem informação, não tem informação em português. Em inglês tem bastante coisa, mas o cara não sabe nem o que perguntar, ele não sabe, ele acha que a música, se ele tocar bem alguém vai descobrir e a coisa vai acontecer, não é assim, não é assim.
Luciano E mesmo que você tenha acesso, a realidade americana é outra história, cara, é muito legal, eu até pego muita coisa de lá, mas cara, eu aproveito 70% do que tem ali, tem 30 que simplesmente não servem para nós aqui e se você não tem essa visão brasileira, aquela fórmula não vai servir para cá, então você tem que fazer adaptação, cara, então você tem que fazer adaptação para cá né?
Kiko Exatamente, eu sou um cara, um case né, digamos que funcionou dessa forma que desde o começo eu fiz o Kiko S/A mesmo né e fui utilizando no que a gente podia, aqui dentro do Brasil, sem conhecimento, assinei um monte de contrato ruim, tive crises dentro da banda, assinei contrato errado, mas eu sempre negociei junto com editoras, com gravadoras, com casas de show, com empresa de in door, de patrocínio de marcas né, essas coisas, então assim, eu sei muito bem como funciona e é diferente, as vezes um cara de gravadora ele não sabe como é o show, eu dou a visão do músico para todas as vertentes do negócio, que é o direito autoral, o direito de performance, a gravadora em si, ou será que você faz, você é empreendedor o próprio teu negócio faz o faça você mesmo e você lança teu próprio produto, quais são os caminhos que tem? Ou será um side man, você quer ser o cara que acompanha um grande artista, como funciona esse caminho? Você quer fazer merchandising? Você quer… eu fui explicando isso ai para os músicos na forma corporativa, então comecei a fazer uns cursos assim e fiz também um curso on line para fazer…
Luciano Então, isso que eu ia te perguntar, quer dizer, quem está ouvindo a gente aqui e quiser ter acesso a esse material, vai encontrar isso de que forma, onde, como é que faz?
Kiko Eu anunciei agora um curso on line, que o cara compra on line e assiste, tem, sei la, 40 horas de…
Luciano Quer dizer, a hora que quiser, assiste quando quiser, está lá? Como é que acha isso?
Kiko Tem no meu site kikoloureiro.net você encontra lá a questão do curso on line e as vezes eu estou fazendo, porque a minha agenda, ai no meio tempo que eu tinha, pintou o Megadeth, então assim, a coisa deu e que acabou sendo fantástico o negócio do on line, porque eu posso gravar, gravei já, gravei no meu tempo e consigo então ter um grupo fechado do Facebook, consigo dar essas…
Luciano Você vai ter um estudante em Sinop, ouvindo, assistindo a tua aula lá em Sinop, cara e tendo acesso a tudo isso.
Kiko Exato. Não, eu acompanho os caras, fiz vários vídeos de Youtube também, abertos tal, falando um pouco disso, eu percebi muita carência, as pessoas não tem a noção de como funciona, as pessoas acham que a arte…
Luciano Sim, aquela história que você falou, eu vou tocar bem e alguém me descobre e eu faço sucesso e não é assim, é trabalho duro.
Kiko … e tem a coisa do, o cara acha que não pode falar de negócio, porque música não é para vender, não tem isso, é a crise do artista, não posso, se não vou ser um marqueteiro, se não vou ser o cara que estou vendendo a minha música, não tem nada disso, ai eu tenho que começar qualquer aula dessa falando, deixa te dar os exemplos dos caras que foram os grandes business men e grandes artistas também, nem falo o Kiss, porque o Kiss, de repente o cara fala, mas o Kiss não é bom, não, vamos pegar o Miles Daves, vamos pegar os caras que você não pode, o Harbie Hancock, os caras de jazz, que fizeram a carreira fantástica vivendo de música bem, ai pega uns exemplos assim para quebrar esse paradigma pelo menos, que você pode ser um grande músico com profundidade e ter uma carreira de 40, 50 anos de sucesso.
Luciano Pô, genial cara, adorei aqui, olha a dica que eu quero, só para a gente fazer um fechamento aqui, você está falando o tempo todo, eu estou voltando para esse trabalho que eu estou fazendo da palestra sobre produtividade e tem um momento ali em que eu faço a definição da produtividade, aquela história toda, quanto eu aplico, quanto eu consigo obter, se eu aplicar menos eu obtenho igual, eu tenho alta produtividade, se eu conseguir obter mais sobre aquilo que eu estou aplicando eu tenho também e eu faço uma proposição ali de mudar esse pensamento e tratar a produtividade como uma multiplicação do meu empenho para o meu desempenho e ai eu defino empenho o que é? É tudo aquilo que eu vou trazendo para dentro de mim, então eu estou empenhando, eu estou aprendendo, eu estou lendo, eu estou treinando horas e horas ali, você no caso de ser músico, estou lá sentado até acertar o acorde, ano de… e um belo dia eu estou num palco, daquele jeito, pode entrar cara, tem 94 mil caras ai esperando a banda principal, você vai ter que entrar agora e não vai tomar latada na cabeça, e aquilo só acontece porque você estava com tudo aquilo empenhado esperando para o momento do desempenho né?…
Kiko Exato.
Luciano … então, se não há essa pressão, ou você não teve essa visão de empenhar o máximo possível para estar preparado para quando surgir oportunidade eu sou o cara, entendeu, fica tudo muito mais difícil, mas isso é uma consciência que vem lá de trás, quer dizer, planejamento, foco, disciplina cara, então você tem essas coisas colocadas aqui e é muito legal a gente saber que isso está acontecendo com um cara que é um metaleiro, bicho, é um guitarrista de uma banda de metal que você olha de fora, aquilo tem um paradigma, tem um… eu olho para aquilo falo, aquele cara é um maluco, é um louco, que sei lá qual é a desse cara ai, esse cara não pode ter família, não pode ser casado, esse cara não pode ter uma vida normal…
Kiko Mal as pessoas sabem que você se prepara em casa, depois você tem todo um esquema de preparo com a banda, com ensaio, você faz o show que é a hora da verdade, que é essa hora que você vai mostrar e quando você sai do palco você tem um feedback, você tem uma reunião de que que aconteceu? O que errou? O que vai acontecer?
Luciano A cada show isso acontece?
Kiko É, no Megadeth então pelo amor de Deus, é, exatamente, porque você vai limpar as arestas para o próximo show ser ainda melhor e os caras estão há 30 anos, então é tudo milimetricamente assim, é impressionante assim, eu vi e era um das coisas que eu queria era ver como que o topo, o ar rarefeito do music business ali com uma banda grande também para ver como é que, o que se faz que faz a diferença do cara ser um músico de uma banda legal, do cara ser um cara no topo…
Luciano Quer dizer, o nível de excelência, o nível e excelência…
Kiko … qual que é essa diferença, qual que é a expertise que tem? Ai você vê nos mínimos detalhes assim, em tudo, mas muito nos mínimos detalhes para realmente não tem preguiça, por mais que o cara, os caras eram muito loucos também, já tiveram histórias da banda, mas é muito seriedade cara, e assim, os dois caras da banda que estão desde lá, originas, é tipo o olho que tudo vê, tipo você faz um negócio um pouquinho diferente, os caras, ó, aquela parte lá, você fez, é tipo maestro, os caras são maestros, é um metaleiro, cabeludo, não sei o que, acham que é muito louco, mas fora do palco o cara é um diretor ali com muito milimétrico nas coisas, excelência realmente.
Luciano Que legal. Kiko, você está tendo uma oportunidade que raríssimas pessoas tem, você é um brasileiro que está lá fora experimentando tudo, eu faço mil votos aqui que você aprenda isso tudo e traga para nós, cara, traz para cá bicho, ensina.
Kiko Esse sempre foi, sempre foi um pouco do que, nos anos 90 eu vi alguém falou isso para mim, eu sempre carreguei isso comigo, vai lá para fora, aprende e traz para cá, porque…
Luciano Esse é o tema do Café Brasil que vai sair agora, daqui a duas semanas, exatamente isso.
Kiko Eu moro fora hoje, eu casei com uma finlandesa que dá um pod, meu isso ai, falar sobre a Finlândia, porque EUA é legal mas não é… Finlândia ali, da índole das pessoas, você morar num país que todo mundo acredita em todo mundo, nossa, dai dá um nó na tua cabeça.
Luciano Onde um ônibus diz que chega as 11:35 e ele chega as 11:35…
Kiko E você sobe sem ninguém cobrar.
Luciano E é normal, você tem uma barraquinha com fruta e o preço da fruta e uma caixinha que você põe o dinheiro, pega a fruta e põe o dinheiro e não tem ninguém ali olhando.
Kiko Normal, exatamente e o problema deles que hoje tem que botar cadeado na bicicleta se você deixar na rua, porque antes nem isso, você deixava a bicicleta lá, o problema em Helsink, o problema deles assim, mas isso ai é outra história.
Luciano Legal. Não vai faltar oportunidade. Bicho…
Kiko Obrigado Luciano.
Luciano … muito obrigado por estar aqui conosco ai, espero que você tenha curtido, a gente vai, eu vou voltar a te incomodar um pouco mais ai…
Kiko Ótimo, ótimo.
Luciano … porque cara, vamos trazer isso ai para os brasileiros que precisam. Quem quiser te encontrar?
Kiko kikoloureiro.net.
Luciano kikoloureiro.net ou então…
Kiko Facebook né, Kiko Loureiro, está lá fácil.
Luciano Compre os DVD’s, compre os CD’s, compre o livro, assista o filme etc. e tal.
Kiko Exatamente e o Youtube tem os canais para conhecer um pouquinho desse lance de viver de música que o meu canal do Youtube, Kiko Loureiro oficial, pode encontrar lá.
Luciano Legal. Um abraço.
Kiko Abraço, valeu, obrigado.
https://www.youtube.com/watch?v=Z7leqZhb8jI