Introspectiva 2008

Todo final de ano tem retrospectivas. E quem não gosta, hein? Vai dizer que você não passa uns bons minutos em frente à televisão revendo aquelas cenas que nos tiraram o fôlego ao longo do ano que passou?

Retrospectivas são uma forma de colocar molho em nosso rotineiro cotidiano. E servem para lembrar como somos sortudos, afinal, com raras exceções, aquelas tragédias nunca acontecem conosco, não é?

E às vezes também aparecem as perspectivas, aqueles exercícios que tentam antecipar o que vem pela frente. Todo ano é a mesma coisa: de um lado Jair de Ogum e Mãe Dinah dizendo que vai morrer um artista e de outro os economistas apostando que a inflação será de xis por cento. E a gente adora!

Pois vou propor algo diferente: em vez de olhar para trás pra rever o que passou ou para frente pra antecipar o que vem por aí, proponho olhar pra dentro e fazer sua “Introspectiva 2008”.

Pouca gente sabe direito o que é a introspecção. Costumamos dizer que um indivíduo introspectivo é aquele pouco social, que passa a maior parte do tempo às voltas com seus pensamentos, à margem da festa. Mas a introspecção é mais que isso. É uma ferramenta que envolve até mesmo a Filosofia! Sabe-se que Sócrates já utilizava a técnica da introspecção em seus estudos sobre os grandes enigmas da vida. A disciplina da Psicologia sempre estudou a introspecção, inclusive dividindo-a em tipos diversos. Estuda-se a introspecção para atitudes propositivas – que envolve seus credos e desejos – e a introspecção dos estados de consciência – dores e emoções. É um vasto, rico e controverso campo de estudos sobre o qual não posso me atrever a escrever, por absoluta e profunda ignorância.

O que me interessa neste texto é refletir sobre a definição simples da introspecção como “o ato de olhar para dentro de si mesmo, para seus pensamentos, desejos e sentimentos, examinar como sua mente funciona, como ela toma decisões, como direciona seus atos.”

A introspecção como um auto-exame a partir do qual podemos nos conhecer melhor e assim antecipar nossas reações e realizar escolhas melhores.

Minha proposta, portanto, é – no final ou início do ano – realizar uma introspecção. Olhar para tudo o que aconteceu no mundo, no Brasil, em sua cidade, em sua vizinhança, em sua família – mas reservar um bom tempo para refletir sobre como você reagiu a esses acontecimentos. Que atitudes tomou e o que aprendeu com elas. No processo você se arrependerá e se orgulhará de coisas que fez ou deixou de fazer, mas o mais importante é procurar seus padrões de conduta. Seus métodos. Como sua mente funciona. Quando você entender sua mecânica estará apto a antecipar suas decisões, a evitar as armadilhas que a mente prega e principalmente, a mudar.

Mas a coisa não é assim tão fácil, não. Apesar de sabermos que reagimos de formas que não nos agradam ou não são as melhores opções, temos a tendência de repetir nossos padrões de conduta, cometendo sempre os mesmos erros. Sabe aquela amiga que vai te pedir dinheiro emprestado outra vez? E você vai acabar emprestando? Ou aquele cunhado que vai pedir pra passar uns dias em sua casa mesmo que você não queira? E você vai aceitar? Ou seu chefe que vai te chamar para a reunião no final da tarde e vai te segurar por horas? E você vai? Pois é…

A vantagem da Introspecção 2008 é proporcionar a você a oportunidade de questionar esses comportamentos. Ela colocará você na incômoda posição de ter que explicar – a si mesmo – a razão de não mudar. Pouca gente gosta desse exercício. Ele é incômodo. Coloca a gente em saias-justas, pois mentir para si mesmo não é algo confortável.

Ninguém gosta de ser confrontado com suas manias, fraquezas e medos. As pessoas preferem o auto-engano, a continuidade confortável dos processos que podem não ser os melhores, mas são familiares.

Mudar dói. Reconhecer fraquezas dói também. Mas a alternativa é deixar como está pra ver como é que fica.
Um jeito bem vagabundo de começar 2009, não é?