Indiferença

        Indiferença

 

Uma cena que vivi no último domingo. Recebia um amigo analista de São Paulo Denis Canal Mendes para um curso sobre análise e saúde mental. Aula sexta à noite, sábado e folga ao domingo. Após o trabalho saímos pela cidade para comer, rir, conversar sobre as coisas da vida, espairecer.

Domingo saímos e fomos a um bar famoso na grande Goiânia cheio de pessoas, vários telões, reggae ambiente descontraído. Amigos reunidos e o amigo Denis percebe uma situação…

No meio das pessoas uma jovem chorando, pelo visto há muito tempo, sozinha, isolada, mal. Rosto inchado e lágrimas evidentes. O vazio no meio de tantas pessoas… “os bares estão repletos, de almas tão vazias” cantadas por Criolo ecoou fundo nesta hora. Ninguém presente se importava com ela.  Ela ali há horas… O que você faria? Qual seria sua atitude? Ali uma jovem mulher sofria e ninguém se incomodava sequer a reparavam. Muita roupa de marca, cabelos com estilo, muita tecnologia para dizer que se vive e nada de coração… Muito vazio…

Adorei a postura de meu amigo Denis que aproximou se da jovem, conversou com ela alguns minutos, a tranquilizou, voltando a nosso convívio assim que a percebeu mais serena. “você esta precisando de alguma coisa, posso te ajudar em algo”? Gentileza, carinho atenção ajudam em um momento de desespero. Mas por que vivemos uma sociedade regida pela indiferença?

Uma queixa comum que hoje é recorrente em meu consultório e no de vários colegas, e que muito incomoda é a frieza hoje existente, a apatia, a indiferença diante do sofrimento alheio.  Indiferença que esta em nossas instituições, na política, família, religião, judiciário, na violência urbana, no tiro certeiro do bandido que quer assaltar pra gastar o dinheiro na boite mais tarde; a mesma indiferença de todos que vão a um bar de classe média alta, que se sentam ao lado de quem sofre, e nada fazem. Nosso egoísmo pós-moderno, nossa solidão no meio de tantas redes sociais, é a solidão repleta que nada satisfaz que se compraz na ilusão… “bares tão repletos de almas tão vazias”…

A imagem da mulher e a situação daquele bar é um símbolo que incomoda, evidencia a solidão, a tristeza, a apatia das pessoas, a indiferença de nossos dias, cheio de pessoas apoderadas, narcisistas, egoístas, sem carinho, compaixão, ruinas vivas de sua própria afetividade desconstruída pelo orgulho e vaidade. Muito racionalismo, frieza, pessoas interesseiras, egoísmo a solta. O vazio de nossa pós-modernidade. O sofrimento habitual de boa parte das pessoas que vive a fragmentação da afetividade, a dificuldade de estar junto, amar, receber abraço e ser gentil. Muita rede social, sorriso de plástico, bebida e ao lado a agonia… E o que você faria ao ver alguém sofrendo na mesa ao lado? Você se importa comigo, com os que você diz amar, com os outros?

Fiquei muito feliz por ver a atitude de meu amigo Denis e seu exemplo para todos nós.  Com pequenos gestos podemos acolher quem sofre e mostrar nossa educação e humanidade com respeito ao próximo. Este é um caminho de crescimento espiritual, social, afetivo… obrigado Denis por esta maravilhosa lição!