Eu nunca perdi uma madrugada para ver UFC.
Na deste último domingo, eu fiz isso e não contabilizo como perda, embora talvez não faça de novo.
Confesso que o marketing da luta entre Ronda Rousey e a brasileira Bethe Correia, a performance técnica da brasileira como desafiadora, o fato em si de ser uma brasileira, mas sobretudo Ronda e seu peculiar estilo de quem luta como gente grande e depois sorri como uma menina, tudo isso me deixou interessado.
Aprender nunca é demais.
E havia ali, por mais estranho que seja, valores humanos em jogo. Nesta luta, especialmente.
Pra quem não sabe do caso, explico:
Uma declaração insuportavelmente infeliz de Bethe, que disse que Ronda iria apanhar tanto e perder que, talvez depois, quisesse se suicidar (o pai de Ronda se suicidou, quando ela ainda era uma criança, depois de descobrir ser vítima de uma doença degenerativa), me fez de um espectador imparcial, por pouco conhecer do esporte, a um torcedor momentâneo de Ronda.
Li todas as trocas de farpas entre as lutadoras. Achei exagerado o linguajar excessivamente grosseiro da brasileira, mas tentei tomar isso como “do negócio”, uma tática, etc, a exceção, como expliquei, da frase sobre o suicídio.
A americana, mesmo dura, me pareceu mais contida, apesar da mãe que falou de golpes para quebrar o braço da oponente.
Eu sempre questionei essa troca de caras feias e declarações duras de arrogância e superioridade entre lutadores, herdada do boxe norte-americano, porque elas só valem, se valem, para quem ganha.
Ronda, eu vi, foi pra luta pra defender muito mais que seu cinturão. Foi em memória do pai. Ali tinha muito mais que técnica, talento e a estratégia de uma lutadora campeã bem treinada.
Tinha nela aquela raiva, que sai sabe-se lá de que lugar dentro de nós,que nos faz muito mais fortes. Ela lutou pela dignidade do pai, dela e da família que, embora tenha havido tentativa de desmentidos de Bethe, foi de alguma forma atacada.
Bethe foi infeliz e saiu do octógono com a vergonha não de quem perdeu uma luta, mas sim de quem perdeu uma grande oportunidade de ficar calada. De ter sido mesquinha. E tudo isso em meros 34 segundos e uma lona.
Por este aspecto, “go Ronda”!
PS.: e o que é o público de UFC na arena ficar gritando “Vai morrer, vai morrer”? Não consigo acompanhar um esporte assim.
Isso me lembrou da história dos romanos jogando cristãos aos leões para delírio da torcida.
Sinistra essa gente em pleno século 21.