Em 1950 o russo/americano Isaac Asimov escreveu Eu, robô (I, robot); é considerado o mais importante conto de ficção científica do mundo, por criar as leis da robótica e prever, em bases científicas, a existência dos autômatos que, paulatinamente, substituiriam humanos em trabalhos pesados, perigosos ou repetitivos. A palavra “Robô” vem do tcheco Robota, significando, etimologicamente, isso; trabalho contínuo e repetitivo. Quem conhece a República Tcheca sabe que essa língua é, além de “infalável”, um primor de concisão. Uma única palavra vale por um discurso. Mesmo sem beber o verdadeiro Absinto, que só recomendo pra quem é realmente do ramo. Enfim, Asimov revelou-se um visionário, apesar das muitas críticas iniciais. Ele previu o futuro. A história gira sobre um caçador de androides (sim, o livro influenciou também o antológico filme Blade Runner, entre outros) que descobre ser, ele próprio, um robô. Daí o título.
Aqui na Banânia, poderíamos escrever o conto Eu, pessimista. Em 2013, Dilma criou a figura do, em sua visão míope e distorcida, maior terrorista do mundo, único obstáculo para a suprema alegria brazuca: O pessimista. Na óptica da sujeita, o Brasil era (e é) uma espécie de Suíça com praia, e tudo estava (está) absolutamente maravilhoso. Quem reclamasse ou apenas ousasse prognosticar um futuro ruim era um derrotista, adepto do quanto-pior-melhor, maquiavélico, assassino de pobres agindo a soldo do imperialismo americano. A curriola lulista-marquetista até criou Pessimildo, boneco rabugento e idiotizado, a ironizar os tais pessimistas nas propagandas eleitorais. Deu no que deu.
Os que alertavam todo o Brasil, rotulados como derrotistas, apenas previam algo que qualquer um razoavelmente sóbrio sabia – que a tal “nova matriz econômica” não era apenas uma bobagem, mas uma insanidade completa. Uma legião de economistas, executivos, políticos, jornalistas e especialistas internacionais alertava sobre a desabalada corrida do Brasil rumo ao abismo. Mas nada poderia deter a turrona Dilma, em sua fúria cega, destruidora de nossa economia. Estamos de joelhos. O mercado e a moeda esfarelam a olhos vistos. Desemprego em alta, junto com o dólar, assistindo a Bolsa de Valores despencar. A Petrobrás perdeu 75% de seu valor apenas no ano passado. A dívida pública alcança estratosféricos 3 trilhões de reais. Metade da população está inadimplente em algum nível. A Saúde faliu, e o governo combate tudo isso com discurso e fantasia. Os tais pessimistas eram apenas realistas. Não acreditou quem não quis. Os fatos estão aí.
Há 15 dias, um dos maiores cronistas políticos do País, J. R. Guzzo, escreveu o imbatível artigo Paraíso Perdido:
Onde foi parar neste começo de 2016 o “carrinho novo” que, segundo o ex-presidente Lula, o operário brasileiro finalmente teve dinheiro e crédito para comprar, por conta das virtudes de seu governo? Onde andariam todos os trabalhadores humildes que deixaram “a elite inconformada” por começarem a viajar de avião, pela primeira vez na história deste país? Onde poderia estar circulando neste momento o “Trem-Bala” que, segundo Lula garantiu mais de uma vez, seria inaugurado dali a pouquinho e calaria a boca dos que “torcem contra” o governo? Alguém já conseguiu tirar uma caneca de água da transposição do Rio São Francisco? O que aconteceu com a conta de luz barata e com a lição de economia que a presidente Dilma Rousseff deu ao planeta em 2013? O Brasil, assegurou ela, acabava de provar que era possível, sim, crescer, distribuir renda, baratear a vida para os pobres e ter finanças sadias, tudo ao mesmo tempo, “em meio a um mundo cheio de dificuldades”. Não só isso. Seu governo acabava de colocar o Brasil numa “situação privilegiada” perante a comunidade das nações, com “energia cada vez melhor e mais barata, mais que suficiente para o presente e o futuro”. Os “pessimistas” tinham sido derrotados, informou Dilma.
Pois é; e agora, que chegamos a esse pântano? O texto completo pode ser lido aqui: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/opiniao-2/j-r-guzzo-paraiso-perdido/
Os alertas não eram somente sobre o suicídio econômico; diziam também do maior roubo de dinheiro público da História Mundial, que variou do Mensalão ao Petrolão (e a caixa preta do BNDES nem foi aberta ainda…). Sobre esse item roubalhístico em modalidade olímpica, excelente o resumo do antropólogo Roberto Damatta publicado em alguns dos maiores jornais do País nesta quarta:
“A lógica nacional sempre foi sensata. Ela rezava assim: se tudo vai mal e, se o Brasil também vai mal, então tudo vai bem. Este princípio – hoje em suspeição – permeia o nosso pensamento. Está tão dentro de nós quanto o melado que nos lambuza. Prestigiado, ele foi encampado pela esquerda como um valor. O roubo dos outros, vociferam, legitima o nosso. Ademais, roubar aquilo que seria de todos para ajudar os pobres não é safadagem porque, até o advento desta desagradável era de transparência e de liberalismo golpista, o que era de todos não era de ninguém”. Damatta perfeito, como sempre. E conciso como Asimov ao descrever uma situação que mereceria uns 20 ou 30 tomos de um compêndio de desgraças infindas.
O povo foi avisado, alertado, prevenido. Os fascistas/lulistas/arrivistas chamavam (chamam) esses alertas de mentiras derrotistas, e querem combater a crise com mais do mesmo “remédio” que está nos matando: um coquetel de burrice, endividamento e populismo criminoso. Em pouco tempo, quando as coisas piorarem muito mais, até os mais aguerridos lulistas vão enxergar no espelho um Eu, Robô do lulismo, essa doença social que parece não ter fim.