Difícil até de dar nome

Fica no ar aquele aperto no peito… Uma sensação estranha, difícil de nomear, algo indefinido, que não sabemos o que é, nem o que vai dar. Tontura, indecisão, fome de barriga cheia, tudo estranho e fora do comum. Choro sem lágrima. Sorriso sem alegria. Olhar sem vida. Vontade de fazer, mas o quê? E o tempo não espera… apenas passa…

A impotência, quando bate à porta de nossa vida, é  assim, cheia de contradições e de nuances peculiares. É o ser que não é, a boa ideia que não veio, ou, se veio, sumiu. Quem jamais se sentiu assim? Nos dias de hoje é comum tal vivência, pelo desmando político, pela corrupção do Judiciário, pela falta de ética em toda a sociedade, principalmente pela decadência na busca por um sentido de vida. Quem jamais se comoveu pelo choro de criança faminta, pelo irmão deficiente largado… tantos e tão frequentes abandonos pela vida afora. É aquele espelho, deixado com aquele pedacinho nosso, jogado nos barrancos do passado… Vivemos em um mundo onde cada um luta por si, e salve-se quem correr! Um blues de Cartola esquecido.

Mantemos constantemente uma casca de onipotência interessante, criada pelo aspecto social de manutenção do status. Sou melhor e mais forte que isto tudo, potente e bom, desde que se cumpram as regras de minhas duas pílulas excitantes antes de cada ato. Droga! A cada dia mais inventam tais comprimidos de tesão. Até isso tem de ser artificial nos dias de hoje? É muito super herói para tanta pasmaceira e apatia. Batman de cuecas e Mulher Maravilha de camisola.

E assim vivemos um elo paradoxo entre o ser maravilhoso e a inutilidade, entre o tesão desembestado e o broxa. Cindimos a vida em paralelos e perdemos a noção da dinâmica da existência. Negamos o caos da vida, fingindo que ele não existe, ou que ao menos está longe, bem longe.

O volume de pessoas sentindo-se impotentes progride geometricamente, tanto no aspecto físico, quanto no psicológico. Isto advém da visão mecanicista de um ser humano-máquina, capaz de “dar cinco sem tirar”, de dormir apenas três horas por noite, altamente rentável e produtivo, lindo e perfeito em tudo e em todas as situações. Às vezes acho que colocaram na água que bebemos extrato de amendoim mágico do super pateta. Quando ligo a televisão e vejo certas personalidades em entrevista, sinto-me tão mortal, tão falho e mesquinho, tão limitado e medíocre ante tantos feitos divinos. É muita gostosura para tanta patetice. Talvez meu Brasil seja muito mais nórdico que meus olhos conseguem perceber. Falta humildade e pés no chão pra sobreviver em nossa atualidade.

Jorge Antonio Monteiro de Lima

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