Dica de Leitura: The God That Failed

Dica de leitura: The God That Failed (O Deus que Falhou, em tradução livre), uma coletânea de ensaios publicada em 1949, reunindo depoimentos de seis escritores e intelectuais que foram ardorosos defensores do comunismo, mas acabaram desiludidos com o regime soviético e o totalitarismo marxista. O livro é considerado um dos documentos mais impactantes sobre a desilusão com o comunismo e a transformação de intelectuais antes fiéis à ideologia em críticos ferrenhos do socialismo real.
 
A história se repete: a crença inabalável, a realidade brutal e, por fim, a crise de fé. Mas, diferente das religiões tradicionais, que permitem algum grau de reinterpretação, o socialismo e suas derivações sempre tentam um novo disfarce antes de admitir a derrota.
 
No primeiro colapso, vieram as revelações sobre Stalin. Escritores como Arthur Koestler, André Gide e Richard Wright testemunharam o horror dos expurgos, dos gulags e da supressão da liberdade sob o regime comunista. Alguns, como Koestler em O Zero e o Infinito, transformaram sua desilusão em literatura que expunha o pesadelo do totalitarismo. Já no segundo colapso, a implosão da União Soviética tornou impossível continuar defendendo a economia planificada sem parecer um lunático. O fracasso era inegável. Mas, como os autores de The God That Failed perceberam, o marxismo não morre – ele muda de forma.
 
Com a derrocada do socialismo econômico, veio a guerra cultural. Se os meios de produção não puderam ser tomados, a alternativa foi capturar os meios de pensamento. O gramscismo se tornou o novo evangelho, pregando a infiltração na mídia, nas universidades, na arte, na religião e até no vocabulário diário das pessoas. A estratégia parecia infalível, até que as novas gerações de militantes esqueceram as lições da realpolitik e começaram a delirar com a utopia identitária do Woke, que rapidamente transformou aliados em hereges e atingiu um nível de irracionalidade que nem os antigos comunistas ousaram defender.
 
Agora, estamos no terceiro colapso. Como nos depoimentos de The God That Failed, os progressistas vivem seu momento de negação e desespero. O pêndulo começou a se mover para o outro lado, e as vitórias de Milei, Trump e outros líderes conservadores são sintomas de uma rejeição crescente ao dogmatismo progressista. A mídia tradicional, que passou décadas alimentando a máquina, está perdendo credibilidade e financiamento. O ESG, que parecia um projeto inabalável de reengenharia social via corporações, está ruindo sob o peso do próprio cinismo.
 
Assim como os ex-marxistas que escreveram The God That Failed, alguns intelectuais começam a perceber que a utopia fracassou mais uma vez. Mas, como sempre, os devotos da fé progressista não conseguem aceitar que foram enganados. Insistem que o problema foi de implementação, que a “ideia ainda é boa”, que “desta vez será diferente”. Não será. Como bem aprenderam os antigos desiludidos do socialismo, a realidade sempre vence a utopia. E o ídolo fracassado, mais uma vez, está caindo do altar.