Da Virada

-Sobre a dissolução parte 1-

A primeira vez que ouvi que a Terra teria seu eixo virado foi em minha puberdade por volta de 1982. Seria um cataclismo de proporções inimagináveis. O mar invadiria a terra, o mundo como conhecemos acabaria e pouco do que existe restaria. Da puberdade à minha vida adulta sempre o mesmo mito ressurge no imaginário coletivo e vários fins apoteóticos apareceriam: na virada de 1999 para 2000; no cataclismo do tsunami no oceano Índico em 2004; em 2012 com o fim do calendário Maia.

Sempre apareceu e existiu  um maluco a bradar que a humanidade está no fim. E sempre existiram discípulos que abobadamente, para destilar sua raiva torciam que o fim chegasse, para então constituir a humanidade prometida, como povo eleito pelos céus. Mas virou?

Novamente nos deparamos com pessoas sem capacidade de percepção real dos movimentos subjetivos do universo, interpretando literalmente as coisas. Falando de portais dimensionais, de alienígenas, de fim de mundo, tentando dar um pequeno sentido à sua vida sem graça, pra poder talvez se diferenciar em alguma coisa não muito bem definida. Tudo bem, vou apanhar na rua pelo chefe da frota intergaláctica de Naimaizum.

Ao fazer uma reflexão sobre nosso momento histórico, em especial com o fim de 2014, vi que mundo do mundo que acreditava e conhecia que ele foi extinto. E nisto tudo virou. Eu um dia acreditei que a política teria conserto, que as manifestações populares talvez acordassem o gigante; que teríamos um governo que iria combater a corrupção; que a esquerda ao chegar no poder não se venderia a bancos, às empresas de telefonia, aos esquemas de lavagem de dinheiro de empreiteiras.

2014 foi um ano problemático. Foi o ano da humilhação:  dos 7 a 1 na derrota no futebol para a Alemanha; foi o ano de estampar a vergonha de ser brasileiro; de assistir diariamente nos noticiários mega esquemas de corrupção; foi o ano em que testemunhamos o fim do judiciário – que beneficiou os políticos do mensalão; foi o ano da certeza da impunidade para bandidos; um ano de arrocho de estagnação do crescimento, de dificuldade econômica; de recorde de arrecadação tributária e ao mesmo tempo do  desaparecimento deste dinheiro público. Ano em que a saúde se torna complicada e que a educação tem seus piores índices na história. Ano em que a esquerda dá lucro a autarquias como a FIFA, isentando a de tributação. 2014 foi o ano do fim, da queda das máscaras, da desculpa que não cola mais, da transparência, da evidência clara do lado oculto de cada um que foi posto em outdoor. Foi o ano de reeleger bandidos e de lhes dar a senha do cofre. Foi o ano em que o embate político evidenciou não existir escrúpulos e que as mentiras prevalecem.

Eu quero comemorar a chegada de 2015 para tentar esquecer o pesadelo de 2014. Talvez abrir uma garrafa de espumante pra gritar comemorando a subida de mais impostos neste  período. Nosso mundo virou, o que hoje ele é não sabemos, mas que os antigos discursos que já não existem, isto é o fato que teremos de lidar…