Recebo diariamente dezenas de releases de assessorias de comunicação que buscam promover seus clientes. De quando em quando aparece algo que chama a atenção. Esta semana foi este:
Na semana da Páscoa, chega às lojas o quinto CD de Luan Santana, que, como sempre, terá toda a renda arrecadada com as vendas doada para instituições de caridade. Desde 2009, quase R$ 2milhões foram destinados a 24 entidades de diferentes cidades do país (…) Outros exemplos de doações são as para o hospital do Câncer de Barretos, beneficiado com R$ 550 mil e a instituição AACC (Associação dos Amigos das Crianças com Câncer) de Campo Grande terra natal de Luan que recebeu R$ 217 mil. Com o lançamento do CD Quando Chega a Noite, Luan Santana pretende beneficiar ainda mais instituições brasileiras.
Em seguida aparece uma tabela com o detalhamento das doações, que eu publiquei em . Luan Santana é um garoto de 21 anos, muito longe da aposentadoria. Tornou-se sucesso nacional entre as jovens e adolescentes com um popzinho romântico que eles teimam chamar de sertanejo. O garoto juntou uma fortuna com a venda de shows ao longo dos últimos anos e ao realizar essas doações e divulgar está dando um grande exemplo. Ah, mas você acha que perto do que ele ganha o valor doado é uma ninharia? Que ele não deveria divulgar? Que ele desconta do Imposto de Renda? Que é oportunismo, jogada de marketing? Pô, ainda bem que é esse tipo de oportunismo! O popzinho romântico desaparecerá com o tempo, mas o legado do Luan está sendo muito maior que isso.
Comento essa ação do Luan Santana a propósito de um reencontro com um velho amigo, alto executivo de uma grande montadora. Conversamos sobre assuntos diversos, especialmente sobre uma pergunta: quando chegar a hora de parar de trabalhar, você vai fazer o quê? Meu amigo dizia, com uma ponta de desilusão, que sempre que falava com conhecidos a respeito de trabalho voluntário, as pessoas reagiam mal. A certa altura ele reagiu indignado quando um de seus interlocutores, muito bem sucedido, disse que não trabalharia de graça: – Pô, mas o que é que você vai fazer com mais dinheiro?
Chega uma época da vida em que a gente ou ao menos quem tem uma vida equilibrada – deveria parar de guardar para usufruir o que foi guardado. Entenda usufruir como uma ação generosa, não é usufruir só consigo e com os seus, acumulando bens, fazendo viagens e cirurgias plásticas, mas devolvendo à sociedade um pouco do que ela lhe proporcionou. Generosidade. Altruísmo.
Nos Estados Unidos é normal que médicos abracem projetos humanitários e grandes executivos fiquem à frente de associações, museus, escolas. Lá ninguém considera o voluntariado como trabalhar de graça. Faz parte da cultura. Mas no Brasil… Aqui a única cultura possível parece ser a cultura do juntar mais. E mais.
Aquele meu amigo vai ter que batalhar até encontrar outros como ele que queiram, mais que uma vida confortável, um propósito. Deixar um legado.
Olha só: pelas minhas contas, se mantiver o ritmo e se aposentar aos 65 anos de idade, Luan Santana terá doado algo em torno de 30 milhões de reais.
Acho que não vou ouvir, mas vou comprar os CDs dele.
Luciano Pires
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