Cafezinho 676 – Indignação de boutique – Sobre a indignação moral virar espetáculo

 

Um estudo publicado na Science Advances, escancarou o que muita gente sente na pele, mas poucos conseguem explicar: as redes sociais transformaram a indignação moral num espetáculo. E mais — num produto de consumo rápido.

Analisando mais de 12 milhões de tweets e aplicando experimentos com 240 pessoas, os pesquisadores descobriram o óbvio ululante: quanto mais aplauso você recebe ao gritar seu descontentamento, maior a chance de gritar de novo. É o bom e velho aprendizado por reforço, aquele que ensina cachorros a sentar em troca de biscoito — só que, desta vez, com humanos famintos por curtidas.

Mas não para por aí. O estudo mostra que, além da recompensa imediata, existe um aprendizado silencioso: o da norma social. A turma observa o que é “aceitável” no seu grupo e se adapta. Em comunidades extremistas, onde a gritaria é regra, nem precisa de recompensa: a indignação já virou etiqueta de aceitação social. Quem não berra, dança.

O mais assustador? As plataformas sabem disso. Elas foram desenhadas para premiar a explosão emocional, não o argumento racional. Quanto mais espuma, mais cliques. Mais cliques, mais anúncios. Mais anúncios, mais lucro. Simples assim.

O trabalho desses pesquisadores é um alerta em neon: a arena digital não é neutra. Ela condiciona comportamentos, cria padrões emocionais e molda a maneira como nos expressamos. O que deveria ser espaço para debate virou feira livre da histeria moral.

 

How social learning amplifies moral outrage expression in online social networks

William J. Brady, Killian McLoughlin, Tuan N. Doan e Molly J. Crockett

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34389534/