Cafezinho 665 – A classe dos inúteis


 

Você já ouviu falar na “classe dos inúteis”? Esse termo provocativo foi usado por Yuval Harari, o pensador israelense, para descrever um possível futuro sombrio, onde o avanço da tecnologia – automação, inteligência artificial, essas coisas todas – tira o emprego de tanta gente que acabamos criando uma massa de desocupados sem propósito. Um cenário onde a gente olha pra si mesmo e pergunta: se o trabalho sumiu, quem eu sou?

Olha, Harari tem razão em soar o alarme. A automação e a inteligência artificial estão mudando tudo. Mas será que o futuro é mesmo tão deprimente assim? Vamos combinar: o termo “classe inútil” é pesado, mas revela uma verdade incômoda: se criamos uma sociedade que valoriza as pessoas pelo que elas produzem, o que acontece quando o trabalho desaparece? O sistema entra em pane. Só que essa crise também traz uma oportunidade única para se repensar tudo.

Imagina só: se as máquinas fazem o trabalho pesado, o que sobra para nós? Criar, aprender, ensinar, nos conectarmos. Viver, de verdade. Não é necessariamente um mundo sem propósito, mas um mundo onde o propósito é redefinido.

O problema não é a falta de trabalho. É a falta de visão.

Harari alerta que, nesse futuro, podemos acabar perdidos em realidades virtuais ou presos em distrações. E ele pode ter razão. Mas isso não é inevitável. Depende de como reagimos. Substituir o trabalho por entretenimento vazio é um jeito muito pobre de lidar com uma revolução.

O desafio de verdade é cultural. É abandonar a ideia de que só somos valiosos pelo que fazemos e começar a olhar para o que somos. Para como nos relacionamos. Esse é o momento de construir uma nova narrativa onde o valor humano não está exclusivamente na utilidade produtiva, mas na capacidade de criar, de conectar, de contribuir.

A tal “classe dos inúteis” só vai existir se aceitarmos que o trabalho é a única fonte de propósito. Mas, cá entre nós… Sempre fomos muito mais do que isso.

O futuro não está escrito. E Harari nos provoca a pensar: vamos ser espectadores passivos de um mundo automatizado? Ou arquitetos de uma nova humanidade?

Sabe do que essa discussão me lembrou? Da velha fábula da Cigarra e a Formiga.