O historiador e filólogo irlandês John Bagnell Bury, num livro precioso chamado A História da Liberdade de Pensamento, disse:
“O cérebro médio é naturalmente preguiçoso e tende sempre a escolher o caminho onde encontra menor resistência. O mundo mental do homem médio consiste de credos que ele aceitou sem questionar e aos quais ele está firmemente fixado. Ele é instintivamente hostil a qualquer coisa que ameaçar a estabilidade do mundo que lhe é familiar. Uma nova ideia, inconsistente com seus credos, representa a necessidade de rearranjar a mente e esse processo é trabalhoso, requer um gasto doloroso de energia mental. Para ele e seus amigos, que formam a grande maioria, novas ideias e opiniões que causem dúvidas nos credos e instituições estabelecidas, parecem malignas, pois são desagradáveis.”
Que tal? Somos naturalmente resistentes às mudanças, especialmente as que desafiam o que acreditamos ser o certo. A comodidade mental nos leva a perpetuar crenças e sistemas que, muitas vezes, nem sequer compreendemos completamente. E a resistência às novas ideias se torna coletiva, institucional e, por vezes, opressora.
Se eu sou esse homem médio descrito por Bury e tenho poder, minha tendência é reprimir ideias que considero malignas ou desagradáveis. Para justificar, lanço mão de conceitos nobres, como “bem comum”, “a proteção aos fracos e oprimidos”, ou até “a sobrevivência da humanidade”. Argumentos altruístas que, no fundo, são pretextos para crimes contra as liberdades individuais.
Observe quantas pessoas altruístas e bondosas você vê dispostas a cassar a sua liberdade de expressão. Gente que não hesita em distorcer leis, manipular narrativas e atropelar a Constituição para impor uma “verdade” que serve apenas para a manutenção de seu próprio conforto e poder.
Essa gente não suporta ideias. Porque ideias são disruptivas. Elas desacomodam, desafiam, expõem fragilidades. E, por isso, são perigosas. A prisão do pensamento está sempre à espreita.
O livro de John Bagnell Bury foi escrito em 1914.