Marianne Elise Kürchner, era operária em uma fábrica de armamentos na Berlim de 1943. Viúva de um soldado, trabalhava duro para sobreviver à Segunda Guerra Mundial e ao terror diário do regime nazista, aquele que vendia ordem, segurança e progresso à custa de censura total. Um regime onde o medo era tanto que até os colegas de fábrica viravam espiões. O que ela fez? Contou uma piada sobre Hitler. Só isso. Nem precisou viralizar.
A piada teria sido esta: “Hitler e Göring estão no topo da torre de rádio de Berlim. Hitler diz que quer fazer algo para colocar um sorriso no rosto dos berlinenses. Então Göring responde: ‘Por que você não pula,hein?’”
Nem é uma piada de rolar de rir. É mais uma piada de rolar cabeças: fazer piada às custas de Hitler era, ao menos em teoria, um crime passível de pena de morte.
Vale lembrar que a maioria das pessoas que fazia comentários maldosos sobre os nazistas não enfrentava consequências. Raramente eram denunciadas e, se acabavam diante de um tribunal, geralmente recebiam uma advertência, ou, no máximo, alguns meses de “reeducação” em Dachau.
Os nazistas ocasionalmente usavam o crime de sedição como desculpa para prender e executar pessoas que, por algum motivo, haviam caído em desgraça, mas, a princípio, alemães comuns tinham pouco a temer.
O crime de sedição é, de forma geral, um ato coletivo de desobediência, rebelião ou incitação contra a autoridade estabelecida ou a ordem pública, sem chegar ao ponto de uma revolução armada (o que caracterizaria insurreição ou rebelião).
Mas, à medida que a maré da guerra começou a virar contra a Alemanha, as punições para a sedição ficaram cada vez mais severas.
Alguém – um desses soldados de moral reluzente, provavelmente o “funcionário do mês” – denunciou Marianne à Gestapo.
Marianne foi chamada ao Tribunal do Povo, cujo presidente, Roland Freisler, era famoso tanto por seus longos discursos raivosos insultando réus quanto por suas sentenças de morte. Ela admitiu ter feito a piada, mas disse que não estava em si no momento, pois estava amargurada pela recente perda do marido no front.
Freisler não quis saber. Na verdade, ele considerou o fato de Marianne ser viúva de guerra um agravante. “O Tribunal do Povo”, disse Rudolf Herzog sobre esse caso em seu livro Dead Funny: Humor in Hitler’s Germany, “fazia questão de ignorar o sofrimento individual.” Em sua sentença, Friesler escreveu:
“Como viúva de um soldado alemão caído, Marianne Kürchner tentou minar nossa vontade de defesa viril e o trabalho dedicado no setor de armamentos rumo à vitória, fazendo comentários maliciosos sobre o Führer e o povo alemão e expressando o desejo de que perdêssemos a guerra… Ela se excluiu da comunidade racial. Sua honra foi permanentemente destruída e, portanto, ela deverá ser punida com a morte.”
O veredito do Tribunal do Povo foi proferido em 26 de junho de 1943. Marianne perdeu a cabeça pouco tempo depois, acusada de “desmoralizar a força de trabalho” e de “propaganda derrotista”, crimes inventados por quem não admite ser ridicularizado nem no cafezinho.
Guardando as proporções, qualquer semelhança com o caso do mandato de prisão de Leo Lins, não é mera coincidência.
Bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?
Pobre Marianne Kürchner… No fim, o recado foi dado: qualquer crítica, piada ou cochicho poderia te mandar para a guilhotina. Não é metáfora, é literal.
O nazismo entendeu, como poucos, o poder do exemplo negativo: ao decapitar Marianne por uma piada, o regime deixou o recado para milhões. Não era sobre justiça, era sobre controle total da mente e do comportamento das pessoas. Se até uma brincadeira inofensiva podia virar sentença de morte, o que restava senão o silêncio, a autocensura, o medo de até pensar diferente?
Esse tipo de ação faz parte de uma estratégia maior, descrita por Joost Meerloo como “menticídio”: um sistema organizado para assassinar a mente, destruir o ego, isolar o indivíduo e condicionar toda uma sociedade à obediência cega. O caos, o medo, a vigilância dos colegas – tudo era parte de um projeto para transformar seres humanos em massa de manobra, incapazes de resistir ou sequer imaginar outro caminho.
A história de Marianne é citada como exemplo da brutalidade nazista, mas serve, principalmente, para nos lembrar onde a estrada da censura termina. Tudo começa pequeno: “Ah, é só uma piada”, “ah, é só um tweet”, “ah, é só um humorista que exagerou”. Aos poucos, vamos abrindo mão do direito de sermos inconvenientes. Quando a patrulha do riso ganha autoridade, até o silêncio vira suspeito. E é nesse terreno fértil que a intolerância floresce.
A execução de Marianne Kürchner foi um espetáculo de terror, cuidadosamente encenado para educar pelo medo. O regime queria que todos se vissem no lugar dela: “Se até uma piada pode matar, é melhor calar, é melhor concordar.” Assim, o nazismo pavimentava sua estrada de horrores, não apenas com tanques e canhões, mas com silêncio e autocensura, destruindo de dentro para fora a capacidade de questionar, duvidar ou rir do poder.
No fim, o caso de Marianne não foi um acidente. Foi política de Estado. Foi a pedagogia do medo – a arma mais eficiente dos regimes totalitários.
Mistérios da meia-noite
Zé Ramalho
Mistérios da meia-noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão, se ficam
Quem vai, quem foi
Impérios de um lobisomem
Que fosse um homem
De uma menina tão desgarrada
Desamparada se apaixonou
Naquele mesmo tempo
No mesmo povoado, se entregou
Ao seu amor, por quê?
Não quis ficar como os beatos
Nem mesmo entre Deus
Ou o capeta
Que viveu na feira
Mistérios da meia-noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão, se ficam
Quem vai, quem foi
Impérios de um lobisomem
Que fosse um homem
De uma menina tão desgarrada
Desamparada, seu professor
Naquele mesmo tempo
No mesmo povoado, se entregou
Ao seu amor, por quê?
Não quis ficar como os beatos
Nem mesmo entre Deus
Ou o capeta
Que viveu na feira
Mistérios da meia-noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão, se ficam
Quem vai, quem foi
Impérios de um lobisomem
Que fosse um homem
De uma menina tão desgarrada
Desamparada, seu professor
Naquele mesmo tempo
No mesmo povoado, se entregou
Ao seu amor, por quê?
Não quis ficar como os beatos
Nem mesmo entre Deus
Ou o capeta
Que viveu na feira
Mistérios da meia-noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão, se ficam
Quem vai, quem foi
Impérios de um lobisomem
Que fosse um homem
De uma menina tão desgarrada
Desamparada, seu professor
Ah, que delícia, cara… Esse é o Zé Ramalho com sua Mistérios da Meia Noite, que fala sobre segredos e verdades que não podem ser ditas abertamente, usando metáforas para tratar de temas incômodos, seja no plano pessoal ou social.
A canção nunca é explícita — e é aí que mora a genialidade e a coragem de Zé Ramalho. Ele fala de tudo aquilo que ronda a sociedade mas não pode ser dito às claras: os “mistérios” podem ser tanto as mazelas políticas quanto as hipocrisias morais, as pressões do politicamente correto, as coisas que ficam escondidas “debaixo do tapete” porque falar sobre elas pode gerar punição, preconceito, julgamento
Assim como acontece no humor sob censura, a música sugere que muita coisa precisa ser escondida ou falada nas entrelinhas para evitar punição ou julgamento. É uma crítica à hipocrisia e ao medo de se expressar livremente — mostrando que, muitas vezes, o silêncio é imposto pelas regras não ditas da sociedade.
Cara: eu me lembro da juventude nos anos 70 e 80, sentando no sofá para ver “Os Trapalhões”. Não tinha esse papo de “roteiro sensível”. Era Dedé tomando porrada do Didi, Mussum misturando cachaça com samba, Zacarias sendo o eterno menino. O país inteiro ria junto, do pobre, do rico, do nordestino, do carioca, da loira burra e até do galã feio. Era permitido rir de tudo. Aliás, era obrigatório rir de tudo. A piada era um passaporte pro convívio – e quem nunca foi alvo de uma, que atire a primeira pedra.
Avançamos algumas décadas e o cenário mudou. Não só mudaram as roupas, o cabelo e o preço do cafezinho. Mudou o riso. Mudou o direito de rir. O que antes era rotina de domingo, hoje seria enquadrado no código penal do bom-mocismo: preconceito, misoginia, gordofobia, xenofobia, capacitismo, todos os ismos possíveis e imagináveis. Os trapalhões, hoje, seriam cancelados antes mesmo da vinheta.
A comédia, que já foi catarse coletiva, virou campo minado. O humorista, antes porta-voz da espontaneidade, virou equilibrista no fio da lacração. Pensa dez vezes antes de abrir a boca, porque agora tem tribunal moral a cada esquina do Twitter. Faça piada de político, ok. Faça piada de qualquer grupo identitário e pronto: processo, boicote, carta aberta no Instagram e meia dúzia de hashtags “pelo respeito”.
O movimento woke tomou de assalto o humor. E o manual é claro: só pode rir se não ofender ninguém – mas como fazer humor sem incomodar, cutucar, provocar, hein? Piada boa é aquela que escancara o absurdo do cotidiano, que faz rir justamente porque mexe com o desconforto, revela a fragilidade das certezas.
A Teoria da Violação Benigna (Benign Violation Theory), proposta por pesquisadores como Peter McGraw e Caleb Warren, é uma explicação psicológica do humor. Em termos simples, ela diz que algo é engraçado quando viola uma norma (moral, social ou lógica…), mas de um jeito que não parece ameaçador — ou seja, é uma violação “benigna”. Mas está na UTI. Tiraram a transgressão do jogo, ficou só o seguro, cara. E sabe o que é comédia segura? É tédio.
Fico imaginando como seriam hoje os grandes nomes da comédia nacional. Jô Soares fazendo “Viva o Gordo”? Não pode, vai fazer o gordo chorar. Chico Anysio com suas dezenas de personagens? Não pode, é apropriação cultural, é estereótipo, é bullying. Sai de cena o riso solto, entra o medo de ser mal interpretado.
Imagina o Costinha então, cara!
O mais curioso é que as pessoas continuam rindo. Mas agora fazem isso em segredo, baixinho, só para os mais íntimos. É o riso clandestino. Porque, convenhamos, não é o mundo que ficou mais sensível – é o mundo que ficou mais disposto a punir quem não reza a cartilha do momento. O politicamente correto virou dogma, o cancelamento, penitência pública. E a piada, que antes era alívio, virou pecado.
“Ah, mas Luciano, piada tem limite!” Tem é? Quem define o limite? O departamento de diversidade da firma? O coletivo da faculdade? A patrulha do LinkedIn? O ministério das coisas? O que se vê é que, quanto mais policiam o humor, mais ele perde a graça. E menos tolerantes ficamos. Porque o humor sempre foi o laboratório da tolerância: rir de si mesmo, rir dos outros, aprender a suportar o desconforto de ser alvo. Sem isso, só sobra gente séria e ressentida, à beira de um ataque de nervos.
E o resultado está aí: comediantes pisan em ovos, shows de stand-up com aviso de gatilho, roteiros revisados por advogados de causas identitárias. E uma geração que, incapaz de suportar uma piada, também perdeu a capacidade de rir de si mesma.
No fim das contas, o humor não morreu. Ele só foi proibido de circular em público. Virou peça de museu, memória afetiva de quem já foi feliz e sabia. Quem sabe, daqui a uns anos, voltemos a rir juntos. Sem medo, sem nota de repúdio, sem pedir licença.
Enquanto isso, seguimos sorrindo de canto de boca. E torcendo para que a próxima geração descubra, de novo, o poder transformador da piada – aquela que incomoda, cutuca e faz pensar.
“Luciano, aqui é o Guilherme, eu sou seu ouvinte assinante há uns 5, 6 anos, eu acho, penso que eu comecei na época da pandemia, talvez um pouco antes, e sou muito grato aos seus conteúdos.
É muito bom saber que existe um um produtor de conteúdo focado em qualidade para desenvolvimento intelectual das pessoas. É sempre um prazer quando eu vejo os novos episódios do Café Brasil e todas as produções que você faz, e parabéns, não desista.
Nós vivemos tempos estranhos em que se você tentar trazer algum assunto de desenvolvimento intelectual que estimule reflexão, que estimule debate, as pessoas encaram como afronta, como radicalismo, mas tenha certeza, há muita gente se beneficiando dos seus conteúdos, eu sou um apoiador e um assinante orgulhoso, satisfeito, me tornei participante do MLA, onde eu pude encontrar muitas pessoas com desenvolvimento intelectual e com foco em coisas boas, independente de ideologias, mas pessoas que querem melhorar e fazer o bem.
Indico para todo mundo, se tiver interesse, eu acho que é um grupo importante para que a gente possa se desenvolver em conjunto. Parabéns para você, para a Bárbara, para toda a sua equipe. Realmente um enorme prazer poder fazer parte de tudo isso.
Não desista, siga firme, eu tenho certeza que assim como eu há muita gente que tem uma enorme gratidão a poder acompanhar o seu trabalho.Muito obrigado.”
Grande Guilherme, muito obrigado pelo comentário,viu? Você é aquele ouvinte dos sonhos, cara, que começa como ouvinte, se aproxima e vira amigo. Mais que isso, contribui ativamente para que nosso trabalho continue, fazendo parte de todas as ações que lançamos, inclusive no MLA, cara. Fico feliz que você esteja vendo valor no que fazemos, meu caro. Estamos juntos, viu?
Cara, você já pensou em ter um negócio funcionando 24 horas por dia, hein? Uma adega autônoma que você instala nteo condomínio sem precisar de funcionários, entregando vinhos top na temperatura ideal? E o melhor, tudo controlado pelo celular, com margem de 80% por venda.
Então conheça a Vinho 24 Horas. Uma micro franquia com vinhos selecionados, a preço fixo de R$ 49,90. Eles cuidam de todo o estoque, instalação e manutenção. E a adega autônoma ainda tem uma tela para anúncios locais, gerando renda extra.
O investimento inicial é de R$ 29.900 parcelados em até 21 vezes, com pay back estimado de 14 meses. Olha, com apenas duas vendas diárias a franquia praticamente se paga.
Mas tem mais: fechando o negócio, e dizendo que é ouvinte do Café Brasil, você ganha 100 garrafas do estoque inicial. 100 garrafas, cara! Só aí já dá um faturamento de R$ 5 mil reais, que tal?
Promoção limitada para quem chegar primeiro e for ouvinte do Café Brasil. Saiba mais no Instagram @Vinho24h e transforme sua vida.
Você já ouviu falar em “dano coletivo”, hein? Pois é, parece nome de banda de rock alternativo dos anos 80, mas virou arma de última geração na guerra contra o riso. Vou explicar do jeito que ninguém explica: dano coletivo é quando, segundo alguns iluminados, uma piada contada num boteco, num palco ou na internet não ofende só a pessoa da piada, mas um grupo inteiro — nem que seja aquele grupo que só existe para se sentir ofendido.
O truque é simples: pega-se um conceito jurídico que deveria proteger a coletividade de verdade — como poluição, corrupção, desastres — e aplica-se ao universo do humor. Se uma piada incomoda, eles dizem: “Veja bem, não é só uma piadinha. É um ataque à dignidade coletiva! É uma violência moral contra todos nós, cidadãos de bem, pertencentes à minoria XYZ!” Pronto: dano coletivo configurado.
Daí para a censura é um pulo. Porque se o dano é “de todos”, qualquer um pode reclamar. O Ministério Público aparece, processa, pede indenização, exige retratação pública e, claro, tenta arrancar do humorista o direito de fazer… humor. E você, que só queria rir, passa a ter que pedir desculpa até por meme de WhatsApp, cara.
No fundo, é um instrumento de coerção: inventa-se um coletivo sensível e difuso, transforma-se a sociedade inteira em vítima potencial, e qualquer piada vira ameaça. Quem se atreve a rir do proibido, entra na mira da patrulha do bem. O recado é claro: ou você ri do que deixarem, ou não ri de nada. O riso foi estatizado.
E assim, em nome da defesa dos sentimentos coletivos, a liberdade individual vai para o buraco — junto com a tolerância, o bom senso e, claro, a graça.
Sabe o que que isso me lembra? Os tempos em que “dano coletivo” era você ver Os Trapalhões no domingo e a família inteira rir — juntos, sem manual de instruções, sem tutela estatal e sem medo de multa por chacota em grupo.
Hoje, o dano é não poder rir. E isso, meu caro, não tem graça nenhuma.
O que pouca gente lembra é que os filósofos antigos já se preocupavam com os limites do riso, da ironia, da palavra solta. Mas não era esse moralismo de Twitter, não. Era uma preocupação séria: até onde o riso serve pra civilizar, ensinar, fazer pensar — e a partir de que ponto ele vira arma de destruição, caos ou simplesmente burrice coletiva.
Platão, por exemplo, no seu famoso livro “A República”, já recomendava cuidado com a comédia. Ele não era fã da piada solta: achava que o riso, sem freio, podia corroer o respeito pela ordem, pela autoridade e até pela verdade. Temia que o humor virasse deboche de tudo, e aí, ninguém mais levasse nada a sério — nem leis, nem deuses, nem chefes de Estado. Platão, no fundo, era quase um ministro do STF avant la lettre: desconfiava do poder da zoeira.
Aristóteles, mais generoso, admitia que o riso era parte essencial do ser humano — aliás, para ele, só o ser humano ri. Mas também botava freios: defendia o “meio-termo”, ou seja, a graça que ensina, mas não humilha; a ironia que provoca, mas não destrói. Na Poética, dizia que a comédia serve pra mostrar nossos defeitos — e, quem sabe, ajudar a corrigi-los. O problema é quando vira ataque pessoal, destruição pública ou covardia travestida de piada.
E tem Sócrates, mestre da ironia. O homem conversava, tirava sarro dos poderosos, fazia perguntas que desarmavam qualquer um. Morreu condenado por “corromper a juventude” e “não respeitar os deuses”. Foi cancelado, literalmente, a golpes de cicuta. O crime? Mexer nas certezas dos outros com a ponta fina do humor e da dúvida.
E aí hein cara? O que aprendemos com eles?
- O humor sempre foi perigoso. Nunca foi 100% livre. Sempre ameaçou a ordem, a moral, o poder. Os antigos sabiam disso. Por isso temiam — mas nunca propuseram banir o riso, só botar limite, bom senso, responsabilidade.
- A censura, por sua vez, sempre existiu. Só mudaram os nomes: antes era blasfêmia, hoje é “dano coletivo”, “discurso de ódio”, “racismo recreativo”. O velho desejo de controlar a palavra, o riso, o pensamento.
- O humor civiliza, mas também pode descivilizar. Como dizia Aristóteles, o riso serve pra mostrar que ninguém é perfeito — nem o rei, nem o filósofo, nem o cidadão comum. Mas quando o riso vira instrumento de humilhação ou massacre moral, perde a graça e a função.
A questão aqui é: como é que você vai punir isso, hein? Como é que você vai proibir isso?
No fundo, os filósofos sabiam que, sem humor, a vida fica insuportável. Mas também sabiam que, sem nenhum limite, a piada vira veneno. O desafio está no equilíbrio: rir sem destruir; discordar sem censurar; aprender a aguentar o desconforto de ser o alvo da próxima piada.
Se Platão estivesse aqui, talvez recomendasse menos tribunal e mais autoironia. Se Aristóteles escrevesse no X, diria: “Ria, mas lembre-se de não virar bobo da corte de si mesmo.” E Sócrates, ah, Sócrates… provavelmente faria perguntas até cancelar o próprio tribunal.
No fim, o que mata mesmo o humor não é o excesso de liberdade — é o excesso de medo.
Muito bem, se você é assinante do Café Brasil agora vem o conteúdo extra. Vou falar de como a censura ao humor esteve presente em muitos momentos da história. Se você não é assinante, vai ficar sem… vai lá, cara! Assine o Café Brasil!
Você que pertence ao agronegócio ou está interessado nele, precisa conhecer a Terra Desenvolvimento.
A Terra oferece métodos exclusivos para gestão agropecuária, impulsionando resultados e lucros. Com tecnologia inovadora, a equipe da Terra proporciona acesso em tempo real aos números de sua fazenda, permitindo estratégias eficientes. E não pense que a Terra só dá conselhos e vai embora, não. Ela vai até a fazenda e faz acontecer! A Terra executa junto com você!
E se você não é do ramo e está interessado em investir no Agro, a Terra ajuda a apontar qual a atividade melhor se encaixa no que você quer.
Descubra uma nova era na gestão agropecuária com a Terra Desenvolvimento. Transforme sua fazenda num empreendimento eficiente, lucrativo e sustentável.
Há 25 anos colocando a inteligência a serviço do agro.
Muito bem. Cá estamos nós, rindo pouco e pensando muito. Porque quando a piada precisa de alvará, pode apostar que tem coisa grande acontecendo por trás da cortina.
A censura ao humor — travestida de proteção, de empatia, de “defesa dos vulneráveis” — é uma das ferramentas mais antigas e eficientes para manipular a massa. Sufoca o riso, cala o questionamento, e o povo, acuado, aprende a se comportar. O medo de errar, de ser linchado por um tribunal digital, faz cada um vigiar o outro. E o resultado? Todo mundo sério, tenso, olhando pro lado antes de dar risada — e os poderosos agradecem.
Porque quando ninguém pode mais brincar, ninguém pode mais criticar. Se não pode rir do rei, não pode questionar o trono. Se não pode satirizar o sistema, o sistema vira religião, e quem duvida é herege. O riso é subversivo porque desmascara a farsa — e por isso, quem manda tem tanto pavor dele.
Então cara, o que fazer? Primeiro, recupere o direito ao desconforto. Sim, porque viver, de verdade, exige desconforto. Exige o risco de ouvir o que você não gosta, de ser alvo da piada, de tropeçar no próprio ego e perceber que não é tão especial quanto sua mãe dizia. O desconforto é combustível do crescimento. Só quem encara o espelho do ridículo aprende, amadurece, se blinda contra as patrulhas do pensamento.
Aprenda a rir de si mesmo. E aqui não estou falando daquele riso amarelo, ensaiado, só pra mostrar que você é “desconstruído”. Falo do riso honesto, aquele que reconhece: sim, eu erro, sim, sou imperfeito, sim, também sou alvo. Porque quem não aguenta ser alvo de uma piada está sempre pronto para ser o dedo que aponta. E, se você não sabe rir de si, acaba levando tudo a sério demais — e, quando vê, virou fiscal da alegria alheia.
Lembre-se: liberdade de expressão não é só um enfeite no preâmbulo da Constituição. É trincheira. É o último fio que impede a domesticação completa da sociedade. Você já reparou? Onde não se pode rir, também não se pode discordar. E onde não se pode discordar, o poder escorre como água para as mãos de uns poucos. Rir não é só prazer — é resistência. É sabotagem contra quem quer transformar cidadão em rebanho.
Questione sempre quem aparece vestindo a fantasia de protetor universal, prometendo salvar você de todo e qualquer “dano coletivo”. Desconfie desse paternalismo de vitrine, desse discurso de que “estamos aqui para te defender”. Na maioria das vezes, esse povo não quer te proteger, quer te calar. Quer infantilizar o debate, quer transformar adulto em criança de castigo — e o mundo inteiro numa creche, onde só se pode brincar de um jeito. O jeito que eles permitem.
Mas, principalmente: não se cale. Não aceite patrulha no humor, nem na arte, nem na vida. O caminho para fora do curral passa pela coragem de rir, até quando todo mundo manda ficar sério. O riso, afinal, é o último espaço de liberdade num mundo cada vez mais patrulhado por indignados profissionais. Ria alto, ria junto, ria até de si mesmo. Porque, no fundo, é no riso que mora o início da liberdade — e, quando a gente aprende a rir do absurdo, ninguém mais consegue nos domesticar.
Vamos então ao nosso merchan? Olha lá: o Café Brasil é aquela produção independente, que não tem ligação com sites poderosos, com editoras, com milionários, com bilionários. É nóis cocê. Nóis e ocê fazendo juntos esta bagaça aqui.
Sem você a gente não consegue ir muito longe, sabe por que? A gente não consegue viver só de patrocinadores. Precisa muito de que quem gosta do nosso trabalho faça mais do que simplesmente ouvir de graça ou dar tapinhas nas costas. Tem que virar assinante.
Você vai conribuir com um dinheirinho pequenininho pra você, que não vai fazer diferença no seu dia a dia, mas vai fazer uma baita diferença pra nós aqui. Bancar a estrutura, continuar fazendo este trabalho aqui de forma séria e independente, não é bolinho não.
Aperta o botão aí: mundocafebrasil.com. Escolha um plano, torne-se um assinante do Café Brasil. Vem fazer parte ativa aqui da resistência.
Vai lá: mundocafebrasil.com.
Robocop gay
Dinho
Júlio Rasec
Um tanto quanto másculo
Ai, com M maiúsculo
Vejam só os meus músculos
Que com amor cultivei
Minha pistola é de plástico (quero chupar-pa-pa)
Em formato cilíndrico (quero chupar-pa)
Sempre me chamam de cínico (quero chupar)
Mas o porquê eu não sei (quero chupar-pa)
O meu bumbum era flácido
Mas esse assunto é tão místico
Devido a um ato cirúrgico
Hoje eu me transformei
O meu andar é erótico (silicone, yeah, yeah, yeah)
Com movimentos atômicos (silicone, yeah, yeah)
Sou um amante robótico (silicone, yeah)
Com direito a replay (silicone, yeah)
Um ser humano fantástico
Com poderes titânicos
Foi um moreno simpático
Por quem me apaixonei
E hoje estou tão eufórico (doce, doce, amor)
Com mil pedaços biônicos (doce, doce, amor)
Ontem eu era católico (doce, doce, amor)
Ai, hoje eu sou um gay!
Abra sua mente
Gay também é gente
Baiano fala: Oxente
E come vatapá
Você pode ser gótico
Ser punk ou skinhead
Tem gay que é Mohamed
Tentando camuflar
Alá, meu bom Alá
Faça bem a barba
Arranque seu bigode
Gaúcho também pode
Não tem que disfarçar
Faça uma plástica
Ai, entre na ginástica
Boneca cibernética
Um Robocop Gay
Um Robocop Gay
Um Robocop Gay
Ai, eu sei, eu sei
Meu Robocop Gay
Ai, como dói!
Rararararararrara… que saudade dos Mamonas Assassinas. Hoje provavelmente estariam presos, rararararar
Essa é Robocop Gay, um verdadeiro símbolo do humor escrachado, debochado, que fez um enorme sucesso nos anos 1990. Mas se lançada hoje, dificilmente escaparia do tribunal do politicamente correto. E é aí que ela dialoga perfeitamente com o tema da censura ao humor.
Se fosse lançada hoje, “Robocop Gay” seria imediatamente acusada de homofobia, transfobia e estereotipação ofensiva. Seria boicotada, “cancelada”, denunciada nas redes, com pedidos de banimento de plataformas, retratação pública, talvez até processo. E aqui está o ponto central: a sociedade mudou e aquilo que antes era visto apenas como piada agora é percebido também como instrumento de opressão e preconceito.
O problema é quando a crítica à piada vira proibição: censura de verdade. E, ao censurar o humor, se censura também a discussão, a reflexão, o incômodo criativo — porque, goste-se ou não, o humor escancarado, muitas vezes, serve justamente para revelar nossos preconceitos, discutir nossos limites, provocar reações e repensar o mundo.
Quando a sociedade passa a patrulhar tudo o que pode ou não ser dito em forma de piada, há um risco real de paralisia criativa: ninguém mais se arrisca a provocar, a questionar, a escancarar contradições — exatamente o papel social do humor, desde os bobos da corte até os Mamonas Assassinas e o Léo Lins.
“Robocop Gay” vira, então, um exemplo clássico:
- Se for permitido, muita gente se sentirá ofendida.
- Se for proibido, todos perdem a chance de discutir, rir, pensar e — por que não? — evoluir.
No fundo, censurar o humor é escolher viver numa sociedade menos tolerante, menos plural e, ironicamente, menos preparada para lidar com as próprias diferenças.
E se a gente não puder mais rir de Robocop Gay, talvez não esteja proibindo só uma música, mas enterrando de vez o direito de rir dos próprios absurdos.
Siga rindo, siga questionando. Não abra mão desse direito. Porque o dia em que nos roubarem o desconforto e o riso, não vai sobrar mais nada além de silêncio, cara fechada e a sensação incômoda de que nos tornamos exatamente aquilo que mais temíamos: escravos do medo de ofender e, pior ainda, escravos do medo de pensar.
E lembre-se: na livrariacafebrasil temos mais de 15 mil títulos muito especiais, para quem quer conteúdo que preste! Inclusive de humor. mundocafebrasil.com.
O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, que completa o ciclo.
De onde veio este programa aqui tem muito mais. E se você gosta do podcast, imagine uma palestra ao vivo. E eu já tenho mais de mil e duzentas no currículo. Cheias de humor, cara! Conheça os temas que eu abordo no mundocafebrasil.com.
Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.
Para terminar, o comediante mais que cancelado, o inglês Ricky Gervais
“Toda piada tem um alvo. Quando proíbem a piada, geralmente é para proteger o alvo errado.”
