Animais Políticos

ANIMAIS POLÍTICOS

Outro dia escrevi sobre política, tentando recuperar o verdadeiro valor dessa verdadeira “ciência”, que não é essa coisa que está aí. Perdoem-me agora os meus leitores fiéis, mas vou trazer mais uma vez um texto delicioso chamado “O Analfabeto Político”, que tenho num quadrinho em meu escritório e sempre uso em anos de eleição:

“O pior analfabeto é o analfabeto político.  Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos.  Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel e do remédio, dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil, que da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das multinacionais.”

Uma porrada, não é? Pois foi escrito por Bertold Brecht, escritor e teatrólogo alemão, mais de meio século atrás. O texto torna-se atualíssimo, quando assistimos a uma crise gerada por nossa irresponsabilidade política no momento de escolha dos homens e mulheres que ocupam os poderes legislativo e executivo. Já ouvi mais de uma vez que “nunca houve um Congresso com tão baixo nível de gente” como o atual. Culpa de quem?

Dos analfabetos políticos!

Pois refletindo sobre nossa dificuldade em perceber como a política faz parte de nossas vidas, me lembrei de uma entrevista feita em 1972 pelo ator italiano Gian Maria Volonté, já falecido. A discussão girava em torno da diferença entre os filmes politicamente engajados e aqueles vazios de conteúdo. Gian Maria disparou: ” sempre me disseram que filme político não interessa, pois não faz dinheiro”… “Quer saber de uma coisa?” disse o ator ao jornalista, “o senhor está fazendo uma enorme confusão. Todo e qualquer cinema é político. Até mesmo aquele sem conteúdo, banal e vulgar. O enfoque é o tempo livre e não o conteúdo do filme. Hoje, qual é o significado de tempo livre? Significa momento de evasão, da não-reflexão, do consumo. E o sistema te oferece mil maneiras de preenchê-lo, inclusive os filmes que te metem na condição de não pensar. É esse o dado político”… Gian Maria Volonté nos alerta sobre o dado político da indústria do entretenimento. Ela ocupa nosso tempo livre, voltando nossa atenção para distrações que nos levam a consumir. Ou a apresentar um comportamento resignado, dentro das regras, que interesse ao sistema político vigente.

Isso é político.

E desse ponto de vista, o Gugu, tão inocente e engraçadinho, é político. O Faustão é político. O pocotó é político… Tudo é política…

E quando não percebemos esse jogo, nos tornamos meros joguetes nas mãos de quem manipula a política. Em Brasília ou na rede Globo.

Por isso, valorize seu tempo livre. Faça com que ele seja um tempo de reflexão e ação. Preencha-o com provocações, com inspiração, com atividades que agreguem valor, que elevem seu espírito, que enriqueçam seu repertório. Agindo assim, você será senhor do seu destino. Será um animal político… Vai levar a vida, e não deixar a vida te levar.

Mas tem gente que não pensa assim. Pensa que sua hora livre é para não fazer nada, para esvaziar a cabeça… Tudo bem. Para esses, trago uma frase de William James: “Quando você tem de fazer uma escolha e não a faz, isso por si só já é uma escolha”.

Viu só?

Não escolher também é política…