Ontem passei o dia recebendo recados de pessoas perguntando se eu não ia falar dos professores no Paraná, inclusive provocações de esquerdistas à espera de uma palavra minha sobre o malvado governador do PSDB que mandou a polícia trucidar os pobres professores.
Não. Eu decido minhas pautas, quando e como falar. E não costumo falar no calor dos acontecimentos, quando ninguém ouve, todo mundo bate, todo mundo apanha, todo mundo tem razão e ninguém tem razão. Por isso esperei passar o auge do conflito.
Para comentar o que aconteceu no Paraná, há que se refletir sobre o que se vê e o que não se vê. E na forma e conteúdo.
Conteúdo: os professores brasileiros, assim como os demais profissionais da educação, há muito, pelo menos 40, 50 anos, sofrem um processo de perda de importância. Foram relegados a segundo plano, recebem salários ridículos, trabalham sob condições horríveis, perderam autoridade e só mesmo aqueles que amam o que fazem superam os obstáculos para se manter felizes na profissão. O Brasil precisa recuperar essa classe, fundamental para que o país cresça, se liberte do populismo rasteiro e abrace sua vocação empreendedora. São os professores os agentes dessa mudança e deveriam portanto ter a importância reconhecida. Nenhum político deveria ter salário maior que um professor experiente. Nenhum político deveria tratar a educação em segundo plano. Ponto.
É justo que os professores reclamem, é justo que sociedade se una em torno deles, é justo que todos busquemos valorizar a classe de profissionais mais importante deste país. Antes de um médico, de um engenheiro, de um advogado, de um marqueteiro, de um politico, tem sempre um professor. Sempre que vejo uma manifestação de professores pedindo por melhores condições de trabalho, salário e segurança, me solidarizo com eles.
Estou com os professores e não abro. Tá entendido?
Forma: os professores brasileiros, assim como diversas outras classes profissionais como metalúrgicos, metroviários, profissionais da saúde, há muito são usados pelo sindicalismo de conveniência. Gente especializada em baderna é infiltrada nas manifestações, provocando os confrontos. Buscam um cadáver. Até o momento só conseguiram um, o cinegrafista da Bandeirantes, mas esse não serve. É um cadáver do lado errado.
Quem são aqueles indivíduos truculentos atacando a polícia, quebrando o prédio, ameaçando as pessoas? Professores? Black blocs infiltrados? Iniciado o conflito isso não interessa mais. Sobra bala de borracha, bomba, cassetete e mordida de cachorro para todos, como vimos ontem no Paraná, em Baltimore e em Katmandu. Não defendo a truculência policial, o que quero reiterar é que não importa se o governo é de direita, esquerda ou centro, na porrada o Estado sempre ganha. E os que defendem a ideia medieval de que o sangue – sempre dos outros – é a única forma de pressionar os poderosos, sabem disso e se apoderam dos movimentos legítimos das classes para trabalhar sorrateiramente por seus projetos de poder.
Há muito aprendemos que é o resultado estético da porrada que verdadeiramente interessa aos que provocam conflitos para defender suas agendas. A quem servem as imagens poderosas da professora sangrando, do jornalista mordido, das crianças tossindo com o gás? É possível permanecer indiferente a elas? Claro que não!
Passado o conflito, as redes sociais e a imprensa se dedicam furiosamente a falar da truculência da polícia, das pobres vítimas e do perverso governador, focando naquilo que se vê.
Mas a questão está no que não se vê.
Me responda então: a quem interessa a pedagogia da porrada?
Duvido que aos professores.
