Depois de assistir pela televisão os últimos acontecimentos político-carnavalescos, dormi mal. E tive um sonho que quero compartilhar com você. Conforme eu for descrevendo, tente imaginar a cena…
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No ano passado participei de passeatas contra a corrupção na Avenida Paulista. Na primeira vez, éramos cerca de 3 mil pessoas. Na segunda, talvez umas mil. E da terceira eu nem soube. Um fiasco. Ninguém parece interessado em mobilizações contra a corrupção. Em meu sonho, um grupo decidiu recorrer a quem sabe juntar gente. E surgiu a primeira Marcha GLS-Evangélica Contra a Corrupção!
Usando o poder de mobilização daquela turma, o grupo reuniu 6 milhões de pessoas na Paulista, gritando contra a corrupção!
A ala GLS reuniu-se em frente à boate The Week e subiu a Augusta. Eram 23 trios-elétricos tendo à frente Alexandre Frota e Marta Suplicy, com o grito de guerra:
– Relaxa! E goza!
O grupo GLS entrou na Paulista e seguiu em direção ao Parque Trianon, enquanto o grupo evangélico veio lá das bandas do Jabaquara. Eram outros tantos trios elétricos entoando hinos gospel. À frente, a coligação Edir Macedo-R.R. Soares com o grito de guerra:
– Em nome! Do Senhor!
E então os dois grupos se encontraram em frente ao Masp. Sob os olhares desconfiados dos evangélicos, a turma colorida entrou em êxtase aos primeiros acordes de I will survive, com Gloria Gaynor. E metade da Paulista explodiu aos gritos de:
– Bibas! Unidas! Jamais serão vencidas!
Os líderes dos dois grupos se revezavam em discursos inflamados:
– Corrupção, que nojo! gritou Isabelita dos Patins.
– Contra a corrupção, deposite cinqüentão! suplicou o bispo Macedo.
Seis milhões de brasileiros, brasileiras e derivados unidos contra a corrupção! Mas a coisa esquentou mesmo quando uma biba reconheceu um bofe na turma de lá.
– O quêêê? Fazendo o quê desse lado, querida?
– Pastor, que é issoooo?
– Ah, sei lá. Sai desse corpo, Satanás! Ele não te pertence!
– Ai… Pertence sim. Comprei tudinho, ó…
Um pote de purpurina é arremessado na testa do pastor quando o sistema de som anuncia a chegada do senador Eduardo Suplicy para cantar Blow in the wind.
– Senador, não é Blowing?
– É. Mas fiz uma adaptação… Marta, querida! Como vai você?
– Ah, Eduardo, por enquanto tô relaxando… E você? Tá fazendo o quê aqui?
– Sou evangélico! Sou evangélico!
E então os presentes assinaram a Carta do Trianon. Um documento GLS-Evangélico pedindo o fim da corrupção, a prisão dos criminosos e a limpeza ética no Senado. Com seis milhões de assinaturas, o manifesto não passaria em branco pelo Congresso. Por iniciativa do deputado Clodovil, uma caravana com representantes dos dois grupos foi para Brasília entregar o documento em mãos para o presidente do Senado.
E foi então que aconteceu…
A caravana GLS-Evangélica encontrou uma outra caravana, do MST. Bíblias, purpurina, lantejoulas, enxadas, foices, bonés vermelhos e um empurra-empurra daqueles…
– Que é isso, tchê? disse o Stédile.
– Volta pro mar, oferenda! exclamou uma drag queen.
– O sangue do Senhor tem poder! bradou o pastor.
No plenário, um senador cabeludo interrompe o inflamado discurso de Mão Santa sobre o Senado da Roma Antiga e anuncia:
– Senhores, tá a maior muvuca lá fora! Tem um grupo de gays, lésbicas, travestis, simpatizantes, evangélicos e sem-terra aí pra falar com a gente!
Todos olham imediatamente para Renan Calheiros. E o honrado senador, fechando os olhos e fazendo biquinho, balança a cabeça como quem nega e diz:
– Abissolutamente!
E então eu acordei. Ou não ?