-Reforma? Prefiro vender a casa. É minha resposta cada vez que ouço alguém falar sobre realizar obras em casa. Fui treinado nesse calvário. Pelos melhores. Pedreiros, encanadores, eletricistas, telhadistas, pintores, gesseiros, jardineiros… Capitaneados por um empreiteiro. Todos inteligentes enganadores, que prometiam e jamais cumpriam. Mas cobravam direitinho. Tem uma frase que, quando ouço, me arrepia:
– Quando secar vai ficar igual, Doutor.
Tratei desse tema recentemente num outro artigo, o Foi Mal, quando publiquei um e-mail de um leitor, o Caio, que repito aqui:
Outro dia, o dono da empresa que trocou o telhado de minha casa tascou: Então, Seu Caio, desculpe alguma coisa, tá? Na hora, eu ía responder: Ué, mas se você fez algo para se desculpar, vai lá e arruma, ainda dá tempo! E ele, em vez de me pegar pelo braço e ir mostrar orgulhosamente sua obra, as qualidades, modo de usar, tecer comparações entre o prometido e o realizado etc. perpetrou o indefectível Tchau!, entrou no carro e se mandou. Aí fiquei pensando: já ouvi essa frase algumas vezes nos últimos tempos. Parece que ela está ficando comum, no Brasil, em vez de fazer o serviço direito, fazer de qualquer jeito e então pedir desculpas por alguma coisa. O profissionalismo terá mesmo ido pelo ralo? O ‘desculpe é apropriado para o feito nas coxas. Pois proponho ao Banco Central criar uma moeda flexível: um Real que valesse mais ou menos conforme a qualidade do serviço a ser pago. Essa moeda de escala flexível funcionaria assim: um serviço impecável você pagaria com um Real A bom, firme. Um serviço mais ou menos você paga com o Real B que só dá para comprar 1/3 ou metade das coisas com ele. Seria legal, não? A moeda corresponde à qualidade do serviço a pagar. Talvez assim conseguíssemos realizar algo muito simples: cumprir e pagar conforme o contrato firmado.
Naquele artigo, o Foi Mal, achei a idéia do Caio interessante! O Real de merda para pagar serviços de merda…
Pois fui adiante, evoluindo a idéia do Real flutuante. Vou mandar uma proposta para uns políticos, com uma sugestão de mudança na moeda.
Teremos uma moeda e uma moerda.
A moeda é o Real, que continua como está. E a moerda é o tal real flutuante, que vale uma fração do Real normal. Mas que não pode chamar-se real flutuante. Não orna. Fui então pesquisar um nome para a moerda: algo que promete uma coisa, entrega outra fora das características, inventa uma desculpa e se manda. E depois aparece de novo, com a cara lavada, pra prometer outra vez e entregar tudo torto. E sempre se dá bem.
Pesquisei, perguntei, comparei e achei! O nome da nova moerda será: Inácio.
Inácio vem do latim ardente, fogoso e indica uma pessoa vivaz e inteligente, que em geral amadurece com as dificuldades. Supera com bom humor e perseverança os obstáculos e acaba obtendo grandes êxitos.
Perfeito. Descreve direitinho aquele empreiteiro de moral torta que me enganou na reforma da casa.
O nome da moerda será Inácio. Você combina o valor do serviço. Se tudo estiver conforme o acordado, paga em Reais. Mas se o sujeito entregar diferente do que prometeu , paga em Inácios. Os Inácios sempre valerão uma fração do Real, variando de tempos em tempos conforme o índice FHC, Fator de Honra e Credibilidade, definido pelo partido que estiver na oposição.
A moerda será identificada como RI$.
Aqueles deputados e senadores que vendem seus votos passarão a receber os salários em Inácios. O apresentador de televisão que promete cultura e entrega lixo, receberá em Inácios. Os jogadores do Corinthians receberão em Inácios. Os shows daqueles pagodeiros de plástico serão pagos em Inácios. Passagens aéreas? Inácios. Telefonia celular? Inácios. Aquele depósito em nome do Senhor? Inácios.
Sabe qual é o perigo? É que o Inácio, nascido para ser a exceção, em pouco tempo transforme-se em regra. E todo mundo vai se acostumar. E o padrão baixa de vez para Inácios.
Em vez de ser do Real, o Brasil será o país do Inácio.
Pô… Pensei que eu estava criando uma novidade…