Em minha palestra “”O Meu Everest””descrevo tudo que precisei fazer para realizar o sonho de minha vida: chegar o mais próximo possível da maior montanha do mundo.
Começo a palestra falando de minha infância em Bauru, em 1963, e dos sonhos de uma criança com seis anos de idade. Depois vou caminhando pelo tempo, contando da fascinação pelos aventureiros, do encontro com o Everest ao assistir um documentário e do processo de pesquisa, descobertas e preparação para a viagem da minha vida.
É uma história divertida e repleta de lições, que tem seu ponto culminante o momento em que depois de nove dias de caminhada chego aos 5.350 metros de altura do Campo Base do Everest. Uma vitória.
Então apresento uma série de fotos do acampamento e brinco com a platéia:
– Ao ver essas fotos vocês provavelmente me farão uma pergunta: É isso? O que é que tem lá?
– Pedras.
– O que mais?
– Gelo!
– Dá pra ver o Everest?
– Não!
– Como assim? Você saiu da sua casa, foi pro fim do mundo, correu risco de vida, passou frio pra ver uma pedreira? Você é maluco?
As pessoas não entendem… O Campo Base do Everest tinha muito pouco a oferecer. Na verdade ele serviu mesmo foi para apontar a direção, para ajudar a calcular quanto tempo levaria a caminhada. Ele possibilitou que eu fizesse um plano. O Campo Base era a materialização de meu sonho. Mas as pessoas pensam que fui para lá por causa dele. Não fui.
Minha viagem começou em 1963 e só vai terminar quando eu morrer. Tudo que aconteceu antes, durante e depois é o que realmente importa. O meu Everest é um processo de transformação, que me fez uma pessoa diferente. O Campo Base era só um detalhe. Mas é só o que a maioria das pessoas consegue ver…
Bem, conquistamos o direito de organizar a Olimpíada de 2016 no Brasil. Pessoalmente acho que temos outras prioridades nas quais aplicar os milhões que o evento exigirá, mas o que está feito, está feito e fiquei feliz.
Agora é fazer direito.
Minha preocupação à parte as questões da corrupção, incompetência, intenções eleitoreiras e conchavos é que os responsáveis tratem a Olimpíada como as pessoas tratam a minha viagem: de olho apenas no objetivo tangível.
Organizar a Olimpíada exigirá um grau de profissionalismo como raramente demonstramos antes, mas daremos um jeito. O importante é que os jogos não podem ser vistos apenas como os jogos. Tudo que acontecerá até, durante e depois deles é o que importa. Os jogos em si serão apenas um detalhe se quisermos que a Olimpíada seja realmente um ponto de inflexão na curva de amadurecimento do Brasil.
Mas será que a turma do curto prazo tratará os jogos como um fim, não como um processo? Focará na construção de obras sem planejar sua sustentabilidade? Usará os atletas, descartando-os em seguida até a próxima Olimpíada?
Será que no dia seguinte o Brasil tirará a fantasia e voltará ao que era antes?
Se assim for, não teremos aprendido nada. Perderemos a oportunidade de usar a Olimpíada para transformar o Brasil. Como aconteceu no Pan do Rio, apenas mostraremos ao mundo que somos bons de festa.
Isso é muito pouco.