Durante 26 anos, fui CLT. Terno, crachá, sala com ar-condicionado e reuniões, reuniões e mais reuniões numa multinacional de autopeças, a Dana, que foi uma escola profissional maravilhosa onde eu dava palestras, fechava contratos, gerenciava equipes. Era respeitado, ouvido. Sabia os atalhos da máquina, falava a língua dos engravatados e, o mais perigoso de tudo: estava confortável.
Mas chega um momento da vida em que o conforto vira armadilha. E a experiência, que antes abria portas, começa a fechá-las. Porque o mercado — esse bicho que todo mundo tenta domar — gosta do novo, do rápido, do jovem que topa tudo por meia dúzia de moedas. O veterano? “Ah, esse aí já tem vícios, cobra caro, não se adapta.”
Aos 45 anos tomei uma decisão maluca: tirei 30 dias de férias e fui para o Campo Base do Everest.

Uma aventura inusitada, que me colocou diante de desafios que eu jamais pensara enfrentar. Foi libertador. E uma oportunidade única para um mergulho dentro de mim: um profissional experiente, há 20 anos na mesma empresa e que ainda não havia encontrado seu propósito.
Na volta da viagem, minha decisão estava tomada: eu trabalharia uma transição, para um dia sair da empresa e retomar um sonho antigo: ser cartunista e escritor. Coloquei um objetivo de sair em 4 anos. Levou 8…
Aos 52 anos, chegou a hora da escolha que parecia absurda: continuar sendo parte de uma engrenagem previsível — com salário pingando todo mês, plano de saúde, carro da empresa — ou jogar tudo para o alto e me lançar no escuro.
Escolhi o escuro. E nunca me senti tão vivo.
O que ninguém te conta sobre recomeçar depois dos 50
Transição de carreira depois de décadas no mercado não é como mudar de roupa. É como trocar de pele. Dói. Coça. Dá medo. Você tem contas para pagar, filhos para formar, pais para cuidar. E o mundo, que um dia parecia sedento pela sua experiência, agora te olha com desconfiança. “Será que esse aí ainda dá no tranco?”
Dá. Mas provavelmente não com o mesmo motor.
O que me moveu naquela virada não foi uma planilha de prós e contras. Foi uma inquietação que cresceu por anos até se tornar insuportável. A sensação de estar apenas “cumprindo tabela”. De entrar no piloto automático. De ver a vida passando, sabendo que eu podia mais, muito mais.
A viagem ao Everest provou que eu era capaz de performar em ambientes completamente fora do meu controle.
A gambiarra das ferramentas — e a falta de um caminho
De olho na mudança futura, fui buscar ferramentas. Fiz cursos. Li livros. Baixei modelos. Usei Trello, Notion, Google Docs, LinkedIn, Canva… uma colcha de retalhos tentando tapar um buraco que era muito mais profundo: o buraco da identidade.
Eu não precisava de um currículo novo. Eu precisava de uma nova narrativa. Eu tomara a decisão de não buscar um emprego em outra grande empresa, mas de me dedicar à minha própria empresa. Deixei a CLT para me transformar num empreendedor. No Brasil. Na área de produção de conteúdo… eu devo ser louco.
E veio o dilema da identidade, coisa que não se encontra no YouTube.
É aí que a maioria dos profissionais experientes tropeça: acham que vão “pivotar” a carreira do mesmo jeito que faziam um projeto na empresa. Com cronograma, escopo, entrega. Mas a transição de verdade não é uma tarefa. É uma travessia. E não se faz sozinho.
Experiência não é bagagem — é combustível
Muita gente com 20, 30 anos de mercado me procura dizendo: “Luciano, acho que minha experiência já não vale mais nada”. E eu digo: depende.
Se você continuar tentando encaixar sua história em vagas que pedem “perfil dinâmico, fluente em inglês e disposto a mudar de cidade a qualquer momento”, sua experiência vai pesar. Vai ser vista como resistência, custo, problema.
Mas se você parar de tentar “voltar pro jogo” e começar a criar o seu próprio — aí a experiência vira ouro. É ela que te permite enxergar padrões, antecipar crises, ler o não dito, tomar decisões sem pânico. É ela que te dá estofo para liderar, para formar, para inspirar.
A diferença? Liderar o próprio caminho, e não implorar por um espaço no dos outros.
Vou repetir: Liderar o próprio caminho, e não implorar por um espaço no dos outros.
Aprendi uma lição valiosa com Olavo de Carvalho: espaço a gente abre com os cotovelos…
E com Peter Drucker aprendi que a carreira é uma ferramenta, e não uma identidade.
Quando tudo virou real
Lembro do dia em que entreguei meu crachá. Saí do prédio, entrei no carro e dei um suspiro. De alívio, de medo, de gratidão. Era como se eu estivesse pulando de um trampolim sem saber se havia água na piscina. Mas intimamente eu sabia que havia.
O ano era 2008. Redes sociais, smartphones, ChatGPT e outras maravilhas eram apenas viagens de futurólogos. Montei minha editora, aluguei um predinho em Alphaville, contratei uma equipe e caí no mundo. Lancei três livros, mergulhei nas palestras e comecei a construir um projeto que tinha tudo para dar certo. Era abril de 2008. Cinco meses depois, em setembro, veio a Crise do Subprime. E o mundo acabou…
Parou a contratação de palestras, parou a publicação de livros, parou o mercado. E vi meu plano ir por água abaixo. Por dois anos eu praticamente paguei para trabalhar, acreditando no meu sonho.
Desfiz a estrutura da editora, dispensei funcionários e mudei completamente o meu modelo de negócios. Passei a ser a banda de um homem só. Pequeno, flexível, ágil e com capacidade de adaptação que uma empresa com colaboradores não teria.
E assim sobrevivi às crises pós 2008.
Hoje, chegando perto dos 20 anos como empreendedor, vivo da minha voz, das minhas ideias, da minha história. Não tenho chefe, não tenho segurança. Mas tenho algo que vale mais: tenho direção. E a certeza absoluta que estou cumprindo meu propósito.
E você, vai esperar mais quanto tempo?
Peter Drucker, o papa da gestão moderna, uma vez disse:
“Aqui estou eu, com 58 anos, e ainda não sei o que vou ser quando crescer.”
É isso mesmo. O homem que aconselhou líderes globais, fundadores de multinacionais e pensadores do século XX, não tinha um plano de carreira fechado aos 58. E isso não era insegurança — era sabedoria.
Para Drucker, a carreira não é um destino, é um laboratório. A única maneira real de descobrir o que se quer é criando o próprio trabalho, não tentando se encaixar em uma vaga pronta. “Ninguém digno do seu sal entra num cargo que já existia”, ele dizia. As pessoas mais potentes criam os próprios espaços — às vezes dentro de empresas, às vezes fora delas.
Ele acreditava que a primeira escolha de carreira quase nunca é a certa. Segundo ele, se você acha que acertou de primeira, provavelmente está apenas acomodado. Transições não são falhas — são correções de rota naturais para quem está em movimento.
E Drucker também desmistificava a ideia de que precisamos de diplomas, certificados ou permissões para mudar. O que falta, para a maioria das pessoas aos 45, 50, 60 anos, não é competência — é coragem. Coragem de admitir que querem mais. E de dar o passo.
Aos olhos dele, a maturidade é o melhor momento para começar uma nova fase. “Seis meses depois de aceitarem uma nova missão, essas pessoas parecem 20 anos mais jovens”, disse. Elas recuperam a energia, o brilho nos olhos, a vontade de contribuir.
E isso só acontece porque param de perguntar: “onde me encaixo?” e passam a perguntar: “o que quero construir?”
Talvez o maior presente que Drucker nos deixou foi este:
“A pergunta certa para uma nova carreira não é: ‘Isso aqui é seguro?’
A pergunta certa é: ‘Isso aqui vai me ensinar algo nos próximos dois anos? Vai me deixar vivo?’”
O mercado não vai te resgatar
Se você tem 45, 50, 60 anos e sente que sua carreira virou um repeteco sem propósito — como se estivesse vivendo no modo automático, dia após dia — talvez seja hora de encarar uma verdade incômoda: o mercado não vai te resgatar.
Ele está ocupado demais caçando tendências e celebrando juventudes performáticas no LinkedIn. Ou colocando todas as fichas numa Inteligência Artificial.
Mas isso não significa que o jogo acabou. Significa que o jogo mudou. E que está nas suas mãos construir uma nova trajetória, que parta de quem você é, e não do que o mercado espera.
Depois de conversar com muitos leitores, seguidores e clientes acabei criando uma mentoria chamada Transição Antifrágil. Não é coaching motivacional, nem fórmula mágica. É um processo de reconstrução que começa dentro: com clareza, identidade, repertório, escolhas. Um mergulho para quem tem bagagem demais para aceitar qualquer promessa vazia. Uma introspecção que trata de coisas óbvias, mas que pouca gente faz:
Aquele inventário honesto de quem você é. Comece olhando para dentro. Quais valores são inegociáveis? Que tipo de trabalho te deixa vivo? Você gosta de rotina ou de caos criativo? Gosta de resolver crises ou evitá-las com planejamento? Como dizia Peter Drucker: “Você precisa saber como você realmente funciona.”
Experiência não vale nada se não for comunicada com clareza. Organize suas conquistas, aprendizados, cases e até fracassos em uma narrativa coerente. Crie um portfólio vivo da sua trajetória — e não um currículo pasteurizado.
Você não precisa largar tudo de uma vez. Faça experimentos paralelos: ofereça uma consultoria pontual, crie um conteúdo, teste um projeto. Transição não é salto no escuro — é construção de ponte, degrau por degrau.
As empresas não contratam “idades” — contratam valor. Mostre como sua bagagem resolve dores reais. Você não é um ex-CLT tentando voltar pro jogo: é alguém com profundidade, visão estratégica e maturidade emocional que sabe exatamente o que pode oferecer.
Converse com pessoas que já fizeram uma virada parecida. Busque mentores, grupos, comunidades. A jornada é solitária, mas não precisa ser isolada. E aprender com os erros dos outros é um baita atalho. E é aí que eu posso ajudar. Não sou guru. Sou alguém que, como já dito, aos 52 anos, deixou pra trás 26 anos de CLT pra viver com mais autoria — e que hoje guia outros que estão cansados de apenas sobreviver em cargos de prestígio e salários sem alma.

Existe, sim, vida inteligente — e abundante — depois do crachá. Mas ela exige coragem.
Coragem pra sair do conforto. Pra abrir mão da previsibilidade. Pra encarar o vazio da liberdade e, a partir dele, criar algo verdadeiro.
Peter Drucker diria que a probabilidade de você ter acertado na carreira logo na primeira escolha é de uma em um milhão. E que se você insiste que acertou de primeira, talvez esteja apenas acomodado. Ele diria que transições não são exceção: são parte da evolução.
A pergunta que importa agora não é sobre currículo, networking ou posicionamento.
É uma só:
Você está pronto para parar de sobreviver — e começar a viver de verdade, com a experiência que tem e o propósito que te move?
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