Café Brasil 1004 – Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lô, Sí, Dó

De noite ou de dia….no asfalto ou na terra, quem garante o conforto e a estabilidade é a suspensão.

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Cada curva, cada viagem, cada buraco suavizados por quem entende de suspensão há mais de 70 anos. 

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Três palavras que definem Nakata: Nakata, pode contar!

No meio do caminho tinha uma esquina,
tinha uma esquina no meio do caminho.
Tinha uma esquina 
no meio do caminho tinha uma esquina.
Nunca me esquecerei desse acorde,
nessa curva onde a vida muda o tom.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma esquina,
tinha uma esquina no meio do caminho,
no meio do caminho tinha uma canção.

Menino das Nuvens
Menino, teu som vem do alto,
feito vento nas cordas do sol.
Teu canto é trilho sem mapa,
é casa sem muro, é pólen e pó.

Das janelas de Minas te vejo,
violão em punho, azul no olhar.
Quem ouve teu trem entende o tempo,
quem cala contigo aprende a amar.

E quando a tarde se dobra em silêncio,
tua voz acende o chão —
porque há uma esquina em cada coração
e em cada esquina, uma canção.

No dia 2 de novembro de 2025, Salomão Borges Filho, o Lô, o Lô Borges, saiu da esquina para entrar para a história. Eu não sei você, mas eu chorei lágrimas de Minas. O Lô compôs parte da trilha sonora da minha vida. Este episódio é uma homenagem a ele.

Bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

Lô Borges é uma anomalia musical. Um artista que cria harmonias tão complexas quanto as de um jazzista formado numa academia. Só que Lô nunca aprendeu a ler uma partitura. Ele não sabia teoria formal, mas sabia ouvir o mundo. Tocava de ouvido, de alma, de instinto. E é justamente por isso que suas canções parecem escapar da lógica e entrar no terreno da intuição pura, onde som e emoção se confundem.

Lô Borges nasceu em Belo Horizonte, em 1952, e desde muito jovem revelou um talento musical instintivo. Filho do meio de uma família com 11 crianças, sem formação teórica, compunha de ouvido, guiado por uma sensibilidade rara. Aos 18 anos, tornou-se um dos pilares do Clube da Esquina, movimento que uniu rock, jazz, bossa nova e a alma mineira em novas formas sonoras. Várias de suas composições tinham letra de seu irmão Márcio Borges, o poeta do grupo.

Em 1972, lançou seu primeiro disco solo — o lendário “disco do tênis” — e coassinou com Milton Nascimento o clássico Clube da Esquina. Suas composições, como “Paisagem da Janela”, “O Trem Azul” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, tornaram-se hinos da música brasileira. Ícone da autenticidade e da criação intuitiva, Lô Borges é reverenciado por artistas no Brasil e no exterior, símbolo do gênio que cria sem fórmulas, apenas com verdade e alma.

Há quem diga que Lô tinha um ouvido absoluto “emocional”. Ele não identificava notas, ele identificava estados de espírito. Onde um músico acadêmico enxerga acordes, ele sentia atmosferas. Quando compunha, não estava organizando sons, mas pintando sentimentos.

Seus acordes não seguem a progressão esperada — e é exatamente por isso que encantam. São notas que, na teoria, poderiam soar dissonantes, mas na prática criam um universo harmônico novo, de beleza inclassificável. Como disse o pianista e pesquisador Mário Adnet, “as harmonias de Lô soam como se tivessem sido descobertas e não inventadas.”

O Clube da Esquina, coletivo do qual Lô foi pilar, é um dos raros momentos na música mundial em que um grupo regional alcança o universal. Era o som de Minas Gerais — montanhas, neblina, introspecção — filtrado por uma geração que cresceu ouvindo Beatles, jazz e bossa nova.

E é nesse caldeirão que Lô se torna um alquimista. Ele pega a influência harmônica dos Beatles — especialmente a fase psicodélica de Abbey Road e Revolver — e a mistura com o lirismo modal de Debussy e o tempero melódico da MPB. O resultado? Uma linguagem harmônica híbrida, onde cada acorde parece conter uma história.

Paisagem na janela
Lô Borges
Fernando Brant

Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um voo pássaro
Vejo uma grade, um velho sinal
Mensageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal
Você não escutou
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Eu apenas era
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical
Cavaleiro marginal, banhado em ribeirão
Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Quando olhava da janela lateral
Do quarto de dormir
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Um cavaleiro marginal, banhado em ribeirão
Você não quer acreditar

Em “Paisagem da Janela”, por exemplo, o jogo entre acordes maiores e menores cria uma sensação de ambiguidade emocional. A canção é, ao mesmo tempo, alegre e triste — uma janela aberta para dentro. É o tipo de composição que dialoga mais com o imaginário do ouvinte do que com sua razão.

Essa alternância entre modos maior e menor, típica da escola impressionista, é um recurso que Debussy usava para pintar paisagens sonoras. Lô faz o mesmo, mas com sotaque mineiro. Se Debussy tinha o mar da Normandia, Lô tem o sol filtrado pela neblina da serra do Curral.

O Trem Azul
Lô Borges
Ronaldo Bastos

Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem às vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento, não se cansam de voar

Você pega o trem azul
O Sol na cabeça
O Sol pega o trem azul
Você na cabeça
O Sol na cabeça

Olha que delícia: essa é o Trem azul. A genialidade harmônica de Lô atinge aqui um nível quase cinematográfico. A canção começa em tom menor, melancólica, mas vai mudando de cor — modulando suavemente — como se o próprio trem do título se deslocasse entre estações emocionais.

As mudanças não seguem o padrão de progressão II-V-I do jazz, nem a cadência da bossa. São desvios inesperados que criam movimento interno. A sensação é de que a música anda sozinha, guiada por trilhos invisíveis.

Há um contracanto do baixo que lembra Paul McCartney em “Something” ou “Dear Prudence”, mas o clima é outro: mineiro, contemplativo, quase espiritual. Milton Nascimento dizia que Lô “achava acordes que ninguém sabia nomear” — e essa talvez seja a melhor definição de seu talento: ele habita regiões que a teoria ainda não mapeou.

Um girassol da cor do seu cabelo
Lô Borges
Márcio Borges

Vento solar e estrelas do mar
A terra azul da cor do seu vestido
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo
Se eu cantar, não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?
Sol, girassol, verde, vento solar
Você ainda quer morar comigo
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol da cor de seu cabelo
Se eu morrer, não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem?
Ou será que é tarde demais?
O meu pensamento tem a cor de seu vestido
Ou um girassol que tem a cor de seu cabelo?

Em “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, Lô alcança o ponto máximo da síntese entre intuição e forma. O arpejo inicial do violão cria a sensação de luz se abrindo. A melodia não repousa: ela flutua, ascende, se curva — como se o próprio girassol girasse em busca de sentido.

Harmonicamente, é um exemplo notável de como alternar entre tonalidades aparentadas para produzir emoção. Há notas de passagem que dão um leve sabor de tristeza, como uma sombra rápida sobre um dia claro. É a melancolia solar, marca registrada de Lô Borges.

Essa capacidade de fundir sentimento e estrutura  coloca Lô na linhagem dos compositores que transcendem a técnica. Assim como Tom Jobim traduziu o balanço da natureza em acordes, Lô traduziu o espírito mineiro — introspectivo, espiritual, ambíguo — em música.

A beleza de Lô está no entremeio: entre o rock e o regional, entre o erudito e o popular, entre o racional e o intuitivo. Suas músicas não se resolvem facilmente — e é por isso que ficam.

Ele descobriu, talvez sem saber, o segredo da arte moderna: o poder do inacabado. Suas canções terminam com a sensação de que alguma coisa ficou em suspenso, de que ainda há uma nota por tocar. E é nessa falta que mora a eternidade.

Meu filme
Lô Borges

E se eu fosse ao cinema
E numa tarde amena, eu te encontrasse lá
Minha vida en passant
Talvez em Sampa, sol a iluminar
E se eu te dissesse
Então, levei a vida em vão
No escuro sem você
Passa um filme, um cara morre
E nem me ocorre te dizer
Tudo passa, tudo escapa
Nosso amor, nosso mapa
Tudo passa, tudo esconde
Mas o amor sabe aonde, oh-oh, oh
A beleza está por perto
E a cidade, é certo, ainda vai rachar
Minha dor está à vista
E o garagista viu você voltar
Quando eu canto, não há drama
Nem a mera fama pode me atrair
O relógio já bateu
E eu perdido por aí
Tudo passa, tudo escapa
Nosso amor, nosso mapa
Tudo passa, tudo esconde
Mas o amor sabe aonde
Tudo passa, tudo esconde
Mas o amor, sim, sabe aonde
Qual anjo protegerá
Um cara que não dá a braço a anjo algum?
A vegetação insiste
A folha, o sol em riste, o bem comum
Não me diga adeus, ó, não
Fugir da solidão já vai valer pra mim
Minha vida sem você
É esse filme tão ruim
Tudo passa, tudo escapa
Nosso amor, nosso mapa
Tudo passa, tudo esconde
Mas o amor sabe aonde

Olá Luciano Pires, eu sou o Gilmar Esteves, tenho 41 anos, sou da Praia Grande do litoral de São Paulo.

Eu te ouço já há algum tempo e hoje escutei o último podcast lançado que foi sobre terrorismo intelectual. E refleti sobre algumas coisas e faço bastante isso nos seus podcasts.

Eu sou um ex-militar, larguei cedo o militarismo com vinte e poucos anos ainda e fui estudar, fiz meu mestrado, fiz meu doutorado na área das ciências da saúde e hoje sou um acadêmico de ensino superior.

Tô noivo, recentemente, de uma mulher que eu amo e que tem algumas opiniões distintas da minha. Eu me considero uma ideologia mais de direita e ela mais de esquerda.

E em alguns momentos a gente tem alguns debates em casa, mas nada muito acalorado porque a gente se respeita bastante e mesmo tendo algumas opiniões distintas. Assim como eu tenho com você também, em alguns momentos eu até pauso o podcast para refletir, porque você trabalha muito com evidências e eu como cientista e professor eu gosto disso nos seus podcasts.

Mas em alguns momentos você dá a sua opinião e eu paro para refletir um pouco e você fala bastante sobre opinião nesse último podcast. E por mais que eu discorde de você em alguns momentos, eu entendo que a sua opinião vale e que você tem uma certa experiência para dizer aquilo que você está refletindo ou absorvendo do seu conhecimento a partir dos seus estudos para produzir os podcasts, então por mais que eu discorde, eu tento entender o teu raciocínio.

Então, eu falo às vezes para os meus alunos que como professor e cientista, a gente precisa estar aberto a opiniões distintas, a gente precisa estar aberto ao debate, porque se a gente se fechar, fica uma via só.

Então, obrigado pelos seus podcasts, compartilho sempre que posso e o próximo passo talvez é também se tornar um assinante. Obrigado Luciano, obrigado toda a equipe, um grande abraço.”

Grande Gilmar, seu comentário é um respiro num tempo de intolerância. Como ex-militar e professor, você mostra que é possível discordar sem romper. Em vez de reagir, pausa para pensar — e entende que opiniões diferentes não ameaçam, enriquecem. Você percebe a diferença entre fato e juízo, ciência e reflexão, e valoriza o diálogo verdadeiro. Em tempos de certezas agressivas, o Gilmar lembra que respeitar e pensar já é uma forma de assinatura no Café Brasil. Muito obrigado, meu caro!

O comentário do ouvinte é patrocinado pela Vinho 24 Horas.

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Há artistas que brilham como fogos de artifício — um espetáculo rápido, intenso, que se apaga em segundos. E há aqueles que brilham como o sol de Lô Borges: silenciosos, constantes, retornando a cada geração com a mesma luz.

A música de Lô não envelhece porque não pertence a um tempo. Ela pertence a um estado de espírito.

Você fica melhor assim
Lô Borges
Tavinho Moura

Você fica bem melhor assim
Até o fim da semana que entra
Pelo mês adentro colorindo
O espaço em branco que ficou desde dezembro
Você fica bem melhor assim
Até o fim da semana que entra
Pelo mês adentro colorindo
O espaço em branco que ficou desde dezembro
Pise no sol da manhã
Nunca depois do jantar
Limpe o sangue das mãos
Você fica bem melhor como está
Pise no sol da manhã
Nunca depois do jantar
Limpe o sangue das mãos
Você fica bem melhor como está

Essa é a marca de Lô: suas músicas não emocionam pela letra, mas pela arquitetura invisível entre notas. Ele fala com o subconsciente. É como se suas harmonias tocassem uma memória coletiva de beleza — algo que o filósofo Bachelard chamaria de “a poética do espaço interno”: a casa, a montanha, a infância, o lugar do silêncio.

Clube da Esquina Nº 2
Milton Nascimento
Lô Borges
Márcio Borges

Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania

Nem lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo
(Asso, asso, asso, asso, asso, asso, asso, asso)

Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem

Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos
Calmos, calmos, calmos

E lá se vai
Mais um dia

E basta contar compasso
Basta contar consigo
Que a chama não tem pavio

De tudo se faz canção
E o coração na curva
De um rio, rio, rio, rio, rio, rio

E lá se vai
Mais um dia

E lá se vai
Mais um dia

E o rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio-fio

Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente
Gente, gente, gente, gente, gente, gente
Gente, gente, gente, gente, gente, gente

E lá se vai

Aaahhhhh…. Clube da Esquina nr. 2…

A história dessa canção começa com Lô Borges, então um garoto de 19 anos, sentado com seu violão no quintal da casa dos pais, em Belo Horizonte. Ele criou uma sequência harmônica livre, sem estrutura convencional — acordes abertos, modulações inesperadas, dissonâncias suaves. Era pura intuição.

E aí chega Milton Nascimento que vai contar o que aconteceu na área aqui exclusiva pra membros, no conteúdo exclusivo pra membros.

Olha só: Márcio Borges, irmão de Lô e poeta do grupo, colocou palavras naquela canção e virou isso: Clube da Esquina nº 2: a saudade do que ainda nem aconteceu, a beleza do que está por vir.

Nos últimos anos, algo curioso aconteceu: os jovens redescobriram Lô Borges.

Artistas como Tim Bernardes, Rubel, Duda Brack, Bala Desejo, Ana Frango Elétrico e Maria Gadú citam abertamente o mineiro como referência. E não é só pela sonoridade, mas pela atitude estética — essa recusa em seguir o formato, essa pureza quase infantil de quem cria por prazer, não por estratégia.

Em entrevistas, Tim Bernardes contou que chorou ao ouvir “Paisagem da Janela” pela primeira vez, sem saber explicar o por quê.

O caçador
Lô Borges
Márcio Borges

No fim da noite
Eu escuto o caçador
Com seu revólver
Apontado para a lua
Ou meu cabelo
Preciso me esconder
Na tempestade ou no chão
Sei que ele vem me procurar

Não tenho medo
Eu só quero ir em paz
Com minha sombra
Eu só quero aquela lua
No fim da rua
Não deixe o caçador
Mirar em cima de você
Ele quer achar seu coração

Talvez o caçador
Não tenha tempo de atirar
Quando de repente amanhecer

A nova geração encontra em Lô Borges o antídoto para a pressa contemporânea.

Num mundo obcecado por algoritmos, ele representa o gesto analógico, o improviso, o erro bonito.

Se a indústria da música é um trem-bala, Lô continua sendo o Trem Azul — vagaroso, contemplativo, levando o passageiro a paisagens que só se veem quando se viaja devagar.

Vento De Maio
Lô Borges
Márcio Borges

Vento de maio, rainha de raio, estrela cadente
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais pra voltar atrás
Rainha de maio, valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim, meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás

Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais

Rainha de maio, valeu o teu pique
Apenas para chover

Nisso, eu escuto no rádio do carro a nossa canção
Sol, girassol e meus olhos abertos pra outra emoção
E quase que eu me esqueci que o tempo não para nem vai esperar

Vento de maio, rainha dos raios de Sol
Vá no teu pique, estrela cadente, até nunca mais
Não te maltrates nem tente voltar o que não tem mais vez
Nem lembro o teu nome, nem sei
Estrela qualquer lá no fundo do mar

Rainha de maio, valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique

Depois da explosão criativa do Clube da Esquina (1972) e do seu “disco do tênis”, Lô Borges ficou alguns anos afastado dos palcos e dos estúdios.

Ele se recolheu — esgotado, introspectivo, mas ainda em permanente ebulição criativa.

Quando voltou, com o álbum A Via-Láctea, trouxe um som mais maduro, mais pop, mas ainda impregnado daquela atmosfera mineira de melancolia e esperança.

Cara, eu furei esse disco de tanto tocar…

É ali que surge “Vento de Maio”, uma canção que parece um sopro de renovação.

Mais que uma canção, Vento de Maio é um estado de alma.

Escutá-la é como estar num domingo claro, em Belo Horizonte, vendo folhas dançarem na calçada e pensando na vida sem pressa.

É o Lô mais pleno, reconciliado com o tempo, transformando a simplicidade em transcendência.

E a redescoberta de Lô não ficou restrita ao Brasil não.

Björk, em uma entrevista de 2019, citou o “disco do tênis” como uma das obras que mais a impactaram pela textura e liberdade harmônica. O Arctic Monkeys, em Tranquility Base Hotel & Casino, carrega ecos da melancolia espacial mineira.

Críticos internacionais, como Andy Beta (Pitchfork), definem o álbum Clube da Esquina como “um Sgt. Pepper’s gravado no interior do Brasil”. E há verdade nisso — mas com uma diferença essencial: o disco dos Beatles era sobre imaginação; o de Lô e Milton era sobre transcendência.

Sempre Viva
Lô Borges

Isto não se apaga como a vela
Nem ao menos se dispersa qual vento dos corações
Já estava bem preparado no ventre de toda mulher
Já escrito assim na parede das celas, das praças de qualquer país
Passageira chama fogo da vida
A vontade livre tudo intimida por simples ser
Vento na manhã caravana, um bicho voando no céu
Casamento de uma aranha
A dança macia dos canaviais

Toda tribo viva é bailarina
O alimento vento, fruto dos mares, rebelião

Já estava bem preparado no ventre de toda mulher
O milagre da tempestade
Veneno da rua aprendida a lição de colher
Uma fruta no chão
Isto não se apaga

Toda tribo viva é bailarina
O alimento vento, fruto dos mares, rebelião

Já estava bem preparado no ventre de toda mulher
O milagre da tempestade
Veneno da rua aprendida a lição de colher
Uma fruta no chão
Isto não se apaga

Você ouve Sempre-Viva, que é o nome de uma flor típica do cerrado mineiro — pequena, resistente, de beleza discreta, mas que nunca murcha.

Mesmo seca, mantém sua forma e cor.

Essa imagem é perfeita para traduzir o espírito dessa canção: a permanência da beleza diante do tempo, a delicadeza que resiste à passagem dos dias.

Na obra de Lô, essa metáfora funciona como uma síntese: ele, o artista das notas leves, é também aquele que sobrevive — discreto, verdadeiro, fiel à própria essência.

O que faz de Lô Borges um fenômeno permanente é sua resistência em caber em rótulos.

Não é rock, nem MPB, nem bossa, nem folk. É tudo isso e mais alguma coisa que só Minas parece produzir. Um som de montanha, de serra, de café coado em silêncio.

E talvez aí resida o segredo: enquanto o Brasil musical buscava carnaval, Lô buscava quietude.

Enquanto o mundo queria velocidade, ele oferecia pausa.

Enquanto os outros cantavam o amor, ele cantava o estado de amar — sem sujeito, sem verbo, só sentimento.

A arte de Lô é inocente sem ser ingênua. Ele cria como uma criança que ainda não foi contaminada pela ansiedade de acertar. E essa pureza é o que atrai os novos artistas: a lembrança de que o instinto é o berço da verdade criativa.

Milton Nascimento dizia que Lô “fazia música como quem respira”. E talvez esse seja o mais alto elogio que um músico possa receber.

No fim das contas, a genialidade de Lô Borges está no equilíbrio entre o divino e o cotidiano. Ele canta a janela do quarto e o cosmos ao mesmo tempo. O trem e o destino. O girassol e o sol.

Sua obra é um lembrete de que o sagrado pode estar escondido em um acorde simples de violão, se for tocado com a verdade.

E talvez seja por isso que, meio século depois, seus acordes ainda ecoam como se fossem novos.

Lô Borges não compunha músicas — ele compunha estados da alma.

E toda vez que o mundo acelera demais, alguém aperta “play” em O Trem Azul para lembrar que a vida é feita do espaço entre uma nota e outra.

Agora, se você é assinante do Café Brasil agora vem o conteúdo extra. Eu vou explicar, inclusive nas vozes de Milton e Lô, o que era o tal Clube da Esquina. Se você não é assinante, perdeu… mas não fique ansioso não. Acesse mundocafebrasil.com e torne-se um assinante.  


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Equatorial
Lô Borges
Beto Guedes
Márcio Borges

Vou dizer o que sei
Lugar sem lei que me incendeia
Ó você, meu amor, viveu sem ver
Evidente o espaço, eu sei

Nesta noite equatorial, eu vou sair outra vez
Onde morre a trilha do meu silêncio
Vou te buscar
Clara dor tropical
Lugar sem lei

Meu adeus, minha vila
Meu adeus sideral
Ninguém notou
Nesta noite, nasceu meu pai

Pelo dia equatorial
Eu vou sair outra vez
Onde morre a trilha do meu silêncio
Vou te buscar
Nesta noite equatorial
Eu vou sair outra vez
Onde morre a trilha do meu silêncio
Vou te buscar

No meio do mundo, há uma linha invisível que separa o norte do sul.

Mas se você ficar ali, bem em cima dela… percebe que não há separação nenhuma. É só o mesmo chão. O mesmo sol. A mesma respiração.

Lô Borges nasceu nesse ponto — não no mapa, mas na alma.

A alma equatorial.

Entre a calma e o arrepio, entre o céu de Minas e o rumor do mundo.

Ele não escreve canções: ele deixa que elas passem por ele, como o vento quente que atravessa uma montanha e sai do outro lado carregando música.

“Equatorial” não fala do lugar — fala do estado. O instante em que o calor do sonho e a brisa da dúvida se encontram. Onde o menino de tênis, sem saber o que era harmonia, acertou em cheio o coração de quem veio depois.

É ali, nesse ponto de equilíbrio entre luz e sombra, que a arte de Lô Borges acontece.

No equador da emoção.

Hoje, a gente atravessa essa linha imaginária. Entre o que sentimos e o que ainda não sabemos sentir. Entre a razão e a música. Entre o norte e o sul de nós mesmos.

Bem-vindo ao lado equatorial da alma.

Tudo o que você podia ser
Lô Borges
Márcio Borges

Com Sol e chuva
Você sonhava, que ia ser melhor depois
Você queria ser o grande herói das estradas
Tudo que você queria ser

Sei um segredo
Você tem medo, só pensa agora em voltar
Não fala mais na bota e no anel de Zapata
Tudo que você devia ser, sem medo

Não se lembra mais de mim
Você não quis deixar que eu falasse de tudo
Tudo que você podia ser, na estrada

Ah! Sol e chuva na sua estrada
Mas não importa não faz mal
Você ainda pensa e é melhor do que nada
Tudo que você consegue ser, ou nada

Não importa não faz mal
Você ainda pensa e é melhor do que nada
Tudo que você consegue ser ou nada

Em 1972, em parceria com seu amigo/irmão Milton Nascimento, Lô lança o disco clássico Clube Da Esquina, que muitos consideram o mais importante disco da música popular brasileira.

Logo na primeira faixa do álbum, Tudo que Você Queria Ser, o ouvinte é lançado num território novo. A canção nasceu quando Lô tinha apenas 19 anos, e já trazia sua assinatura harmônica única — acordes abertos, melodias não lineares e uma emoção que oscilava entre esperança e melancolia.

Márcio, o letrista, traduziu em palavras a inquietação de uma geração que queria descobrir o mundo e o próprio destino, em pleno regime militar.

O título — Tudo Que Você Podia Ser — não é sobre o que falta ser, mas sobre o potencial contido no ser humano. É um convite à coragem de viver o que se é, sem medo.

Há uma juventude implícita ali — a mesma dos garotos mineiros que, em meio à repressão, sonhavam com um país livre, um mundo possível. Mas também existe algo universal: o impulso de quem está prestes a sair de casa pela primeira vez e sente o frio na barriga da vida real.

“Tudo Que Você Podia Ser” é uma canção de libertação.

Em tempos de censura e medo, ela dizia: vá, experimente, ouse, seja!

É o oposto da resignação. É a fé no potencial humano, cantada com a doçura de quem ainda acredita. No subtexto, há um consolo: mesmo que o mundo seja duro, a beleza ainda é possível.

E é essa contradição — entre ideal e realidade, entre sonho e chão — que torna a canção eterna.

Essa música abre o Clube da Esquina como um manifesto: “Podemos ser tudo.” Mas também guarda o eco melancólico de quem sabe que talvez nunca sejamos tudo o que poderíamos. É o dilema humano — o trem azul e o horizonte que se move. Um hino para quem está começando e para quem já viu demais.

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Quem sabe isso quer dizer amor
Lô Borges
Márcio Borges

Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo, à frente do Sol
Abri a porta e, antes de entrar
Revi a vida inteira

Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois
Sinais de bem, desejos de cais
Pequenos fragmentos de luz

Falar da cor dos temporais
Do céu azul, das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu

O mundo lá, sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer

Pensei no tempo e era tempo demais
Você olhou, sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça

Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
Mas se você quiser transformar
Um ribeirão em braço de mar

Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você

O mundo lá, sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer

Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
Mas se você quiser transformar
Um ribeirão em braço de mar

Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você

O mundo lá, sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer

Estrada de fazer o sonho acontecer

Que delícia… essa aí é Quem sabe isso quer dizer amor…

Depois de anos de maturação artística, Lô e Márcio Borges chegaram a uma síntese rara: a pureza da juventude do Clube da Esquina com a serenidade de quem já havia vivido o suficiente para entender o amor em sua dimensão mais simples.

A canção nasceu, como tantas canções deles, no quintal, no violão, no instante certo em que emoção e melodia se encontram.

Musicalmente, é puro Lô: harmonia flutuante, acordes abertos, progressões inesperadas e melodia aérea, que parece caminhar no ar.

Há algo de beatlemaníaco e de mineiro ao mesmo tempo — um violão doce, uma cadência que se move como respiração.

Nada é excessivo. Tudo soa exato.

Lô Borges é a prova viva de que a arte não precisa de permissão nem de diploma. Que o instinto pode ser mais preciso que o compasso. Que a beleza nasce, muitas vezes, da ousadia de não saber — e ainda assim criar.

Ele mostrou que o ouvido é uma forma de inteligência e que a intuição, quando lapidada pela sensibilidade, é capaz de gerar estruturas musicais que a teoria só explicará décadas depois.

Como ele mesmo disse, com simplicidade desarmante:

“Eu não estudei música. Eu faço música. O pessoal é que estuda as minhas músicas.”

Na noite de sua morte, uma multidão se reuniu lá na famosa esquina e fez aquilo que Lô mais amava… cantou…

Uma vez, Lô disse assim: “A música é o jeito que eu encontrei de continuar sendo menino.”

Lô Borges é isso: o garoto que, sem querer, construiu uma catedral harmônica com tijolos de sentimento.
E talvez por isso suas canções ainda ecoem como se viessem de um lugar onde o tempo e o som se encontram — um ponto de silêncio entre a melancolia e a esperança.

Por isso, para mim, a partir de hoje a escala fica sendo… Dó, Ré, Mi, Fá, Sol. LÔ, Si, Dó.

Muito obrigado, Lô.

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O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, que completa o ciclo.

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E pra terminar de vez, um presente. As meninas do trio carioca Sal Doce: