Acabamos de perder Lô Borges, um gênio da música brasileira. E isso me lembrou de uma conversa que ele teve no delicioso programa Um Café Lá Em Casa, com Nelson Faria.
Lô contou — com aquele jeito mineiro, tímido e afiado — que um dia lhe perguntaram, num tom meio desdenhoso:
“Você estudou teoria musical, Lô?”
Ele respondeu:
“Não. Eu faço música. O pessoal é que estuda minhas músicas.”
E ambos caem na risada. Veja: https://www.instagram.com/reel/DQmIScKDUku/?igsh=cHdhM3o2NmNvMjhh
Silêncio.
Dá pra ouvir o som da genialidade passando.
Lô nunca cursou Berklee, não decora escalas modais, nem cita Debussy de cor.
Mas compôs “Paisagem da Janela”, “Clube da Esquina nº 2”, “O Trem Azul”… canções que até hoje são analisadas por músicos acadêmicos.
O mesmo aconteceu com Cartola, Noel Rosa, Caymmi, Paul McCartney, Ray Charles, João Gilberto — todos mestres que sentiam antes de entender.
O psicólogo Howard Gardner, ao falar das múltiplas inteligências, reconhece essa forma de saber intuitivo: é a “inteligência musical”, que nasce da percepção e da sensibilidade, não da técnica.
E Csikszentmihalyi, criador do conceito de flow, explica que a genialidade emerge quando o criador se dissolve na experiência — sem o peso da autoconsciência.
É nesse estado que a verdade estética aparece: limpa, espontânea, sem filtro.
O mundo anda obcecado por certificados e frameworks.
Mas a essência das coisas vivas — arte, liderança, amor — não cabe num manual.
Lô nos lembra que o conhecimento é importante, mas o sentimento é essencial.
O que isso ensina sobre Liderança Nutritiva?
- Nem tudo se aprende — mas tudo se cultiva
Quando falamos de “talento natural”, nos referimos a predisposições — formas de perceber, conectar-se, criar — que não nascem de um manual, mas de uma presença viva. No caso de Lô, ele não aprendeu “teoria musical” antes de compor; ele criou suas canções porque tinha algo a dizer — e os outros depois foram estudar suas músicas.
Na liderança, isso significa que nem todo aspecto de um líder nutritivo é algo que se pega em livro: carisma, empatia, visão espontânea — isso se cultiva. Ao mesmo tempo, cultivo não quer dizer “esperar passivamente” — requer ambiente, tempo, estímulo.
- O sentir precede o saber
Lô não disse “vou primeiro estudar acordes, depois compor”. Ele compôs — instintivamente. A técnica veio depois, ou foi trazida pelos que estudam suas músicas. Na psicologia criativa, esse fenômeno aparece no conceito de “intuição” ou “insight” — primeiro aparece a sensação, depois a explicação. (Veja os estudos sobre fluxo criativo de Mihaly Csikszentmihalyi).
Na liderança nutritiva, isso significa: antes de aplicar processos, métricas, frameworks, é preciso sentir: sentir o time, o clima, as pessoas, as tensões, os talentos não explorados. Quando o líder está “colado” com o ambiente humano, então o saber (metodologias, ferramentas, processos) se torna mais relevante — não o contrário.
- Autenticidade é mais poderosa que técnica
Lô fez música de sua verdade — não para provar que sabia teoria, mas porque tinha algo a expressar. A técnica (“teoria musical”, escalas, fórmulas) vem depois ou paralela. Quando o foco da música vira “mostrar que sei teoria”, muitas vezes a espontaneidade se perde — e a música vira exercício técnico, não expressão vital.
Na liderança nutritiva, isso significa: não adianta “aplicar um modelo de liderança” só porque está na moda. As pessoas enxergam quando o líder está “fantasiando” ou “aplicando” um script. A diferença está em liderar de acordo com quem você é — seus valores, visões, vulnerabilidades — e a partir daí usar técnicas que reforcem isso, não o contrário.
- A genialidade se revela na humildade
Não é comum vermos compositores “não estudados” reconhecendo que são estudados — isso exige humildade. Lô reconhece: “o pessoal estuda minhas músicas”. Ele não vai dizer: “eu sou mestre da teoria musical”. Esse reconhecimento abre espaço para que outros façam o trabalho, e para que a obra fale por si.
Na liderança nutritiva, isso significa: um líder verdadeiramente inspirador não precisa ostentar “eu sei tudo”. Ele admite que está aprendendo, aceita que o time tem visões, talentos, insights que ele não tem. Essa humildade gera confiança, abre diálogo, permite cocriar. Genialidade no líder não está em fazer tudo sozinho, está em ser agente que permite que o time brilhe.
A Isca Intelectual de hoje fica por conta do próprio Lô Borges:
“A música vem pronta. Eu só preciso não atrapalhar.”
Liderança Nutritiva é um conceito que criei para definir aquele tipo de pessoa que não apenas lidera, mas inspira e impulsiona os outros a realizarem. Liderança Nutritiva é sobre transmitir, de forma leve, natural e ética, conhecimento e suporte emocional e social que realmente fazem a diferença na vida pessoal e profissional de quem está por perto. É a combinação perfeita entre provocar mudanças e nutrir o crescimento.
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